O "crime" de Medine Memi foi apenas um: ter amigos do sexo masculino. Depois de a jovem de 16 anos ter sido dada como desaparecida durante 40 dias, o seu corpo foi encontrado enterrado por baixo de um galinheiro no quintal da sua casa. Medine foi enterrada viva pela família, como castigo pela infelicidade que, diz o pai, trouxe a toda a família, por ter amigos rapazes. Segundo o Instituto de Medicina Legal de Malatya, a jovem foi encontrada em posição fetal, sem ferimentos nem qualquer tipo de droga no sangue, mas com os pulmões e o estômago cheios de terra. Uma denúncia anónima ajudou a localizar o corpo e, embora a polícia tenha feito a descoberta em Dezembro, apenas agora a notícia foi divulgada, no jornal turco "Hurriyet". O pai e o avô da vítima estão detidos preventivamente, à espera de julgamento. Ambos são acusados de homicídio. A mãe da jovem também foi detida, mas acabou por ser libertada por falta de indícios que a ligassem ao homicídio. Os chamados "crimes de honra" continuam a causar cerca de 300 mortes por ano na Turquia, apesar dos esforços do governo turco e de inúmeras associações de defesa dos direitos humanos. Em 2004, pressionado pela União Europeia, o governo acabou por alterar o código penal do país retirando o artigo que reconhecia atenuantes nos crimes de honra. No entanto, as Nações Unidas continuam a colocar a Turquia em 101.o lugar, num ranking de 109 países, no que respeita ao respeito pelo papel da mulher na sociedade. "Quando chegam aos 14 ou 15 anos, a família decide com quem as jovens vão casar, recebendo dinheiro em troca do casamento. Muitas vezes as mulheres optam pelo suicídio ou decidem fugir, mas se forem apanhadas o castigo é a morte", explica Emine Vaz, coordenadora da associação feminista Van Kadin Dernegi. Segundo um estudo da Universidade de Diyarbakir, na Turquia, metade dos homens condenados por crimes de honra não se arrependem - uma atitude partilhada pela família.
in "JORNAL i" em 07/02/10
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