23/08/2009

2 - MOSTEIRO DA BATALHA



Galeria do claustro

Caracterização arquitectónica

Em planta de cruz latina, a igreja revela o apego à tradição do gótico[5][6]mendicante português. Trata-se de um templo de 3 naves, com transepto pronunciado e cinco capelas na cabeceira, sendo as laterais de igual profundidade (as mais interiores no enfiamento das colaterais; as exteriores deitando para o braço final do transepto), todas elas precedidas de um tramo recto (ligeiramente prolongado na capela-mor).

Dimensões

A igreja, que possui 80 m de comprimento 22 m de largura e um vão máximo na flecha de 32,5 m, denuncia um sistema proporcional relativamente simples. A diferença de altura entre as naves laterais e a nave central é baseada numa «razão» proporcional de 3:2 ou razão sesquitércia, aliás corrente no gótico. A mesma «razão» foi adoptada para determinar a relação entre a largura do templo e o seu comprimento ― da porta axial até ao arco triunfal ― e, mais tarde, para determinar a dimensão da Capela do Fundador que, assim, se constitui num quadrado que «preenche» três vezes o corpo da igreja (cabeceira excluída).

Cobertura
O templo só difere dos seus congéneres mais antigos pelo facto de ser completamente abobadado e de muito maior comprimento. Com oito tramos, marcados por arcada longitudinal. Este traçado remete todo o projecto inicial para uma condição de continuidade relativamente à tradição portuguesa, havendo apenas que solucionar os trâmites relativos ao abobadamento. A experiência do deambulatório da Sé de Lisboa deve ter sido importante para o facto, sabendo-se para mais que o mestre Afonso Domingues, morador em Lisboa na freguesia da Madalena, sendo natural desta cidade, poderá ter ali tirocinado.
Os pilares das naves são polistilos e de grande espessura, sendo cada coluna adossada, ininterrupta da base até ao capitel, sem qualquer marcação de gola ou cornija, sendo isto válido também para as meias colunas que sustentam os arcos torais da nave central. A cobertura das três naves é estruturalmente idêntica, com arcos torais simples, duas nervuras cruzadas e cadeia unindo as chaves longitudinalmente. O mesmo acontece no transepto, onde se registam cinco tramos de abóbada, de oito panos cada, e com o mesmo sistema de ogivas cruzadas (sendo obviamente maiores os tramos do cruzeiro). O uso de abóbadas na nave central, elevada a muito maior altura que as colaterais, obrigou à utilização de arcobotantes, que descarregam o seu peso nos estribos do flanco exterior do templo, ao nível da cobertura das laterais. As abóbadas das capelas da cabeceira, com topo poligonal de cinco tramos cada, são cobertas por abóbada de ogivas, com nervuras nascentes de arcos adossados às paredes, dotadas de dois tramos rectos solidários com o topo poligonal, formado por nervuras radiantes com as chaves também ligadas por cadeias. Este sistema dispensou qualquer reforço exterior, cingindo-se o respectivo apoio a contrafortes radiais.

Portal
O mestre Afonso Domingues não terá finalizado a obra[2], deixando, no entanto, configurado quase todo o templo ― com excepção talvez das partes mais elevadas ― e boa parte da zona claustral. Assim, no interior é fácil perceber a intervenção do mestre português nas abóbadas das naves ― dotadas de grandes chaves de decoração naturalista ― enquanto a abóbada do transepto, com chaves de menores dimensões, parece ser já obra da empreitada seguinte. O mesmo acontece com os capiteis devidos à empreitada de Domingues, com decoração vegetalista e antropomórfica (cabeças e anjos) desenvolvendo-se em «dois andares» com a cesta visível, em contraste com os capiteis mais avançados da empreitada de Huguet[7], com decoração quase exclusivamente vegetalista muito desenvolvida e cobrindo a cesta até quase a mascarar.

Alçado

Em termos de alçado, as diferenças existentes são consequência do abobadamento geral das naves da igreja. A iluminação é feita por janelões apontados a partir dos flancos colaterais e por um clerestório que corre ao longo da parede superior da nave central, onde se rasgam janelões apontados ao eixo dos arcos. Convém relembrar ainda que o facto de a capela-mor da cabeceira da Batalha possuir fenestração em dois andares (em vez de uma só janela por pano) é, segundo Mário T. Chicó, resultante da influência directa da capela-mor afonsina da Sé de Lisboa, então já edificada. Tudo isto aponta para a importância da primeira empreitada de obras devida a Domingues.

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