19/02/2023

CARLOS BRANCO

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O fim da guerra na Ucrânia

Comentários de altos funcionários da Administração Biden na Comunicação Social de referência sugerem-nos algumas pistas sobre o que poderá ser um possível fim da guerra na Ucrânia. Nessa linha, o Financial Times refere que o secretário de Defesa Lloyd Austin "foi bastante claro quando disse que temos uma janela de tempo reduzida para ajudar os ucranianos a preparar uma ofensiva." Essa sensação de urgência terá levado os EUA "a aumentarem a pressão sobre Kiev para que consiga ganhos significativos enquanto as armas e a ajuda dos EUA e dos aliados vão chegando," alertando simultaneamente os dirigentes ucranianos para o facto de a "ajuda ter limites." Segundo o Washington Post, "os recente pacotes de ajuda do Congresso e dos aliados da América representam a melhor oportunidade para Kiev alterar decisivamente o curso da guerra." No futuro será difícil obter uma assistência militar com a dimensão daquela até agora fornecida. Washington procura transmitir aos dirigentes ucranianos a ideia de celeridade uma vez que a guerra atingirá um momento crítico nesta primavera. A "janela de oportunidade" terminará no final do verão. Kiev precisa de agir rapidamente.

Estes desenvolvimentos trazem-nos à memória os acontecimentos na Bósnia, nos finais de agosto de 1995, quando as forças bósnias sérvias foram alvo de intensos ataques aéreos, que levaram à sua capitulação. O prolongamento da guerra na Bósnia ameaçava prejudicar a reeleição do então presidente Bill Clinton. Urgia, pois, pôr fim aos combates.

Será que nos podemos encontrar numa situação semelhante, com a possibilidade do futuro da Ucrânia se poder encontrar condicionado pela campanha eleitoral para as presidenciais norte-americanas, que se perspetiva venha a acelerar no segundo semestre deste ano? E, à semelhança do que aconteceu em 1995, será que o presidente Joe Biden precisa de resolver o problema ucraniano até ao final do verão, e assim esvaziar as críticas que lhe possam vir a ser feitas pelos seus opositores?

São óbvias as dificuldades de uma campanha militar ucraniana vencedora até ao final da primavera. Muito do equipamento necessário para Kiev desencadear essa operação ainda não chegou ao Teatro de Operações. Lloyd Austin alertou na última reunião do Grupo de Contacto sobre a defesa da Ucrânia realizada em Bruxelas, no passado dia 14 de fevereiro, para a imperiosa necessidade dos aliados sincronizarem o envio dos equipamentos.

Neste exercício, não podemos excluir a renitência de Washington em fornecer aviões de combate a Kiev, assim como o protelamento da entrega de mísseis de longo alcance e dos carros de combate M1 Abrams, o que pode sugerir a existência de um acordo entre Washington e Moscovo, não só sobre a forma como devem decorrer os acontecimentos, mas também sobre o futuro do conflito. As conversações de alto nível em Ancara entre o diretor da CIA William Burns e o seu homólogo russo poderão ter servido esse propósito. Recentemente, o secretário de Estado Antony Blinken admitiu que a tentativa da Ucrânia retomar a Crimeia seria uma linha vermelha para o Kremlin.

Não será, portanto, de descartar a possibilidade da Ucrânia, dentro de alguns meses, vir a sentar-se à mesa de negociações numa situação de grande dificuldade negocial, se não conseguir expulsar as forças russas do seu território até ao final do verão. Tal significaria a aceitação de uma configuração territorial da Ucrânia diferente daquela que se conhece hoje. A acontecer, o resultado desta guerra poderá não ser aquele pelo qual os ucranianos tanto se sacrificaram.

* Major-general na reserva

IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 19/02/23.

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