02/04/2012

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Vinho 


é cultura


CULTURA É LIBERDADE





REGIÃO DO
DOURO 
A região do Douro localiza-se no Nordeste de Portugal, rodeada pelas serras do Marão e Montemuro. A área vitícola ocupa cerca de 40000 hectares, apesar da região se prolongar por cerca de 250000 hectares. O rio Douro e os seus afluentes, como por exemplo o Tua e o Corgo, correm em vales profundos e a maior parte das plantações são encaixadas nas bacias hidrográficas dos rios.

Os solos durienses são essencialmente compostos por xisto grauváquico embora, em algumas zonas, existam solos graníticos. Estes solos são particularmente difíceis de trabalhar e no Douro a dificuldade é agravada pela forte inclinação do terreno. Por outro lado, estes solos são benéficos para a longevidade das vinhas e permitem mostos mais concentrados de açúcar e cor.

O esforço do homem na conversão dos solos inóspitos em vinhas resultou na aplicação de três formas distintas de plantação: em socalcos, em patamares e ao alto. Os socalcos são frequentes em zonas cuja inclinação é elevada e assemelham-se a varandas separadas por muros de xisto grauváquico. Os patamares são constituídos por terraços construídos mecanicamente sem muros de suporte às terras, enquanto a plantação ao alto tem em conta a drenagem dos terrenos e o espaço necessário para a mecanização e movimentação das máquinas na vinha.

As vinhas dispõem-se do cimo dos vales profundos até à margem do rio e criam uma paisagem magnífica reconhecida pela UNESCO como Património da Humanidade em 2001. Ao admirável cenário, alia-se a excelência dos vinhos produzidos nas três sub-regiões do Douro: Baixo Corgo a oeste, Cima Corgo no centro e Douro Superior a leste.
A distribuição da área das vinhas não é uniforme. No Baixo Corgo a área de vinha ocupa cerca de 14000 hectares e o número de produtores é de quase 16000, isto é, em média cada produtor detém menos de um hectare de vinha. O Douro Superior é uma região mais desértica e o número de produtores é inferior ao número de hectares de vinha (quase 9000 hectares para pouco mais de 7900 produtores).

Em cada sub-região há ligeiras alterações climáticas, devido à altitude e à exposição solar nos vales profundos. De um modo geral, o clima é bastante seco e os conjuntos montanhosos oferecem às vinhas protecção contra os ventos. No Baixo Corgo o ar é mais húmido e fresco, pois recebe ainda alguma influência atlântica. Além disso, a pluviosidade é mais elevada, ajudando a fertilizar os solos e a aumentar a produção. No Cima Corgo, o clima é mediterrâneo e no Douro Superior chega mesmo a ser desértico (as temperaturas chegam aos 50ºC no Verão).

O melhor vinho do Porto é feito nas encostas mais áridas e próximas do rio, enquanto os vinhos de mesa são produzidos nas encostas mais frescas. A região do Baixo Corgo, outrora considerada a melhor região para a produção do vinho do Porto, revela melhores condições para a produção de vinho de mesa. Na zona do Pinhão (Cima Corgo) os bagos de uva atingem maior concentração de açúcar, sendo uma área considerada perfeita para a produção de vintages. Os vinhos brancos, espumantes e o generoso Moscatel provêm das regiões mais altas de Cima Corgo e Douro Superior.

As castas cultivadas na região não são célebres pela sua elevada produção, contudo têm uma história secular, já que algumas castas provêm da época da Ordem de Cister (Idade Média). Na segunda metade do século XX, iniciou-se o estudo e análise das castas plantadas e chegou-se à conclusão que as melhores castas para a produção de vinho do Douro e Porto são: a Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Aragonez (na região denominada de Tinta Roriz) e Tinto Cão. As novas quintas da região cultivam essencialmente estas castas, mas também outras muito importantes e com bastante expressão na região, como por exemplo, as castas Trincadeira e Souzão. A produção de vinhos brancos é essencialmente sustentada pela plantação de castas como a Malvasia Fina, Gouveio, Rabigato e Viosinho. Para a produção de Moscatel, planta-se a casta Moscatel Galego.

HISTÓRIA
Após a formação do reino de Portugal (séc. XII), vários são os forais que se referem ao "tributo em vinho", sendo de realçar o foral concedido a Vila Nova de Gaia no reinado de D. Afonso III e que dá já uma ideia do comércio então existente entre a região e essa vila. Nos séculos XVI e XVII citam-se com frequência os vinhos de termo de Lamego e Ribas de Pinhão e o seu transporte pelo rio Douro até à cidade do Porto. Em 1678, pela primeira vez a Alfândega desta cidade regista a exportação de vinhos pela barra do Douro. Neste final do século XVII a exportação andava próxima das 700 pipas (a pipa de exportação era igual a 534 litros), para em 1715 atingir as 8000. O Tratado de Methuen, estabelecido entre Portugal e Inglaterra foi um dos factores que favoreceu o aumento dos volumes de exportação.
As exportações continuaram a aumentar (cerca de 19000 pipas em média nos anos de 1716 a 1749), os preços subiram, as vinhas multiplicaram-se, a procura era grande, mas a utilização de vinhos provenientes de outras regiões, fazendo-se passar por vinhos produzidos no Douro, provocou uma descida da qualidade que se reflectiu na queda das exportações: em 1756 já só era de 13000 pipas.
Por esta altura, no reinado de D. José I, o então primeiro-ministro José Sebastião de Carvalho e Mello e futuro Marquês de Pombal, para pôr fim a essa situação de ruína, institui a "Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro" (Alvará Régio de 10 de Setembro de 1756) e cria a primeira região demarcada e regulamentada do mundo - a "Região Demarcada do Douro". Iniciaram-se por esta altura as demarcações de feitorias, tendo sido colocados 201 marcos pombalinos e mais tarde, em 1761, outros 134 foram gravados, totalizando o número de 335.

Dedicada desde há cerca de 3 séculos ao fabrico do vinho do Porto, esta região nunca deu a devida importância aos vinhos de mesa porque todas as boas uvas eram canalizadas para a produção do generoso. Mas a lei do benefício que rege a produção do vinho do Porto, como autoriza que apenas uma parte das uvas seja transformada em vinho generoso, permite que existam excedentes de vinho. Durante muitos anos esses excedentes foram vendidos a granel, destilados e serviam para auto-consumo.
Mas a partir dos anos 80, com o aparecimento de adegas modernas e bem equipadas, sob a direcção de técnicos e enólogos competentes, a realidade dos vinhos de mesa alterou-se. Hoje, alguns dos melhores vinhos de mesa que existem no mercado nacional e internacional são provenientes da região do Douro.

SUB-REGIÕES
Antigamente, era apenas no Alto Douro que a cultura da vinha tinha grande expansão, sendo nessa altura a designação de ' Alto Douro ' adoptada pelos autores para se referirem à zona vinhateira que hoje é o Baixo e o Cima Corgo.

Um dos limites originais de demarcação separava o Alto Douro do Douro Superior, na zona do Cachão da Valeira. Esta divisão devia-se a um acidente geológico (o monólito de granito existente no rio que impedia a navegação do Rio Douro para montante desse obstáculo).Era visível a diferença entre as duas zonas, bastando verificar o desenvolvimento mais notório da cultura da vinha no Alto Douro.

Posteriormente, com a remoção do bloco de granito no reinado de D. Maria, a cultura da vinha estendeu-se para leste, embora continuando a representar no Douro Superior uma importância menor do que no Alto Douro.

Com a reforma administrativa de 1936, a própria região do Alto Douro passou a ser designada por Baixo Corgo e Alto Corgo, servindo esta subdivisão também para diferenciar os vinhos produzidos numa ou noutra sub-região.

A áera de vinha assume maior importância no Baixo Corgo, onde ocupa cerca de 29,9% da área desta sub-região, que se estende desde Barqueiros na margem Norte e Borrô na margem Sul até à confluência dos rios Corgo e Ribeiro de Temilobos com o Douro

O Cima Corgo estende-se para montante até ao Cachão da Valeira, tendo menor importância a área cultivada de vinha. O Douro Superior prossegue até à fronteira com Espanha.




Caracterização das Sub-Regiões
Sub-Região
Área Total (ha)
%
Área com vinha (ha)
% da Área total
Baixo Corgo
45.000
18
14.501
32,2
Cima Corgo
95.000
38
20.915
22,0
Douro Superior
110.000
44
10.197
9,3
Total
250.000
45.613
18,2
A vinha ocupa na região uma área efectiva de cerca de 18,3 % da área total.
A área de vinha é trabalhada por aproximadamente 33 000 viticultores, possuindo cada um deles, em média, cerca de l ha de vinha. São os pequenos produtores que têm um grande peso na produção de Vinho do Porto.
As pequenas parcelas estão presentes em toda a região, localizando-se as grandes explorações sobretudo no Douro Superior.
Sub-Região
Prop.
Área de Vinha / prop.(ha)
Nº médio de prédios/prop.
Nºprédios
Baixo Corgo
15.490
0,94
3,3
50.910
Cima Corgo
16.205
1,29
3,9
62.444
Douro Superior
7.285
1,40
2,9
21.318
Total
38.980
1,17
3,5
134.672


Distribuição em % das parcelas por classes de áreas (ha)
< 0,5
0,5 - 1
1 - 3
3 - 5
5 - 10
10 - 20
20 - 30
> 30
Baixo Corgo
44.777
3.303
2.234
353
202
37
3
1
Cima Corgo
53.511
5.075
2.957
502
297
79
15
8
Douro Superior
16.433
2.766
1.640
272
163
40
2
2
Total
114.721
11.144
6.831
1.127
662
156
20
11

Fonte: IVDP 2010


SOLOS

No que toca ao material originário dos solos, a maior parte da Região Demarcada, em particular ao longo do vale do Douro e seus afluentes, pertence à formação geológica do complexo xisto - grauváquico ante - ordovício, com algumas inclusões de uma formação geológica de natureza granítica, envolvente. Os solos são assim na sua quase globalidade derivados de xistos daquele complexo e distribuem-se por dois grupos fundamentais:
(I) - Solos onde a influência da acção do Homem é muito marcada, durante os trabalhos de arroteamento e terraceamento que antecede a plantação da vinha, nomeadamente através de mobilizações profundas com desagregação forçada da rocha e consequente aprofundamento do perfil e modificações na morfologia original, acrescida da incorporação de fertilizantes. Constituem a grande maioria da área ocupada por vinha e designam-se, segundo a legenda da FAO/UNESCO (1988), por Antrossolos áricos. Nestes solos, o perfil é constituído por um horizonte Ap (antrópico) com espessura variável segundo a profundidade de surriba (1,00m a 1,30 m ) e a localização do terraço, geralmente bastante pedregoso, seguido da rocha (R); habitualmente o horizonte Ap é subdividido em duas camadas, a primeira, de 25 cm, resultante dos grangeios anuais da vinha e a segunda desde aí até à rocha; distribuem-se por duas subunidades principais - dístricos e êutricos, consoante a reacção ácida ou próxima da neutralidade.

(II) - Um outro grupo constituído por unidades - solo onde a acção do Homem foi mais suave, onde o solo conservou o seu perfil original, com modificações apenas na camada superficial. Neste grupo e seguindo igualmente a legenda atrás referida, distinguem-se três unidades principais:

(a) Leptossolos - unidade - solo dominante na área não ocupada com vinha sendo constituída por solos que têm como característica principal a presença de rocha dura a menos de 30 cm de profundidade; geralmente de perfil ACR, ou em menor extensão ABwCR, distribuídos por três Sub - unidades - líticos (os mais delgados); dístricos (ácidos); úmbricos (ácidos e ricos em matéria orgánica, nas partes mais altas); e em menor escala, êutricos (pouco ácidos, com alguma expressão no Douro Superior);

(b) Cambissolos - solos com espessura superior a 30 cm e em regra constituídos por uma sequência de horizontes ABwCR, com a presença de horizonte câmbico (Bw); distribuem-se por duas subunidades dominantes - dístricos e êutricos (como referido para os Leptossolos);

(c) Fluvissolos - São solos derivados de depósitos aluvionares recentes, localizados em superfícies de deposição de sedimentos. Ocupam uma área restrita, ocorrendo a maior mancha no Vale da Vilariça; subdividem-se igualmente em dístricos e êutricos, de acordo com a sua reacção, à semelhança do referido anteriormente.

No que se refere a características físico-químicas dos solos: (i) dominam as texturas franco - arenosa fina e franco - limosa, com elevada quantidade de elementos grosseiros nos Antrossolos, tanto à superfície como no perfil, o que confere protecção contra a erosão hídrica, boa permeabilidade às raízes e à água e elevada absorção de energia radiante com consequências positivas na maturação e na diminuição da amplitude térmica diurna; (ii) baixos teores de matéria orgânica da região. (1,5%); (iii) predominância de reacção ácida (pH H2O entre 4,6 a 5,5) e, em menor escala, pouco ácida (pH H2O entre 5,6 a 6,5), em ambos os casos com baixos valores de cálcio e magnésio de troca; (iv) valores geralmente muito baixos a baixos em fósforo extraível (<50 mg.kg-1) e médios a altos de potássio extraível (50 a 100 mg.kg-1).

 O CLIMA 
A individualidade do Douro deve-se à sua localização, sendo grande a influência que exercem as serras do Marão e de Montemuro, servindo como barreira à penetração dos ventos húmidos de oeste. Situada em vales profundos, protegidos por montanhas, a região caracteriza-se por ter invernos muito frios e verões muito quentes e secos. 
 A precipitação, distribuída assimetricamente, varia com regularidade ao longo do ano, com valores maiores em Dezembro e Janeiro (nalguns locais em Março), e com valores menores em Julho ou Agosto. Nos meses mais chuvosos, a precipitação tem valores entre 50,6 mm (Barca d'Alva - Douro Superior) e 204,3 mm (Fontes - Baixo Corgo); nos meses menos chuvosos, os valores de precipitação oscilam entre 6,9 mm (Murça - Cima Corgo) e 16,2 mm (Mesão Frio - Baixo Corgo). Em termos de valores anuais, estes variam entre 1 200 mm (Fontes) e 380 mm (Barca d'Alva), podendo dizer-se que a quantidade de precipitação decresce de Barqueiros até à fronteira espanhola. A exposição ao sol, factor fisiográfico de grande importância na caracterização climática de qualquer região, reveste-se no Douro de redobrado interesse já que permite uma melhor compreensão do comportamento da vinha nas diferentes situações. A margem norte do rio está sob a influência de ventos secos do sul, estando a margem sul exposta aos ventos do norte, mais frios e húmidos, e a uma menor insolação. A temperatura do ar é mais alta nos locais expostos a sul do que nos locais expostos a norte. As temperaturas médias anuais variam entre 11,8 e 16,5 ºC. Os valores máximos das temperaturas médias anuais distribuem-se ao longo do Rio Douro e dos vales dos seus afluentes, em especial os da margem direita (nomeadamente rio Tua e ribeira da Vilariça). Relativamente às amplitudes térmicas diurnas e anuais, verifica-se que têm maior valor em Barca d'Alva e menor valor em Fontelo, facto que é explicado pela distância ao mar. 

ROTA DOS VINHOS
O Douro vinhateiro é uma das paisagens mais impressionantes do mundo, justamente classificada pela UNESCO como Património Mundial. Ao longo de gerações, milhares de homens construíram extraordinárias escadarias de socalcos em encostas clivosas de montanha, transformando terras quase inacessíveis em extensas áreas de cultivo do famoso vinho do porto. 

É daí que vem uma das marcas mais fortes e impressionantes da região. Terra de grandes contrastes, o Douro é marcado pelas serras xistosas do Marão e de Montemuro, que o protege dos ventos atlânticos, abrindo-o à influência mediterrânica e continental. O rio Douro e seus afluentes, correndo em vales profundos, desenham uma paisagem de uma beleza agreste e misteriosa, batida por grandes amplitudes térmicas, com verões muito quentes e Invernos rigorosos. Os roteiros para visitas possíveis são infindáveis, desde as famosas quintas ligadas à produção de vinho do Porto, até aos mais recentes núcleos de arte rupestre do rio Côa, passando por algumas propostas hoteleiras de muito bom nível e de viagens de barco ou caminho-de-ferro com um enquadramento paisagístico fabuloso. A gastronomia regional casa-se superiormente com o vinho generoso e com os cada vez mais bem cotados vinhos de mesa durienses. É justo destacar o tradicional cabrito, a carne maronesa e os enchidos.

IN:
- INSTITUTO DA VINHA E DO VINHO
- VINI PORTUGAL
- INFOVINI 
- http://www.casatorresoliveira.com/historia-regiao-douro.php
 
 
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