ESTA SEMANA NA
"VISÃO"
Ilhas de lixo e plástico podem
vir a ser consideradas país
Seis vezes maior que Portugal, já tem bandeira, moeda, selos e passaportes. Será que as ilhas do lixo e do plástico vão ser um estado soberano e entrar para a ONU?
Gostaria de ter uma nova nacionalidade em poucos segundos? Simples.
Basta que vá ao mais conhecido site de petições do planeta (change.org)
e, em teoria, torna-se cidadão de pleno direito do país que pretende ser
admitido como o 196º estado membro das Nações Unidas. Bizarria? Nem por
isso.
O secretário-geral da ONU, o português António Guterres, já
recebeu um pedido formal para que as Trash Isles, as Ilhas do Lixo,
sejam admitidas na organização e várias personalidades estão desde junho
envolvidas numa campanha internacional com esse propósito. Al Gore, o
antigo vice-presidente dos EUA e um dos mais conhecidos ativistas
ambientais da atualidade, foi o primeiro indivíduo a quem foi concedido
um passaporte deste país imaginário mas que muita gente também conhece
como “o sétimo continente” – a enorme massa de plástico que anda à
deriva pelos mares e não poupa qualquer recanto submarino.
O grande
objetivo, como já deve ter percebido, é sensibilizar a opinião pública
global para o estado em que se encontram os nossos oceanos.
E para o
facto de produzirmos 400 milhões de toneladas de plásticos por ano e
perto de 80% ir parar à natureza como detritos sem qualquer tratamento,
pondo em causa os ecossistemas marítimos e não só: um estudo científico
apresentado o ano passado, no Fórum Económico Mundial em Davos, alertou
para a possibilidade de haver mais plásticos do que peixes nos oceanos
já em 2050.
As ilhas de lixo plástico que se concentram maioritariamente
no Pacífico têm uma área cinco vezes superior ao território continental
português mas os seus vestígios estão espalhados por todo o planeta. Já
este ano, um grupo de cientistas da universidade de Newcastle chegou à
conclusão que nem a Fossa das Marianas escapa. Aqui, quase a 11 mil
metros de profundidade, foram encontradas fibras e partículas de
plástico nos estômagos de várias criaturas marinhas. É a confirmação do
que já se sabia: mais de 600 espécies de peixes, crustáceos e mamíferos
estão em perigo de extinção.
O problema afeta ainda as aves marinhas,
com 90% delas a ingerirem produtos plásticos. Esse é o motivo, por
exemplo, para o albatroz de Laysan (uma espécie autóctone do Havai)
estar a desaparecer e a pardela do Mediterrâneo ser a ave mais ameaçada
da Europa.
200 mil apelam a Guterres
Um dos melhores
exemplos da poluição e das quantidades industriais de detritos plásticos
que andam à deriva nos mares está documentado na ilha de Henderson, no
Pacífico Sul: “Em vez de ser um sítio paradisíaco é um caso chocante da
forma como este tipo de lixo afeta o ambiente à escala global”, explicou
Jennifer Lavers ao Financial Times, em maio.
.
A cientista liderou uma
investigação a este território britânico desabitado e publicou os
resultados no jornal Proceedings of the National Academy of Sciences: as
praias de Henderson têm, pelo menos, 37 milhões de desperdícios
plásticos – a maior densidade de detritos deste género alguma vez
identificado no planeta.
A ideia de reivindicar a entrada das
Trash Isles na ONU é um golpe de marketing de dois publicitários
(Michael Hughes e Dalatando Almeida) e um designer gráfico (Mario
Kerstra), responsáveis também pelos principais símbolos do novo país –
incluindo a bandeira nacional, a moeda – o debris (detritos ou entulho,
em inglês) – os selos e o passaporte. Este triunvirato conta com o apoio
institucional da Plastic Oceans Foundation, uma organização não
governamental com sede na Califórnia, e do site de entretenimento
LaDbible.
Para já, o abaixo-assinado por eles promovido já vai em quase
200 mil subscritores. E para que saiba – além de Al Gore, da atriz Judy
Dench e do atleta Mo Farah – o porta-voz de António Guterres, Stéphane
Dujarric, também já possui passaporte das Ilhas do Lixo.
* Tudo isto revela que à escala global somos uns povos de merda.
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