ESTA SEMANA N0
"DINHEIRO VIVO"
"DINHEIRO VIVO"
Novo Banco perdoa 80 milhões à Prébuild
Recuperação da TGlobal e da Goldenpar aprovadas por mais de 90% dos votos. Planos em risco pela oposição da Segurança Social
O grupo Prébuild já chegou a acordo com os
credores para a renegociação da dívida das suas participadas TGlobal
Supply e Goldenpar. Os planos de recuperação preveem 40% de perdão de
dívida aos credores comuns financeiros, entre os quais se contam o Novo
Banco, que abre, assim, mão de cerca de 80 milhões de euros. E apesar de
terem sido aprovados por uma larga maioria de votos, acima dos 90%,
contam com a oposição do Estado. A Segurança Social votou contra e
promete interpor recurso. O que pode por em risco todo o processo
negocial já realizado.
A TGlobal Supply era a trading do grupo – hoje constituído por mais de
40 empresas de construção, indústria e serviços -, a Goldenpar é a
ex-SGPS, entretanto substituída pela Prébuild Internacional.
O descalabro do BES, com a transferência de 100 milhões de euros em
cartas de crédito abertas para o universo do banco mau, obrigou à
reestruturação da Prébuild, tem dito o seu presidente, João Gama Leão, e
levou ao esvaziamento das duas empresas, que se apresentaram ao
processo especial de revitalização em agosto.
A negociação com os credores decorreu nos últimos 90 dias, prazo máximo
permitido por lei, e os planos de viabilização foram aprovados com 93,8%
de votos favoráveis na TGlobal Supply e de 94,83% na Goldenpar.
Em causa estão dívidas da ordem dos 260 milhões de euros, embora a lista
de créditos de ambas contabilizem valores superiores. Quem conhece o
processo explica que há acertos a fazer e dívida duplicada por via dos
avais que ligam as duas empresas.
Deste total, 220 milhões correspondem à dívida ao Novo Banco. Sem juros.
A maior parte é financiamento sem garantia, e portanto, sujeito às
regras dos credores comuns: perdão de 40% de capital, carência de dois
anos, pagamento em 20, ou seja, em 240 prestações mensais. Os juros
vencidos são incorporados no valor em dívida, sujeitos a um spread de
1%.
Os juros futuros vão ser contabilizados a um spread Euribor seis meses
0,125% no primeiro ano, de 0,25% no segundo, de 0,75% no terceiro ano e
de 1% a partir do quarto ano. Já os fornecedores abrem mão dos juros,
mas, em contrapartida, recebem em 15 anos (30 prestações semestrais).
Dois anos, com um de carência, é o prazo para pagar aos trabalhadores,
que não recebem juros. Quanto ao Estado, está previsto o pagamento no
prazo máximo previsto na lei e que é de 12,5 anos (150 meses).
Os
créditos subordinados, ou seja, as dívidas às restantes empresas do
grupo Prébuild e a acionistas sofrem um perdão total.
“Foi um processo difícil, atendendo aos montantes envolvidos, mas
ninguém sai vencedor nem vencido. Foi possível construir soluções de
equilíbrio para viabilizar o futuro do grupo”, afirma fonte contactada.
Mas tudo pode estar em causa com a oposição da Segurança Social.
É que,
embora este organismo assuma que só pretende requerer a declaração “da
ineficácia do plano” em relação à sua dívida, “uma vez que não deu o seu
consentimento expresso à modificação e redução dos seus créditos”, a
verdade é que, nestes casos, os juizes da Relação têm vindo a decretar
nula a homologação do plano de viabilização. O que tem levado à falência
inúmeras empresas viabilizadas pelos credores.
É que a Lei Geral Tributária estabelece que os créditos do Estado são
“indisponíveis”, o que “prevalece” sobre qualquer legislação especial,
designadamente o Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas. A
introdução desta disposição na Lei Geral Tributária é da
responsabilidade do Governo de José Sócrates, no âmbito da Lei de
Orçamento de Estado de 2011.
O Partido Socialista já tentou, por diversas vezes, alterar a lei, de
modo a facilitar o papel do Estado-credor na salvação de empresas em
dificuldades, mas as suas propostas foram sucessivamente chumbadas pela
maioria PSD/CDS. A expectativa dos agentes envolvidos nos processos
especiais de revitalização é que agora que é Governo, o PS proceda a
essa alteração.
Da parte da Prébuild, a convição é que a oposição da Segurança Social
tem mais a ver com “questões de timing e de semântica” do que com o teor
do plano em si e que será possível ultrapassar o problema.
Com mais de 40 empresas, o grupo Prébuild opera nos setores da
construção, indústria e serviços. Dá emprego a 5.700 pessoas e faturou,
em 2014, cerca de 700 milhões de dólares (650 milhões de euros). Os
mercados africanos, com um destaque especial para Angola, e a Colômbia
asseguraram cerca de 90% do volume de negócios.
Com o descalabro do universo Espírito Santo – são conhecidas as
declarações de João Gama Leão reconhecendo que perdeu 20 milhões de
euros, a título pessoal, já que havia subscrito 10% do aumento de
capital de 200 milhões da Espírito Santo Internacional em 2011 -, a
Prébuild viu-se privado da única ferramenta de crédito de que dispunha
para suportar o seu ritmo de exportações, os tais 100 milhões em cartas
de crédito acima referidos, e a solução foi reestruturar o grupo.
Sem apoio financeiro para suportar a aposta internacional em variadas
geografias – estava no Médio oriente em várias frentes, nos países de
Leste, na Venezuela, etc -, a Prébuild focou-se nos mercados africano,
com destaque para Angola e Argélia, que começa agora a dar frutos, na
América Latina, em especial na Colômbia e no Brasil, e em Portugal.
Na Colômbia, um diferendo com a Terranum, plataforma de investimento na
área imobiliária do grupo Santo Domingo, com acusações de incumprimentos
de parte a parte, levou ao abandono do mercado, onde a Prébuild estava a
construir um parque industrial na zona franca de Gachancipá para
instalar a sua base logística e operacional, num investimento da ordem
dos 230 milhões de euros.
* Mais uma contribuição para o bolso do contribuinte, vamos acabar de vez com estes empreendedores, tão ao gosto dos líderes do anterior governo.
.
Sem comentários:
Enviar um comentário