19/10/2015

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ONTEM NO 
"OBSERVADOR"
Menopausa: 
“Vamos deixar de falar dela como uma
. fase horribilis para a mulher”

São vários os sintomas relacionados com a menopausa e muitos outros que não passam de mitos. O melhor é encarar com naturalidade esta fase da vida e manter a autoestima no topo das prioridades.  
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“A mulher passa cerca de um terço da sua vida em menopausa, portanto tem de viver esse período com qualidade”, afirma ao Observador Fernanda Geraldes, presidente da Secção de Menopausa da Sociedade Portuguesa de Ginecologia. “Mas a mulher não está a ser bem tratada”, lamenta. Se é verdade que a menopausa traz alterações físicas, são as crenças e estereótipos – às quais nem o Supremo Tribunal Administrativo escapa – que comprometem a qualidade de vida da mulher à medida que esta envelhece. Os sintomas podem ser controlados e uma mulher não é obrigada a abdicar de viver feliz nem tem de deixar de ter uma vida sexual satisfatória.

“A menopausa entendida como o fim do ciclo reprodutivo da mulher não tem nada de mais”, diz ao Observador Maria João Quintela, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia. “Seria ótimo deixar de falar da menopausa como um princípio de declínio ou uma fase ‘horribilis’ para a mulher.” A médica reforça que as alterações hormonais desta fase do ciclo de vida têm consequências físicas, psicológicas e de saúde geral, mas é possível prevenir e controlar os sintomas.

O ginecologista deve acompanhar o ciclo de vida da mulher e não apenas durante a fase fértil, também quando o corpo da mulher começa a entrar na menopausa e quando esta se estabelece totalmente. Acima de tudo é preciso lembrar que esta fase da vida é diferente de mulher para mulher e é muito influenciada por fatores externos, como as relações sociais, familiares e com o parceiro. E a prevenção começa muito antes dos primeiros sinais de menopausa aparecerem.

“Alimentação saudável, atividade física regular e uma vida participativa previnem muitas doenças físicas e psicológicas”, garante Maria João Quintela. A médica lamenta que as mulheres “depois de se terem dedicado à família, ao trabalho, a cuidar dos filhos, dos pais ou dos netos, sejam muitas vezes vistas como pessoas fáceis de ‘descartar’”. Pode parecer cliché, mas a chave do sucesso passa mesmo por se valorizar, por se aceitar como é, sem deixar que a idade ponha a autoconfiança em risco.

Será que a menopausa afeta mesmo a sexualidade? 
À medida que envelhece, a imagem corporal pode alterar-se – por vezes mais por desleixo e baixa autoestima – e a mulher pode recear que o parceiro se sinta menos atraído por ela. Mas uma mulher que se sinta bem consigo própria e que aceite o seu corpo, viverá melhor este período da sua vida, diz ao Observador Sandra Vilarinho, presidente da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica. Na vida íntima e sexual, tal como nos restantes campos da vida da mulher, os mitos são os responsáveis pela diminuição da qualidade de vida.
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Sim, a diminuição dos estrogénios no sangue durante a menopausa pode causar secura vaginal. E sim, a secura vaginal pode causar dor durante a relação sexual com penetração. Mas a terapia hormonal de substituição e o uso de lubrificantes resolve este problema. A partir daqui, a satisfação na relação sexual depende apenas da mulher e do respectivo parceiro, lembra Sandra Vilarinho.

Será que existe diferença no desejo sexual, excitação ou orgasmo antes e depois da menopausa? Sandra Vilarinho diz que não. Mas quando falamos de satisfação, aí as coisas são muito diferentes. As mulheres mais velhas tendem a estar menos satisfeitas sexualmente do que as mulheres mais novas. Mas o problema não é físico, reforça a psicóloga, são as crenças de que “com o aumento da idade o prazer diminui” ou de que “após a menopausa se perde o desejo” que impedem as mulheres de desfrutarem melhor esta fase da vida. As conclusões resultam do trabalho de doutoramento da psicóloga, onde estudou o funcionamento sexual de 730 mulheres heterossexuais entre os 18 e os 75 anos com relacionamentos há mais de seis meses.

Num estudo sobre envelhecimento no Reino Unido, 54% dos homens e 31% das mulheres com mais de 70 anos afirmaram manter-se sexualmente ativos. Destes, um terço mantinha relações sexuais pelo menos duas vezes por mês. As mulheres mostraram-se em geral menos insatisfeitas com a vida sexual que tinham do que os homens e os níveis de insatisfação tendiam até a diminuir com a idade, segundo o relatório.
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“Esperamos que os nossos resultados melhorem a saúde pública por contrariarem a estereótipos e  ideias erradas sobre a sexualidade em idade avançada”, refere David Lee, investigador na Universidade de Manchester, em comunicado da instituição. “A nossa investigação também tem demonstrado a variabilidade da sexualidade em idade avançada. Tentar impor normas de saúde sexual dos jovens em pessoas mais velhas é simplificar demasiado e até inútil.” O investigador defende que os idosos devem discutir o assunto com os médicos, que não podem achar que o tema é irrelevante.

Para a terapeuta sexual o mais importante é “investir na desmistificação da sexualidade e assegurar uma boa relação sexual antes da menopausa”. Há alguns pontos chave que Sandra Vilarinho não se cansa de reforçar, como a mulher não retira prazer apenas da relação sexual com penetração e que uma relação sexual gratificante antes da menopausa pode continuar a sê-lo depois.

Ainda está presente, sobretudo nas mulheres mais velhas, que o prazer sexual é um pecado. Mas Sandra Vilarinho defende que as mulheres devem encarar a sexualidade “sem sentimento de pecado, nem culpa”, independentemente da idade. As mulheres devem conhecer bem a sua genitália, os seus pontos erógenos e o que lhe dá prazer (ou não). E devem comunicá-lo de forma positiva aos parceiros: “gostava mais que” em vez de “não estou satisfeita”.

“A mulher portuguesa tem pouco à vontade para falar do que lhe dá prazer”, afirma com base na experiência. E nessa base diz também que os homens não são tão egoístas como normalmente são apontados. É verdade que muitos acreditam que a satisfação da mulher está na penetração, mas estão normalmente disponíveis para mudarem os rituais se isso servir para dar mais prazer à parceira.

Afirmar que perda de desejo é uma consequência da menopausa, é controverso, afirma a terapeuta sexual. O desejo sexual nas mulheres não é apenas biológico – talvez nem o seja na maior parte das vezes -, é influenciado pela relação do casal e capacidade de comunicação, disponibilidade emocional, intelectual, erótica e física, mas também pela vida fora da relação, como o trabalho ou a vida social. Aliás, num estudo publicado na revista Journal of Sexual Medicine, Sandra Vilarinho concluiu mesmo que não há relação direta entre a sexualidade mental e a excitação sexual fisiológica.

Afinal, o que é a menopausa?
As mulheres nascem com todos os folículos que darão origem aos óvulos durante a fase fértil. A fertilidade começa a diminuir a partir dos 35-40 anos e a partir dos 50 anos os ovários podem mesmo deixar de funcionar. Uma mulher que não tenha menstruação durante 12 meses seguidos diz-se que está na menopausa.
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Os ovários são responsáveis pela produção de estrogénio, uma hormona que pode influenciar vários órgãos, assim como o equilíbrio físico e psicológico. Como o estrogénio em circulação no sangue diminui drasticamente no sangue, podem ocorrer calores e afrontamentos, diminuição da densidade óssea e osteoporose, insónias e alterações de humor, aumento de risco cardiovascular, queixas urinárias e secura vaginal, explica Fernanda Geraldes. “Os calores e afrontamentos parecem estar relacionados com a rotura do controlo hipotalâmico (no cérebro) que é considerado o termostato da temperatura corporal e que era regulado pela presença de estrogénios.”

Ainda que os sintomas variem entre regiões geográficas e até de mulher para mulher, Fernanda Geraldes refere que “em 70% das mulheres há sintomatologia descrita relacionada com a menopausa. Destas, em 50% durante mais de cinco anos e em 40% a intensidade dos sintomas é incapacitante”. Mas anime-se, a terapia de substituição hormonal é eficaz, garante a médica. Pode ser usada para diminuir os afrontamentos, reduzir as perturbações genito-urinárias ou prevenir a osteoporose. Alternativamente, podem ser usados antidepressivos ou estrogénios de origem vegetal (fitoestrogénios), ou complementarmente estrogénios de aplicação vaginal. A médica assegura que os benefícios da terapia ultrapassam os riscos, mas que uma avaliação completa deverá ser feita pelo médico que segue a mulher.

Embora a menopausa se inicie normalmente depois dos 50 anos, em algumas situações pode acontecer antes dos 40 anos – menopausa precoce. Fatores genéticos (que podem afetar outros membros da família), questões de saúde (como doenças da tiróide ou autoimunes), tratamentos médicos (como radioterapia ou quimioterapia) e hábitos de vida (como consumo de álcool e tabaco ou dietas muito restritivas) podem provocar uma menopausa precoce. E alguns destes fatores, lembra Fernanda Geraldes, são perfeitamente controláveis.

* A menopausa está clinicamente estudada e não pode constituir um pesadelo social. As mulheres têm o direito ao prazer até quererem, fim de assunto.

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