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IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
16/07/14
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Metas ou Mitos
As metas, tal como estão definidas, são um instrumento ao serviço de uma política educativa injusta, desumana e pouco solidária
As metas curriculares, na sua versão definitiva, foram publicadas pelo
Ministério da Educação e Ciências em agosto de 2012. É, por isso, tempo
de refletir sobre a racionalidade subjacente às referidas metas e sobre
os desafios que se colocam no contexto da sua operacionalização.
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O Ministério da Educação e Ciência definiu as metas curriculares como
conteúdos mínimos obrigatórios a atingir pelos alunos, de acordo com o
ano de escolaridade em que se encontram.
Tomando como exemplo as metas
curriculares para a leitura no 1.º ciclo do Ensino Básico, os resultados
apresentados pelo projeto Investigação das Dificuldades para a Evolução
da Aprendizagem (IDEA), da Universidade de Lisboa, demonstram que esses
mínimos são inalcançáveis pois baseiam-se em referenciais demasiado
exigentes para o nível etário a que se destinam. Muito poucos alunos os
atingem e exigir que as crianças cumpram essas metas irrealistas não
lhes trás vantagens em termos de aprendizagem.
As metas assim concebidas fundamentam-se no mito da homogeneidade das
turmas e grupos, no mito de que só alguns têm dificuldades, de que com
um bom professor nunca há dificuldades e o mito de que, com
intransigência e rigor, os alunos aprendem sempre. Em resposta a esta
fundamentação, as conclusões da investigação na velocidade da leitura,
por exemplo, demonstraram que os resultados são idênticos no ensino
privado e no público. Ou seja, independentemente dos contextos e das
variáveis em que se desenrolam as aprendizagens, a concretização das
metas parece ser uma missão quase impossível.
Partindo do pressuposto de que as dificuldades sentidas pelos alunos e
as suas necessidades individuais devem constituir o motor de todo o
processo de ensino-aprendizagem, com mecanismos de monitorização e
autorregulação adequados, a imposição de metas curriculares, nos moldes
em que foram definidas, subvertem todo o processo.
Não me parece exagerado afirmar que as metas se destinam à normalização
das aprendizagens, quando os alunos, as dificuldades de aprendizagem e
os contextos são completamente distintos. Estamos perante um processo de
medição em que quem não cumpre, não cabe, passa ao lado e é colocado à
margem, sendo remetido para vias profissionalizantes cada vez mais
precocemente. Há pois um objetivo claro com a criação das metas
curriculares no Ensino Básico que obedece a um quadro ideológico traçado
pelo MEC, visando a seleção, a desqualificação e a segregação.
Isto é, as metas, tal como estão definidas, são um instrumento ao
serviço de uma política educativa injusta, desumana e pouco solidária.
Os encarregados de educação e os próprios docentes sujeitam-se a ser
confrontados com a frustração de não verem as metas ser cumpridas pelos
seus educandos ou alunos, não porque tenham sido negligentes e
incompetentes ou os seus alunos menos capazes, mas porque os mínimos
obrigatórios são desadequados e irrealistas. E, pior do que isto, é
assistir à frustração e à desmotivação dos alunos ao sentirem que não
são capazes de os atingir.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA"
16/07/14
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