na lua, por marte. em terra?
Foi silenciosamente sepultado em pleno mar. Neil Armstrong, o corpo
da voz que, sem gravidade, num domingo de 1969 pousou um pé na lua: "é
um pequeno passo para o homem e um grande passo para a humanidade",
disse. Passados mais de quarenta anos, lembramos, por estes dias - em
diferido como se em directo - a frase na voz granulada do astronauta.
Edwin Aldrin, seu companheiro, descreveu aquele espaço inicial com
estas palavras: "uma magnífica desolação". A preto e branco, as imagens
trémulas e em câmara lenta dão-nos a ver - nos tantos ecrãs que nos
interpelam o olhar - cinzentas, brancas ou negras crateras, vales e
montanhas lunares - nomes que usamos como se da terra se tratasse,
porque não sabemos novas palavras para este outro novo mas tão antigo
território.
Pousada na superfície lunar ficou desenhada, em dois hemisférios, uma
placa com a imagem da terra, os seus mares e continentes, para memória
futura. É uma espécie de postal que ninguém sabe como ou para que morada
enviar. Para memória futura. Sobre as assinaturas de Armstrong, Edwin e
Collins, uma frase inscrita em metal duro, para que dure: "aqui, na
lua, pela primeira vez pousaram homens do planeta terra, em Julho de
1969". Com os pés em solo firme e nenhuma gota de água, ao silêncio e ao
vazio chamou-se "mar da tranquilidade". 50 vezes maior do que a terra, a
380 mil quilómetros de distância aquele passo foi a medida da nossa
mínima humanidade.
Neste oceano de incertezas, perigos e perplexidades, nenhum outro
"mergulho" futuro foi dado. Em amplo espaço lunar continua por enviar
aquele postal sem selo nem morada destinada.
Em 2004, pousou em Marte a sonda "Opportunity" e, em 2012, a
"Curiosity". Calcula-se que para perfazer a distância real até alcançar
Marte são necessários um ano completo, 165 dias inteiros e incertas
horas de viagem. Se é possível medir o tempo e o espaço da
"oportunidade" e da "curiosidade", demasiado humanas para tamanha
escala. De Marte nenhuma voz. Nem um passo. Nenhum postal para memória
futura. Ontem chegaram-nos fotografias da mais recente sonda em solo
marciano: um auto-retrato. Exacta, linha a linha, a máquina olha-se.
Curiosidade ou vaidade?
Enquanto isso, o planeta vermelho seguirá a sua trajectória imutável.
Tranquilo o mar lunar, "uma magnífica desolação". Entre desertos
terrenos, interiores ou planetários, qual será a nossa rota? Talvez
Caetano Veloso (que escreveu e cantou "Terra" nos anos da primeira ida à
lua) nos responda:
"Quando eu me encontrava preso / Na cela de uma cadeia / Foi que vi
pela primeira vez / As tais fotografias / Em que apareces inteira /
Porém lá não estavas nua / E sim coberta de nuvens... / Terra! Terra! /
Por mais distante / O errante navegante / Quem jamais te
esqueceria?...".
Terra: a medida da nossa mínima humanidade
Docente universitária
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS DA MADEIRA
09/09/12
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