HOJE NO
"PÚBLICO"
Evolução da Europa a duas velocidades
regressou ao debate europeu
O agravamento súbito da crise da dívida
europeia, alimentado pelas crises políticas
em Itália e na Grécia, está a relançar o debate
sobre a necessidade de um aprofundamento
rápido da integração entre os países da zona
euro deixando para trás os restantes
membros da União Europeia (UE).
Este tipo de cenário de Europa a duas velocidades está longe de ser novo e é cada vez mais defendido pela França e Alemanha, no quadro dos esforços de reforço das regras de governação económica entre os países da zona euro.
Os próprios tratados europeus permitem níveis diferenciados de integração para impedir que os países relutantes impeçam os outros de avançar para níveis mais acentuados de integração.
Segundo a Reuters, no entanto, as reflexões “ao nível intelectual” em curso entre a França e a Alemanha vão mais longe e incluem igualmente a possibilidade de recomposição da zona euro em torno de um grupo mais pequeno e coeso de países em termos económicos e geográficos.
A mesma agência diz que “funcionários franceses e alemães têm discutido planos para uma alteração radical da União Europeia que poderá envolver a criação de uma zona euro mais integrada e potencialmente mais pequena”. Um porta-voz do ministério francês das finanças negou terminantemente a existência de quaisquer planos para a redução da dimensão da zona euro.
A possibilidade uma zona euro com menos países do que os seus actuais 17 membros ganhou terreno a partir da semana passada quando a Grécia foi claramente avisada por Paris e Berlim de que teria de sair do euro se pusesse em causa o seu plano de resgate.
Diferentes diplomatas europeus reconheceram que a Alemanha nunca escondeu que preferiria uma zona euro limitada aos países vizinhos, com uma cultura de estabilidade mais próxima da sua, e sem os “perturbadores” países periféricos. Só que, referiu um diplomata europeu, “a zona euro sem a economia italiana não tem qualquer sentido nem mesmo para a Alemanha”.
A França tem assumido exactamente esta linha, quanto mais não seja por saber que só teria a perder numa zona euro limitada aos países “amigos” de Berlim.
Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, defendeu ontem que a zona euro deverá permanecer intacta. “O objectivo é manter a zona euro junta, com todos os 17 participantes a bordo”, afirmou durante uma visita à Suiça.
Já no que se refere à possibilidade de uma integração mais acentuada entre os países do euro, este é um cenário que é claramente defendido desde há muito pela França. Nicolas Sarkozy, presidente francês, voltou a repeti-lo ontem num discurso perante um grupo de estudantes, defendendo que é o único caminho possível para o futuro.
Durante um discurso em Berlim igualmente ontem, Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, alertou por seu lado para os riscos económicos que resultariam para a Alemanha de uma divisão da zona euro: a perda de um milhão de empregos e uma forte contracção da economia, calculou. Em sua opinião, “o desafio que se coloca agora é como aprofundar a integração da Zona Euro, sem criar divisões com aqueles que ainda não fazem parte” da moeda europeia. A Comissão Europeia conta apresentar aliás até ao fim do mês um conjunto de propostas precisamente para reforçar as regras de governação económica da zona euro.
Países de Leste como a Polónia ou República Checa resistem igualmente a qualquer cenário de Europa a duas velocidades, temendo um endurecimento das regras de acesso à zona euro que ainda não integraram por não respeitarem as condições de entrada. Os ingleses, que não querem aderir ao euro, também resistem, por temerem que uma maior integração dos 17 países do euro perturbe o funcionamento do mercado interno entre os Vinte e Sete.
* Há muito que denunciamos neste espaço de liberdade o perigo do "Eixo franco-alemão". O que se alterou foi o descaramento dos dirigentes dos dois países.
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