19/06/2011


MURTOSA

DISTRITO DE AVEIRO




A Murtosa é uma vila portuguesa, situada no Distrito de Aveiro, região Centro e sub-região do Baixo Vouga, com cerca de 3 100 habitantes.
É sede de um pequeno município com 73,65 km² de área e 9 847 habitantes (2008), subdividido em 4 freguesias. O município é dividido em dois pelo braço norte da ria de Aveiro

O território principal, onde se localiza a vila, é limitado a nordeste pelo município de Estarreja e a sul liga-se aos municípios de Albergaria-a-Velha e Aveiro através da ria de Aveiro, que também o rodeia a ocidente. O território secundário é limitado a norte, por terra, pelo município de Ovar e a sul pelo de Aveiro, e tem litoral na ria de Aveiro a leste e no oceano Atlântico a oeste. O concelho foi criado em 1926 por desmembramento de Estarreja.

História Local 

O Monte foi criado como freguesia civil em 17 de Julho de 1933, sendo desmembrada também religiosamente da freguesia da Murtosa. 
O Bunheiro pertenceu à freguesia de Avanca, devendo ter sido destacada pelos fins do século XVI. 
As quatro freguesias que hoje constituem o Concelho: Murtosa, Monte, Bunheiro e Torreira estiveram anexadas ao Concelho de Estarreja até 1926. 
A luta pelo movimento autonómico durou alguns anos.
"Foi talvez pelo ano de 1200 que se fixaram neste rincão da beira-mar algumas famílias de marnoteiros e pescadores que não tardaram a aproveitar também os recursos da terra. Numa doação ao convento de Tarouca, no ano de 1242, aparece mencionada, com o nome de Morrecosa ou Mortecosa, uma marinha de sal que não será temerário aproximar das origens da Murtosa.

No entanto, é possível que, a princípio, lavradores e pescadores formassem classes aparte, pois a actual vila provém de dois núcleos distintos. Pardelhas pertenceu ao termo de Figueiredo, e os seus moradores eram foreiros do mosteiro de Vila Cova, situado na freguesia de Sandim. Murtosa entrou no Couto de Antoã e Avanca, pertencente ao Mosteiro de Arouca. Ambas se desenvolveram a par e formaram em bom entendimento uma unidade para o governo eclesiástico, antes de constituírem uma unidade para a administração civil.
Parece que a paróquia já existia em princípios do século XVI. Numa espécie de censo da população, feito em 1527, aparece no termo da Vila da Bemposta, "cabeça do concelho de Figueiredo", a "aldeia de Pardelhas e freguesia", com 47 vizinhos. A "aldeia da Murtosa e sua juradia", pertencia então ao termo da vila de Antuã e tinha 22 vizinhos. As duas aldeias somavam, pois 69 vizinhos - núcleo populacional importante, comparado com outros: Estarreja tinha 50, Salreu 37, Avanca 50, Pardilhó 20, Saidouros (Bunheiro) 19, Aveiras (Veiros) 34.
 Num "Promptuário das Terras de Portugal" organizado em 1689, afirma-se explicitamente essa divisão: pertenciam ao termo da Bemposta os lugares do Ribeiro, Agra, Rua do Ribeiro, Pardelhas, Outeiro, Caneira e a Póvoa da Saldida; ao de Estarreja ficavam Murtosa e Monte.
 A documentação relativa aos dois aglomerados populacionais tem de procurar-se respectivamente no que resta dos cartórios de S. Bento da Ave-Maria (para a qual passaram as freiras de Vila Cova em 1535) e de Arouca.

Quanto a Pardelhas, sabe-se que, já em 7 de Março de 1287, mandava el-rei D. Dinis que lá não exercesse jurisdição o juiz da Feira. O convento de Vila Cova pôs-lhe depois seu juiz e procurador, até que, em 13 de Maio do ano de 1358, por carta de el-rei D. Pedro, ficou assente que toda a jurisdição do crime e do cível pertencia ao concelho de Figueiredo. O mosteiro de Vila-Cova obteve para os seus caseiros e lavradores que moravam em Pardelhas alguns privilégios por cartas de 2 de Janeiro de 1448 e 3 de Novembro de 1451.
 As terras pertencentes a Arouca estavam divididas das de Vila-Cova por marcos e divisões de que fala a carta de instituição do Couto de Antoã em 1257 e uma inquirição de 1334.
 No século XVI, o convento de S. Bento da Ave-Maria organizou o tombo das suas propriedades em Pardelhas e, em 1697, mandou erigir novos marcos de pedra com o báculo de S. Bento e a respectiva data. No auto de demarcação, fala-se no "arco da capela-mor da igreja velha da Murtosa", antecessora da actual.
  As freiras beneditinas tiveram questão sobre as rendas de Pardelhas com Jorge Moniz, senhor de Angeja, em 1575, e com o Marquês de Angeja em 1756."

OLIVEIRA, Miguel de - Nótula Histórica da Murtosa. Progresso da Murtosa. Murtosa: Mário Silva. Nº. 369 (1936).


 Desde tempos imemoriais, a Torreira pertenceu ao Termo de Cabanões e mais tarde a Ovar.
Num decreto da Legislação Portuguesa de 24 de Outubro de 1855, há referência da passagem da Torreira para o Concelho de Estarreja, ordenando-se que a dita freguesia ficasse unida para todos os efeitos administrativos e judiciais à freguesia da Murtosa.
A freguesia civil foi criada em 30 de Outubro de 1926 e incluída no actual Concelho da Murtosa. Foi elevada a vila em 12 de Julho de 1997.
O Monte foi criado como freguesia civil em 17 de Julho de 1933, sendo desmembrada também religiosamente da freguesia da Murtosa.
O Bunheiro pertenceu à freguesia de Avanca, devendo ter sido destacada pelos fins do século XVI.
As quatro freguesias que hoje constituem o Concelho: Murtosa, Monte, Bunheiro e Torreira estiveram anexadas ao Concelho de Estarreja até 1926.
A luta pelo movimento autonómico durou alguns anos.
Em 27 de Abril de 1898, o Dr. Barbosa Magalhães, apresentou nas cortes um Projecto de Lei propondo a criação do Concelho da Murtosa, constituído pelas freguesias da Murtosa e Bunheiro. Continuando este povo sem ser atendido nos seus protestos de emancipação, alguns "Homens Ilustres", deslocaram-se às cortes gerais, em 7 de Abril de 1899, solicitando a aprovação da sua petição de elevar a Murtosa a Concelho.
Após grande insistência, o então Ministro do Interior, Jaime Afreixo, colabora com o povo da Murtosa e esta desanexa-se de Estarreja, em 29 de Outubro de 1926. 

Lenda ou tradição


     "Diz-se, na tradição corrente, que a progenitora do grande povo da Murtosa terá sido uma moça muito bonita, chamada Teresa Caqueja, natural de Fermelã, desterrada para aqui em expiação de crime que a tradição não pormenoriza.

     A Murtosa então, ainda sem nome, era terra de condenados ao desterro. Sozinha entre o céu e a terra lodosa, construiu a primeira casa de tábuas, uma arrecoleta ou recoleta na costa do Chegado, no local que ainda conserva o nome de "Chão das Figueiras". Sobreviveu. Arroteou um pedaço de terreno, fez horta, semeou e viveu do que colhia.

     Um dia, um pescador que passava encostou o barco à borda. Encontrou a Teresa sozinha. Falaram. Eram ambos moços. Amaram-se e casaram. Tiveram filhos. Entre fomes e farturas cresceram e multiplicaram-se no cumprimento do mandato genesíaco. Ele na água, pescando, arrancando o estrume para os campos. Ela tratando da terra. Ambos na simbiose característica da nossa gente "anfíbia" como, séculos depois, escrevia Raul Brandão."

VILAR, Jaime - Lenda ou Tradição?. Boletim da Biblioteca Municipal da Murtosa. Murtosa: Câmara Municipal da Murtosa (1993), p.11.

A Origem do Nome Murtosa 

Murtosa ou Murtoza?
A origem do nome deste concelho é por vezes um grande tema de discussão. Isto, porque a sua palavra primitiva sofreu grandes alterações com a evolução da língua portuguesa.
A história conta que esta era uma terra de «fogo morto»; terra de «foco mortuo»; terra mortua; terra mortuosa; terra mortosa; mortosa; murtosa.
Mortaus; mortua, morta ou myrtus; murtus, ; murta, que topónimo Murtosa foi buscar, originalmente, o étimo provável da sua formação?

Dizia-se casal de fogo morto o que estava desabitado e onde o lume se apagara; e por generalização : toda a terra inculta ou despovoada.
Na baixa latinidade, até D. Dinis, e em todos os documentos: terra de focuo-mortuo. Alterando-se a grafia, a seguir, para vulgar, a forma: terra mortua que, em sentido colectivo pelo reforçamento do sufixo OSA, nos apareceu transportada em terra mortuosa.
Vocábulo este que a crise e a fonética aligeirara : -terra mortusa < MORTOSA.
Nos velhos manuscritos que vão passando, o topónimo do nosso apadrinhamento surge, a cada passo, diferentemente grafado até nos próprios documentos oficiais:- MORTOOZA MORTTOZA MORTOZA;MURTOOZA, MURTOZA; MURTUOZA.
Para leis da fonética, é vulgaríssima conversão da vogal átona O em U, e na grafia arcaica, com frequência, se duplicavam as vogais tónicas. Assim se teria descaído em MURTOSA.
Terra morta, planura desolada, quase sem vida vegetativa, que os vendavais, cruéis e assoladores, batiam mais amuide na freima costa recortada.
Esta designação de «terra morta», deve-se ao facto desta zona ser denominada de Beira-marinha, são integralmente uniformes e homogéneas na associação dos caracteres da sua estrutura geológica e étnica. A mesma harmonia as confunde em todos os detalhes do seu conjunto. Até o seu revestimento vegetal é de perfeito aspecto similar. E incluem-se na divisa cenezoica de formação moderna. De natureza sedimentar, emergem hoje no antigo golfo marítimo, de reintrância ainda hoje bem definida, sob a acção de poderosas forças, erosivas e construtivas.
No tempo de Afonso III eram simples afloramentos arenosos, distendidos em medois e cabedelos, farto manto de junças. Escoadoiros barrento. Esteiros, sapães e atoleiros. Ínsoas, lagoas, charcos, ilhotas, canais e ribeiros. Faixas alagadiças e empapadas das vasas aluvianares. 
Marinha e ria – enquadramento de maravilhosa traça fisionómica que corda de areia fulva veio fechar, depois, até Mira às iras oceânicas e a muralha esborcinada do paleozoico cintou a nascente. Perspectiva onde os olhos se nos ficam a abeberar-se na perturbante magia dos seus panoramas.
Vale a pena pensar nas nossas origens... descobrimos verdadeiras maravilhas.

PATRIMÓNIO NATURAL

As Dunas

O biótipo dunar desenvolve-se na zona mais próxima do mar, sendo formado por um coberto vegetal rasteiro, bastante adaptado a condições adversas, como sejam: solos pobres em nutrientes e com elevada salinidade, pouca disponibilidade de água doce e as tempestades com ventos, por vezes muito fortes. Este tipo de condições torna difícil a fixação e crescimento das plantas. Este coberto vegetal desempenha, porém, um papel muito importante na preservação do litoral arenoso, uma vez que fixa e consolida as areias, formando uma barreira dunar contra o avanço do mar para o interior. As espécies vegetais pioneiras no povoamento da praia são o estorno, principal espécie no estabelecimento das dunas primárias, a couve marinha, o cardo marítimo, cordeiro da praia Cyperus capitus, entre muitas outras.

    Caminhando para o interior, a duna primaria dá origem a uma zona interdunar, mais plana e depressionária, onde o coberto vegetal disperso e em forma de tufos característico do povoamento pelo estorno, dá lugar a um estrato vegetal rasteiro denso e uniforme, formado por arbustos, herbáceas e gramíneas. Nesta zona podem-se observar espécies como o junco, a madorneira, o rabo-de-raposa, a granza da praia, a cebola do mar, a erva-prata, o morrião das praias, a camarinha e salina das praias. São frequentes ainda manchas arbustivas, sobretudo de acácias. A duna secundária, devido ao seu solo ser mais rico em nutrientes, a sua salinidade ser menor, e as espécies terem maior acessibilidade a água doce, caracteriza-se por um elevado número de espécies de maior porte, estando maioritariamente ocupada por matas de Pinheiro Bravo. Para além de serem os “pulmões“ do litoral, as dunas constituem uma das riquezas ecológicas e paisagísticas da região.


A ria de Aveiro
O Concelho da Murtosa é banhado por um dos mais belos acidentes hidrográficos que se designa vulgarmente por Ria de Aveiro.
 A Ria de Aveiro estende-se por cerca de 45 Km de comprimento, desde Ovar até Mira.
 Nela, desaguam rios como o Vouga, Águeda e Cértima. Comunica com o mar através de uma barra artificial aberta em 1808. A abertura da barra permite à população que vive junto à ria um maior bem estar económico e social.
Moliceiro

 A Ria de Aveiro comunica com o mar através da barra, sendo afectada pelas suas águas salgadas e pelas águas doces dos rios. Esta situação vai condicionar a flora e a fauna de toda a região, e transformar este espaço num habitat muito importante a nível Nacional.
A Ria de Aveiro tem uma grande diversidade de habitats naturais: "estuários, lagunas, lodaçais e areias a descoberto na maré baixa, prados salgados atlânticos, florestas dunares de Pinheiro - bravo (Pinus pinaster) e Pinheiro - manso (Pinus pinea), turfeiras altas activas, freixiais (de Fraximus angustifolia), carvalhais (de Quercus fraginea) e muitos outros."
Ria de Aveiro: Uma história que fala por si. Forum Ambiente. Porto: Grupo Forum. 1999, nº.59. 


A Ria é considerada uma zona húmida relevante e protegida por diversos meios legais (Biótopo de Corine, Zona de Protecção Especial entre outros).
Existem inúmeras espécies a proteger na Ria de Aveiro, entre as quais a Lontra (Lutra lutra).
Podemos encontrar espécies piscícolas: solha, linguado, robalo, taínha e enguia, esta última com grande relevância na gastronomia deste concelho.
Na flora referimos a importância, para este Concelho, da existência do bunho, na realização das esteiras e do junco, utilizado ainda hoje para fazer a cama do gado e, posteriormente, junto com os excrementos, serve como fertilizante da terra.
 Há uma espécie que trouxe, ao longo de diversos anos, vantagens económicas para o Concelho da Murtosa - o moliço.
"O moliço tem sido colhido ao longo de diversos séculos para utilização agrícola, no enriquecimento e condicionamento de terrenos arenosos.(...
As áreas cobertas pelo moliço, são de elevada importância biológica: constituem abrigo para juvenis de espécies piscícolas; são uma fonte importante de produção primária e servem como acumuladoras de energia e nutrientes. Além disso, a vegetação submersa estabiliza os sedimentos do fundo, retira energia às correntes de maré e diminui a turbidez da água. Actualmente a recolha do moliço, cinge-se a uma actividade esporádica." 

SOUTO, Luís; PINHO, Rosa - Património Natural I - Prelúdio. 1ª. ed.. Aveiro: ADERAV - Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro, 2001. 159 p. (Patrimónios; nº.1).ISBN 972-9091-02-1.
A Murtosa situa-se próxima da Reserva Natural das Dunas de S. Jacinto, criada pelo Decreto-Lei nº. 41/79 de 6 de Março "com vista à fixação das dunas e conservação do património faunístico e florístico.
 " Foi reclassificada pelo Decreto Regulamentar nº. 46/97 de 17 de Novembro.
SILVA, Gilberto M.; VAZ, Rui M. - Guia do Visitante: Trilho de Descoberta da Natureza. S. Jacinto: Instituto da Conservação da Natureza, 1999. ISBN 972-775-029-X.


 A Colheita do Moliço

A colheita do moliço é praticada desde Ovar a Mira, nos logradouros públicos de Esmoriz, Ovar, Torreira, Bunheiro, Pardelhas, Pardilhó, S. Jacinto, Aveiro, Ílhavo e Areão, e também, nas praias particulares e nos viveiros das marinhas de sal, mediante autorização contratada.
Na época que vai de Março a Setembro, e sobretudo no Bico (Murtosa), na ribeira da Aldeia (Pardilhó) e nas ribeiras do Martinho, Gago e Mancão (Bunheiro), pode assistir-se à descarga e comercialização de moliço.
Os indivíduos que se ocupam da apanha do moliço, na generalidade, já não o fazem como profissão principal, 
mas como complemento da agricultura ou da pesca, estando a profissão de moliceiro extinta. 
O moliço é colhido com maior frequência na Marinha de Mós, Areia Branca, Cepo, Mangil, Testada, Monte Farinha e algumas ilhotas, realizando-se a colheita nos sítios de maior profundidade da seguinte forma: primeiramente os moliceiros tomam barlavento; a certa distância, e com andamento reduzido, colocam então os ancinhos de arrastar nos bordos do barco; durante o percurso os "encinhos" (como lhe chamam) são retirados alternadamente sempre que os sintam carregados para depositar nas cavernas a respectiva "encinhada" ou seja a porção de moliço colhido, e tornam a colocá-los nos seus lugares. Atingido o limite do local determinado para a colheita, suspendem-na, voltam a tomar barlavento (lado de onde sopra o vento) e colocam de novo os ancinhos. Esta operação vai-se repetindo até completar o carregamento do barco, dando-se o nome de maré de moliço a cada carregamento completo. Para verificarem se a embarcação já está suficientemente carregada, normalmente utilizam como marca o nível da água junto à fêmea inferior à ré.
 Pelo contrário, nos pontos onde a profundidade é menor, a colheita pratica-se com a matola, ou então a pé, como nas praias e nos viveiros, sendo que neste último caso a água chega a atingir frequentemente a altura do peito.
Na Bestida, terminam uma boa maré com uma “queijada”, elevação de moliço junto ao mastro e com dois ou três “cavalões”, montes ondulados à ré, que enfeitam mais a maré.
 São vários os factores a que se tem de atender para uma boa faina: os ventos, as marés, consequentemente a altura das águas, a corrente, o estado de amadurecimento das algas e os locais escolhidos para a colheita.
Completada a barcada, chega a hora da descarga, que se efectua com ligeiras diferenças, consoante as características
do local, e consequentemente da morfologia das margens.

 Sempre que o moliço se destine a aplicação em verde, após a apanha, o que acontece nos terrenos marginais ou próximos deles, os carros de bois vão junto dos barcos, na Ria, para o receber e conduzir imediatamente; outras vezes descarregam-no em filas sucessivas de pequenos montes, nas mofas, que são cais de reduzida extensão.
Se, pelo contrário, é aplicado em seco, como sucede nos terrenos arenosos do Sul, locais por vezes muito afastados do sítio onde foi colhido, é então descarregado e estendido em terrenos ligeiramente inclinados a que dão o nome de malhadas para lhe ser extraída a percentagem de água, entre 60 a 82%, que representa uma sobrecarga inútil.
Durante anos o moliço foi usado como fertilizante dos campos ribeirinhos, transformando grandes extensões de areia em terrenos agrícolas muito férteis.

Casa Típica

A casa é um dos elementos mais significativos da humanização na paisagem.
 Ela traduz um grande número de circunstâncias geográficas, económicas, sociais, históricas e culturais.
 A evolução da casa na Murtosa transmite essencialmente o modo de viver desta população, é um espelho do seu passado e presente.
 Como refere Humberto Beça, no artigo que escreveu "A Casa Portuguesa: Evolução da Habitação na Murtosa", "o que seria a primitiva habitação d`estes colonos, é impossível sabê-lo hoje quiçá a cabana de madeira e colmo ou de lama e colmo."

 Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano no livro intitulado "Arquitectura Tradicional Portuguesa", descrevem a Casa da Murtosa como tendo três formas diversas...., do tipo mais simples para o mais elaborado."
 Descrevem como as principais divisões das "casas alpendre", a cozinha, quartos, sala, despensa ou sala do meio.
 Característica das casas alpendre é, sem dúvida, como o próprio nome indica, o alpendre. Este, funciona como uma entrada da casa, virado para a eira, estando separado desta por um muro baixo, que se designa por poal. No poal assentam as colunas que sustentam o frechal do telhado, e que deixa uma abertura de passagem a um ou aos dois lados.
 As casas mais modestas, por vezes, não possuem poal, e as colunas podem ser substituídas por "esteios de granito ou prumos de madeira".
"O pavimento do alpendre é geralmente ladrilhado com tijoleiras, ou lajeado com uma pedra acinzentada; poucos ficavam em terra batida. O tecto era forrado por cima dos caibros, e só raros se apresentavam em telha-vã.
O alpendre serve para nele se recolher aquilo que seca na eira - milho, feijão, etc.; muitos deles são fechados, quando chove, por esteiras de tábua ou empanadas de madeira, presas às colunas. De resto, a água do telhado voltada ao sul - que cobre o alpendre - é também normalmente utilizada para secagem."
 "Nas antigas casas deste tipo, as paredes mestras são de adobos de barro,...amassado, moldados em formas de madeira e secos ao sol, e ligados com argamassa de cal e areia.(...)
 
Nas casas mais recentes destes tipos, os adobos de barro foram substituídos por adobos de cal e areia.(...) O telhado é de telha caleira, a que dão o nome de telha Fontela.(...)
Nas casas antigas, de adobo de barro, os caboucos, pouco profundos,...são de lousa ou de pedra vermelha de Eirol.(...)
As traves e barrotamento do telhado, são de castanho, e o resto dos madeiramentos, em baixo, geralmente de pinho."
 As janelas são normalmente de guilhotina com portadas exteriores, "as portas exteriores são de uma só folha, com dobradiças firmadas em tacos de madeira embutidos nas paredes; as portas interiores têm tranquetas ou taramelas de madeira."
OLIVEIRA, Ernesto Veiga de; GALHANO, Fernando - Arquitectura Tradicional Portuguesa. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992. ISBN 972-20-0959-1.
Como refere ainda Humberto Beça, a arquitectura vai sofrer na Murtosa transformações progressivas até aos nossos dias, primeiramente devido à "grande fecundidade da mulher murtoseira", que levando a um aumento significativo do número de filhos por casal influenciou a habitação; ainda através da habitação podemos vislumbrar a alteração que a circulação da população murtoseira, nomeadamente a emigração para o Brasil, Estados Unidos da América e Venezuela, provocaram na paisagem.
 Hoje começa a verificar-se um aumento do número de "Casas Alpendre" novas, recuperadas e a utilização de algumas das suas características em casas modernas.
 O Regulamento Municipal de Taxas e Licenças da Câmara Municipal da Murtosa estabelece isenção do pagamento de taxas à "construção de edifícios com interesse histórico/ arquitectónico, como é o caso da "casa alpendre"".

Gastronomia

A região da Ria, e em particular a Murtosa, é um espaço relevante de riqueza gastronómica.
A enguia é o peixe mais popular da Ria e à volta dele inventaram-se receitas sem conta, sendo a caldeirada de enguias (que podem também ser fritas ou em molho de escabeche), o prato típico mais emblemático. Aliás, a indústria conserveira associada à enguia foi, e é, um dos motores da economia Murtoseira. 
Esta incursão gastronómica pela água não ficaria bem sem a inclusão da lampreia, dos chocos, dos cricos e da típica caldeirada de Peixe à Pescador. Existem ainda diversos pratos de carne, com realce para os rojões à lavrador.
Na doçaria, destacam-se os pastéis “Monte Branco”, “Âncora” e o Pão de Ló de Barquinho.

Relativamente a feiras e festivais gastronómicos, realizam-se o Festival da Lampreia e Festival da Enguia, que têm sido levados a cabo pela Confraria Gastronómica "O Moliceiro".



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