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Série História da Península Ibérica | ||||
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Portugal | Espanha | |||
Pré-História | ||||
Período pré-Romano | ||||
Invasão romana | ||||
Hispânia: Citerior e Ulterior | ||||
Bética; Cartaginense; Galécia; Lusitânia e Tarraconense | ||||
Invasões bárbaras: Suevos e Visigodos | ||||
Invasão e domínio árabe | ||||
Período das Taifas | ||||
A Reconquista e o Reino das Astúrias | ||||
Reino de Leão | ||||
Portucale | Aragão; Castela-Leão e Navarra |
Os visigodos foram um de dois ramos em que se dividiram os godos, um povo germânico originário do leste europeu, sendo o outro os ostrogodos. Ambos pontuaram entre os bárbaros que penetraram o Império Romano tardio no período das migrações. Após a queda do Império Romano do Ocidente, os visigodos tiveram um papel importante na Europa nos 250 anos que se seguiram, particularmente na península Ibérica, onde substituíram o domínio romano na Hispânia, reinando de 418 até 711, data da invasão muçulmana, que substituiria o reino visigodo pelo Al-Andaluz
Alguns autores defendem a origem do nome "visigodo" na palavra Visi ou Wesa ("bom") e do nome Ostro, de astra[1] Mas a opinião mais consagrada considera a origem da palavra na denominação de "godos do oeste", do alemão "Westgoten", "Wisigoten" ou "Terwingen", por comparação com os ostrogodos ou "godos do leste" — em alemão "Greutungen", "Ostrogoten" ou "Ostgoten"[2] (resplandescente).
Os vestígios visigóticos em Portugal e Espanha incluem várias igrejas e descobertas arqueológicas crescentes, mas destaca-se também a notável quantidade de nomes próprios e apelidos que deixaram nestas e noutras línguas românicas. Os visigodos foram o único povo a fundar cidades na Europa ocidental após a queda do Império Romano e antes do pontuar dos carolíngios. Contudo o maior legado dos visigodos foi o Direito visigótico, com o Liber iudiciorum, código legal que formou a base da legislação usada na generalidade da Ibéria cristã medieval durante séculos após o seu reinado, até ao século XV, já no fim da Idade Média.
História
Origem e migrações dos visigodos
Os visigodos emergiram como um povo distinto no século IV, inicialmente nos Bálcãs onde participaram em várias guerras com os romanos, e por fim avançando por Itália e saqueando Roma sob o comando de Alarico I, no ano 410. Este povo conquistou no século III a Dácia, província romana situada na Europaséculo IV, ante a ameaça dos hunos, o imperador bizantino Valente concedeu refúgio aos visigodos ao sul do Danúbio, mas a arbitrariedade dos funcionários romanos levou-os à revolta. Penetraram nos Balcãs e, em 378, esmagaram o exército do imperador Valente nas proximidades da cidade de Adrianópolis [3]. Quatro anos depois, o imperador Teodósio I, o Grande conseguiu estabelecê-los nos confins da Mésia, província situada ao norte da península balcânica. Tornou-os federados (foederati) do império e deu-lhes posição proeminente na defesa. Os visigodos prestaram uma ajuda eficaz a Roma até 395, quando começaram a mudar-se para oeste. Em 401, chefiados por Alarico I, que rompera com os romanos, entraram na Itália e invadiram a planície do Pó, mas foram repelidos. Em 408 atacaram pela segunda vez e chegaram às portas de Roma, que foi tomada e saqueada em 410.
Reino de Toulouse (418-507)
Nos anos seguintes, o rei Ataúlfo estabeleceu-se com seu povo no sul da Gália e na Hispânia e, em 418, firmou com o imperador Constâncio um tratado pelo qual os visigodos se fixavam como federados na província de Aquitania Secunda, na Gália. A monarquia visigoda consolidou-se com Teodorico I, que enfrentou os hunos de Átila na batalha dos Campos Catalâunicos. Em 475, Eurico declarou-se monarca independente do Reino Visigodo de Toulouse, que incluía a maior parte da Gália Aquitânia e a Hispânia. Seu reinado foi extremamente benéfico para o povo visigodo: além da obra política e militar, Eurico cumpriu uma monumental tarefa legislativa ao reunir as leis dos visigodos, pela primeira vez, no Código de Eurico, conservado num palimpsesto em Paris. Seu filho Alarico II codificou, em 506, o direito de seus súbditos romanos, na "Lex romana visigothorum", mas carecia dos dotes políticos do pai e perdeu quase todos os domínios da Gália em 507, quando foi derrotado e morto pelos francos de Clóvis, na batalha de Vouillé, perto de Poitiers. Desmoronou então o reino de Toulouse e os visigodos foram obrigados a transferir-se para a Hispânia.
Reino de Toledo (507-711)
O reino visigodo na Península Ibérica esteve durante algum tempo sob o domínio dos ostrogodos da Itália, mas logo recuperou a sua velha autonomia. Até conquistar o domínio sobre toda a península Ibérica, os visigodos enfrentaram suevos, alanos e vândalos, grupos de guerreiros germânicos que haviam ocupado a região desde antes de sua chegada. A unidade do reino teria sido completa já durante o reinado de Leovigildo, mas ficou comprometida por, dentre outros problemas, uma questão religiosa: os visigodos professavam o arianismo e os hispano-romanos eram católicos. O próprio filho de Leovigildo, Hermenegildo, chegou a sublevar-se contra o pai, depois de converter-se ao Catolicismo. Mas esse obstáculo para a fusão com os hispano-romanos resolveu-se em 589, ano em que o rei Recaredo I proclamou o Catolicismo religião oficial da Hispânia visigótica. Na realidade, as aristocracias goda e hispanoromana se encontravam de tal forma entrelaçadas, que a existência da diferença religiosa e de leis específicas para cada um dos grupos era naquele momento apenas uma barreira formal: na prática, os casamentos mistos eram comuns, e a própria divergência religiosa podia ser matizada, como se pode comprovar pelo facto de a Igreja Católica na região nunca ter passado por perseguições sistemáticas por parte da monarquia visigoda, até o reinado de Leovigildo.
Outro indício de que a diferença religiosa entre godos e hispanoromanos já não era um elemento de distinção fundamental (se algum dia o foi), é o facto de a própria rebelião do filho católico de Leovigildo ter sido apoiada também por aristocratas arianos. A conversão de Recaredo, no III Concílio de Toledo, em 589, marca o início de uma estreita aliança entre a monarquia visigoda e a Igreja católica ibérica, desenvolvida marcadamente ao longo do século VII, a qual ganharia uma expressão peculiar em textos de intelectuais eclesiásticos da época, cujo ícone mais famoso é Isidoro de Sevilha. A monarquia visigoda foi destruída em 711 pela invasão muçulmana procedente do norte de África, que substituiria o reino visigodo por Al-Andaluz.
Fim da monarquia, invasões e resistência (711-722)
A monarquia dos visigodos era electiva. Com a morte do rei Vitiza em c.710 as cortes reuniram-se para eleger o seu sucessor, constituindo-se duas facções em disputa pela eleição: o grupo do seu filho Ágila II e o de Rodrigo, o último rei visigodo de Toledo. Rodrigo foi eleito em Cortes muito disputadas, provavelmente na Primavera de 710, mas a facção que apoiava o filho de Vitiza não aceitou a sua eleição e iniciou-se um período de guerra civil.
Os partidários de Ágila solicitaram então apoio ao governador muçulmano de África, Tarik Ibn-ZiadCeuta e incitando-o a enviar uma expedição militar à península, já que desde o final do século VI os judeus vinham sendo perseguidos naquela região e, de acordo com a xariá, a lei islâmica, é obrigação do muçulmano defender os adeptos dos livros (judeus e cristãos) [4]. Esta defesa era sustentada pelo facto de, desde 612, os regentes terem decretado o batismo compulsório de judeus, por decreto real, sob pena de confisco dos bens ou expulsão daquela terra.
Em 711, sob o comando do próprio Tárique, tropas muçulmanas atravessaram o Estreito de Gibraltar e venceram os partidários de Rodrigo na batalha de Guadalete. Contudo, após a vitória, os muçulmanos não colocaram Ágila no trono e foram alargando as suas conquistas pela península Ibérica, território designado em língua árabe como Al-Andalus, da qual, por fim, ficaram senhores, colocando sob tutela cristãos e judeus, pois ambos sofriam ataques e combatiam-se mutuamente[5].
Abdulaziz (ou Abdul-el-Aziz, primeiro walis (governador muçulmano) do Al-Andalus, subjugou a Lusitânia e a Cartaginense, saqueando as cidades do Norte que lhe abriam as portas e atacando aqueles que lhe tentaram resistir. Às suas investidas escapou, porém, uma parte das Astúrias, no Norte, onde se refugiou um grupo de visigodos sob o comando de Pelágio. Uma caverna nas montanhas servia simultaneamente de paçoCristo. Por vezes, Pelágio e seus companheiros desciam das montanhas em surtidas para atacar os acampamentos islâmicos ou as aldeias despovoadas de cristãos. Um desses ataques, a designada batalha de Covadonga travada em 722, marcou segundo muitos historiadores o início do longo processo de retomada dos territórios ocupados, ao qual se deu o nome de Reconquista.
A partir do pequeno território que Pelágio designou como Reino das Astúrias os cristãos (hispano-godos e lusitano-suevos), acantonados nas serranias do Norte e Noroeste da península, foram gradualmente formando novos reinos, que se estenderam para o Sul. Surgiram assim os reinos de Castela, o Leão (de onde derivou mais tarde o Condado Portucalense e, subsequentemente, Portugal), Navarra e Aragão. O reino das Astúrias durou de 718 a 925, quando Fruela II ascendeu ao trono do Reino de Leão.
Cultura visigótica
Religião
Existia um fosso religioso entre os povos católicos da Hispânia e os visigodos, que há muito professavam o arianismo, uma visão cristológica da igreja primitiva, considerada herética desde o Primeiro Concílio de Niceia, em 325. Os visigodos ibéricos mantiveram-se arianistas até 589 (sobre o papel desta religião veja-se a entrada sobre Leovigildo). Existiam também divisões profundas entre a população católica da península, anteriores à chegada dos visigodos. Logo no início do pontificados do Papa Leão I, nos anos 444-447, Turribius, Bispo de Astorga, enviou a Roma um memorando avisando para a sobrevivência do priscilianismo, uma corrente ascética, pedindo auxilio à Santa Sé.[6] Leão interveio, enviando um conjunto de normas que cada bispo deveria assinar: todos o fizeram. Contudo um segmento significativo das comunidades cristãs ibéricas afastava-se da hierarquia ortodoxa e considerava bem vinda a tolerância dos Visigodos arianos.
Os visigodos evitavam interferir entre os católicos mas estavam interessados no decorum e na ordem pública.[7] Em 589, o rei Recaredo converteu o seu povo ao catolicismo. Com a conversão dos reis visigodos, os bispos católicos aumentaram o seu poder até, no quarto Concílio de Toledo, em 633, tomaram para si o direito dos nobres, de escolher um rei entre a família real. A perseguição visigótica aos judeus começou após a conversão de Recaredo, quando em 633 este mesmo sínodo de bispos declarou que todos deveriam ser baptizados.
Direito visigótico e legado
Os visigodos caracterizaram-se pela imensa influência que receberam da cultura e da mentalidade política romana, realizando um importante trabalho de compilação cultural e jurídica. Destaca-se o Direito visigótico, com figuras como santo Isidoro de Sevilha e obras jurídicas como o Código de Eurico, a Lex romana visigothorum e o Liber iudiciorum, código visigótico que forneceu as bases da estrutura jurídica medieval na Península Ibérica, que expressam o grau de desenvolvimento cultural que o reino visigodo alcançou. Os visigodos influenciaram também formas artísticas originais, como o arco de ferradura e a planta cruciformeigrejas. das
Arquitectura
Os poucos exemplares sobreviventes da arquitectura visigótica do século VI são a igreja de San Cugat del Vallés em Barcelona, a ermida e igreja de Santa Maria de Lara, a Capela de São Frutuoso em Braga, a Igreja de São Gião na Nazaré e alguns vestígios da Igreja de Cabeza de Griego, em Cuenca. Contudo o seu estilo propagou-se nos séculos seguintes, embora os exemplos mais notáveis sejam rurais e estejam na maioria em ruínas. Os visigodos influenciaram formas artísticas originais, como o arco de ferradura e a plantacruciforme das igrejas.
Algumas das características da arquitectura visigótica são:Planta de basílica, e por vezes cruciforme, podendo ser uma combinação de ambas, com espaços bem compartimentados; Arcos em forma de ferradura sem pedras de fecho; Abside rectangular exterior; Uso de colunas e pilares com capitéis coríntios de desenho particular; Abóbodas com cúpulas nos cruzamentos; Paredes em blocos alternando com tijolos; Decoração com motivos vegetais e animais. Exemplares sobreviventes de arquitectura visigótica:Capela de São FrutuosoBraga), Igreja de São Gião (Nazaré), San Juan de Baños de Cerrato (Palencia), Cripta de San Antolín de Palencia, San Pedro de la Mata (Toledo), Santa Comba de Bande (Ourense), San Pedro de la Nave ( (Zamora), Santa María de Quintanilla de las Viñas (Burgos), Santa María de Melque (Toledo).
Igreja de San Pedro de la Nave, Zamora. | Planta cruciforme da Capela de São Frutuoso. | Restos visigóticos (com arcos em ferradura) na cripta da Catedral de Palencia. |
WIKIPÉDIA
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