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IN "EXPRESSO"
20/08/18
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A aliança entre
o consumo e a poupança
Foram recentemente destacados na
imprensa os números do Banco de Portugal sobre o crédito. Níveis que nos
devem fazer refletir. 20 milhões dia concedidos aos particulares de
crédito ao consumo. Estamos a falar de um aumento de 18% comparado com o
semestre homólogo.
Níveis que nos levam para o período pré-Troika. Com uma forte agravante: Portugal tem a pior taxa de poupança da União Europeia. Sim leu bem, o fundo da tabela dos países da UE.
São duas variáveis que se interligam e que merecem forte ponderação do caminho a seguir e de qual o futuro que nos espera, se nada for feito para corrigir os desequilíbrios económicos de que padecemos.
Vamos ser claros. A conjuntura económica suavizou, mas os desequilíbrios estruturais, salvo honrosas excepções, estão na mesma. As pessoas sentem mais confiança, os índices de confiança dos consumidores e empresas todos o demonstram, e este número elevado de concessão de crédito é disso resultado. Todavia, se por um lado aumentam os empréstimos para comprar mais bens, mais viagens e mais carros, por outro os salários continuam a não esticar, a não crescer ao ritmo necessário para que sejam os fundos próprios a ser uma parte maior do pagamento das compras de bens duradouros.
E essa pouca capacidade de não aumentar os salários leva-nos a taxas de poupança muito baixas. O custo de vida em Portugal está caro. Muito caro para uma família de rendimentos medianos. A casa, o carro, os filhos, a luz, a água e a comida consomem grandemente os orçamentos familiares. Sobra pouco para poupar. No entanto, as pessoas precisam de viver e querem ter acesso a bens que só alcançam a crédito.
Esta situação obriga a um esforço adicional do Estado. De novo e sempre o Estado. Por um lado, com menos poupança, significa uma maior dependência do Estado para emergências. Por outro, devemos procurar formas graduais para, de forma sustentável, aumentar os salários das pessoas. Vemos greves e manifestações de classes profissionais que não conhecem aumentos há muitos anos. Justas. Por outro lado, vemos um país que continua a precisar de uma verdadeira reforma que nos possibilite ser produtivos e sonhar com mais rendimentos para nos assegurar uma vida mais desafogada. Mas falta o movimento reformista. Falta a ambição de perceber que este é um esforço nacional, para que todos fiquemos melhor, não pode haver castas na hora de mudar o estado de coisas, sob pena de se gerarem fracturas sociais.
Sobre a poupança, gostei de ler por estes dias um artigo do economista Martin Feldstein, professor de Economia em Harvard, que fez parte da equipa económica de Ronald Reagan, e foi presidente do NBER (National Bureau for Economic Research) dos Estados Unidos, importante organismo de apoio à investigação académica. No artigo, Feldstein teoriza sobre a necessidade de aumentar a poupança nos EUA. Necessidade premente face aos enormes números do crédito nos EUA, à data de hoje, também do outro lado do Atlântico a poupança e o crédito são motivo de atenção.
Para lá da poupança ser fonte de liberdade, pois tira a necessidade de viver a pensar no serviço da dívida, ela é uma necessidade premente num país como Portugal, cuja estrutura etária aconselha ao aforro para garantir aquilo que a pirâmide etária cada vez menos poderá cumprir, um nível de pensão digna, ou seja, sem uma brutal redução de poder de compra face à vida laboral activa. Sendo certo que o consumo faz mover a economia, porém a poupança permite um futuro com mais investimento, sobretudo endógeno, isto é, com menor dependência externa. Tal como a poupança investimento, nomeadamente público, é rúbrica que também não anda famosa.
Tempos desafiantes os que temos pela frente.
Níveis que nos levam para o período pré-Troika. Com uma forte agravante: Portugal tem a pior taxa de poupança da União Europeia. Sim leu bem, o fundo da tabela dos países da UE.
São duas variáveis que se interligam e que merecem forte ponderação do caminho a seguir e de qual o futuro que nos espera, se nada for feito para corrigir os desequilíbrios económicos de que padecemos.
Vamos ser claros. A conjuntura económica suavizou, mas os desequilíbrios estruturais, salvo honrosas excepções, estão na mesma. As pessoas sentem mais confiança, os índices de confiança dos consumidores e empresas todos o demonstram, e este número elevado de concessão de crédito é disso resultado. Todavia, se por um lado aumentam os empréstimos para comprar mais bens, mais viagens e mais carros, por outro os salários continuam a não esticar, a não crescer ao ritmo necessário para que sejam os fundos próprios a ser uma parte maior do pagamento das compras de bens duradouros.
E essa pouca capacidade de não aumentar os salários leva-nos a taxas de poupança muito baixas. O custo de vida em Portugal está caro. Muito caro para uma família de rendimentos medianos. A casa, o carro, os filhos, a luz, a água e a comida consomem grandemente os orçamentos familiares. Sobra pouco para poupar. No entanto, as pessoas precisam de viver e querem ter acesso a bens que só alcançam a crédito.
Esta situação obriga a um esforço adicional do Estado. De novo e sempre o Estado. Por um lado, com menos poupança, significa uma maior dependência do Estado para emergências. Por outro, devemos procurar formas graduais para, de forma sustentável, aumentar os salários das pessoas. Vemos greves e manifestações de classes profissionais que não conhecem aumentos há muitos anos. Justas. Por outro lado, vemos um país que continua a precisar de uma verdadeira reforma que nos possibilite ser produtivos e sonhar com mais rendimentos para nos assegurar uma vida mais desafogada. Mas falta o movimento reformista. Falta a ambição de perceber que este é um esforço nacional, para que todos fiquemos melhor, não pode haver castas na hora de mudar o estado de coisas, sob pena de se gerarem fracturas sociais.
Sobre a poupança, gostei de ler por estes dias um artigo do economista Martin Feldstein, professor de Economia em Harvard, que fez parte da equipa económica de Ronald Reagan, e foi presidente do NBER (National Bureau for Economic Research) dos Estados Unidos, importante organismo de apoio à investigação académica. No artigo, Feldstein teoriza sobre a necessidade de aumentar a poupança nos EUA. Necessidade premente face aos enormes números do crédito nos EUA, à data de hoje, também do outro lado do Atlântico a poupança e o crédito são motivo de atenção.
Para lá da poupança ser fonte de liberdade, pois tira a necessidade de viver a pensar no serviço da dívida, ela é uma necessidade premente num país como Portugal, cuja estrutura etária aconselha ao aforro para garantir aquilo que a pirâmide etária cada vez menos poderá cumprir, um nível de pensão digna, ou seja, sem uma brutal redução de poder de compra face à vida laboral activa. Sendo certo que o consumo faz mover a economia, porém a poupança permite um futuro com mais investimento, sobretudo endógeno, isto é, com menor dependência externa. Tal como a poupança investimento, nomeadamente público, é rúbrica que também não anda famosa.
Tempos desafiantes os que temos pela frente.
IN "EXPRESSO"
20/08/18
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