ESTA SEMANA NA
"VISÃO"
"VISÃO"
Já há mais 35 mil árvores no Pinhal de Leiria
(mas são precisas 200 vezes mais)
(mas são precisas 200 vezes mais)
Num só dia, 500 voluntários da Siemens encheram 59 hectares da Mata de Leiria com 35 mil pinheiros. Mas em outubro arderam nove mil hectares e ainda são precisas mais de sete milhões de árvores
Para contar esta história como deve ser, há que subir ao alto
de um monte em plena mata nacional de Leiria, para se vislumbrar os 59
hectares onde andam cerca de 400 voluntários da Siemens (em outubro
arderam 9 mil hectares). Por aqui, ouvem-se falar para cima de uma
dezena de línguas e os que agora vemos curvados sobre a terra ocupam os
mais diversos cargos na empresa alemã. Só que, do topo deste morro, mal
se distinguem. Estão quase todos de corta-vento cinzento, com o logotipo
nas costas, e ainda bem - apesar do sol e do trabalho puxar pelo
físico, está bastante frio pela manhã.
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A cada par de
trabalhadores, vindos até Vieira de Leira em autocarro desde Alfragide,
perto de Lisboa, dão-se três caixas com 56 pezinhos de pinheiro bravo.
Os regos onde irão plantá-los já estão abertos, felizmente, mas mesmo
assim têm de recorrer a às varas cedidas pelo Instituto da Conservação
da Natureza e Florestas (ICNF) para saberem que só podem enterrá-los a
uma distância de um metro e meio. Entre valas, há um espaço de três
metros, o suficiente para um dia mais tarde poder por aqui entrar uma
máquina para limpar o que se chama de "combustível". Mas, sigamos com
calma, que as explicações já chegam.
AGORA, QUE VENHA A CHUVA
Por
ora, há que pôr os olhos no chão e caminhar com cuidado por entre o
terreno arenoso se não queremos calcar as espécies recém plantadas. E
observar como se trabalha. Cada par de trabalhadores tem também uma
enxada e um sacho e com eles abre uma zona de colocação, prende a
amostra de pinheiro, por fim ampara-o e desenha um pequeno rego em sua
volta - esta última operação é para que a água das chuvas, esperada já
na segunda-feira, consiga regar as árvores como deve ser.
Não foi por acaso que Madalena de Sá, 45 anos, diretora do
centro de competências internacionais, se lembrou de desafiar os colegas
para esta empreitada, antes do Natal. "O primeiro registo da Siemens em
Portugal, ainda no século XIX, encontra-se aqui muito perto, na Marinha
Grande, com a compra de um forno para a indústria vidreira."
Para
concretizar esta ação de responsabilidade social, contratou-se a
empresa Fuga Perfeita, especializada em organizar encontros de team building,
que acabou por tratar de toda a logística. Sofia Fonseca, a diretora,
trouxe mais 50 pessoas consigo para garantir que nada falha neste dia.
Antes, já houve muito trabalho de bastidores, que começou com um
contacto para o ICNF para se perceber como era possível ajudar no
terreno.
DE OLHO NA MATA
Octávio
Ferreira, o engenheiro técnico que está a uns meses da reforma,
justifica a escolha destes talhões e não de outros. "Apesar de terem
ardido 9,5 hectares, só em 3,5 é que o arvoredo era baixo, plantado na
altura do último grande incêndio há 14 anos." Na restante área, como o
pinhal estava crescido, a pinha já caiu, há de abrir e espalhar a
semente, regenerando a floresta naturalmente.
"Neste talhão, e em mais
cem, não há peniscos [sementes] e é preciso plantar as árvores, 7,5
milhões em três anos", explica, soltando os números de cor. Depois, há
que fazer a manutenção: em outubro, vêm ver as falhas, que normalmente
rondam os 10 por cento, e fazer a retancha (plantar de novo, onde a
árvore não pegou). Quando daqui a quatro ou cinco anos o terreno se
encher de mato, terão de entrar com um trator e limpá-lo.
Maria
Leonor Marques, 65 anos, e as suas colegas do ICNF distinguem-se bem
aqui do alto. Estão vestidas de verde e identificadas como técnicas
deste instituto afeto ao Ministério da Agricultura. Desde há 40 anos que
faz de tudo um pouco, quer seja marcação de terrenos ou acompanhamento
dos cortes. Hoje, o dia será diferente, porque anda a checar como se
comportam estes voluntários vindos da capital. "Estou a ver se o
pinheiro está bem plantado, para garantir que quando chover ele não
morre."
Quem também anda a checar, mas apenas por
genuína curiosidade de meter conversa com os seus trabalhadores, é Pedro
Pires Miranda, CEO da empresa, com mais de 30 anos de casa. "É
fantástica a abertura das pessoas nestas condições. Esta foi ação que
organizámos que teve maior adesão, porque o tema dos incêndios mexe com
toda a gente", conta, antes de plantar mais um exemplar.
* Iniciativa valente.
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