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UM PAINEL SURREAL
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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
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É cada vez mais claro que Ana Rita Cavaco é uma bastonária com ambições políticas e qual é o território pelo qual alinha
Gorda fura-filas. Esterco. Traste. Fina flor do entulho. Vigarista. Nojo. Chiqueiro. Bandalhos. Hipócritas. Corruptos. É com este tipo de argumentação, que junta a acusações sem provas e a tiros permanentes contra os políticos, em geral, e alguns, em particular, que Ana Rita Cavaco exerce o seu mandato como bastonária dos enfermeiros. O seu território é o das redes sociais; os seus instrumentos, as ofensas e o bate-boca.
Desde o início do seu mandato que tem sido assim. Agora nota-se mais, porque, com o País nas trincheiras da luta contra a Covid-19, a bastonária está mais solta, tem mais palco e mais terreno fértil para a demagogia e para cavalgar insatisfações. Percebeu que, adotando esta técnica – a do confronto, da agressividade, da polarização e da exploração dos ressentimentos –, consegue ir mais longe.
Até onde, é a questão. É cada vez mais claro que Ana Rita Cavaco é uma bastonária com ambições políticas e qual é o território pelo qual alinha. Tal como o amigo André Ventura, a quem foi “dar um beijinho” na convenção do partido, em setembro passado, gosta de usar o nome do fundador do PSD em vão. “Sá Carneiro dizia ‘a política não é porca, há é porcos na política’. Depois disto vamos conversar seriamente”, escreveu há semanas no Facebook. Fala em vergonha e podridão, diz que este é um País de corruptos, promete a vitória e depois uma “revolução”. Não se limita a falar de saúde: “Isto é com vacinas, nem quero imaginar quando chegar a bazuca europeia”, atirou recentemente. A falta de compostura tem sido tanta que a anterior bastonária, Maria Augusta Sousa, se sentiu na obrigação de vir publicamente pedir desculpa em nome da classe e de exigir a abertura de um processo disciplinar contra a líder.
Miguel Guimarães, bastonário dos médicos, não alinha por esta bitola desbragada, é um facto, mas também tem alguns excessos em que, mais do que ajudar, desajuda e ultrapassa o que compete às suas funções de representação da classe. Além das críticas permanentes que faz ao SNS, se hoje temos falta de médicos especialistas em Portugal, à Ordem podemos agradecer. É também a ela que devemos a imensa resistência na abertura de cursos de Medicina privados e as poucas vagas abertas para a formação de médicos internos. Um bom exemplo foi o seu comentário colocando entraves à ajuda de médicos estrangeiros nesta situação de emergência nacional, sublinhando a necessidade de exames de português.
Talvez não seja mau recordar para que servem as ordens e os respetivos bastonários. Para surpresa de alguns, eis o que não são: clubes privados, confrarias nem sindicatos. E eis o que é suposto serem: associações profissionais de direito público, criadas para promover a autorregulação e a descentralização administrativa, com vista a defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos e a salvaguarda do interesse público. Apenas podem ser constituídas para a satisfação de necessidades específicas em profissões, cujo exercício exige autonomia técnico-funcional e independência, bem como capacidade técnica, estando explicitamente afastado o exercício de funções próprias das associações sindicais.
Acumulam, é certo, as funções deontológicas e de regulação com as de representação da classe e a defesa dos seus interesses. Mas sempre tendo em vista o fim último, que é o do interesse público. Um bastonário deve, pois, representar a classe mas, em última análise, servir a todos nós.
Não vejo como um e outro estão a servir o País no momento em que mais precisamos deles. Servir o País, fazem-no os médicos e os enfermeiros que estão nas urgências, nas enfermarias e nas UCI, a trabalhar para lá das suas forças desde março, e sem outra ambição que não seja a de fazer bem o seu trabalho, honrar os seus juramentos e salvar vidas. Era bom que os bastonários dignificassem mais o seu esforço e a sua dedicação.
* Directora da revista
IN "VISÃO" - 11/02/21
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