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Trabalha-se muito em Portugal
mas a produtividade é baixa
A duração efectiva anual média de trabalho em Portugal é a terceira mais elevada da Europa, depois da Grécia e da Alemanha , com cerca de 1870 horas.
Num inquérito sobre as forças de trabalho, abrangendo 15 países europeus, a Finlândia é o último da lista liderada pela Grécia.
Contudo, apesar de os trabalhadores portugueses serem dos que mais trabalham, a competitividade e a produtividade em Portugal são das mais baixas.
O inquérito conduziu à caracterização do mercado de trabalho europeu, concluindo que a duração efectiva anual média de trabalho dos assalariados a tempo inteiro em França é, a par da Finlândia, a mais débil da União europeia, com apenas 1679 horas de trabalho em 2010.
A França conheceu a diminuição da duração efectiva do trabalho dos assalariados mais forte da UE, com menos 270 horas entre 1999 e 2010. Por outro lado, a duração média anual de trabalho dos não assalariados a tempo inteiro (2453 horas) e dos assalariados a tempo parcial (978 horas) está em linha com a média europeia. A estratégia francesa de redução da duração do horário de trabalho mostrou-se pouco eficaz em termos de emprego e poder de compra.
O inquérito sobre as forças de trabalho fornece também dados comparáveis sobre o nível e as formas de emprego, com conhecimentos interessantes sobre política económica.
Num contexto de demografia declinante, a Alemanha conseguiu a sua “partilha do trabalho” desenvolvendo o tempo parcial. A quantidade de trabalho total fornecida e o volume do PIB aumentaram moderadamente, mas o PIB por habitante aumentou de forma muito significativa (+ 13% contra 7% em França). As reformas introduzidas no início de 2000 permitiram um nítido aumento do poder de compra médio e da taxa de emprego.
Em França, a redução da duração legal do trabalho conduziu a uma forte redução efectiva do trabalho dos assalariados mas falhou o objectivo de criação de emprego e partilha do trabalho. Ao limitar a quantidade de trabalho, uma parte dos trunfos demográficos franceses perdeu-se, o que prejudicou o poder de compra por habitante.
Em Portugal, os entraves à competitividade e criação de novos postos de trabalho são bem conhecidos, destacando--se os problemas da justiça, burocracia, aversão ao risco e a quase ausência de financiamento às empresas. A esse somam--se problemas de organização do trabalho e a falta de qualidade dos gestores portugueses.
Outro factor que afecta a competitividade e produtividade em Portugal tem a ver com a demografia. A população portuguesa está a envelhecer e largos segmentos dos seus profissionais mais qualificados e mais jovens estão a emigrar.
Entre os países sobre os quais existem estatísticas disponíveis, verifica-se que a taxa de fertilidade caiu mais de 40% entre 1980 e 2009 na Roménia e em Portugal.
Num total de 19 países onde a população aumentou em 2009, quer por razões naturais quer pelo aumento da imigração, foi este último factor que mais contribuiu para o crescimento demográfico em 14 casos. A Itália, Áustria e Portugal registaram nesse período um aumento da imigração. Mas a actual crise económica em Portugal alterou substancialmente a tendência e já é visível o retorno de milhares de nacionais da Ucrânia e do Brasil aos seus países de origem.
Por outro lado, a população portuguesa é hoje significativamente menor do que seria se não houvesse emigração.
Em 2011, a população total situava-se um pouco acima dos 10 milhões (10 561 614) . Se não fosse pela emigração, a população residente estaria muito acima dos 12 milhões. Os portugueses representam, por exemplo, o maior grupo de estrangeiros residentes no Luxemburgo e em França. O efeito da emigração é visível em todas as faixas etárias da população, com excepção dos idosos.
O défice em capital humano implicou que o ritmo de crescimento fosse menor em cerca de 1,2% em Portugal.
A baixa fertilidade, a emigração, a aversão ao risco e a deficiente organização das empresas afectam claramente o crescimento económico e a competitividade nacionais.
TRABALHAR APÓS A REFORMA Talvez por isso, não seja estranho que mais de um quarto dos portugueses (27%) se mostre disponível para continuar a trabalhar depois da idade da reforma, segundo uma sondagem Eurobarometro divulgada na sexta-feira, em Bruxelas. Mais de 33% dos portugueses manifesta-se preocupado com o aumento de pessoas com 65 anos ou mais no país.
Em 2011, Portugal caiu para o 46º lugar no ranking da competitividade global do Fórum Económico Mundial (FEM), que analisa 139 economias.
Portugal, cujo nível de competitividade se encontra entre o da Eslovénia e o da Lituânia, está a quatro posições da Espanha (que desceu nove lugares) e no 18º posto quando comparado na lista dos 27 países da União Europeia, que é encabeçada pela Suécia, Alemanha e Finlândia.
O país alcançou uma pontuação de 4,48 pontos numa escala de 0 a 7, em que são medidos 12 pilares de competitividade, como o ambiente macroeconómico, infra-estruturas, saúde e educação, mercado laboral e desenvolvimento do sector financeiro, entre outros.
Os maiores entraves à competitividade da economia portuguesa apontados pelos executivos de empresas que responderam ao inquérito do FEM foram a ineficiência e a burocracia das instituições públicas (20,6%), a rigidez da legislação laboral (19,2%), a instabilidade das políticas seguidas (13,5%) e a carga fiscal (10,3%). O acesso ao crédito (9,9%), a legislação tributária (9,5%), a falta de qualificação profissional (7,7%) e a corrupção (4,4%) são outros dos principais motivos que puxam o país para baixo. Devido à austeridade, desde 2011 quase todos estes índices se devem ter agravado negativamente.
Competitividade: Portugal sobe na classificação Em 2011, Portugal tornou-se um país um pouco mais competitivo. O ranking mundial da competitividade do World Economic Fórum mostra que, num conjunto de 142 países, Portugal subiu uma posição face ao ano anterior, e encontra--se agora no 45º lugar.
Desde 2005 que Portugal vinha a perder posição no ranking. Mas os entraves ao financiamento empresarial e todos os factores que perturbam a macroeconomia vão afectar negativamente a posição do país e provocar a sua descida nos próximos anos.
Os aspectos positivos que contribuíram para a subida de posições tem a ver com o acesso às novas tecnologias de informação e a qualidade das infra-estruturas.
Esta melhoria no ranking fez Portugal ultrapassar três países: Chipre, Eslovénia e Indonésia, mas foi superado, face a 2010 pela Itália e Lituânia.
Já no quadro dos 27 países da União Europeia, Portugal ocupa actualmente o 18º lugar com a Grécia na última posição em termos de competitividade global.
Em Portugal, o debate sério sobre competitividade e produtividade deveria ser realizado e recolher um consenso e apoio dos parceiros sociais, o que nunca aconteceu.
O diagnóstico para melhorar a competitividade e produtividade em Portugal passa pela resolução do financiamento das empresas, qualificação dos seus recursos humanos e dos seus líderes, reformas estruturais na justiça, combate à burocracia, criação de atractivos fiscais e flexibilidade da legislação laboral.
* Para além das responsabilidades dos governos na manutenção da burocracia, justiça lenta, corrupção da administração pública, um outro enorme problema é a proliferação de empresários e gestores incompetentes. Porque os trabalhadores trabalham quando bem liderados.
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