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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
29/09/2022
ISABEL CAPELOA GIL
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A Ponte
O tempo é de incerteza, mas a falta de aspiração endémica do país, também não ajuda. Uma inflação galopante, a ameaça de um conflito à escala global, a que se somam as alterações climáticas, e as micro-desgraças do dia a dia, parecem apenas demonstrar que, quando a alma é pequena, nada vale a pena. Compensamos o desânimo com o refúgio à sombra do manto acolhedor do Estado, que transforma magros apoios em alavancas perenes de um sistema social, político e económico reconciliado com a mediocridade. E que torna esses apoios justamente estruturantes da atividade económica num país onde, há décadas, nada se passa sem o beneplácito do poder político. A maior conquista deste sistema endémico é, podemos dizê-lo, uma colonização do ânimo e da subsequente capacidade de aspirar.
Porque a literatura sempre esteve um passo à frente, permitam-me recordar um pequeno conto de Franz Kafka, escrito em 1916/17, chamado justamente A Ponte. Ora esta ponte, construída sobre um abismo, é uma edificação esquecida, por onde ninguém passa. E se ninguém por lá passa, então está em causa a sua própria natureza de ponte. Apesar de tudo, ainda que seja irrelevante e ninguém a atravesse, uma ponte só deixa de ser ponte quando cai. Um dia, um homem de bengala, aproxima-se da edificação, bate no solo com a bengala e salta sobre o empedrado. A ponte adormecida, que toda a vida se havia mantido imóvel a olhar fixamente para o riacho que passava por baixo de si, sentiu uma enorme curiosidade de ver quem assim perturbava o seu descanso. Afinal, quem é que assim ousava reclamar a sua natureza de ponte. Movida pela curiosidade, vira-se para olhar para cima. Ora, onde já se viu uma ponte virar-se? Mal se virou, inevitavelmente caiu. E foi justamente ao cair que realizou a missão para que fora edificada.
As estruturas arquitetónicas - completas e robustas ou frágeis e em ruínas - são uma presença recorrente na escrita kafkiana e servem como estratégias simbólicas da decifração do mundo. A ponte, descrita com traços humanos - tem mãos e pés -, representa na verdade o indivíduo como ponte, que possibilita o encontro e estabelece relações. Mas uma ponte por onde ninguém passa não cumpre a sua função de ordenação da geografia, tal como o ser humano que não ousa empenhar-se no diálogo com os outros, que ousa criar e transformar, não assume em pleno a sua humanidade, e, em contexto político, a sua cidadania. Tal como a ponte que encontrou o desígnio, no momento mesmo do seu colapso, também é com uma humanidade falível, mas que não deixa de arriscar e que se assume eloquentemente humana a cada ato falhado, que as histórias de Franz Kafka nos confronta.
O maior risco que os indivíduos correm neste tempo quase irreal e de testemunho do impossível é sair de si e encontrarem a diferença que nos ameaça, venha ela sob a forma de um Coronavírus, do migrante, do antagonista político, do concorrente de negócios, daquele que ameaça a nossa segurança. Vivemos em sociedades obcecadas com a contenção do risco, que existe fora de nós. Essa é aliás a história da modernidade e da sua narrativa ambivalente. Por um lado, acreditamos que somos pequenos deuses, iluminados pela ciência e capazes de dominar as ameaças naturais. Por outro, temos consciência da nossa enorme fragilidade que torna a nossa existência insuportável.
É tempo de ousarmos sair do nosso confortável adormecimento e de nos virarmos, como a ponte de Kafka, ainda que isso possa significar um risco de destruição do tempo antigo. Porque é arriscando que nos reconciliamos com a grandeza aspiracional da nossa humanidade comum.
* Reitora da Universidade Católica Portuguesa
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 29/09/22.
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DITADƲRA ROSA (ɑ sɑɠɑ cσɳtiɳʋɑɾɑ́)
Título original: INACEITÁVEL EM DEMOCRACIA
* A deputada do PS Isabel Guerreiro pediu hoje que uma intervenção do deputado da Iniciativa Liberal Carlos Guimarães Pinto fosse apagada das gravações do Parlamento e excluída da acta da reunião da Comissão de Administração Pública, Ordenamento do Território e Poder Local.
Esta tentativa de censura deveu-se apenas ao facto de o deputado liberal ter questionado a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, acerca da notícia vinda ontem a público de que uma empresa detida pelo marido da governante recebeu mais de 100 mil euros de fundos comunitários, ao mesmo tempo que a mulher tutela as entidades responsáveis pela gestão dos fundos.
Face ao evidente conflito ético, Carlos Guimarães Pinto apontou duas alternativas a Ana Abrunhosa: ou o seu marido devolve o dinheiro que recebeu ou a ministra deve demitir-se. A ministra recusou-se a responder, enquanto a deputada fazia sucessivos apartes.
A Iniciativa Liberal há muito que vem dizendo que uma maioria absoluta do PS é um rolo compressor para a democracia. Este tipo de casos, com conflitos de interesses evidentes, sucedem-se uns atrás dos outros e o PS comporta-se como se nunca devesse justificações a ninguém. Estas condutas inaceitáveis e de tentações censórias têm de ter consequências.
O PS não é dono da democracia.
O que se passou hoje não se trata de uma nódoa que cai no pano. Com o PS já não se vê pano, só se vêem nódoas.
NR: A senhora deputada Isabel Guerreiro foi inoculada com o vírus "ditadura rosa", é um exemplo vivo de desconsideração da ética quando a lei é favorável. Aguentem-se votantes do PS o pior está para vir..
126-CINEMA