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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
14/04/2017
UMA GRAÇA PARA O FIM DO DIA
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HOJE NO
"OBSERVADOR"
França.
Sondagem deixa Mélenchon
muito próximo de disputar segunda
volta com Le Pen ou Macron
A última sondagem do Le Monde coloca Marine Le Pen e Emmanuel Macron empatados como favoritos para passarem à segunda volta das eleições francesas — mas Mélenchon está cada vez mais perto deles.
A pouco mais de uma semana da primeira volta das eleições presidenciais, o Le Monde publicou uma sondagem que deixa apenas uma certeza: nenhum candidato pode cantar vitória antes de saírem os resultados, no dia 23 de abril.
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Segundo aquele estudo de opinião, Emmanuel Macron (centrista liberal e ex-ministro da Economia de François Hollande) e Marine Le Pen (extrema-direita, da Frente Nacional) são os favoritos para disputarem a segunda volta, aparecendo cada um com 22% na intenção de votos. Logo a seguir, está Jean-Luc Mélenchon (extrema-esquerda, da campanha França Insubmissa) com uma previsão de 20%. Em quarto lugar, e a fechar o leque daqueles que ainda podem ter esperanças de chegar à segunda volta, está François Fillon (direita, candidato d’Os Republicanos), com 19%.
Esta
sondagem, realizada entre 12 e 13 de abril, demonstra uma queda dos
dois favoritos em relação ao estudo anterior, feito entre 7 e 9 de
abril. Agora, Emmanuel Macron e Marine Le Pen perdem 2%. Por outro lado, Jean-Luc Mélenchon sobe 1,5% e François Fillon cresce 1%.
O facto de esta sondagem ter uma margem de erro de 2,7%
significa que, para aqueles quatro candidatos, ainda está tudo em jogo.
O mesmo não pode ser dito sobre Benoît Hamon, o candidato do Partido
Socialista, que recebe apenas 7,5% das intenções de voto.
A
sondagem, que contou com a participação de 1509 internautas, dos quais
927 têm a certeza de que vão votar, demonstra ainda que Marine Le Pen é a candidata cujo eleitorado está mais firme na sua decisão
e que, por isso mesmo, mais dificilmente mudará até dia 23 de abril. Ao
todo, 80% dos eleitores de Marine Le Pen estão seguros de que vão votar
nela, ao passo que apenas 15% admitem mudar de ideias.
De
seguida, são os eleitores de Fillon que demonstram mais certezas, com
80% a garantirem o voto no candidato d’Os Republicanos e somente 20% a
admitirem uma alteração no sentido de voto.
A incerteza do eleitorado aumenta à medida que se vai caminhando para a esquerda.
Ainda ao centro, Macron tem 68% do seu eleitorado garantido e 32% ainda
claudicante. Depois, segue-se o candidato do Partido Socialista, Benoît
Hamon, com 57%-43%. Por fim, Jean-Luc Mélenchon 66%-34%.
Neste
momento, uma das grandes expectativas, e que esta sondagem vem
potenciar, é perceber até onde pode chegar o candidato da
extrema-esquerda, Jean-Luc Mélenchon. À esquerda, os apelos à
desistência Benoît Hamon (que nas primárias socialistas era o candidato
mais à esquerda) multiplicam-se, na esperança de que mais votos sejam
canalizados para o candidato da França Insubmissa.
* Se Mélenchon vai à segunda volta é uma bomba no Eliseu.
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HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Lua Encélado tem condições
para albergar vida microbiana
Sonda
Cassini, da NASA, detetou hidrogénio nas plumas daquela lua de Saturno, o
que pode indicar existência de fontes hidrotermais
No
oceano de água líquida que mora sob a superfície gelada de Encélado, a
sexta maior lua de Saturno, existem alguns dos ingredientes essenciais à
vida. Entre eles, está o hidrogénio, e em grande abundância, como
acabam de confirmar os cientistas da missão Cassini, da NASA.
O alcance
da descoberta é imenso: ele abre a possibilidade de existir ali alguma
forma de vida microbiana.
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A presença de
hidrogénio nas plumas de vapor que a Encélado projeta de tempos a
tempos a grande altitude no espaço , e que a Cassini viu pela primeira
vez em 2005, quando lá chegou há 12 anos, mostra, segundo os cientistas,
que naquele pequeno mundo distante e gelado existem, afinal, as
condições necessárias para haver fontes hidrotermais, um tipo de
sistemas submarinos que, na Terra, são verdadeiros oásis de vida -
microbiana e outra.
A cinco meses do seu mergulho final na atmosfera de
Saturno (ver caixa), a sonda Cassini continua assim a ter grandes
novidades para contar, depois de nos últimos 12 anos ter desvendado
muitos dos segredos do planeta dos anéis e das suas muitas luas.
Foi
a sonda da NASA que na última década descobriu, por exemplo, algumas
dessas luas e foi ela também que viu pela primeira vez, e analisou, as
plumas de vapor que se escapam a alta velocidade do seu mar interior,
através das fissuras que se geram na grossa camada de gelo que cobre
completamente aquele pequeno mundo.
O
estudo desses jatos que saem de Encélado a altas temperaturas e a uma
velocidade próxima dos 2100 quilómetros por hora, atingindo uma altitude
demais de 15 quilómetros em relação à superfície da lua, mostrou em
2007, para grande surpresa dos cientistas, que a constituição desse
vapor é idêntica ao material primordial de que são feitos os cometas,
com a presença de moléculas orgânicas.
Impunha-se,
assim, fazer novas aproximações a Encélado, para recolher mais dados e
aprofundar o conhecimento sobre aquela intrigante lua de Saturno, e isso
acabou por suceder em dezembro de 2015. Foram as observações feitas
nessa altura por um dos instrumentos da sonda que confirmaram a
existência de hidrogénio nos jatos de vapor de Encélado.
Em
boa hora, porque aquela foi também a última vez que a Cassini chegou
tão perto daquela lua de Saturno. A missão termina este ano, em
Setembro, com a autodestruição da sonda durante o mergulho programado na
atmosfera do planeta dos anéis. Isso será uma oportunidade para colher
imagens com uma proximidade sem precedente dos anéis e da atmosfera de
Saturno e, ao mesmo tempo, garante que não haverá possibilidade de
contaminação de Encélado, sobretudo sabendo-se agora que há muitas
probabilidades de ali haver vida microbiana.
Apesar de os dados terem
sido recolhidos em dezembro de 2015, os cientistas só agora confirmaram a
descoberta - publicaram ontem os resultados na revista Science - porque
tiveram de fazer uma análise detalhada para descartar a hipótese de a
origem do hidrogénio estar no próprio instrumento de medição da Cassini.
A
presença deste hidrogénio nos vapores lançados no espaço por aquela lua
de Saturno faz dela um dos três mundos do sistema solar em que os
cientistas mais apostam agora como podendo albergar vida - além da
Terra. Os outros são Marte, onde há praticamente a certeza de que a
vida, pelo menos, já existiu, e Europa, a lua de Júpiter que também tem
um oceano de água líquida interior, e que poderá, igualmente, albergar
fontes hidrotermais.
* Oremus à Ciência e à Tecnologia.
* Oremus à Ciência e à Tecnologia.
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HOJE NO
"RECORD"
Cristiano Ronaldo vai processar
'Der Spiegel' após "acusação
nojenta e ultrajante"
Cristiano Ronaldo vai agir judicialmente contra a publicação alemã 'Der
Spiegel" que esta sexta-feira divulgou um artigo adiantando que
o internacional português terá pago 258.172 euros a jovem em Las Vegas, em 2010, no âmbito de uma acusação de cariz sexual.
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A
propósito deste artigo a Gestifute, empresa que representa Cristiano
Ronaldo, emitiu um comunicado, dizendo tratar-se de "uma peça de ficção
jornalística", baseada em "documentos não assinados e em que as partes
são identificadas por códigos" e em "emails entre advogados que não
dizem respeito a Cristiano Ronaldo".
A
Gestifute frisa que a reportagem é "falsa" e que Cristiano Ronaldo vai
avançar com um processo, tanto mais que "a imputação de uma violação é
uma acusação nojenta e ultrajante que não pode ficar em claro".
Comunicado
"O Jornal alemão Der Spiegel publica hoje uma extensa notícia sobre uma alegada acusação de violação que, segundo se refere, teria sido feita a Cristiano Ronaldo em 2009, ou seja, há cerca de 8 anos.
Trata-se de uma peça de ficção jornalística.
A suposta vítima recusa ser identificada e corroborar a estória. E todo o enredo se baseia em documentos não assinados e em que as partes são identificadas por códigos, em emails entre advogados que não dizem respeito a Cristiano Ronaldo e cuja autenticidade ele desconhece, e numa suposta carta que teria sido enviada pela putativa vítima, mas que ele nunca recebeu.
A reportagem do Der Spiegel é falsa e Cristiano Ronaldo agirá contra esse órgão de comunicação social por todos os meios ao seu alcance. A imputação de uma violação é uma acusação nojenta e ultrajante que não pode ficar em claro."
Comunicado
"O Jornal alemão Der Spiegel publica hoje uma extensa notícia sobre uma alegada acusação de violação que, segundo se refere, teria sido feita a Cristiano Ronaldo em 2009, ou seja, há cerca de 8 anos.
Trata-se de uma peça de ficção jornalística.
A suposta vítima recusa ser identificada e corroborar a estória. E todo o enredo se baseia em documentos não assinados e em que as partes são identificadas por códigos, em emails entre advogados que não dizem respeito a Cristiano Ronaldo e cuja autenticidade ele desconhece, e numa suposta carta que teria sido enviada pela putativa vítima, mas que ele nunca recebeu.
A reportagem do Der Spiegel é falsa e Cristiano Ronaldo agirá contra esse órgão de comunicação social por todos os meios ao seu alcance. A imputação de uma violação é uma acusação nojenta e ultrajante que não pode ficar em claro."
* Der Spiegel = NOJO
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LUCREEZIA REICHLIN
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Democracia acima de
soberania na europa
Qualquer campanha pró-União Europeia, para ser convincente, tem de abordar os problemas resultantes do euro. Adoptada por 19 dos 28 membros da UE, a moeda comum tornou-se numa das principais fontes de desilusão da integração europeia.
O futuro da União Europeia (UE) pode não estar oficialmente a ser votado nas eleições na Holanda, França, Alemanha e Itália. Mas os resultados das eleições vão ter uma grande influência no futuro da Europa.
O sentimento anti-UE está mais generalizado do que nunca, como foi demonstrado pelas febris campanhas dos populistas de direita como Geert Wilders, na Holanda, e como Marine Le Pen, em França. Mas há também sinais de apoio a uma renovação e reinvenção da União Europeia – uma mensagem que está a ser abraçada pelo francês Emmanuel Macron e pelo alemão Martin Schulz.
Qualquer campanha pró-União Europeia, para ser convincente, tem de abordar os problemas resultantes do euro. Adoptada por 19 dos 28 membros da União Europeia (27 depois do Brexit), a moeda comum tornou-se numa das principais fontes de desilusão da integração europeia. Apesar de a crise do euro, na sua forma mais aguda, ter terminado, a Zona Euro continua a ser uma construção frágil. No caso de existir um novo evento que gere volatilidade, as dúvidas quanto à sua sobrevivência podem facilmente regressar.
A raiz da fragilidade da moeda única assenta nas falhas do Tratado de Maastricht, que dita que os membros da Zona Euro tenham uma política monetária comum e políticas orçamentais individuais, que se adaptam a regras orçamentais partilhadas. Mas já está provado que a mera existência de regras orçamentais é uma garantia insuficiente do seu cumprimento e não há um mecanismo de regulação, ao nível da União Europeia, para assegurar a disciplina orçamental adequada.
Se isto não mudar, vai haver sempre o risco de os membros mais frágeis acumularem uma dívida insustentável, obrigando os membros mais fortes a escolher entre permitir empréstimos, que em termos políticos são insustentáveis, e permitir aos Estados-membros que saiam, o que cria uma instabilidade que pode deitar abaixo todo o projecto. Uma vitória das forças pró-europeias nas próximas eleições pode dar essa oportunidade – talvez a última oportunidade – para prosseguir com as mudanças ao Tratado de Maastricht que são necessárias.
Essas mudanças não vão ser fáceis de executar. Os europeus vão ter de aceitar uma mudança fundamental na legitimidade da Zona Euro, passando de um compromisso simples para uma governação económica baseada em regras para uma abordagem discricionária levada a cabo por uma autoridade com legitimidade democrática.
Sem uma união política, é compreensível que seja adoptada uma abordagem que tem por base regras. Alinha-se com a lógica de independência de um banco central: os decisores não eleitos estão comprometidos com um conjunto de regras objectivas, como ter uma meta para a taxa de inflação, pelas quais podem ser responsabilizados. Mas esta lógica não funcionou na Zona Euro, onde regras concretas não conseguiram evitar a pressão para que haja uma redistribuição que os eleitores não apoiam.
Agora isto tornou-se evidente e alguns defendem que o mercado deve ter um papel mais relevante de forma a que possa obrigar a que haja uma maior disciplina. As propostas para um novo enquadramento para empréstimos soberanos, que permita uma reestruturação ordeira, reflecte este raciocínio.
Uma das propostas sugere que o Mecanismo Europeu de Estabilidade adopte um sistema semelhante ao do Fundo Monetário Internacional, de forma a evitar empréstimos a países insolventes e obrigar à reavaliação ou reestruturação depois de ter sido ultrapassado um certo nível de dívida. Tal abordagem faria com que a regra "não resgate" fosse mais credível e evitaria colocar um elevado fardo na política monetária.
Mas seria inocente acreditar que tal esquema resolveria o problema. Os receios de contágio seriam sempre justificados na união monetária, dado que as externalidades de uma crise de dívida num país podem sempre infectar o resto da união. Posto isto, um enquadramento que tenha por base exclusivamente os mecanismos de mercado é mais susceptível à instabilidade.
Isto não significa que um enquadramento de reestruturação de dívida conduzido pelo mercado não tem lugar na reforma da Zona Euro. Tem lugar, assim como um conjunto simples de normas comuns. Mas, para apoiar uma política orçamental partilhada e alcançar um mix melhor de políticas orçamentais e monetárias, é necessária uma terceira componente: uma autoridade federal orçamental independente focada em criar mecanismos de partilha de risco. Tal autoridade iria precisar de um pequeno orçamento e algum poder discricionário para ser capaz de ajustar a sua abordagem de forma a responder aos acontecimentos.
Claro que, se tal sistema for percepcionado como algo que está a enfraquecer a soberania dos Estados-membros não será politicamente viável. Os seus críticos terão de ser convencidos da sua legitimidade política. Sem uma união politica completa, isso só pode ser alcançado dando enfase à transparência, independência e com um papel muito maior do Parlamento Europeu, possivelmente em coordenação com os parlamentos nacionais.
Afinal, a questão central que a Europa enfrenta não é a soberania, como dizem os populistas de direita, mas sim a democracia. (Com mercados integrados, a soberania nacional total é uma ilusão). O que a Europa precisa hoje é de um tratado que expanda a legitimidade democrata ao nível da União Europeia. Preservar a soberania nacional com base em instituições que foram desenhadas para uma economia europeia menos integrada do século XIX é a receita para o fracasso.
Lucrezia Reichlin, antiga directora de investigação do BCE, é professor de economia na London Business School.
Copyright: Project Syndicate, 2017.
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
12/04/17O futuro da União Europeia (UE) pode não estar oficialmente a ser votado nas eleições na Holanda, França, Alemanha e Itália. Mas os resultados das eleições vão ter uma grande influência no futuro da Europa.
O sentimento anti-UE está mais generalizado do que nunca, como foi demonstrado pelas febris campanhas dos populistas de direita como Geert Wilders, na Holanda, e como Marine Le Pen, em França. Mas há também sinais de apoio a uma renovação e reinvenção da União Europeia – uma mensagem que está a ser abraçada pelo francês Emmanuel Macron e pelo alemão Martin Schulz.
Qualquer campanha pró-União Europeia, para ser convincente, tem de abordar os problemas resultantes do euro. Adoptada por 19 dos 28 membros da União Europeia (27 depois do Brexit), a moeda comum tornou-se numa das principais fontes de desilusão da integração europeia. Apesar de a crise do euro, na sua forma mais aguda, ter terminado, a Zona Euro continua a ser uma construção frágil. No caso de existir um novo evento que gere volatilidade, as dúvidas quanto à sua sobrevivência podem facilmente regressar.
A raiz da fragilidade da moeda única assenta nas falhas do Tratado de Maastricht, que dita que os membros da Zona Euro tenham uma política monetária comum e políticas orçamentais individuais, que se adaptam a regras orçamentais partilhadas. Mas já está provado que a mera existência de regras orçamentais é uma garantia insuficiente do seu cumprimento e não há um mecanismo de regulação, ao nível da União Europeia, para assegurar a disciplina orçamental adequada.
Se isto não mudar, vai haver sempre o risco de os membros mais frágeis acumularem uma dívida insustentável, obrigando os membros mais fortes a escolher entre permitir empréstimos, que em termos políticos são insustentáveis, e permitir aos Estados-membros que saiam, o que cria uma instabilidade que pode deitar abaixo todo o projecto. Uma vitória das forças pró-europeias nas próximas eleições pode dar essa oportunidade – talvez a última oportunidade – para prosseguir com as mudanças ao Tratado de Maastricht que são necessárias.
Essas mudanças não vão ser fáceis de executar. Os europeus vão ter de aceitar uma mudança fundamental na legitimidade da Zona Euro, passando de um compromisso simples para uma governação económica baseada em regras para uma abordagem discricionária levada a cabo por uma autoridade com legitimidade democrática.
Sem uma união política, é compreensível que seja adoptada uma abordagem que tem por base regras. Alinha-se com a lógica de independência de um banco central: os decisores não eleitos estão comprometidos com um conjunto de regras objectivas, como ter uma meta para a taxa de inflação, pelas quais podem ser responsabilizados. Mas esta lógica não funcionou na Zona Euro, onde regras concretas não conseguiram evitar a pressão para que haja uma redistribuição que os eleitores não apoiam.
Agora isto tornou-se evidente e alguns defendem que o mercado deve ter um papel mais relevante de forma a que possa obrigar a que haja uma maior disciplina. As propostas para um novo enquadramento para empréstimos soberanos, que permita uma reestruturação ordeira, reflecte este raciocínio.
Uma das propostas sugere que o Mecanismo Europeu de Estabilidade adopte um sistema semelhante ao do Fundo Monetário Internacional, de forma a evitar empréstimos a países insolventes e obrigar à reavaliação ou reestruturação depois de ter sido ultrapassado um certo nível de dívida. Tal abordagem faria com que a regra "não resgate" fosse mais credível e evitaria colocar um elevado fardo na política monetária.
Mas seria inocente acreditar que tal esquema resolveria o problema. Os receios de contágio seriam sempre justificados na união monetária, dado que as externalidades de uma crise de dívida num país podem sempre infectar o resto da união. Posto isto, um enquadramento que tenha por base exclusivamente os mecanismos de mercado é mais susceptível à instabilidade.
Isto não significa que um enquadramento de reestruturação de dívida conduzido pelo mercado não tem lugar na reforma da Zona Euro. Tem lugar, assim como um conjunto simples de normas comuns. Mas, para apoiar uma política orçamental partilhada e alcançar um mix melhor de políticas orçamentais e monetárias, é necessária uma terceira componente: uma autoridade federal orçamental independente focada em criar mecanismos de partilha de risco. Tal autoridade iria precisar de um pequeno orçamento e algum poder discricionário para ser capaz de ajustar a sua abordagem de forma a responder aos acontecimentos.
Claro que, se tal sistema for percepcionado como algo que está a enfraquecer a soberania dos Estados-membros não será politicamente viável. Os seus críticos terão de ser convencidos da sua legitimidade política. Sem uma união politica completa, isso só pode ser alcançado dando enfase à transparência, independência e com um papel muito maior do Parlamento Europeu, possivelmente em coordenação com os parlamentos nacionais.
Afinal, a questão central que a Europa enfrenta não é a soberania, como dizem os populistas de direita, mas sim a democracia. (Com mercados integrados, a soberania nacional total é uma ilusão). O que a Europa precisa hoje é de um tratado que expanda a legitimidade democrata ao nível da União Europeia. Preservar a soberania nacional com base em instituições que foram desenhadas para uma economia europeia menos integrada do século XIX é a receita para o fracasso.
Lucrezia Reichlin, antiga directora de investigação do BCE, é professor de economia na London Business School.
Copyright: Project Syndicate, 2017.
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
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HOJE NO
"JORNAL DE NOTÍCIAS"
"JORNAL DE NOTÍCIAS"
Investigadores da PJ acusados de receberem dinheiro de traficantes
Ex-coordenador
da PJ Dias Santos e ex-inspetor-chefe Ricardo Macedo acusados de
receber "avenças" ao longo de anos para colaborar no crime.
Dois
históricos investigadores da Unidade Nacional de Investigação do
Tráfico de Estupefacientes (UNCTE) da Polícia Judiciária (PJ) terão
recebido das mãos de traficantes entre 20 e 25 mil euros por informações
de inquéritos que permitiram evitar prisões ou fazer entrar em Portugal
avultadas quantidades de droga.
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Estas imputações constam da acusação do
Ministério Público (MP) ontem proferida contra o ex-coordenador Dias
Santos e o ex-inspetor-chefe Ricardo Macedo, suspeitos de crimes de
tráfico de estupefacientes, associação criminosa e corrupção passiva, a
par de um elemento da GNR e de mais 26 traficantes.
* No melhor pano pode cair a pior nódoa.
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FONTE: EDUARDO MEDEIROS
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IRAQUE
A GUERRA CONTRA O ISIS EM MOSSUL
FONTE: EDUARDO MEDEIROS
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HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS/
/DA MADEIRA"
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS/
/DA MADEIRA"
Morreu o jornalista e escritor
Mário Contumélias
O
jornalista Mário Contumélias, 68 anos, morreu na quinta-feira, em sua
casa, em Lisboa, vítima de doença prolongada, disse hoje à agência Lusa
fonte da família.
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Natural de Setúbal, Cortumélias foi jornalista
no jornal ‘O Século’, além de poeta e escritor, também foi autor de
músicas no Festival da Canção - RTP, tendo José Cid cantado um dos seus
escritos, ‘O Largo do Coreto’, em 1978.
O velório de Mário
Contumélias realiza-se a partir das 16:00 de hoje, na Igreja do Campo
Grande, em Lisboa, onde será realizada missa de corpo presente, no
sábado, às 12:45.
O funeral partirá às 13:00, de sábado, para o
cemitério do Alto de S. João, em Lisboa, onde será feita a cremação, às
14:00, disse a mesma fonte.
* Partiu um homem da cultura e da comunicação, é sempre triste a partida.
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HOJE NO
"O JORNAL ECONÓMICO"
Chegou a aplicação para conectar
os idosos ao mundo
Em junho chega a XIMI, uma aplicação disponível em todas as plataformas mobile para conectar os idosos à família e aos profissionais de saúde.
Chegou a XIMI, que estará disponível em todas as plataformas mobile
com o propósito de conectar idosos com a sua família, amigos,
profissionais de saúde, sensores e equipamentos médicos. Trata-se de uma
aplicação de fácil utilização e perfeitamente adaptada às necessidades e
capacidades dos mais séniores, que visa não só combater o isolamento,
mas também promover hábitos de vida saudáveis, através do contacto com
os utilizadores e da “gamificação”, fazendo uso dos conceitos de
realidade aumentada e computação cognitiva.
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Com um investimento na ordem dos cem mil euros pelo Grupo Compta,
a XIMI utiliza metodologias de jogo, desafiando os seus utilizadores
para aventuras relacionadas com hábitos de vida saudáveis.
Simultaneamente, conecta-se com outros dispositivos para recolher
informações, dados ou sinais biométricos como a pressão arterial ou o
peso. Estes dados são depois cruzados com outros detalhes relativos à
saúde do utilizador e permitem, através de mecanismos de inteligência
artificial, adaptar automaticamente os desafios propostos a cada pessoa.
Caso o utilizador o permita, os dados poderão ser partilhados com
profissionais de saúde.
Além das referidas funcionalidades, a aplicação é um canal de
permanente comunicação entre o idoso e aqueles que lhe são mais próximos
(cuidadores informais), os quais, através da aplicação, podem lançar
desafios, receber alertas, tomar conhecimento do estado de saúde do
utilizador ou, simplesmente, estabelecer um diálogo direto com o mesmo.
Segundo Luís Curvelo, um dos fundadores da aplicação, a XIMI surge no
âmbito da plataforma nacional de ideias, Lusideias, uma iniciativa do
Grupo Compta que visa apoiar projetos na área das tecnologias móveis. A
iniciativa encontra-se aberta aos colaboradores da Compta e a todos os
portugueses.
“A ideia surgiu internamente numa equipa que acumula diversas
competências na área da saúde e bem-estar. Após a validação do conceito
decidiu-se testar na prática a aplicação e nada melhor do que colocar à
prova a equipa no Hack for Good 2016 que decorreu na Fundação Calouste
Gulbenkian, tendo sido selecionado e premiado”, refere o responsável.
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Seguiu-se depois o Web Summit 2016, tendo sido considerados pela
organização como Beta. Daqui, surgiu o contacto com a Vertical na
Finlândia onde está atualmente a acelerar o projeto. “Na verdade, fomos
selecionados entre 260 candidaturas mundiais, das quais foram escolhidas
11. Resultado: a XIMI está naquele que é um dos melhores aceleradores
na área da saúde e bem-estar da europa.
Trabalhando diretamente com
grandes empresas como a Samsung ou a Telia Sonera A isto soma-se outra
distinção, ao termos sido distinguidos na Smart City Expo World Congress
and Fira de Barcelona entre os três finalistas distinguidos na
categoria Sociedade”, salienta.
Fazer 2,5 milhões de pessoas felizes
Luís Curvelo assegura que através desta aplicação pretendem fazer 2,5
milhões de pessoas felizes em cinco anos e em cinco países. “Combater a
solidão através da gamificação e inteligência cognitiva. É assim que
vamos fazer as pessoas mais felizes, ativas e saudáveis”, garante.
Em junho, vai ser lançada comercialmente a aplicação em Portugal.
Paralelamente, na Finlândia, onde também estão e pretendem estabelecer
em conjunto com a Vertical as parceiras locais, irão refinar a versão 2
da aplicação e estudar as possibilidades de aqui ter um caso de estudo
local.
“Temos planos para escalar e abordar mais geografias, e estamos a
trabalhar nesse sentido com parceiros, investidores e outros atores que
partilhem a nossa visão e vontade de transformar a vida das pessoas”,
conclui.
* A aplicação é boa em caso de necessidade se tiver continuidade em contacto humano.
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STRADIVARIUS: MITO OU REALIDADE?
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ESTA SEMANA NO
"NOTÍCIAS MAGAZINE"
Alguns dos melhores violinos do mundo são fabricados em Portugal
A partir de pedaços de madeira selecionada, e num processo igual ao que era usado há quinhentos anos, serram, limam, raspam, moldam, colam, envernizam. Os fabricantes de violinos criam obras de arte com as quais se podem tocar outras obras de arte, sejam sonatas de Bach ou as Quatro Estações de Vivaldi. Estas são as histórias dos três mais famosos luthiers de Portugal, que atraem violinistas de todo o mundo para comprar instrumentos de exceção.
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Joaquim Capela e António Capela, filho e pai, duas gerações de luthiers, ou fabricantes de violinos. O ofício está na família há quase 100 anos. |
A cave do número 55 da Rua do Borja, em Lisboa, cheira a madeira e
verniz. Numa das paredes alinham-se as fotografias com dedicatórias de
grandes violinistas e violoncelistas. Num armário pesado perfilam-se,
pendurados, alguns violinos. Em cima de uma das bancadas de trabalho
está, quase pronta, uma viola de arco que uma instrumentista holandesa
virá buscar em breve.
Noutra, em frente da qual Christian Bayon está sentado, repousa um
pedaço de madeira que ainda não é um violino, mas que vai tomando forma à
medida que as finas espirais de madeira se espalham pela bancada e pelo
chão. Christian ainda não sabe quem será o dono: só trabalha por
encomenda, mas o «casamento» entre instrumento e instrumentista só é
feito perto do fim.
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Christian Bayon é francês, vive em Portugal há décadas e é um dos três únicos luthiers do país reconhecidos pela Entente International de Luthiers et Archetiers. |
«Ultimamente faço o violino, monto as cordas, escuto-o, e só depois
vou à lista de encomendas para o atribuir a um dos clientes que está à
espera há mais tempo. Quando construo tenho um tipo de som em mente,
mas, no fim, o resultado pode ser um pouco diferente.»
A lista tem 70 nomes e não será acrescentado nenhum tão cedo – o mais
antigo estará no caderno há uns sete anos. Até início do ano passado, o
tempo de espera para a entrega de um violino de Christian Bayon era de
três anos. Para um violoncelo, mais de sete. Mas a leucemia que lhe foi
diagnosticada em março de 2016, os tratamentos no IPO e o transplante de
medula só lhe permitiram regressar ao trabalho no início de 2017.
Além disso, é uma questão de matemática, diz o homem de 62 anos: «Nos
últimos 14 anos fiz cem instrumentos, tenho 70 encomendados. Se aceito
mais fico escravo da lista de encomendas. E quero ter liberdade de poder
aceitar trabalhos que quero mesmo fazer. Por exemplo, para algum jovem
promissor em início de carreira.»
Foi a vontade de trabalhar para solistas famosos e com instrumentos
valiosos que o trouxe para Lisboa, nos finais do anos 1980, quando se
dedicava ao restauro de instrumentos. Não lhe faltava trabalho no ateliê
em França, mas não o tipo de trabalho que queria. Estudou as opções e
concluiu que o caminho era encontrar uma cidade com muita vida musical e
poucos luthiers.
E assim veio ter a Lisboa. Ambicioso mas pouco combativo, admite que o
plano era ficar à espera que alguma coisa corresse mal: quando os
solistas de passagem por Lisboa tivessem problemas com os instrumentos,
viriam ter com ele.
«E isso aconteceu, mais vezes do que o esperado. Tive uma clientela
internacional que nunca teria em França e acabei por me tornar o luthier
de solistas de Nova Iorque ou de Oslo: as pessoas vinham por falta de
opção, mantinham-se porque gostavam do trabalho.»
Mas apesar de se orgulhar dos instrumentos que faz para nomes
sonantes e de reconhecer que isso traz fama, sente que o trabalho que
faz para músicos ainda pouco conhecidos é mais útil. E exemplifica com o
violino que fez há dois anos para Vladimir Spivakov – maestro, um dos
principais violinistas da atualidade, fundador da Moscow Virtuosi
Orquestra e diretor artístico da Orquestra Filarmónica Nacional da
Rússia. «Foi uma honra, mas o Spivakov tinha já 70 anos, uma carreira
brilhante, um Stradivarius fabuloso. A vida dele não dependia de um
violino meu.»
Já os músicos em início de carreira precisam desesperadamente de um
bom instrumento e não têm dinheiro para um Stradivarius. O que nos faz
chegar à razão para a lista de encomendas estar fechada: o desejo de ter
alguma flexibilidade. «É muito frustrante dizer a um músico jovem que
vem ter comigo que terá de esperar três ou quatro anos. Isso é muito
tempo na carreira de alguém que está a começar. Poder dar essa ajuda
toca-me muito.»
Talvez o toque tanto por ter bom coração, mas também porque sabe o
que significa esperar tanto tempo. Aos 20 anos procurava a sua
oportunidade como luthier e as portas estavam fechadas. Deu um salto de
fé e aos 23 saiu da Marinha francesa, onde se preparava para fazer
carreira como mecânico de aviões-caça a bordo de porta-aviões para se
dedicar à construção de violinos. Mas teve de esperar até ter a sua
oportunidade.
.
Três anos a tentar bolsas, financiamentos, alguém que o aceitasse
como aprendiz. Três anos sozinho, com um livro sobre construção de
violinos aberto em cima da bancada, a aprender de forma autodidata. Dez
violinos e três anos depois, conseguiu finalmente mostrar o seu trabalho
a Étienne Vatelot – «o» luthier da época em França – e foi esse dia,
que descreve como «de conto de fadas» que lhe abriu as portas para ir
aprender a profissão, vir a ser assistente de Vatelot e lançar depois a
própria carreira.
Há apenas três luthiers em Portugal que fazem parte da Entente
Internationale des Luthiers et Archetiers, a sociedade internacional que
certifica construtores de violinos e arcos. Christian é um deles, os
outros dois, pai e filho, estão a cerca de trezentos quilómetros, numa
pequena oficina na vila de Anta, em Espinho.
Aqui o ofício é o mesmo, mas a história é muito diferente. Joaquim
Capela trabalha ao lado do pai, António, na oficina que foi outrora do
avô, Domingos. Dali partem violinos para todos os cantos do mundo, mas a
arte da lutheria foi uma herança de família que começou há quase cem
anos. E por acaso.
Corria o ano de 1924 quando o violinista e comerciante de violinos
Nicolino Milano entrou numa marcenaria em Espinho. O violino que o
italiano trazia consigo precisava de reparação e o homem aliou a
necessidade à conveniência: desceu do primeiro andar onde estava
hospedado ao rés-dochão, onde o senhorio tinha a marcenaria, à procura
de quem lhe desse uma mão.
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O marceneiro, pouco dado a esses labores, disse a frase que havia de
traçar a vida de três gerações e colocar Portugal no mapa dos
construtores de violinos: «Fale ali com aquele moço, o Domingos, que é
muito habilidoso para essas coisas.»
Quem o conta é o filho de Domingos, António Capela, 84 anos, há mais
de setenta a construir e reparar violinos, violas de arco e violoncelos.
«Foi assim que nasceu a dinastia Capela. O Nicolino ficou encantado com
a reparação e o meu pai começou a trabalhar para ele. Em agosto de
1924, aos 20 anos, construiu o primeiro violino e nunca mais parou.»
O nome Capela começou a ser conhecido pelas tunas da região, depois
chegou ao Conservatório do Porto e depois às orquestras estrangeiras que
passavam pelo Casino de Espinho e espalharam o nome além-fronteiras.
Hoje, Rostropovich, David Oistrach e Yehudi Menuhin são alguns dos
muitos solistas que tocam com instrumentos Capela.
António seguiu as pisadas do pai e aprendeu o ofício ainda em
criança. Já jovem estagiou em Paris e Mirecourt e frequentou a Escola
Internacional de Construção de Cremona. O filho, Joaquim, hoje com 50
anos, filho e neto de luthier, seguiu as pisadas dos dois: fez o
primeiro violino com 13 anos.
Mesmo tantos anos depois, Joaquim e António garantem que ver partir
um violino é como ver partir um filho. Há uma certa melancolia no
momento em que se fecha a caixa para o despachar. «Se os instrumentos
ficam aqui perto, na Europa, é possível que ainda os torne a ver. No
outro dia, apareceu aqui para reparação uma viola de arco que fiz há
trinta anos para um concurso na Bulgária», diz Joaquim.
«Mas os instrumentos que vão para os Estados Unidos e para o Japão,
que são muitos, nunca mais os vejo. E isso causa uma certa tristeza.» E
como se passa, afinal, de pedaços de madeira para um violino? Começa
precisamente com a escolha dos pedaços de madeira, diz Joaquim Capela.
«O fundo, as ilhargas, a cabeça e o braço do violino são madeira de
ácer, o tampo é pinho dos alpes italianos.
Depois, escolhe-se o molde, serra-se a madeira e, com plainas,
goivas, formões e facas dá-se o contorno e cola-se as peças umas às
outras. No fim, enverniza-se.» Dito assim parece fácil. «São precisos
bons olhos, boas mãos e bom ouvido musical.»
António Capela garante que há outro «segredo», este, pouco falado: o
verniz. «Às vezes ia a Itália e levava violinos para mostrar aos meus
colegas. Eles admiravam-nos, experimentavam e depois vinha a pergunta:
«Como é que fazes o verniz, Capela?» «E eu respondia: ‘Da mesma maneira
que tu fazes o teu.’” E ri-se. «O verniz é o segredo de cada construtor.
É importantíssimo na sonoridade do instrumento.» Naturalmente que não
nos conta o seu.
Da mesma forma que também não nos contam por quanto vendem os
violinos que fazem. Há um valor fixo mas nunca o divulgam para o público
em geral. «Quem não é músico tem alguma dificuldade em compreender o
valor dos instrumentos, o número pode parecer absurdo», diz Joaquim
Capela. «Mas os músicos que vêm ter connosco, por norma já sabem qual é o
valor quando nos procuram.»
Já Christian Bayon não tem problemas em partilhar os valores que
cobra: vende cada violino por vinte e quatro mil euros. Trabalha
sobretudo para a Europa e Rússia e faz questão de um encontro pessoal
para entregar o instrumento. Do seu atelier não saem violinos em
caixotes.
Também ele sente uma certa quebra de energia quando termina um
instrumento – chama-lhe o seu baby-blues – mas garante que não há
tristeza nessa partida porque trabalhar a madeira é apenas um caminho
para chegar ao que realmente importa: os músicos e a música. «É quando
chega às mãos do instrumentista que a verdadeira vida do violino começa.
Até lá é só madeira. O melhor instrumento do mundo, sem um músico, não
serve para nada.»
Encomendas por telefone também não aceita. Os músicos vêm, ficam dois
dias, conversam sobre música e sobre o som desejado, experimentam
violinos. E, antes da sua chegada, Christian já ouviu e viu todo o
material áudio e vídeo que encontrou sobre o músico. «Ouço-os. O que
dizem e como tocam. Tenho de conseguir perceber o que o cliente quer
para, tecnicamente, conseguir trabalhar a madeira de forma a conseguir o
som que pretende.»
STRADIVARIUS: MITO OU REALIDADE?
Afinal, os violinos e violoncelos Stradivarius e Guarneri del Gesù,
feitos por estes construtores em Cremona, Itália, nos séculos XVII e
XVIII, e que chegam a ser vendidos por mais de dois milhões de euros,
são ou não os melhores do mundo? O segredo está na madeira, que adquiriu
propriedades melhores porque o período entre 1645 e 1715 foi
especialmente frio, dizem uns.
O segredo está no verniz, uma fórmula secreta que ninguém conseguiu
ainda replicar, dizem outros.
O segrego está nos fungos da madeira,
acrescentam agora outros – sobretudo desde que na Suíça construíram
violinos com madeira atacada por fungos geneticamente modificados que
conseguem reproduzir a sonoridade dos «Stradi». Ou talvez o segredo
fosse «apenas» luthiers geniais.
Mas os Stradivarius e os Guarneri, bem como outros instrumentos
antigos, ficam atrás de violinos de construção recente em testes cegos.
Um artigo publicado em 2014 na revista The Proceedings of the National Academy of Sciences revela
que, quando questionados sobre se estavam a tocar um instrumento novo
ou antigo, os músicos que os testaram – grandes nomes a nível mundial –
acertaram 31 vezes, mas erraram 33.
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Mito ou não, são instrumentos valiosíssimos. O violoncelo
Stradivarius Chevillard – Rei de Portugal, construído em 1725, é, que se
saiba, o único Stradivarius em Portugal e está atualmente no Museu da
Música, classificado como tesouro nacional. Apenas sai do museu em
ocasiões especiais, com segurança 24 horas por dia e escolta policial. O
luthier Christian Bayon, que faz a manutenção do instrumento desde os
anos noventa, também costuma estar presente.
Mas este instrumento também passou pelas mãos dos Capela. Em 1969,
Domingos e António fizeram a reparação do violoncelo, numa altura em que
as medidas de segurança eram menores. Quando foram visitados por um
repórter do Diário de Notícias (que referiu a reparação que estavam a
fazer e o grande valor do instrumento), António e Domingos Capela
trataram de acabar o mais rápido possível o trabalho com medo de um
roubo. Enquanto não o devolveram, Domingos dormiu com o violoncelo no
quarto.
* Artistas fabulosos, tão grandes como os músicos que tocam as peças da arte.
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HOJE NO
"i"
O que diz a ciência?
Na guerra do leite há estudos
para todos os gostos
Há anos que são destacados os benefícios ligados
ao consumo deste produto. Por ser uma fonte de cálcio e de proteínas e
um aliado poderoso no combate à osteoporose. Mas há quem diga que todos
os estudos a favor são pagos a peso de ouro pelas empresas do setor e
garanta que só as pesquisas favoráveis à sua tese são rigorosas e
honestas. É o mundo em que vivemos.
Como em quase todos os casos de estudos sobre
se devemos comer isto ou aquilo, se faz bem ou não, se os benefícios se
sobrepõem ou não a tudo o resto, multiplicam--se análises contra e a
favor do consumo de leite.
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Durante anos abundaram anúncios que associavam o consumo de leite a
uma vida melhor e cultivavam a ideia de que este produto tinha os mais
variados benefícios. E apenas isto: benefícios.
Durante décadas foram
apresentados múltiplos estudos, por organizações de nutrição, acerca do
bem que fazia ingerir leite regularmente. No entanto, embora o Comité
Nacional de Laticínios norte-americano tenha garantido que se tratava de
estudos feitos de forma autónoma, muitos questionaram desde cedo a
veracidade da garantia dada.
A polémica e as dúvidas ganharam ainda mais
dimensão depois de uma pesquisa mostrar que mais de um terço dos
estudos sobre leite, divulgados entre 1999 e 2003, tinham recebido
financiamento da indústria. Mais: os estudos que haviam sido
inteiramente financiados por empresas de laticínios mostravam sempre
conclusões que favoreciam todos os interesses das empresas que tinham
estado envolvidas nos pagamentos.
A imprensa norte-americana chegou
mesmo a referir que algumas das grandes empresas de laticínios gastam
milhões todos os anos em verbas dadas a associações de nutrição e ainda a
alguns políticos.
Mas, no fim de contas, o leite faz mal?
Continua a
ser uma das perguntas para um milhão de euros, até porque há respostas
para todos os gostos. A única certeza que existe, no entanto, é que, nos
últimos anos, os benefícios frequentemente associados ao leite
começaram a ser cada vez mais questionados.
Mas a história mostra que a
dúvida que afeta cada vez mais a população mundial, e que já levou
muitos a mudarem os seus hábitos, já tinha sido levantada por um
investigador da Universidade de Harvard há muitos anos atrás. Mark
Hegsted começou a colocar várias interrogações sobre este assunto ainda
em 1951.
Com o objetivo de perceber se era necessário consumir tanto leite
como era avançado por muitos, Mark decidiu fazer uma experiência e
analisou quais eram os níveis de cálcio de um grupo de prisioneiros do
Peru. Apesar de ter sido baseado numa amostra reduzida e composta apenas
por elementos do sexo masculino, o nutricionista acabou por concluir
que, afinal, não era necessário o consumo de leite que se tinha
enraizado na cultura do país.
Mas falamos de um estudo que quase não teve impacto, apesar de as
conclusões serem controversas. O governo continuou a recomendar o
consumo de leite e a população continuou a consumir.
Mas o passar dos anos foi trazendo novos estudos, a maioria a alertar
para a possibilidade de o leite não ter tantos efeitos positivos como
as pessoas continuavam a pensar que tinha. Um dos investigadores que
mais trabalhos desenvolveram na área acabou por ser Walter Willett,
também ele de Harvard.
Numa das experiências que fez acabou mesmo por afirmar que quem
consumia mais leite estava mais exposto à possibilidade de vir a ter
problemas de saúde do que quem optava por um consumo muito mais
moderado.
Os anos passaram, sempre com múltiplos estudos a favor e contra. Em
2014, a Universidade de Uppsala, na Suécia, voltava ao tema e dava
destaque a um trabalho que revelava que beber três copos por dia não só
não ajudava a fortalecer os ossos como aumentava o risco de morrer mais
cedo. No caso dos homens, um outro estudo revelou, por exemplo, que os
homens que, durante um teste, tinham bebido dois copos por dia,
apresentaram o dobro do risco de desenvolver cancro da próstata.
Mais recentemente, já em 2015, a polémica voltava a instalar-se
depois de aparecerem alguns cientistas a sublinhar a importância de
parar o consumo de leite. Na publicação “Medical Association
Pediatrics”, o cientista David Ludwig sublinhou várias vezes que os
humanos não têm necessidade nutricional de consumir leite de origem
animal, tentando destronar os argumentos de que o leite é essencial como
fonte de cálcio, essencial na formação dos ossos.
Mas nem só o argumento do cálcio é usado por quem defende o consumo
deste produto, que entrou na alimentação humana há mais de 8 mil anos.
Muitos sublinham a riqueza em carboidratos, vitamina B12 e potássio,
além de ser uma importante fonte de proteínas. A tentar pressionar a
balança para o lado dos argumentos a favor, vários estudos sublinharam
ainda que a prova de que o leite é essencial é o facto de ter de ser
usado para a sobrevivência dos bebés que, por um motivo ou por outro,
não podem beber leite materno. A somar a isto vem ainda a importante
prevenção da osteoporose.
Mas também aqui voltam a surgir diferentes correntes de pensamento,
porque o argumento da alimentação dos bebés serve para que muitos
sublinhem o facto de o leite materno ser o único adequado para os
humanos. Outro argumento é o facto de existir um grande número de
pessoas que mostram ter dificuldade em digerir o produto.
Seja como for, a maioria dos autores dos vários estudos que já foram
publicados acabaram por pedir alguma cautela na interpretação das
conclusões que têm vindo a ser apresentadas, tanto contra como a favor.
Também não falta quem defenda que são necessários mais estudos para
aprofundar o assunto.
* Nós preferimos não beber leite, não conhecemos nenhum lobby que faça insistente campanha contra o consumo de leite, pelo contrário existem muitos a favor que chegam a comprar jornalistas e políticos.
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