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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
13/08/2023
TIAGO SIGORELHO
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Rock in Papa 2023
Através de uma estratégia aparentemente bem desenhada, pelo menos a partir da Expo 98, Portugal tem vindo a apresentar-se com um anfitrião de grandes eventos, daqueles que atraem milhares de pessoas aqui residentes e que têm, ainda, a proeza de conseguir convocar quem vem de fora.
Ao longo destes últimos 25 anos fomos recebendo iniciativas marcantes para um país da nossa dimensão, aproveitando, e bem, para capacitar toda a sociedade para que seja mais competente e criativa, não só para esses eventos em específico, mas também para uma teia mais alargada de outras necessidades.
Não basta, apenas, desenvolver a capacidade de receber grandes eventos nacionais e internacionais. Se a estrutura base do país, a capacidade hoteleira, os trabalhadores qualificados, as forças policiais, a adequação dos transportes, a preparação dos serviços de saúde, é fundamental para a realização de iniciativas superlativas, também o papel do promotor é extraordinariamente relevante.
Entidades como o Gabinete Internacional de Exposições, que decide as Expos, a UEFA ou todos os restantes organismos internacionais de desporto, a Web Summit, especialistas em festivais musicais, como o Rock in Rio ou o Primavera Sound, para não falar dos promotores nacionais de referência, têm uma enorme importância no sucesso das iniciativas.
Nenhum destes promotores, no entanto, se aproxima da extraordinária competência da Igreja Católica. Esta entidade tem vindo a realizar eventos gigantes, de complexidade incomparável, há centenas de anos. Especializou-se em encantar pessoas através dos seus rituais mágicos, da beleza arquitetural dos seus locais de culto, da sofisticação da sua roupa e ornamentos e da capacidade de chamar grandes artistas para intervirem nos seus espaços.
Mas a principal característica desta organização, aquela que exponencia um evento ao apogeu, é a habilidade de contar histórias. Fazer um evento perfeito é contar uma história sublime, com princípio, meio e fim, que seja capaz de ser recordada no futuro. Nenhuma outra entidade tem tanta experiência em contar histórias com tamanha mestria, por mais inverosímeis que possam ser.
Sentimos esse poder quando assistimos ao incrível talento na mobilização de pessoas para as Jornadas Mundiais da Juventude. Independentemente da disputa na veracidade dos números (talvez apenas mais uma história), é indesmentível a quantidade ímpar de gente que se sujeita às provações do calor e da resistência física para assistir aos vários momentos deste festival.
Estas jornadas são um conjunto de histórias muito bem planeadas, pensadas por especialistas em narrativas, que desenham um argumento em crescendo que estimula e envolve todos. Para além da calendarização perfeita das várias iniciativas (a recepção, a via-sacra, a vigília, a missa), existe todo um aparato de pequenas ações sedutoras, como os espectáculos musicais, as performances de dança, os voos de drones ou a regular bênção do Papa a bebés disseminados pelo caminho.
Até nos conseguimos esquecer, por breves momentos, que esta é uma organização que não permite o acesso às mulheres nos postos de trabalho mais relevantes, que desencoraja a vivência LGBTQIA, que promove o não uso de meios contraceptivos, que se posiciona contra a maioria das pessoas no que diz respeito às liberdades individuais da interrupção voluntária da gravidez ou da morte medicamente assistida e que é dispensada do pagamento de alguns impostos no nosso país
* Esteve ligado durante 15 anos ao setor das telecomunicações, onde chegou a Diretor de Estratégia de Marca do Grupo PT, com responsabilidades das marcas nacionais e internacionais e da investigação e estudos de mercado. Em 2014 criou o Gerador e tem sido o presidente da direção desde a sua fundação. Tem continuamente criado novas iniciativas relevantes para aproximar as pessoas à cultura, arte, jornalismo e educação, como a Revista Gerador, o Trampolim Gerador, o Barómetro da Cultura, o Festival Descobre o Teu Interior, a Ignição Gerador ou o Festival Cidades Resilientes. Nos últimos 10 anos tem sido convidado regularmente para ensinar num conjunto de escolas e universidades do país e já publicou mais de 50 textos na sua coluna quinzenal no site Gerador, abordando os principais temas relacionados com o progresso da sociedade.
IN "gerador.eu" -06/08/23.
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Mais uma notável produção da RTP
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