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HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Há 170 mil “ocupados”
que não contam para o desemprego
Peritos em mercado de trabalho, incluindo
do Ministério das Finanças e do Banco de Portugal, estão atentos ao
impacto das políticas activas de emprego.
Nos primeiros quatro meses deste ano, o número de pessoas
registadas como "ocupadas" pelos centros de emprego quase duplicou face
ao mesmo período de 2013. Há quase 170 mil "ocupados" que não contam
para o desemprego do Instituto do Emprego e Formação Profissional
(IEFP). Os números despertaram a atenção dos especialistas, que querem
saber se este impacto está a ser significativo na retoma do mercado de
trabalho. Mesmo dentro do Ministério das Finanças e do Banco de
Portugal, o assunto está a ser seguido de perto, sabe o Diário
Económico.
Em Abril, o IEFP contabilizou 668 mil desempregados.
Mas neste grupo não estão incluídos 169.408 "ocupados" - pessoas que
estão integradas em programas de emprego ou formação profissional,
excluindo os que estão ao abrigo de programas que visam a integração
directa no mercado de trabalho.
Entre Janeiro e Abril deste ano,
o grupo dos "ocupados" aumentou 77,5% face aos mesmos quatro meses de
2013. Aliás, os números têm vindo sempre a crescer (acima de 50%) no
último ano.
Este efeito, conjugado com o facto de a taxa de
desemprego registada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) ter
começado a cair no segundo trimestre de 2013, mesmo sem a economia a
crescer a um ritmo significativo, despertou a atenção dos especialistas.
O
Económico sabe que há peritos atentos aos números, tanto no Ministério
das Finanças, como no Banco de Portugal. Não se trata de desconfiar das
estatísticas do INE ou do IEFP, sobre o mercado de trabalho, mas sim de
avaliar o impacto das políticas activas de emprego na sua recuperação.
É
que isso faz diferença na hora de projectar o comportamento futuro da
economia. Se o impacto for relevante, recomenda-se cautela em relação às
expectativas para a actividade económica. "É muito claro que uma boa
parte da redução no número de desempregados tem a ver com isso. Talvez
mais de metade", diz uma fonte que está atenta aos números, referindo-se
aos dados do IEFP.
Pedro Martins, ex-secretário de Estado do
Emprego do actual Governo, avança outra estimativa e diz que o
crescimento destes apoios explica "entre um quarto e um terço" da subida
do emprego. "Há também um efeito de interacção entre a economia e estes
apoios: as empresas estão mais dispostas a contratar e havendo estas
medidas, têm mais interesse", frisa.
A prova dos nove é difícil
de tirar. Os dados dos centros de emprego mostram que se todos os
"ocupados" fossem contabilizados como desempregados, então o desemprego
ainda estaria a subir. Mas também é certo que é o facto de estar a ser
feito um esforço grande nas políticas activas de emprego que faz com que
muitas pessoas se inscrevam no IEFP.
Se forem usados os dados do
INE, não é mais simples retirar conclusões: o instituto não desagrega a
informação da mesma forma. Aqui, o factor mais relevante é se a pessoa
recebe uma remuneração, independentemente de estar a ser paga pela
empresa ou pelos cofres públicos.
É por isso que não é fácil
isolar o efeito das políticas activas de emprego na melhoria do mercado
de trabalho. Por exemplo, entre Estágios-Emprego e Contratos Emprego
Inserção (trabalho socialmente necessário), o IEFP registava quase 65
mil pessoas (valores acumulados de Março). Nas estatísticas do INE, este
grupo faz parte da população empregada - porque recebem uma remuneração
além do subsídio de alimentação ou transporte.
Em Fevereiro, o
presidente do IEFP, Jorge Gaspar, reconheceu o impacto das políticas
activas de emprego. Mas defendeu que não deve ser feita uma leitura
administrativa desta questão. "Essa relação dicotómica está na lei",
argumentou. "Ou acreditamos nas políticas activas de emprego e de
formação profissional, ou não. Se não acreditamos, a visão
administrativa da realidade impõe-se", explicou na altura.
João
Cerejeira, professor na Universidade do Minho, também não subscreve a
tese de que o emprego criado seja "falso". E explica: "De certa maneira,
[estas políticas] favorecem os números do desemprego e emprego, mas
também é verdade que um número muito significativo destas pessoas, mesmo
sem a medida provavelmente também estariam empregadas".
Francisco
Madelino, ex-presidente do IEFP, também reconhece que não é só o efeito
do crescimento económico que faz subir os números do emprego. "As
políticas activas de emprego, em conjunto com a economia, explicam a
evolução", garante.
* Enquanto isso o governo anda "ocupadíssimo" em mistificar.
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