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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
15/01/2017
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V-PEDRAS QUE FALAM
3- AS CIDADES
DA CERÂMICA E DO AÇÚCAR
A
RTP Madeira produziu um excelente documentário, numa série de 12 programas, sobra
a temática dos recursos naturais com incidência nos recursos
geológicos, a que denominou "Pedras que falam", de autoria do Engº
Geólogo João Baptista Pereira Silva.
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James Beacham
Como exploramos
perguntas não respondidas
na física
James Beacham busca respostas para as mais importantes perguntas não respondidas da física usando o maior experimento científico já construído, o Grande Colisor de Hádron do CERN.
Nesta palestra divertida e acessível sobre como a ciência acontece, Beacham nos leva em uma jornada através de dimensões extra-espaciais na busca de partículas fundamentais ainda não descobertas (com uma explicação para os mistérios da gravidade) e detalhes para continuar a exploração.
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PEDRO LINO
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* Economista
IN "JORNAL ECONÓMICO"
13/01/17
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Monarquia
Portugal foi governado por uma monarquia financeira, cujos responsáveis estão por ser julgados.
Para quando uma mudança de atitude?
Ainda agora começou a comissão parlamentar de inquérito e o pior já
se confirmou. A Caixa foi sempre vista pelos governantes como um
instrumento de poder ao seu serviço. Os recursos dos contribuintes foram
utilizados por alguns e em favor de poucos, deixando milhares de
milhões de euros em prejuízos numa factura ocultada durante mais de 15
anos, que é agora da responsabilidade do contribuinte.
Das muitas decisões desastrosas destacam-se o investimento em
Espanha, a tomada de participação no BCP, a concessão de créditos sem
garantias, a compra de várias participações em empresas cotadas (Cimpor,
EDP, ZON, BRISA, PT), a ajuda dada ao grupo Espírito Santo no controlo
da PT, entre muitas outras.
A guerra pela compra do BCP foi o culminar do desespero pelo
domínio absoluto do sistema financeiro. A desculpa foi convincente –
defesa dos centros de decisão nacionais. Mas como se pode defender uma
causa sem dinheiro? A resposta estava na utilização do dinheiro dos
contribuintes. O final foi trágico, com todas as grandes empresas a
perder accionistas de referência portugueses.
Os sucessivos governos foram cúmplices e tiveram a sua
responsabilidade no que foi uma fraude ao contribuinte. Retiravam-se
dividendos e, no fim de cada ano, devolvia-se esse montante ou mais em
aumentos de capital. Ao distribuir dividendos da CGD era possível
disfarçar o défice e apresentar contas que dependiam de resultados
financeiros, uma vez que os dividendos são contabilizados como receita.
Os aumentos de capital por sua vez acrescem à dívida, que não tem tanta
visibilidade como o défice. Desde 2007 já foram injectados na Caixa mais
de 3.850 mil milhões de euros em capital, sendo que o total se
aproximará dos 9 mil milhões de euros, concluído o presente plano de
recapitalização.
Os actores políticos, continuam a tentar passar a ideia que a
responsável pela catástrofe da Caixa foi a famigerada crise financeira.
Ora esta apenas pôs a nu o que se estava a passar – uma monarquia
financeira, orquestrada por privilegiados, que ditou os destinos de
grupos económicos e elegeu vencedores com pés de barro. Neste campo
ninguém está a salvo: administrações, governos, troika, supervisores e
auditores. Todos de uma forma ou de outra tomaram parte nesta triste
história.
Os relatórios de auditorias e de gestão omitiram, por
desconhecimento ou não, as reais imparidades e fragilidades da Caixa.
Ninguém acredita que os prejuízos agora revelados se referem ao ultimo
ano. Sendo assim, como pode um depositante ou investidor avaliar o risco
da sua entidade financeira se os relatórios de auditoria não reflectem a
veracidade da solidez financeira, ou os riscos da instituição? É
difícil perceber porque é da responsabilidade do investidor e do
depositante a avaliação do seu banco, quando aparentemente nem o
supervisor sabe o que lá se passa.
A mais recente subida de taxas de juro reflecte a insegurança dos
investidores no sector financeiro que, na próxima crise, não poderá ir
em socorro do Estado e comprar dívida. Portugal foi governado por uma
monarquia financeira, cujos responsáveis estão por ser julgados. Para
quando uma mudança de atitude?
* Economista
IN "JORNAL ECONÓMICO"
13/01/17
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XVII-VISITA GUIADA
Tapeçarias de Portalegre/1
PORTUGAL
* Viagem extraordinária pelos tesouros da História de Portugal superiormente apresentados por Paula Moura Pinheiro.
Mais uma notável produção da RTP
Mais uma notável produção da RTP
*
As nossas séries por episódios são editadas no mesmo dia da semana à
mesma hora, assim torna-se fácil se quiser visionar episódios
anteriores.
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ESTA SEMANA NA
"SÁBADO"
"SÁBADO"
Recorde do mundo
dos 50 km marcha é português
A portuguesa Inês Henriques estabeleceu, este domingo, o recorde do
mundo de 50 km marcha, ao cumprir a distância em 4h08.25, em Porto de
Mós, Leiria.
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A marchadora olímpica, de 36 anos, fixou o recorde
nos campeonatos nacionais de marcha de estrada de 35 e 50 km,
aproveitando o facto de a Associação Internacional das Federações de
Atletismo (IAAF) ter aberto a distância ao sector feminino a partir
deste ano.
A melhor marca mundial nos 50 km marcha registada
anteriormente data de 2007 e pertence à sueca Monica Svensson, com
4h10.59, mas não é reconhecida como recorde pela IAAF, uma vez que a
distância não era oficial no sector feminino.
* Grande portuguesa.
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A VENDA
A DESGRAÇA
O ROUBO MAIOR
A LIBERDADE
Chamo-me Lana. Tenho 17 anos, não sei quando serei maior de idade. Vim para Portugal aos 12. Comecei ontem a aprender a ler e a escrever.
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ESTA SEMANA NA
"VISÃO"
"Fui 5 anos escrava em Portugal"
Lana tinha dez anos quando foi vendida por mil euros pela própria mãe. Foi espancada, forçada a roubar, obrigada a dormir com dois homens. Obrigada até a entregar Escrava um filho. Tudo debaixo dos olhos de assistentes sociais, da polícia e de um hospital público. Como é possível o sistema ter falhado desta forma, e durante anos? A VISÃO passou meses a tentar encontrá-la. Descobriu-a numa casa-abrigo de localização secreta e conta agora a sua história chocante
Lana tem dez anos e esta noite vai dormir com um homem. Ninguém lhe disse que não teria escolha.
Não
foi isso que a mãe prometeu quando lhe contou que iria ser levada de
avião para a Irlanda, teria uma nova família e nunca lhe faltaria nada.
Nenhuma criança está preparada para compreender que foi vendida pela
própria mãe. Também não é normal que saiba o que é isso de dormir com um
homem muito menos com um que não escolheu. Lana vai aprendê-lo esta
noite. E vai reaprendê-lo de todas as vezes que for violada nas cerca de
400 noites que se vão seguir em Dublin.
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Mal
o avião aterrou na Irlanda, contaram-lhe que aquele homem na verdade,
ainda nem um homem, um adolescente de 15 anos que nunca tinha visto
seria o seu marido. Que partilharia casa com ele, com o pai, a mãe e o
irmão mais velho. E teria de ir para as ruas mendigar se queria ter o
que comer.
A
Lana de hoje, que não descola de Madalena, a psicóloga a quem chama
"mãe emprestada, mãe de coração", a Lana efusiva que hoje ri mais do que
chora, a Lana que é vaidosa nas suas calças de ganga, casaco desportivo
e tranças miudinhas, é a Lana que não se esquece de como, naquele dia,
ainda um fio de gente, se sentiu ainda mais pequena a fazer-lhes frente:
"Obrigou-me a pedir e a roubar. Eu dizia: 'Não posso fazer isto. Não
gosto de ti. Quero ir para a minha mãe, quero ir embora.' E ele dizia:
'Não vais não, vais ficar, fazer o que quero e ganhar dinheiro para
nós.'" Lana jamais o teria escolhido. Chorou, clamou, gritou que não
gosta dele, que não o quer, que não tem idade nem corpo para saber o que
é isso de casar com um homem. De nada lhe valeu quando o que sobra é
este retrato: o de uma menina anichada como uma raposa, dobrada de dores
e de medo.
Ao fim de pouco mais de um ano de agressões com paus e cabos dobrados, Lana mal conseguia andar.
Doente
já não seria útil. Puseram-na num avião e devolveram-na à Roménia. Quem
cuidaria agora dela? O pai? Nunca soube quem era. A avó? Bem que a foi
buscar ao hospital quando a mãe a quis abandonar à nascença e bem que
dela cuidou até aos dez anos, mas entretanto mudara-se para França.
Restava-lhe uma mãe com quem vivera apenas dois meses e que a empurrara
para a servidão. Mas que pelo menos parecia arrependida, surpreendida
até com as agressões, magoada por tê-la deixado ir: "Ó filha, eu não
sabia, não sabia." E a filha perdoava e respondia com um pedido de
desculpas por ter duvidado da mãe.
O cansaço era tanto, a saúde tão frágil, que durante uma semana Lana não conseguiu sair da cama.
Sentada
na ponta da cadeira, de tronco tombado sobre o colo da mãe emprestada,
Lana fala muito rápido, tão rápido que às vezes ninguém na sala da
casa-abrigo a entende. Como se assim fosse mais fácil recordar o que se
vai seguir: uma história que atravessou fronteiras e durante anos
escapou aos olhos de vizinhos, polícias, assistentes sociais e
hospitais.
A VENDA
Quinze
dias depois da chegada à Roménia, acaba o período de paz na pequena casa
de Cluj-Napoca, a terceira maior cidade do país. A mãe tem novos pla-
nos para Lana: "Vais ter um novo marido. Vais trabalhar.
Vais
ganhar o teu dinheiro e mandar dinheiro para a mãe para ajudar as tuas
irmãs. A mãe sabe o que é melhor para ti." Lana sai com as suas roupas e
com o passaporte.
Faz
calor, um calor anormal para a primavera, como se alguma coisa ardesse à
superfície da paisagem que deixa para trás. A controlá-la, sentado ao
seu lado no autocarro, segue um romeno corpulento de quem nada sabe
apenas que se chama Marius e que pelo aspeto terá pouco mais de 30 anos.
Colada ao vidro a ver passar a terra que a expulsa, pergunta-se como
será esse lugar para onde a levam. Enquanto as horas passam e já todos
dormem, pergunta-se se deve sentir saudades da mãe que ela ainda não
sabe que a acabou de vender por mil euros. Menos de dois anos depois da
primeira viagem, Lana está de regresso à rota do tráfico.
Chega
a Portugal e é levada para uma vila perto de Oliveira de Azeméis.
Aquela que será a sua sogra (mas que em público deverá tratar por
madrasta) chama-se Lucia e não demora a apresentar-lhe uma lista de
tarefas: vai ter de acordar todas as madrugadas, às 6h30, para limpar a
casa, lavar a roupa à mão, cozinhar.
E
vestir, cuidar e dar de comer a quatro dos então seis filhos do casal
Lucia e Marius, com idades entre um mês e 12 anos de idade. Na
realidade, o mais novo só uns dias depois virá para casa: teve de ser
assistido no hospital por falta de cuidados maternos, e foi ali
abandonado, doente, pelos pais. Lucia e Marius vão inventar uma desculpa
terem ido à Roménia renovar documentos para recuperarem a guarda da
criança.
Ainda
naquele dia, Lana é apresentada àquele que será o seu segundo marido.
Também se chama Marius, como o pai. É um miúdo da sua idade (12 anos),
magro, imberbe, de cara afunilada. Lana faz finca-pé.
Diz
ao sogro que não gosta dele. "E lá tens de gostar? Fazes o que eu
quero." Ela replica: "Vais obrigar-me a dormir com o teu filho se não
gosto dele?" Lana tem 12 anos e esta noite vai ter de voltar a partilhar
quarto e cama com um homem. O resto virá por fases. No final de 2010
Lana está em pânico com a sua primeira menstruação. É a pior coisa que
lhe podia acontecer. Acabou-se a misericórdia. Daí em diante, pelo menos
uma vez por semana, e durante quase quatro anos consecutivos, vai ser
violada pelo novo marido. Quando ousar dizer que não o quer, alguém
dentro de casa o próprio Marius, ou o sogro ou a sogra vai puxar da sua
força mais bruta e bater-lhe até ela parar de se queixar. Até que se
resigne.
Ninguém a vai ouvir chorar enquanto fingirem que são marido e mulher.
A DESGRAÇA
A
primeira medida da família para impedir Lana de desaparecer foi
esconder-lhe o passaporte e a certidão de nascimento. E para desviar as
atenções das assistentes sociais e da polícia ensinaram-na a mentir:
deveria dizer que os miúdos e o marido eram seus irmãos, a sogra,
madrasta e o sogro, pai, como se fosse o resultado de uma relação
extramatrimonial entre Marius "sénior" e a sua mãe de sangue.
A
qualquer hora, Lana tinha de estar disponível para cuidar da casa ou
das (outras) crianças. Em menos de nada, o recém-nascido foi mudado para
o quarto dela, para que fosse ela a socorrê-lo caso chorasse durante a
noite. Se a comida não ficasse boa, era espancada. Se se esquecesse de
alguma tarefa, era espancada. Se aquecesse demasiado o leite do bebé
-porque tinha 12 anos e ninguém lhe ensinou como medir a temperatura,
era espancada. Espancada com as mãos, com vassouras, com um taco de
basebol. Durante anos os vizinhos foram testemunhas da sua desgraça:
viam-lhe os hematomas na face, nos olhos, na cabeça. Quando as marcas
eram indisfarçáveis, Lucia inventava uma história para a vizinhança: uma
em que as crianças, na brincadeira, tinham magoado Lana.
Como
se fosse pouco o que fazia, a menina ainda costumava ajudar uma mulher
que vendia velas no cemitério ou as que iam lavar as campas dos
familiares.
Os
gestos eram pagos com umas moedas, que raramente conseguia esconder dos
sogros. No café da dona Paula, que ficava na sua rua, o mais recorrente
era comprar apenas uma pastilha, por cinco cêntimos. Na verdade, o que
estava a comprar não era uma pastilha. Era tempo. Naquele espaço podia
esquecer-se da vida que tinha: conversava com quem estava, ria-se, via
televisão. A caminho entre casa e o café, uma vez ou outra chegou a
despir a saia, comprida e pesada, que a obrigavam a usar para ficar com
as calças que encontrara num caixote de roupa para os pobres. Por
momentos, com este disfarce, podia vestir-se como as adolescentes da TV.
Os
sogros viviam em Portugal desde 2009, e embora na terra conhecessem o
pai Marius como vendedor de carros, nenhum deles declarara quaisquer
rendimentos ou ocupação profissional. Acabados os €600 de Rendimento
Social de Inserção e os €70 de abono dados à família, Lana era obrigada a
uma nova função: ir à mercearia e aos supermercados roubar barras de
queijo flamengo, champôs, Snickers, frascos de creme, latas de Redbull.
Das prateleiras, os produtos iam para dentro de um saco, colocado
estrategicamente debaixo da saia. "Odiava.
Morria de vergonha por ter de roubar a quem trabalhava.
Eles
diziam que tinha de ser assim, mas eu sabia que podia não ser", lembra
Lana, agora com 19 anos, tão rejuvenescida, com o seu cabelo finalmente
livre e solto. Chegou a ser apanhada a roubar, ouvida pela polícia e
presente a tribunal. Nunca contou que o fazia a mando de Lucia.
A
7 de agosto de 2014, pelas cinco da tarde, a sogra exigiu-lhe que fosse
roubar ao minimercado. Recusou, e foi espancada com um pau nas pernas e
proibida de dormir em casa nessa noite. Meses depois, a 18 de dezembro,
ao negar-se novamente a roubar, Lucia agarrou-a pela cabeça, empurrou-a
contra a porta de entrada da casa e voltou a usar um pau para lhe bater
nas pernas. Lana ficou com duas escoriações no crânio, um hematoma na
face e outro na perna.
Nesse
mesmo mês, já o marido tinha aparecido no café da dona Paula e
provocado uma cena de ciúmes. Pontapeou-a pelas costas, agarrou-a pelos
cabelos e arremessou-lhe a cabeça contra uma porta de ferro que ficou
até hoje amolgada, tamanha a violência do embate.
Depois, enxotou-a até casa como um cão tinhoso, enquanto a enchia de murros e a sacudia com pontapés.
Na
sala pequena onde recorda tudo, Lana solta um grito quando cola as suas
mãos quentes às mãos frias de Madalena. E é a primeira a acrescentar:
"Mas tens o coração quente, eu sei." A psicóloga brinca: "Está
completamente portuguesa." Lana não quer ser outra coisa. "Não quero ir
mais para a minha terra. Estou tão bem aqui." Nem sequer gosta muito de
viajar. Só ela sabe o que lhe aconteceu sempre que teve de partir.
O ROUBO MAIOR
Lana entra na mercearia da dona Fátima a chorar convulsivamente.
Ajude-me, que eu não consigo mais.
A custo, acaba por confessar estar a fugir de Lucia.
Está cansada, não quer roubar mais muito menos a quem, como ela, é sua amiga e pede-lhe ajuda para denunciar o caso à GNR.
Agora,
a dona da loja já percebe o misterioso desaparecimento de alguns
produtos. E também as nódoas negras que aqui e ali descobria em Lana.
Pergunta-se
como não percebeu logo a história. Mas a verdade é que ninguém
percebeu. Até as técnicas dos serviços sociais, que acompanhavam a
família desde 2009 e já teriam ouvido a comunidade comentar que uma
rapariga seria vítima de maus-tratos, passaram anos sem dar pela
presença de mais uma pessoa lá em casa. E quando finalmente confrontaram
Lucia e Marius com a existência de mais um elemento no agregado
familiar, foram na cantiga de que Lana era fruto de uma relação
extraconjugal de Marius, e que nunca a assumiram porque não tinham
documentos válidos.
Em
frente aos militares da GNR, Lana não tem coragem de desmentir essa
versão, queixando-se apenas de ser vítima de maus-tratos. O sogro
entretanto aparece, jura-lhe pelos filhos que nunca mais será agredida e
ela cede. Bastaram uns minutos, o tempo de chegar a casa, para ouvir
que, afinal, nada mudaria.
A
sorte é que naquela mesma tarde 19 de dezembro de 2014 a GNR bate à
porta e obriga Marius a entregar os documentos que até então tinha
escondido. É nesse momento que a jovem pede aos polícias para a levarem
para longe. Lana, a quem a vida deu razões para não confiar em ninguém
nem acreditar em novas oportunidades, quis salvar-se.
"Sempre
confiei muito em Deus, rezava muito nas igrejas sozinha. Entreguei a
minha vida nas mãos dele. Não conhecia ninguém mas confiei. Tudo o que
queria era sair dali", diz de rompante, solta, na sua mistura de
sotaques. Pela primeira vez não teve medo o desconhecido não poderia ser
tão horrível como o que já conhecia. "A minha vida não foi fácil, mas
agora é", resume, enquanto se aninha na cadeira e se enrola no cachecol.
"Fui eu que decidi mudar a minha vida." Dito assim, tudo parece tão
simples. Naquele dia, Lana já não voltou a casa. Tinha 16 anos. Foi
escrava durante seis.
O
caso foi participado à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens.
Durante meses, enquanto estava num lar de acolhimento, teve de enfrentar
a agonia de reviver a sua história perante a GNR, assistentes sociais,
psicólogos, Polícia Judiciária (PJ) e finalmente um juiz. Passo a passo,
ia incluindo mais pormenores, de Portugal à Roménia, da Roménia à
Irlanda, até chegar aos mais sórdidos. O maior segredo de todos ainda
estava para ser revelado. Não tinha propriamente prazer em anunciá-lo ao
mundo porque toda a dor desaguava nele.
- Eu tive um bebé.
- Como assim, um bebé? Onde? Quando? Onde está?
- Depois de ter o período engravidei do Marius.
Levaram-me para o hospital e tive uma menina.
A
história apanhou todos de surpresa. Foi preciso vasculhar os registos do
hospital, em Santa Maria da Feira, e desencadear um imenso trabalho de
investigação para se descartar a hipótese de que Lana, perturbada pelos
últimos desenvolvimentos, não estaria a alucinar. Nenhuma prova
confirmava a sua versão: não havia registo de ter tido qualquer criança
naquele hospital, nem sequer de alguma vez lá ter entrado.
Havia
registo de um parto, sim, em 2012, mas de Iasmina, personagem até aqui
desconhecida, filha mais velha de Lucia e Marius, residente em Espanha.
A
unidade da PJ que investiga crimes de tráfico de seres humanos no norte
do País e que tomou conta do caso de Lana descobriu que o casal usara
os documentos da filha verdadeira para dar entrada com a falsa filha no
hospital, imediatamente antes do parto.
Foi a primeira vez que Lana entrou num hospital.
Nunca fora vacinada nem tivera qualquer cuidado de saúde, nem em Portugal, nem na Roménia, nem sequer durante a gravidez.
A
menina nasceu, com 2,8 quilos, e um hematoma na cabeça, que os médicos
estranharam. Até hoje Lana não afasta a ideia de que isso aconteceu
porque o pai da criança nunca se coibiu de lhe dar enxertos de pancada,
acertando-lhe em cheio na barriga onde o bebé crescia.
Depois do parto, Lana mal conseguiu ver a filha.
Lucia
convenceu a unidade de neonatologia do hospital de que era a avó
materna da criança e que o pai teria ido viver com outra mulher para a
Roménia, deixando a companheira desamparada, sem dinheiro e com um filho
no ventre. Até Lana quase foi convencida pela sogra de que não tinha
condições para cuidar de uma criança: "Não podemos dar-ta. Não tens
casa, não tens dinheiro, como vais tu criá-la?" Ninguém no hospital nem
nos serviços de proteção de menores desconfiou que estaria a ser usada
uma falsa identidade. Lucia assinou os documentos que eram necessários.
Sem o consentimento de Lana, a bebé foi deixada no hospital e
posteriormente adotada, num processo que nenhum tribunal terá coragem de
reverter. Lana foi proibida pelos sogros de procurar a filha.
Aproveitando
o internamento, Lucia impôs-lhe ainda que colocasse um implante
anticoncecional. Marius queria continuar a violá-la, pelo menos uma vez
por semana, sem riscos de a voltar a engravidar. Naquela altura, já a
própria Lucia carregava também uma barriga visível. Era preciso que a
nora estivesse disponível para cuidar do seu bebé.
Como
aliás viria a acontecer desde os primeiros dias, quando o levou para o
quarto de Lana. À primeira palavra, foi a ela que chamou "mamã".
Este
foi um dos episódios que mais chocou o procurador do Tribunal de Santa
Maria da Feira, quando acusou Lucia e os dois Marius, pai e filho, de
centenas de crimes de tráfico de pessoas, violência doméstica,
escravidão e violação agravada, em janeiro deste ano.
O
magistrado não teve meias palavras para exprimir a dor que infligiram à
vítima: "Fizeram-no obrigando-a a sujeitar-se à servidão doméstica,
obrigando-a a abandonar a filha, provocando-lhe dores, privação de
liberdade, profunda tristeza, agonia, desespero e insegurança,
reduzindo-a à condição de escrava." Lana não pôde ser nada. Nem criança,
nem adolescente, nem filha, nem mãe.
A LIBERDADE
Chamo-me Lana. Tenho 17 anos, não sei quando serei maior de idade. Vim para Portugal aos 12. Comecei ontem a aprender a ler e a escrever.
Lana
está finalmente perante o juiz do Tribunal de Família e Menores, que
não tem dúvidas de que passou por graves violações dos direitos humanos
quando lhe negaram o direito à escolaridade, à saúde, à identidade, a
ter um filho. Como pode alguém sobreviver a tudo isto? Ao triplo
abandono de uma mãe, ao roubo de uma filha, a uma infância e
adolescência resumidas a uma vida de pobreza, agressões, abusos e
escravatura? Lana é um prodígio da superação e do triunfo. Um caso raro,
garantem as equipas da instituição que a ajudam há meses a construir um
projeto de vida.
Podia
ter-se tornado muda e apática, mas fala pelos cotovelos. O mais certo
era ser desinteressada, desatenta, mas não é isso que se percebe quando
fala português e usa certeiramente os provérbios. Podia ser amarga e
desconfiada, mas distribui abraços pelas técnicas como se as conhecesse e
as amasse desde sempre. Era previsível que fosse sisuda e triste, mas
não é isso que se vê quando se ri com os olhos, com as bochechas e com
os dentes.
Meses
depois de ter deixado a casa de Lucia e Marius, e perante as ameaças
contínuas dos agressores, a PJ decidiu apertar as medidas de segurança,
dar-lhe o estatuto de vítima de tráfico de seres humanos e
reencaminhá-la de um lar de infância e juventude para uma casa-abrigo de
localização secreta, onde permanece até hoje. Periodicamente são
definidas medidas para que se mantenha a salvo. Neste momento, por
exemplo, não pode frequentar certos locais, publicar fotos suas, nem
deixar-se fotografar em grupo.
Em
julho, o Tribunal de Santa Maria da Feira deu como provada a escravidão
continuada e condenou Marius a sete anos e meio de prisão; Lucia levou
sete anos e nove meses. O outro Marius, marido forçado de Lana, ainda
não foi julgado por se encontrar em paradeiro incerto. Está pendente um
mandado de detenção europeu. Na leitura do acórdão, o juiz João Grilo
olhou Marius e Lucia nos olhos e disse-lhes: "O que vocês fizeram a esta
criança foi torná-la uma escrava. Era vossa escrava. Não tinha
liberdade, nem autodeterminação. Tiraram-lhe tudo, até um filho." A
primeira coisa que Lana fez quando chegou à casa-abrigo foi mudar de
aparência até ficar irreconhecível.
Por sua iniciativa, mudou a maneira de vestir, largou as saias, jogou fora os colares e as argolas.
Agora
prefere calças: "É muito mais fiiiixe!" Depois, quase provocou um susto
às psicólogas quando apareceu, toda contente, de cabelo ondulado
cortado a eito e uma franja às farripas. E no dia seguinte, que vida
própria ganharia aquela franja?, perguntavam-se as mais experientes.
Lana, que não saía do espelho, não se importou. Se corresse mal, mudava.
Agora já podia mudar as vezes que quisesse.
Os progressos são enormes, mas não é justo dizer que não sobraram marcas dos anos de escravidão.
Ainda
hoje toma medicamentos todos os dias e é assombrada com pesadelos todas
as noites. A mãe tornou-se um tema proibido, para não ficar mais
nervosa antes de dormir. Nos primeiros meses, parecia um bicho. Era
agressiva, respondona, falava muito alto. "Ensinaram-me a ser
bem-educada", diz, muito séria, sem que haja qualquer ironia na sua
frase. "Fui aprendendo. Na minha outra vida não estava habituada a isto.
Gritavam
comigo por tudo e qualquer coisa, e eu respondia. Agora ensinam-me como
comportar-me." É muito mais do que isso. "Depois de tudo o que passei,
estar aqui é muita felicidade.
Não quero o meu mal para ninguém.
Agora
ajudam-me a construir uma vida", diz, e larga um sorriso tão grande,
tão grande, que os olhos quase tocam nas maçãs do rosto.
Na
escola que frequenta de segunda a sexta aprende as letras e os números
como quem começa agora, e também artesanato, cerâmica, e as atividades
da vida diária, como limpar uma casa ou cozinhar ter sido escrava metade
da vida não significa que soubesse realmente fazê-lo. Descobriu dotes
para cozinhar comida portuguesa e um talento especial para a costura: ao
fim da primeira aula, fez na perfeição as bainhas de uns cortinados.
Sabe que a casa-abrigo é um lugar temporário, mas não teme o que virá. O que mais quer é um emprego.
"Gostava
muito de arranjar uma vida, uma casa para mim. Quero muito, muito
trabalhar. Podia ir para um café, ser ajudante de cozinha ou cuidar de
bebés ou crianças." Diz que na casa-abrigo aprendeu "as coisas boas da
vida", ganhou uma avó e a tal mãe emprestada de quem não larga a mão
durante a conversa e que quase sufoca quando a aperta nos seus abraços.
Quando saiu da casa de Lucia e Marius teve um primeiro instinto de ligar
para a mãe, na Roménia. Depois, mudou de ideias.
Não podia arriscar que ela a vendesse a outro homem.
O passado é um caminho feio que não quer voltar a ver.
Mas
não é a falar do passado que a voz lhe foge para os soluços. Lana não
se afunda em tristezas nem em revoltas: já perdeu metade de uma vida
nelas. A voz embargada só aparece quando explica quem é agora. "Quem
sou? Hãããã. Sou uma pestinha. Gosto muito da minha vida nova e da minha
família. Gostam muito de mim e eu gosto muito deles. Sinto-me muito
feliz." E os olhos, brilhantes como cálices, faíscam de alegria e
lágrimas. "Agora estou aqui, tenho uma vida boa, e aprendo muito com
eles." Na nova vida, a primeira em que é livre, Lana fez uma descoberta:
"Tudo o que eu queria, tenho uma família." Di-lo e não sabe se há-de
sorrir ou chorar mais, enquanto puxa a nova mãe, Madalena, para o seu
ombro e lhe diz bem alto: "Gosto muito, muito de ti." A um mês da festa
de Natal, insiste em falar do presente que vai preparar para o "amigo
segredo" (amigo secreto) e jura que este ano não se vai descair e contar
antes de tempo quem é. Como deixou a antiga vida a uns dias do Natal de
2014, o turbilhão era tal que nem deu pelo passar da época. No ano
passado, já nesta casa-abrigo, teve o primeiro Natal a sério: à noite,
antes de ir para o quarto, espreitou a árvore e não viu nada; ao
acordar, pela manhã bem cedo, descobriu uma montanha de presentes aos
pés do pinheiro e acreditou que existia mesmo um Pai Natal. À sua
maneira, ainda foi a tempo de ter uma infância feliz.
Lana tem 19 anos e esta noite não vai ter de dormir com um homem que não escolheu.
[Por
razões de segurança e motivos éticos, o nome da vítima foi alterado
nesta reportagem.] Se julga conhecer vítimas de tráfico de seres humanos
e precisa de aconselhamento, ligue para um destes números.
Equipas APF (Associação para o Planeamento da Família) Norte: 918654101/ APF Centro: 918654104/ APF Lisboa: 913858556/ APF Alentejo: 918654106
Equipas APF (Associação para o Planeamento da Família) Norte: 918654101/ APF Centro: 918654104/ APF Lisboa: 913858556/ APF Alentejo: 918654106
* Parece um argumento macabro para um filme de terror, simplesmente é uma verdade de terror.
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De delegado a funcionário da Octapharma
Da Operação Marquês aos Vistos Gold
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ESTA SEMANA NO
"SOL"
"SOL"
O ‘patrão’ de Sócrates.
Quem é Lalanda e Castro?
Lalanda e Castro ficou em prisão domiciliária no âmbito do inquérito que investiga a venda de derivados do sangue. Quem é o homem também arguido na operação Marquês e no caso dos Vistos Gold?
Joaquim Paulo de Lalanda e Castro, nascido a 18 de agosto de 1957, 59
anos. Ficou conhecido pela rede de amigos poderosos que o rodeavam,
pelos gostos caros e excêntricos e pela imagem cuidada. Tanto que José
Sócrates, no tempo em que trabalhou como consultor da Octapharma,
gostava de lhe chamar «o meu patrão».
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Numa conversa telefónica com António Guterres durante a investigação
da operação Marquês, o ex-primeiro ministro definiu de forma exemplar a
relação que Lalanda e Castro mantinha com os lobistas que utilizava para
expandir o negócio da multinacional suíça. «Agora trabalho para a
Octapharma, tenho um emprego porreiro, os gajos tratam-me como a um
ex-primeiro ministro, o que já não é habitual neste país. Faço com eles
umas viagens a São Paulo e à Colômbia, falo com uns políticos de lá...Só
me pagam as viagens em primeira classe, exigem que fique em bons hotéis
e preocupam-se com os restaurantes onde vou». O atual secretário-geral
das Nações Unidas decifrou de imediato o discurso: «arranjaste um
tacho».
Lalanda e Castro demitiu-se da farmacêutica multinacional em
dezembro, antes ter sido detido na Suíça ao abrigo de um mandado de
detenção europeu. Em causa estava as suspeitas no inquérito ‘O
Negativo’, vindas público, e que punham em causa o monopólio da empresa
no fornecimento dos hospitais portugueses. Ontem, depois de dois dias de
inquirição, Lalanda e Castro ficou em prisão domiciliária. Quem é o
homem envolvido em três da operações judiciais mais mediáticas no
panorama judicial dos últimos anos?
Natural da freguesia de Santo Ildefonso, no Porto, cresceu no seio de
uma típica família burguesa. O mundo das farmácias sempre lhe foi
próximo. Filho de uma farmacêutica hospitalar, Helena Nogueira Castro – a
primeira pessoa a dirigir a farmácia hospitalar do S. João. O pai,
Joaquim Antunes e Castro, era militar.
De delegado a funcionário da Octapharma
Lalanda não seguiu, imediatamente, nenhuma dessas pisadas e chegou a
cursar medicina. O Expresso conta que, no final dos anos 70, Cunha
Ribeiro – antigo presidente do INEM e arguido na operação ‘O-Negativo’ –
chegou a ser monitor de Lalanda na faculdade de Medicina da
Universidade do Porto. Com três anos apenas a separá-los e ambos do
Norte do país (Cunha Ribeiro é de Lamego), a amizade ou, pelo menos, o
conhecimento entre os dois principais arguidos da operação que investiga
o negócio do plasma é antigo.
Sem terminar medicina, o ex-líder da Octapharma acabou por seguir
gestão. Só depois entra no mundo das farmácias como delegado de
informação médica. Em 1986, começa a trabalhar na empresa que fazia a
distribuição local da Octapharma AG. Cinco anos depois, dá o salto. Cria
uma subsidiária em Portugal (a Octapharma Produtos Farmacêuticos Lda).
«Foi um sucesso muito rápido», disse uma antiga funcionária da
empresa ao SOL quando o ex-administrador foi constituído arguido na
operação Marquês, em 2015.
Durante os anos 90, sob a gestão de Lalanda, a empresa deteve
praticamente o mercado total do plasma e derivados de sangue no país.
«Ele é muito inteligente e um estratega», disse a mesma fonte.
A partir daí, a sua influência dentro da multinacional só parou
quando se tornou num dos principais administradores. Na Suíça, tinha a
tutela do marketing na empresa mãe do grupo, embora continuasse a
coordenar as operações dos laboratórios em Portugal.
Viveu no país helvético até 23 de dezembro de 2016. Nessa tarde,
Lalanda e Castro aterrou em Lisboa num avião privado da Octapharma.
Comunicou ao Ministério Público (MP) a nova morada e foi presente, esta
quarta-feira, ao primeiro interrogatório judicial no âmbito da operação
O-Negativo.
Agora, aguarda pelo despacho de acusação em prisão domiciliária,
provavelmente na Quinta Patino, uma das duas casas que tem na zona de
Lisboa (a outra fica na rua da Graça). As visitas ao Campus da Justiça
não são, no entanto, uma novidade para o antigo administrador e
começaram a ser mais frequentes noutro mediático processo: a Operação
Marquês.
Da Operação Marquês aos Vistos Gold
Muitos estranharam a associação de nomes de Lalanda e Castro e José
Sócrates. Mas o antigo administrador nunca escondeu que gostava de se
dar com políticos. «É um homem do bloco central de interesses», disse ao
SOL fonte conhecedora desta investigação quando o ex-administrador foi
constituído arguido no processo.
Tudo terá começado a 1 de janeiro de 2013, data em que Lalanda e Castro contratou José Sócrates para a Octapharma AG.
O antigo primeiro-ministro desempenharia funções de consultor da empresa no Brasil, com um salário de 12 mil euros por mês.
O procurador Rosário Teixeira acredita que Lalanda e Castro terá
aceitado um esquema que permitiria a José Sócrates simular uma
remuneração extra, para branquear dinheiro que tinha origem nas contas
de Carlos Santos Silva – o testa de ferro da sua fortuna – a troco das
portas que o ex-governante lhe abrira, nomeadamente, no Brasil e na
Venezuela.
José Sócrates foi detido a 21 de novembro de 2014. No dia seguinte,
Lalanda e Castro contrata o advogado Ricardo Sá Fernandes e, três dias
depois, com ordens superiores, despede José Sócrates.
O ex-líder da Octopharma acabaria por ser constituído arguido no
processo em fevereiro de 2015, indiciado por fraude fiscal e
branqueamento de capitais.
Para além disso, surge também no universo Labirinto, que investiga o
caso dos Vistos Gold. Lalanda era gerente da Intelligent Life Solutions –
Produtos e Soluções na área da Saúde SA. Durante a investigação,
descobriu-se empresa tinha prestado alegados tratamentos médicos a
cidadãos líbios com estatuto de refugiados de guerra. A emissão destes
vistos permitiu identificar o esquema: a empresa, por via desses
serviços, terá reclamado a isenção do pagamento de IVA. No total, terão
lesado o Estado em mais de um milhão de euros.
Os processos em que Lalanda e Castro está envolvido já saltaram o
Atlântico. No Brasil, foi investigado no caso Máfia dos Vampiros, que
investigou a sobrefaturação de hemoderivados no serviço nacional de
saúde daquele país.
* Lalanda e Castro um homem de negócios ou o trafulha excelentíssimo.
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HOJE NO
"EXPRESSO"
Ministro da Saúde indica que muitos
.casos de fraude serão revelados em breve
“Muitos estão em investigação e, nos próximos dias, virão naturalmente a lume”, disse Adalberto Campos Fernandes sobre a fraude na saúde, em entrevista ao “Diário de Notícias” e à TSF
O ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, afirmou em
entrevista ao “Diário de Notícias” e à TSF que há uma série de casos de
fraude na saúde que foram objeto de fiscalização. “Muitos estão em
investigação e, nos próximos dias, virão naturalmente a lume”, indicou o
governante.
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Adalberto Campos Fernandes não avançou pormenores
sobre nenhuma dessas situações. “Não o deverei fazer e não o poderei
fazer. Mas esta intervenção da Justiça, esta parceria que nós temos, e
que tem corrido muito bem, com as autoridades judiciais, tem também um
valor de natureza pedagógica: os autores têm de perceber que o dinheiro
público é exclusivamente para perseguir fins públicos”, explicou o
ministro.
O governante frisou na entrevista que a receita
eletrónica é uma das medidas que podem ajudar a combater a fraude no
setor da saúde. Assim como digitalização de procedimentos na ADSE
(sistema de saúde dos funcionários públicos e familiares). “A ADSE é
também uma zona onde existe um confronto com muitas práticas
irregulares”, exemplificou. “Com muita tentativa de fraude”, admitiu
Adalberto Campos Fernandes.
Segundo o ministro, a tentativa de
fraude pode valer 10% das despesas de saúde. “Ora 10% do orçamento da
saúde é tudo aquilo de que nós precisaríamos para ter um SNS [Serviço
Nacional de Saúde] moderno”. “Seriam cerca de 900 milhões de euros, que
dariam para recuperar todo o edificado, todo o plateau tecnológico, para
recrutar todos os profissionais”, apontou Adalberto Campos Fernandes na
mesma entrevista.
* Quanto mais depressa melhor.
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