07/02/2016

UMA GRAÇA PARA O FIM DO DIA

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"ALTA


ANSIEDADE"!


4 - A MATEMÁTICA DO CAOS



* As nossas séries por episódios são editadas no mesmo dia da semana à mesma hora, assim torna-se fácil se quiser visionar episódios anteriores.

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6-CARNAVAL



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Luís de Matos




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Annie Cherry e
Artemius Vulgaris





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5-CARNAVAL
 


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XII- ERA UMA VEZ O HOMEM

1-AS VIAGENS DE

MARCO POLO





* As nossas séries por episódios são editadas no mesmo dia da semana à mesma hora, assim torna-se fácil se quiser visionar episódios anteriores.


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4-CARNAVAL



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Linda Liukas

  Uma maneira agradável

de ensinar às crianças

sobre computadores



Código de computador é a próxima linguagem universal e sua sintaxe será limitada apenas pela imaginação da próxima geração de programadores. 
Linda Liukas está ajudando a educar crianças resolvedoras de problemas, encorajando-nas a verem computadores não como mecanismos, entediantes e complicados, mas máquinas coloridas, expressivas e feitas para se modificar. 
Nessa palestra, ela convida-nos a imaginar um mundo onde as Ada Lovelaces de amanhã cresçam otimistas e  corajosas usando a tecnologia para criar um novo mundo que seja maravilhoso, encantador e um pouquinho estranho.
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3-CARNAVAL



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ELISABETE MIRANDA

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Os ricos que 
mandam nisto tudo 
e não pagam impostos - parte II

A passagem pelo Parlamento de José Azevedo Pereira e Helena Borges, antigo e actual responsáveis máximos da máquina fiscal, trouxe-nos informação mais esclarecedora, mas nem por isso menos inquietante, sobre a forma como a carga fiscal se reparte em Portugal.

O dado tranquilizador das duas audiências é que, apesar de o grupo de trabalho constituído em 2012 para investigar os "super-ricos" ter sido dissolvido, como Azevedo Pereira tinha dito, a investigação não parou, garante a sua sucessora. Prosseguiu internamente noutros arranjos orgânicos, tendo entretanto sido abertas 44 inspecções, ainda sem retorno conhecido.

A intranquilidade é que as estatísticas apresentadas pela actual Directora-geral da Autoridade Tributária (AT) confirmam que há fundadas razões para se achar que há muitos ricos em Portugal que não pagam os impostos devidos - como, de resto, suspeitava o FMI, de quem partiu a iniciativa.
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Segundo a informação fornecida aos deputados, o grupo de 240 "super-ricos" que esteve sob análise (os tais "high net worth individuals" ou "contribuintes com elevada capacidade patrimonial") pagou uma taxa efectiva de IRS de 29,18% em 2012 e de 29,54% em 2014.

Ou seja, ao contrário do que aconteceu à generalidade dos contribuintes, que neste período se viu confrontado com uma subida vertiginosa do IRS, para estes não houve antes nem depois de Vitor Gaspar. Passaram pelos pingos da austeridade sem se molhar, e continuaram a pagar uma taxa que corresponde, grosso modo, à que é suportada pela classe média confortável (e apenas 9 pontos acima da media nacional, já incluindo juros e dividendos).
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Há quem argumente que estes indicadores não querem dizer nada. Há pessoas com muito património que têm pouco rendimento, logo, pagam IRS mais baixo. Há famílias que podem ter muito rendimento mas que vivem só de rendas, juros e dividendos (que não são englobados e suportam apenas 28% de IRS). E há expatriados ou estrangeiros recém-chegados a Portugal que podem ganhar muito mas que só pagam IRS de 20%.
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É tudo verdade. Que pode, pode, e o facto de poder acontecer torna necessários outros debates sobre a forma como os diversos rendimentos são discriminados, em função da sua natureza e da sua titularidade.
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Mas considerando que já sabemos que também por cá há malas de dinheiro a sair clandestinamente do País; que a cada amnistia fiscal, há milhares de milhões de euros a entrar (ao todo foram 6 mil milhões de euros em sete anos); que, se outra amnistia houvesse, mais milhões se legalizariam; e que há quem comece a ser julgado por alegado patrocínio activo de esquemas fraudulentos, convém não abusar das explicações benevolentes.
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Não se trata de inveja social, nem de demagogia, nem tão pouco de populismo. Há estatísticas com fortes indícios daquilo que o senso comum vem pressentindo há vários anos: a factura fiscal em Portugal é paga de forma muito assimétrica. É um imperativo económico e ético que este debate se faça de forma aberta e transparente, e, de preferência, que se faça com todos os contribuintes, incluindo os mais ricos cumpridores, que pagam todos os seus impostos. Porque para esses também há uma dimensão da desigualdade instalada: suportam uma taxa efectiva média de 46%, bem acima da dos "super-ricos". E que poderia não atingir níveis quase confiscatórios se todos pagassem o que devem. 

IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
29/01/16

* A 1ª parte deste tema foi publicada a 12/12/15 e editada no blogue a 13/12/15


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775.UNIÃO



EUROPEIA



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UNICEF
Você consegue imaginar seu filho nascendo em uma zona de conflito




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18-OS PRESIDENTES


HISTÓRIA DA REPÚBLICA



* Iniciámos a série a cerca de três meses das eleições para a Presidência da República revelando a história deste órgão de soberania, os seus intervenientes desde a sua génese.
Dia 09/03 toma posse o novo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa.


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1-CARNAVAL
 



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12 Girls Band

Csárdás


Vittorio Monti
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ESTA SEMANA NO
"SOL"

Os 10 países mais adúlteros do mundo

O site de estatística Statis realizou um estudo, baseado em dados recolhidos dos sites Match.com e The Richest, que revela quais os dez países com maior percentagem de adultos casados que já cometeram adultério
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No topo da lista está a Tailândia, com 56% dos inquiridos a referirem que já traíram o seu companheiro.
O resto do Top10 é composto exclusivamente por países europeus:

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1. Tailândia – 56%
2. Dinamarca – 46%
3. Alemanha – 45%
4. Itália – 45%
5. França – 43%
6. Bélgica – 40%
7. Noruega – 40%
8. Espanha – 39%
9. Finlândia – 36%
10. Reino Unido -  36%

* Um domingo com infedilidades

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PAPAGAIOS AUSTRALIANOS


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ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"


“A menina não irá andar nem falar 
e terá uma curta esperança de vida.” 
Não foi assim

Ana Carolina Dias Cáceres nasceu com microcefalia, agora tão falada, temida e discutida devido ao vírus zika. Um dos médicos disse à mãe que a bebé nunca iria andar nem falar. Aos 24 anos, esta brasileira canta, toca violino e é licenciada em jornalismo. O Expresso falou com ela. “Calma: microcefalia é um nome feio, mas não é esse bicho de sete cabeças” 
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Tinha apenas nove dias quando fez a primeira operação. “Foram mais quatro até aos nove anos”, diz ao Expresso a jornalista brasileira Ana Carolina Cáceres: “Quando era criança, na escola, fui alvo de preconceito, aquelas brincadeiras das crianças que hoje são chamadas de bullying”. Cinco operações na infância deixaram marcas e uma “cicatriz na testa bem visível“.

Nunca desmoralizou nem se atrasou nos estudos. Começou a cantar num coro antes de completar dez anos, aos 16 sabia tocar violino e aos 24 é licenciada em jornalismo com uma tese que pode ajudar muitas famílias brasileiras que estão a viver o pesadelo da microcefalia causada pelo vírus zika. “Andava a pensar no tema para o trabalho de fim de curso e, conversando com o professor, vi que ele não sabia o que era microcefalia. Ora, se ele não sabia, mais pessoas poderiam desconhecer. E partiu daí a ideia de escolher este tema” para tese de licenciatura.

No primeiro ano do trabalho de tese, Carolina fez pesquisa teórica sobre a doença com que nascera: “O diagnóstico de microcefalia foi o terceiro que os meus pais ouviram. O médico disse que era um caso leve e que por isso deveriam ser tentadas as cirurgias. Mas agora há muito mais informação do que naquela altura. Eu não tinha noção de quantas pessoas tinham esta doença no Brasil, nem tenho no seu todo. Mas durante a pesquisa que fiz para a tese entrevistei doentes e familiares - estamos ligados a um grupo, embora vivamos em diferentes cidades”.

Nesse grupo que reúne cerca de 200 doentes e familiares, Carolina encontrou casos bem mais graves do que o dela. “Encontrei uma menina que nem sequer foi submetida a cirurgia, anda de carreiras rodas e não come sozinha. Mas também encontrei um rapaz, dois anos mais velho do que eu, que frequenta a universidade e estuda música ... como eu.”

“É melhor investir no tratamento do que abortar”

Marcos, quatro anos mais velho do que Carolina, é fotógrafo numa empresa de media da capital do Mato Grosso do Sul. Orgulhoso da conquista da irmã, falou dela a uma colega jornalista e emprestou-lhe o trabalho de licenciatura. Em dezembro último, a repórter decidiu publicar num jornal regional um texto sobre Carolina e a sua luta contra uma doença que poderia ter sido tão limitativa e estigmatizante. Na altura, nenhuma delas poderia imaginar que menos de um mês depois as grávidas brasileiras estariam a viver o pesadelo da ameaça do vírus zika [tudo indica que pode causar microcefalia nos fetos].
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Entretanto, a epidemia de zika fez saltar o caso de Carolina para os grandes jornais brasileiros. “Quero rever e melhorar a tese, de forma a poder publicá-la em livro”, diz ao Expresso. Espera poder ajudar outras pessoas com o mesmo problema: “É melhor investir no tratamento do que abortar. E a prova disso é que eu estou aqui, embora a minha mãe só tenha sabido da malformação depois do parto”.

“A menina não irá andar nem falar”

Clara, a mãe, entrou tranquila na sala de partos do hospital de Campo Grande [capital do estado do Mato Grosso do Sul]: tinha feito exames pré-natais e tudo levava a crer que a bebé nasceria robusta e saudável. O choque chegou quando um dos médicos comunicou que Ana Carolina tinha síndrome de Down. Veio um segundo médico e o diagnóstico foi mais duro: “A menina não irá andar nem falar e terá uma curta esperança de vida”.

Incrédulos, Clara - auxiliar de enfermagem - e o marido - técnico de laboratório, na altura desempregado - ouviram o veredicto de um terceiro clínico: a bebé sofria de microcefalia, uma doença pouco conhecida no início da década de 1990.

A palavra era dura e Clara rapidamente percebeu que a filha poderia estar condenada a ter uma cabeça mais pequena do que as outras crianças e que isso poderia comprometer todo o crescimento. Católica praticante, confiou em Deus, convicta de que nunca teria abortado se a má formação do bebé tivesse sido identificada na gravidez. Vinte e quatro anos depois, Clara Dias de Oliveira é uma mulher realizada porque Ana Carolina é um caso de sucesso.

A única coisa que a menina não fez na escola foi ginástica: “Como tirou o osso do crânio, fiquei sem essa proteção na cabeça que as outras pessoas têm - uma queda podia ser perigosa, essas coisas”, explica Ana Carolina, que tal como a sua mãe é totalmente contrária ao aborto e opõe-se à petição entregue no Supremo Tribunal Federal em Brasília.

“Dizer a uma mãe que aborte só porque seu filho nascerá com microcefalia é assinar o atestado de incompetência do Estado em dar condições necessárias para que estas mães possam dar o tratamento adequado para que o bebé não venha a ter consequências maiores pela vida”, escreve Carolina no seu blogue. E “eu sou a prova viva de que essa doença não é tudo isso”, garante no seu trabalho de fim de curso .. que um dia vai ser publicado como livro “Selfie: em meu autorretrato, a microcefalia”.

“No livro, eu conto a minha história e outros cinco casos em que entrevistei os pais. O objetivo é trazer um olhar de quem vive a microcefalia de perto e mostrar os outros lados desta moeda.”

Caminho de obstáculos

Ana Carolina superou muitas provas. Entre as cinco cirurgias para retirar uma parte do crânio para o cérebro se desenvolver teve paragens cardíacas e precisou de transfusões de sangue. “Durante toda a infância tive convulsões, é algo que todo portador de microcefalia tem. Mas convulsões tratam-se com medicação, eu tomei Gardenal e Tegretol até os 12 anos, depois nunca mais precisei.”
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“Agora vou fazer 25 anos e conheço muita gente com microcefalia que tem 30, 40 anos, e trabalha, tem uma formação. (...) Sei que a microcefalia pode trazer consequências muito mais graves do que as que eu tive e que nem todo o mundo vai ter a vida que eu tenho. Então, o que recomendo é calma, microcefalia é um nome feio, mas não é esse bicho de sete cabeças”, afirma.

Olhando para trás, Ana Carolina considera que ninguém poderia imaginar - nem mesmo os médicos - que ela seria capaz de conquistar tanta coisa. “Minha história só é o começo de que o céu é o limite para quem não deixa de acreditar”, conclui no trabalho que um dia vai ser publicado como livro.

* Como rejubilamos com o sucesso de Ana Carolina  Cáceres na sua batalha contra a doença e os estigmas sociais, infelizmente acontece em uma pessoa num milhão de afectados.


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RECOMENDAÇÕES



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ESTA SEMANA NO
"OJE"

Angola terá de aceitar desvalorizar
 a moeda para permitir 
o investimento externo

O país está com um problema de rigidez da política cambial que impede o Investimento Direto Estrangeiro e alteração da estrutura produtiva do país. E terá de seguir as recomendações do FMI.

A desvalorização do kwanza (AKZ) vai ter de acontecer rapidamente, sob pena do impacto negativo sobre a economia durar muito e longos anos. A opinião é de Tavares Moreira, atual presidente do BAI Europa e antigo governador do Banco de Portugal.

Angola terá de seguir as recomendações do Fundo Monetário Internacional, diz o gestor. “O FMI tem recomendado insistentemente uma maior flexibilidade da política cambial”, diz Tavares Moreira. A verdade que é a Autoridade Monetária fez algumas correções mas hoje o câmbio US dólar/AKZ tem um diferencial bastante superior a 100%, e continua numa evolução muito negativa que começou em setembro de 2014. O diferencial entre o câmbio dólar/AKZ oficial e o informal é de 155 AKZ por dólar para 400 AKZ/dólar. “É um absurdo”, comenta Tavares Moreira.
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“A manter-se este estado de coisas terão de fatalmente aceitar novas correções à taxa de câmbio oficial, pois as distorções que isto causa na economia são devastadoras. Esta é uma forma de subsidiar importações”, diz o gestor. Com a atual política cambial as importações estão a ser fortemente favorecidas em relação à produção interna.

Angola terá de avançar para uma política cambial mais realista, não tendo de ser totalmente liberalizada mas bastante mais flexível e “reconhecendo o inevitável, ou seja, a desvalorização da moeda para dar mais verdade aos preços e para ter atividade menos negativa no investimento externo”, diz Tavares Moreira. Acrescenta que esta medida “terá um impacto grande na inflação” que em 2015 subiu para 14,3% em média anual e que irá continuar a subir”. Acrescenta que os danos causados à economia com esta política “não se corrigirão com a mesma rapidez com que se pode corrigir a inflação”.

Por outro lado, o desejo de Angola se tornar a economia de referência da região subsariana está colocado em causa. Os analistas reforçam que a evolução dos últimos anos revelou uma economia muito dependente do petróleo, o que fragiliza essa pretensão. A estratégia de “desdolarização” da economia foi bem pensada e no momento atual esse modelo faz todo o sentido, afirmam economistas. No entanto, a operação de “desdolarização” precisa de um clima de estabilidade, sob pena dos agentes económicos e da população em geral não confiarem. Essa estabilidade aconteceu até junho/setembro de 2014, mas a partir daí ficou tudo em causa. Recorde-se que o melhor nível de inflação em Angola situou-se nos 6,5% em termos anualizados.

Tavares Moreira questionado sobre a necessidade de alterar a política e a legislação relativamente ao Investimento Direto Estrangeiro, diz que as Autoridades “fizeram aquilo que era possível, agora é preciso criar o ambiente favorável ao investimento”. O relatório do Banco Mundial elencou todas essas necessidades”.

Difícil controlo da despesa
A nível orçamental o controlo da despesa é uma opção mas é algo “difícil”, diz o gestor do BAI Europa. “A nível salarial os funcionários públicos registam uma perda significativa dos salários reais via inflação. Entre as despesas que poderiam gerir melhor estará a despesa de investimento e o próprio FMI fala em introduzir melhorias no sistema de gestão em todas as fases do investimento público, desde a avaliação até à gestão dos projetos”.

Entretanto o Banco Nacional de Angola fez sair uma circular onde endurece ligeiramente a política monetária com a subida da taxa de juro básica de 11% para 12% e a subida dos juros no mecanismo de facilidade de cedência permanente de liquidez de 13% para 14%. As receitas fiscais petrolíferas caíram 50,7% em 2015, passando dos 16,7 mil milhões para 8,2 mil milhões de euros. A causa está na crise provocada pela cotação do crise.

Como é que o orçamento angolano se pode adaptar à queda bruta da receita? O economista diz que “provavelmente o défice acabará por ser superior ao previsto porque as receitas petrolíferas poderão ficar aquém do que está orçamentado”. E aquilo que está orçamentado no OE angolano tem por base um preço médio do barril de 45 USD e o preço atual está quase 30% abaixo e, mesmo a expetativa da agência internacional que calcula as necessidades do mercado mundial, estima um valor que ficará cerca de 20% abaixo do orçamentado.

Um orçamento retificativo irá impor-se entre março e abril, calculam vários economistas em declarações feitas a órgãos de comunicação social.

O recurso a endividamento externo irá aumentar e o nível de dívida pública sobre o PIB, que estava nos 49,7% no final de dezembro e que sobe para 57,5% com a dívida da Sonangol, irá por essa via, “aumentar”, diz o gestor. Tavares Moreira confirma a opção de muitas empresas portuguesas de reduzirem a atividade porque os problemas de pagamentos não permitem o nível de atividade anterior. “Ao não receberem têm grande impacto na tesouraria, e a solução é reduzir a atividade e estão a fazê-lo, não desistem e estão à espera que a situação melhor. E esta só melhorará quando o preço do petróleo subir”.

Sobre a banca, Tavares Moreira confirma que se fala muito de consolidação do setor bancário em Angola, mas até ao momento apenas se viu a operação Millennium/BPA, mas remata que o FMI considerou essa opção como uma “evolução desejável”. Sobre política apenas diz que “seria desejável uma evolução”. Haverá eleições e no último escrutínio a oposição aumentou substancialmente a sua base de apoio eleitoral. “Nesse sentido houve alguma evolução”, diz o gestor.

Mais produção deu mais receita
Independentemente da quebra abrupta do preço do crude no mercado internacional e com as receitas fiscais relacionadas com esta commodity a caírem, a quantidade de petróleo bruto exportado pelo país aumentou de 599 milhões de barris em 2014 para 645,1 milhões de barris em 2015. Um relatório do Ministério das Finanças revela que em termos de venda bruta registaram-se mais dois mil milhões de euros do que a previsão do Governo. O petróleo garantiu em 2014 cerca de 70% das receitas fiscais do país, mas em 2015 já só terá representado 36,5%, de acordo com as projeções oficiais.

José Tavares Moreira
O atual presidente do BAI Europa foi governador do Banco de Portugal entre 1986 e 1992 e membro dos órgãos de gestão do antigo do BPSM e da Caixa Geral de Depósitos. Na política foi secretário de Estado do Tesouro e secretário de Estado Adjunto das Finanças. Formou-se em Economia, pela pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto, e licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Porto.

Análise do BAI e  recomendações do FMI
O ajustamento da economia angolana tornou-se inevitável devido ao acelerado declínio do preço do petróleo, que teve como consequências fortes quedas nas receitas das exportações e nas receitas fiscais em 2015. 

As receitas das exportações de bens deverão ter caído perto de 40% em relação a 2014, induzindo um elevado défice da balança de pagamentos, em especial da balança corrente, que quase quadruplica o valor do défice registado em 2014, passando de 1.951 milhões de dólares (1,5% do PIB) para 7.784 milhões (7,6% do PIB esperado). A análise é feita pelo BAI – Banco BAI Europa, no seu Boletim Económico referente ao quarto trimestre de 2015. O ponto de partida são dois documentos: o Orçamento Geral de Estado (OGE) e o relatório do Fundo Monetário Internacional “Angola – FMI Country Report – Diagnóstico e recomendações”.

 O documento do Banco BAI Europa refere que nas receitas fiscais, a previsão é de uma queda de 34,6% do PIB em 2014 para 27,4% em 2015. A queda obrigou a uma contenção nas despesas, em especial das despesas de capital. Ainda assim, para 2015, o FMI prevê um défice orçamental de 3,5% do PIB, que, segundo as estimativas do Fundo, descerá em 2016 para 1,5%. Este número difere fortemente dos 5,5% inscritos no Orçamento Geral do Estado para 2016. Os montantes a que é contabilizado o preço do barril de petróleo pelas duas partes – Governo e FMI – explicará, segundo o BAI, uma parte da divergência entre as duas previsões para o défice”. O FMI partiu de um valor de 53 dólares/barril, contra 45 dólares do Orçamento.

O FMI reconhece que a resposta das autoridades de Angola ao choque petrolífero, através da política orçamental, monetária e cambial “foi adequada”. Apesar disso e considerando os “elevados riscos” que se colocam à economia do país por força da “persistência de um mercado petrolífero desfavorável”, a instituição faz um conjunto de recomendações nas vertentes da política orçamental propriamente dita, da política cambial e monetária, da estabilidade financeira, onde aponta a necessidade de capitalizar os bancos, e das reformas estruturais.

Reestruturar a recapitalizar os bancos
O BAI enfatiza a ênfase colocada pelo FMI na necessidade de sanear o sistema bancário. É condição para “a desejável recuperação económica que se deverá seguir ao período de abrandamento económico imposto pelo choque petrolífero”. Nesse sentido, considera “essencial” que todos os bancos “satisfaçam os requisitos regulamentares”, em especial no que respeita ao “cumprimento das normas sobre fundos e sobre liquidez”.   Segundo o FMI isso obriga a que “seja acelerada a implementação dos planos dirigidos à reestruturação e recapitalização dos bancos que evidenciam uma situação mais frágil”. A instituição refere que o nível de crédito em incumprimento (NPL’s) subiu para 18% da carteira de crédito em julho de 2015. Era de 12% em dezembro de 2014
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Reformas estruturais
Os constrangimentos que continuam a dificultar a atividade económica são um obstáculo ao cumprimento do objetivo estratégicos de diversificação da economia angolana. Nesse sentido, o FMI sugere um conjunto de reformas que urge pôr em marcha. 

Primeira: 
Agilizar o funcionamento do mercado de trabalho. O BAI lembra que neste capítulo foi dado em 2015 um passo importante com o alargamento até 10 anos do prazo legal para a celebração de contratos de trabalho. 

Segunda: 
Estimular o investimento privado nos setores não petrolíferos. Nesta vertente, a análise do BAI lembra que a aprovação da nova Lei do Investimento Privado é considerada um “paso positivo, mas muito está ainda por fazer para criar um clima de negócios que incentive o investimento privado. 

Terceira: 
Simplificar, que o mesmo é dizer, desburocratizar o processo de constituição das empresas. 

Quarta: 
Reduzir o período para atribuição de vistos de trabalho. 

Quinta: 
Prosseguir o investimento na melhoria das infraestruturas, sobretudo no que respeita  a vias de comunicação, rodoviárias e ferroviárias e à distribuição de energia elétrica. “A realização de progressos nestas áreas é vista como crítica para melhorar a competitividade das empresas e para permitir um crescimento mais inclusivo”, assinala a análise do Banco BAI Europa.

* Angola precisa de prender a ditadura de "zedu".

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 Os fluxos migratórios 
no Mediterrâneo


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ESTE MÊS NA
"BLITZ"

Bob Marley faria hoje 71 anos. 
É tempo de o recordar

De menino do campo a estrela planetária. Rastafari, amante inveterado e autor de hinos de revolta e paz, cantou por Jah - o Rei dos Reis - e por África. Levou o reggae ao mundo, amou o futebol, viveu intensamente e despediu-se cedo demais

O apelo saiu de improviso a meio de «Jamming». «Será que podemos juntar aqui Michael Manley e Edward Seaga?" Do palco, de frente para 32 mil jamaicanos, Bob Marley sabia que presenciava um raro momento de união, num país que o extremismo político colocara à beira de uma guerra civil. De um lado, os defensores do Partido Nacional Popular de Manley, do outro os Trabalhistas de Seaga, uma guerra política que nas ruas de Kingston se transformara em batalha de gangues. Manley, internacionalmente apoiado por Fidel Castro, e Seaga, com Ronald Reagan do seu lado, subiram ao palco, e deram as mãos ao som de um grito rastafári pela «paz».

Marley já estava longe do estatuto de «mestiço» que o acompanhou na juventude e de ser o rasta fumador de erva que os vizinhos na zona nobre da cidade o acusavam de ser. Em 1978, já era porta-voz do seu próprio género musical e, provavelmente, de um país. Com os Wailers, aos 34 anos já tinha sobrevivido a um atentado, carregava um cancro sem saber e já cumprira o seu maior objetivo: apresentar o rastafarismo ao Mundo. Pelo meio, acabava de editar Exodus, o melhor disco do século XX para a revista Time. Na noite do One Love Peace Concert, do público não saíram tiros ou gás lacrimogéneo - só aplausos.

Bob Marley completaria este ano 70 anos. Para assinalar a data, a editora Universal e a família do músico chegaram a acordo quanto à utilização do seu arquivo pessoal. Para já, a edição de um concerto em Boston e a promessa do lançamento de inéditos, assim como de reedições carregadas de extras. Passados 34 anos da sua morte, Marley dispensa ajuda no que respeita a números, se Legend já era recordista pelas semanas passadas no top da Billboard (trezentas) e o único best of a merecer um lugar entre os melhores discos da história para a norte-americana Rolling Stone, no ano passado conseguiu mais um feito: chegou ao topo das vendas no Google Play assim que ficou disponível.

O jovem Bob
Robert Nesta Marley nasceu a 6 de fevereiro de 1945 em Nine Mile, em Saint Ann, ao norte de uma Jamaica então parte do Império Britânico. Mãe negra e pai branco - um misterioso inglês, Norval Marley, ao serviço da coroa e conhecido por andar sempre a cavalo. Para o documentário Marley (2012) só lhe encontraram uma fotografia e tanto Marley como a mãe, Cedella Marley Booker, pouco mais lhe viram. Norval ainda levou o pequeno Marley para Kingston, mas rapidamente a mãe o resgatou de regresso à vida no campo. Só anos depois viria a reencontrar o pai, através de outra família mestiça e numa altura em que Norval já tinha passado de gestor de plantação para o setor da construção.


Bob voltou a ser rejeitado e acabou a cantar a história numa música - «Cornerstone» - «The stone that the builder refuse / Will always be the head cornerstone-a; sing it brother / The stone that the builder refuse / Will always be the head cornerstone». «Gostava de andar de burro, ir para o campo com o avô», recorda a mãe, no documentário Marley. Se em Saint Ann a rotina se fazia entre as plantações e o trabalho no campo, por lá os instrumentos eram tão rudimentares como o modo de vida - as guitarras em bambu e latas, a percussão improvisada em caixas de madeira -, mas também foi em Nine Mile que Marley conheceu Neville Livingston, que viria a ficar conhecido como Bunny Wailer.

A mãe haveria de se mudar, de malas, bagagens e filho, para Kingston e para o bairro que o próprio Marley haveria de celebrizar, Trench Town. Violento e marcado pela pobreza, o bairro que numa edição de 60 Minutos foi descrito como de «barracas imundas», casa dos «jamaicanos não bonitos», haveria de se transformar na capital mundial do reggae e no centro artístico do país. «Para uma criança, a vida era fácil. A nossa única preocupação era com a polícia. Se lhes dizias que eras de Trench Town estavas feito», disse Marley. Mas também há quem recorde que a vida se fazia descalço, por brincadeiras na rua, bem longe da escola e frequentemente com fome. «Um dia chegou a casa, disse-me que ia deixar a escola e dar os livros a um amigo. Foi o que fez», contou Cedella, também em Marley, sobre o dia em que soube o que o filho queria da vida.

O primeiro disco viria pouco depois. Através de Desmond Dekker, com quem trabalhava como soldado, Marley haveria de conseguir lançar um single - «Judge Not» - que, no entanto, haveria de falhar comercialmente. À época, à Jamaica apenas chegava a música de conjuntos norte-americanos e a solo ninguém deu pelo jovem que assinava o single - música e letra - como R.Marley. Na companhia de Neville, haveria de se lançar em busca do elemento que faltava ao trio. «Encontrámos um tipo alto, negro e, diziam alguns, bonito chamado Peter. Dizia que sabia alguma coisa da guitarra, afinou as quatro cordas que tinha na dele e começou a tocar. E pronto», recordou Bunny Wailer.

A ensaiar na First Street de Trench Town, o trio começou por responder como The Juveniles e por se apresentar como «os irmãos do Gueto», mas rapidamente Wailers foi adotado como nome para a banda. Com Joe Higgs como agente e já com a bênção de Clement Coxsone Dodd, fundador e dono do histórico Studio 1, haveria de chegar em 1964 o primeiro single, «Simmer Down», gravado com os Skatalites como banda de apoio. Na Jamaica, o sucesso, comprovado com a escalada ao topo da tabela de vendas, seria imediato. No entanto, a vida do trio não se tornaria mais fácil.

Depois de a mãe ter rumado aos Estados Unidos, aos 17 anos Marley chegou a viver nos estúdios da Studio 1; Coxsone até lhe daria um gira-discos e uma simpática coleção de música norte-americana, mas o ordenado da banda não aumentava. E entre os três aspirantes a músicos o ambiente haveria de se tornar cada vez mais tenso. «Esperávamos dinheiro no Natal, mas só nos deu seis libras quando já tínhamos tanto sucesso. Por isso, larguei tudo e fui viver com a minha mãe», contou Bob Marley numa entrevista de 1975, citada por Vivien Goldman em The Book of Exodus.

Mas o Bob que a 12 de fevereiro de 1966 aterrava em Delaware, nos Estados Unidos, era bem diferente do adolescente que a mãe deixara em Kingston. Aos 21 anos, o penteado aprumado tinha-se transformado num imponente ninho de rastas, sinal da religião adotada, e até era um homem casado. Na véspera de embarcar, Marley casara com Rita, mas nem seria isso que encurtaria a primeira estadia nos Estados Unidos. A trabalhar entre a equipa de limpeza de hotéis e como soldador na fábrica local da Chrysler, Marley nunca esqueceu a Jamaica e o sonho de fazer carreira na música.

«Na América pensava se seria aquilo o meu futuro. Jah, Deus, apareceu-me numa visão e deu-me um anel de ouro. Ele era uma pessoa normal com um chapéu de pelo e um casaco castanho. Um casaco e uma capa, mas não uma capa da chuva como usam os jamaicanos», contou. Segundo Vivien Goldman, a partir desse momento Marley passou a encarar a música como a verdadeira missão de vida. Inicialmente, depois de partilhar a visão com a sua mãe, até recebeu um anel de ouro que o pai tinha deixado, mas devolveu-o. «Não quero usar qualquer anel ou relógio de ouro. Quero continuar a ser a pessoa que sou. Quando começar a adorar o ouro, algo [mau] estará a acontecer». Não era o ouro que o interessava, mas sim o modo de vida Rasta. E esse teria de ser vivido na Jamaica e sempre com os olhos postos em África.

Com um surgimento durante os anos 30, o rastafarismo defendia uma visão pan-africana do mundo, reclamando o regresso dos negros ao continente, e apontava Haile Selassie I (1892-1975), Imperador da Etiópia, como a reencarnação de Deus, descendente dos reis Salomão e David. Com as rastas e o espírito militante, viria um modo de vida que Marley nunca abdicaria e que passaria a promover pela música. «Bob encontrou um sítio onde pertencia. Nem branco, nem preto: era Rasta», lembra Rita Marley. Fora das leis convencionais, apologista da felicidade e liberdade.

Anos antes, tinha sido Mortimer Planno a apresentar-lhe a religião que defende, nas palavras de Marley, como «propósito da vida, ser feliz, viver em união, paz e amor». As rastas, marca da sua identidade, eram vistas como um sinal de compromisso à causa que trazia consigo um espírito militante. Também trazia uma relação - espiritual, dizem - com a marijuana. E se em Delaware usava o quintal da mãe para plantar, na terra natal a indiferença à proibição em vigor tornar-se-ia ainda mais descarada. «[As leis que proíbem o cultivo da marijuana] são leis ilegais como são todos os Governos desta terra. Só há uma lei, a de Deus», defendia numa curta entrevista ao programa televisivo norte-americano 60 Minutos. O tema era recorrente. Em Come a Long Way, outro dos documentários sobre a sua vida (televisionado em 1979), também não fugiu ao tema. «Quem não aceita a erva não aceita os rastafáris. É importante. Não é algo que te faça ter ânsias. É uma planta e essas são boas para tudo.

Porque dizem os governos que não a devemos usar? Porque te fazem rebelar e contra quem?», dizia, sem nunca se cansar de citar referências bíblicas, do Livro da Revelação, ao consumo e partilha de erva.

A ganja, o reggae e as mulheres
Se a lenda diz que Marley fumava, normalmente, meio quilo de erva por mês, certo é que álcool nunca o viram consumir - «Não te faz meditar, só te torma bêbedo, enquanto a erva te dá consciência», explicava a Dylan Taite, autor de Come A Long Way - e até final da carreira conseguiu sempre evitar problemas com as autoridades. Marley explicaria que a maioria das pessoas com quem se cruzava não via problemas no consumo de erva e nas alfândegas haveria de ser o estatuto de estrela que lhe permitia o salvo-conduto. Discos, pósteres e autógrafos eram, conta um dos membros da entourage em Marley, frequentemente utilizados como distração para entrar num novo país. E a ligação entre Marley e a ganja tornou-se emblemática ao ponto de agora chegar a negócio. Rita, principal detentora dos seus direitos de imagem, assinou recentemente um acordo com um produtor legal de marijuana, a Privateer Holdings, para este ano fazer chegar ao mercado norte-americano a Legend, estirpe jamaicana da planta preferida de Marley.

Mas nem só o perfume diferenciava os rastas e em Marley a música seria sempre encarada como uma missão. «O reggae é a música do povo. Funciona como as notícias. Conta o que não te querem contar», definia numa entrevista em 1976. E o primeiro passo, no regresso dos Estados Unidos, foi mesmo a constituição de uma editora, a Wail'n Soul'm, e a reconstituição do original trio dos Wailers. Logo depois chegaria o contacto com o homem que muitos dizem ser o verdadeiro responsável pelo nascimento do som de Marley, Lee «Scratch» Perry.

«[Bob] era abençoado, muito talentoso, mas não tinha controlo e não sabia para onde ir com a música. Na minha ótica, o ska era música para dançar e beber cerveja e não uma música espiritual», conta o produtor. E, por isso, a música mudou. No reggae, foi dado ênfase ao baixo e à bateria e na guitarra banalizou-se algo que poucos faziam - as cordas passaram a ser tocadas de baixo para cima. «No Livro da Revelação falam de uma música que todo o mundo dançará. Que outra música pode ser?», pergunta Bunny Wailer em Marley.

Em 1965, The Wailing Wailers marcaria a estreia de Marley em estúdio, seguindo-se Soul Rebels (1970). Em 1971, Soul Revolution e The Best of the Wailers consolidariam o estatuto de estrelas de Marley, Tosh e Bunny na Jamaica. Em 1973, porém, mais não eram que desconhecidos em Londres.

Ainda assim, a passagem da banda pelo Reino Unido haveria de chegar aos ouvidos de Chris Blackwell, da Island Records, que rapidamente os desafiou a gravar um disco. Com quatro mil libras no bolso, os Wailers haveriam de lançar Catch a Fire, o primeiro disco com uma produção digna desse nome. Burnin' seria editado nesse mesmo ano, mas seria em 1974, com Natty Dread e o single «No Woman No Cry» que Marley chegaria a estrela planetária.

Em casa, tudo mudara e o dinheiro deixara de ser problema. De Trench Town, Marley mudou-se para a zona fina da cidade, comprou uma casa para a família e outra, no número 56 de Hope Road, bem próximo das residências oficiais dos Presidente e primeiro-ministro jamaicanos, para ensaios e para reunir amigos. Além dos ensaios, Marley começava os dias com corridas pela praia, mergulhos - nunca faltavam sumos naturais e refeições de peixe fresco. Como hobbies preferidos, o futebol e a sua equipa amadora, The House of Dread, e as namoradas.

Publicamente, Marley sempre negou ser casado (apesar de nunca se ter divorciado de Rita) e se na Jamaica viviam em casas diferentes, quando saiam em digressão - que Rita integrava como elemento membro do coro - a mulher ficava num quarto à parte. «Tornei-me no seu anjo da guarda e ultrapassei o estatuto de mulher. Eu sabia como ele era, estávamos numa missão e eu não via as digressões como diversão. Éramos quase evangelistas a levar Jah às pessoas», conta em Marley. «Não discutíamos sobre mulheres. Ele contava-me o que fazia e o que ia acontecendo. Era a mim que chamava quando era preciso tirar alguma do quarto». No final, Marley deixaria 11 filhos de sete mulheres diferentes.

Mas se a agitada vida amorosa nunca se revelou um obstáculo, as opções políticas quase se revelavam trágicas. Com o país dividido entre os comunistas do Partido Nacional Popular e os conservadores do Partido Trabalhista, Marley nunca assumiu um lado e manteve ligações a ambos os lados da barricada. E na Jamaica, em meados dos anos 70, a luta política era mesmo travada na ruas, fosse com pedras, tiros ou bombas. Assim, em dezembro, quando o convite de Manley chegou para que Marley desse um concerto sobre o título Smile Jamaica, o músico não pensou duas vezes e aceitou. Só depois da data acordada, dia 15, Manley - então Primeiro-ministro - marcou a data das eleições para o dia 22 desse mesmo mês; o que Marley encarara como um concerto de beneficência tinha acabado de se transformar em ação de campanha eleitoral.

A noite de 3 ficaria para a história: por volta das nove da noite, com a casa cheia e em intervalo no ensaio, um carro parou à porta e do interior saíram disparos de metralhadora em direção da casa. «Levei quatro tiros, fui declarado morto à chegada ao hospital. Nem tivemos tempo para ter medo. Quando chegou o medo já tínhamos sido baleados», contaria o manager Don Taylor.

Rita seria ferida na cabeça enquanto Bob escaparia com um arranhão no peito e uma bala alojada no braço. «Ouvi dizer que um deles se chamava Shabba e que pouco depois foi ter com o Bob para lhe pedir perdão. Aparentemente, falaram durante horas e, tendo conhecido o Bob, não me custa a acreditar que o tivesse perdoado», conta o manager em The Book of Exodus, onde lembra o fim de Shabba, «morto a tiro».

Sobre a tentativa de assassinato a Marley, até hoje, são mais as teorias que os factos. A identidade dos atiradores nunca foi conhecida e sobram as teorias mais ou menos conspirativas. Teria sido um dos partidos jamaicanos? Resultado de uma guerra entre os traficantes queMarley sempre tivera por perto? Nem falta quem aponte o dedo à CIA, célebre por ser avessa a vozes pró-independência, e no caso do autor de «Get Up, Stand Up», cada vez mais, pro-marxistas. E houve ou não um raide de vingança pelas ruas de Kingston? Timothy White, em Catch a Fire, garante que sim. «Um dos últimos mortos em vingança pela tentativa de assassinato foi Carl "Byah" Mitchell, um segurança do partido trabalhista metido no tráfico de droga em Kingston Oeste (deram-lhe droga a comer até que o coração parasse)», escreve.

A vida eterna
Com cinco horas de atraso, sob escolta policial e com o público bem afastado do palco, na noite de 15 de dezembro Marley haveria de contrariar os mais cautelosos e subir mesmo ao palco. Sem que ninguém soubesse, seria uma despedida. Dias depois, aterrava em Londres bem a tempo de assistir a outra explosão, o punk. Instalado numa moradia em Chelsea, rapidamente reuniu uma banda e a inevitável equipa de futebol. Pelo meio, haveria de ter o seu romance mais mediático, Cindy Breakspeare, jamaicana, Miss Mundo em 1976 e mãe de Damian Marley.

Avesso a bares e discotecas, Marley passava as noites em casa, mas se a ideia era estar a sós com Cindy e fugir à atenção mediática que o namoro gerava o destino era o apartamento da modelo ou o luxuoso Claridge Hotel. «Ele tinha um exterior áspero e tinha de manter a tropa e os soldados em linha, nos ensaios a horas e no autocarro. Também tinha um lado doce, brincalhão e vulnerável, mas nem o mostrava muito. Tinha demasiado que fazer», conta Cindy em The Book of Exodus, onde recorda a chegada a casa dos ensaios. «Punha sempre a cassete com as gravações do dia e dançava durante todo o tempo».

Exodus seria lançado em junho de 1977 e rapidamente chegaria ao número 1 na Jamaica, Inglaterra e Alemanha. Dos Estados Unidos chegaram pedidos para uma nova digressão e só uma lesão num pé, feita a jogar futebol, forçaria o seu adiamento. Mas se nunca tinha gostado de estar parado, aos 32 anos nem o diagnóstico de melanoma o fez cancelar os concertos. Em Londres, recomendaram a amputação da perna, outros recomendaram que se ficasse pelo dedo e só quando encontrou um médico para quem bastava cortar a unha ferida acedeu. Confiou em Jah.

1978 seria o ano de Kaya, feito com músicas gravadas durante a edição de Exodus e do regresso à Jamaica com estatuto de salvador. Com o país à beira da guerra civil e com direito a missão diplomática do Governo a pedir a sua participação, Marley voltou a ignorar as recomendações. Desde o atentado que não atuava na terra natal e muitos temiam uma reincidência da violência. «A minha vida não é importante para mim, a dos outros é. A minha só interessa se conseguir ajudar outros; se só estiver preocupado com a minha segurança não valho nada», disse numa entrevista de promoção.

 Na noite do One Love Peace Concert, a 22 de abril de 78, no Estádio Nacional, Marley haveria de se valer do estatuto de cabeça de cartaz para conseguir o histórico aperto de mão entre as fações que dividiam a Jamaica. Entrou num campo de onde sempre fugira: a política.

Com uma digressão mundial em mente seguiu para África onde acabaria por dar o seu concerto mais polémico. Depois de uma passagem pela Nigéria, foi Marley quem tocou na tomada de posse de Robert Mugabe (em março de 80, celebrava-se o nascimento do Zimbabué e o fim da inglesa Rodésia e Mugabe apresentava-se com estatuto de herói). A história revelar-se-ia bem diferente da cantada em Survival, álbum de 1979.

Uprising, de 1980, é lançado quando Marley tinha já perdido a energia. E em setembro desse ano, durante uma série de concertos a abrir para os Commodores no Madison Square Garden, o corpo cedeu. Na véspera, em palco tinha estado perto de desmaiar e na manhã de 21 de setembro colapsou mesmo a meio de uma corrida pelo Central Park, tendo o artista acabado internado no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Manhattan.

Marley ainda contrariaria os médicos uma última vez - interrompeu a quimioterapia e saiu do hospital assim que o rumor da sua doença chegou às rádios mas desta vez não havia como disfarçar: o cancro era irrecuperável, estava no fígado, pulmões e cérebro e a previsão era que não chegasse vivo ao final do ano. Até as rastas tinha perdido.

Na companhia de Rita e Cindy, ainda procurou cura na Alemanha, em Rottach-Egern, pequena vila nas margens do então gelado lago de Tegernsee. A sorte não mudou e ao fim de três meses de tratamentos o vaticínio foi o mesmo. Bob Marley celebrou os 36 entre um pequeno grupo de amigos na clínica, mas em maio, já depois de um AVC lhe ter roubado a mobilidade do lado esquerdo, seguiu para Miami num avião privado. Da Jamaica, depois de ter reunido os onze filhos de Marley, Marley despediu-se a 11 de maio de 1981.

Não viveu para ver o seu disco mais vendido, a coletânea Legend (25 milhões até hoje), ser considerado pela Rolling Stone um dos 50 melhores álbuns de sempre (em 2014 foi o quinto vinil mais vendido nos Estados Unidos, à frente de Turn Blue, dos Black Keys, e de Sgt. Pepper's..., dos Beatles) ou para cumprir o sonho de ver «a humanidade junta, negros, brancos e chineses». Deixou o reggae e a palavra de Jah. A vida eterna que tanto ansiava?

* Um excelente trabalho FILIPE GARCIA

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