Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
07/02/2016
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Linda Liukas
Uma maneira agradável
de ensinar às crianças
sobre computadores
Código de computador é a próxima linguagem universal e sua sintaxe será limitada apenas pela imaginação da próxima geração de programadores.
Linda Liukas está ajudando a educar crianças resolvedoras de problemas, encorajando-nas a verem computadores não como mecanismos, entediantes e complicados, mas máquinas coloridas, expressivas e feitas para se modificar.
Nessa palestra, ela convida-nos a imaginar um mundo onde as Ada Lovelaces de amanhã cresçam otimistas e corajosas usando a tecnologia para criar um novo mundo que seja maravilhoso, encantador e um pouquinho estranho.
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Linda Liukas está ajudando a educar crianças resolvedoras de problemas, encorajando-nas a verem computadores não como mecanismos, entediantes e complicados, mas máquinas coloridas, expressivas e feitas para se modificar.
Nessa palestra, ela convida-nos a imaginar um mundo onde as Ada Lovelaces de amanhã cresçam otimistas e corajosas usando a tecnologia para criar um novo mundo que seja maravilhoso, encantador e um pouquinho estranho.
ELISABETE MIRANDA
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IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
29/01/16
* A 1ª parte deste tema foi publicada a 12/12/15 e editada no blogue a 13/12/15
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Os ricos que
mandam nisto tudo
e não pagam impostos - parte II
A passagem pelo
Parlamento de José Azevedo Pereira e Helena Borges, antigo e actual
responsáveis máximos da máquina fiscal, trouxe-nos informação mais
esclarecedora, mas nem por isso menos inquietante, sobre a forma como a
carga fiscal se reparte em Portugal.
O dado tranquilizador das duas audiências
é que, apesar de o grupo de trabalho constituído em 2012 para
investigar os "super-ricos" ter sido dissolvido, como Azevedo Pereira
tinha dito, a investigação não parou, garante a sua sucessora.
Prosseguiu internamente noutros arranjos orgânicos, tendo entretanto
sido abertas 44 inspecções, ainda sem retorno conhecido.
A intranquilidade é que as estatísticas apresentadas pela actual
Directora-geral da Autoridade Tributária (AT) confirmam que há fundadas
razões para se achar que há muitos ricos em Portugal que não pagam os
impostos devidos - como, de resto, suspeitava o FMI, de quem partiu a
iniciativa.
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Segundo a informação fornecida aos deputados, o grupo de 240
"super-ricos" que esteve sob análise (os tais "high net worth
individuals" ou "contribuintes com elevada capacidade patrimonial")
pagou uma taxa efectiva de IRS de 29,18% em 2012 e de 29,54% em 2014.
Ou seja, ao contrário do que aconteceu à generalidade dos contribuintes, que neste período se viu confrontado com uma subida vertiginosa do IRS, para estes não houve antes nem depois de Vitor Gaspar. Passaram pelos pingos da austeridade sem se molhar, e continuaram a pagar uma taxa que corresponde, grosso modo, à que é suportada pela classe média confortável (e apenas 9 pontos acima da media nacional, já incluindo juros e dividendos).
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Ou seja, ao contrário do que aconteceu à generalidade dos contribuintes, que neste período se viu confrontado com uma subida vertiginosa do IRS, para estes não houve antes nem depois de Vitor Gaspar. Passaram pelos pingos da austeridade sem se molhar, e continuaram a pagar uma taxa que corresponde, grosso modo, à que é suportada pela classe média confortável (e apenas 9 pontos acima da media nacional, já incluindo juros e dividendos).
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Há quem argumente que estes indicadores não querem dizer nada. Há
pessoas com muito património que têm pouco rendimento, logo, pagam IRS
mais baixo. Há famílias que podem ter muito rendimento mas que vivem só
de rendas, juros e dividendos (que não são englobados e suportam apenas
28% de IRS). E há expatriados ou estrangeiros recém-chegados a Portugal
que podem ganhar muito mas que só pagam IRS de 20%.
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É tudo verdade. Que pode, pode, e o facto de poder acontecer torna
necessários outros debates sobre a forma como os diversos rendimentos
são discriminados, em função da sua natureza e da sua titularidade.
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Mas considerando que já sabemos que também por cá há malas de dinheiro a sair clandestinamente do País; que a cada amnistia fiscal, há milhares de milhões de euros a entrar (ao todo foram 6 mil milhões de euros em sete anos); que, se outra amnistia houvesse, mais milhões se legalizariam; e que há quem comece a ser julgado por alegado patrocínio activo de esquemas fraudulentos, convém não abusar das explicações benevolentes.
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Não se trata de inveja social, nem de demagogia, nem tão pouco de
populismo. Há estatísticas com fortes indícios daquilo que o senso comum
vem pressentindo há vários anos: a factura fiscal em Portugal é paga de
forma muito assimétrica. É um imperativo económico e ético que este
debate se faça de forma aberta e transparente, e, de preferência, que se
faça com todos os contribuintes, incluindo os mais ricos cumpridores,
que pagam todos os seus impostos. Porque para esses também há uma
dimensão da desigualdade instalada: suportam uma taxa efectiva média de
46%, bem acima da dos "super-ricos". E que poderia não atingir níveis
quase confiscatórios se todos pagassem o que devem.
IN "JORNAL DE NEGÓCIOS"
29/01/16
* A 1ª parte deste tema foi publicada a 12/12/15 e editada no blogue a 13/12/15
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18-OS PRESIDENTES
HISTÓRIA DA REPÚBLICA
* Iniciámos a série a cerca de três meses das eleições para a Presidência da República revelando a história deste órgão de soberania, os seus intervenientes desde a sua génese.
Dia 09/03 toma posse o novo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa.
Dia 09/03 toma posse o novo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa.
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ESTA SEMANA NO
"SOL"
"SOL"
Os 10 países mais adúlteros do mundo
O site de estatística Statis realizou um estudo, baseado em dados
recolhidos dos sites Match.com e The Richest, que revela quais os dez
países com maior percentagem de adultos casados que já cometeram
adultério
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No topo da lista está a Tailândia, com 56% dos inquiridos a referirem que já traíram o seu companheiro.
O resto do Top10 é composto exclusivamente por países europeus:
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1. Tailândia – 56%
2. Dinamarca – 46%
3. Alemanha – 45%
4. Itália – 45%
5. França – 43%
6. Bélgica – 40%
7. Noruega – 40%
8. Espanha – 39%
9. Finlândia – 36%
10. Reino Unido - 36%
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No topo da lista está a Tailândia, com 56% dos inquiridos a referirem que já traíram o seu companheiro.
O resto do Top10 é composto exclusivamente por países europeus:
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1. Tailândia – 56%
2. Dinamarca – 46%
3. Alemanha – 45%
4. Itália – 45%
5. França – 43%
6. Bélgica – 40%
7. Noruega – 40%
8. Espanha – 39%
9. Finlândia – 36%
10. Reino Unido - 36%
* Um domingo com infedilidades
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ESTA SEMANA NO
"EXPRESSO"
"EXPRESSO"
“A menina não irá andar nem falar
e terá uma curta esperança de vida.”
Não foi assim
Ana Carolina Dias Cáceres nasceu com microcefalia, agora tão falada, temida e discutida devido ao vírus zika. Um dos médicos disse à mãe que a bebé nunca iria andar nem falar. Aos 24 anos, esta brasileira canta, toca violino e é licenciada em jornalismo. O Expresso falou com ela. “Calma: microcefalia é um nome feio, mas não é esse bicho de sete cabeças”
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Tinha apenas nove dias quando fez a primeira operação. “Foram mais quatro até aos nove anos”, diz ao Expresso
a jornalista brasileira Ana Carolina Cáceres: “Quando era criança, na
escola, fui alvo de preconceito, aquelas brincadeiras das crianças que
hoje são chamadas de bullying”. Cinco operações na infância deixaram
marcas e uma “cicatriz na testa bem visível“.
Nunca
desmoralizou nem se atrasou nos estudos. Começou a cantar num coro
antes de completar dez anos, aos 16 sabia tocar violino e aos 24 é
licenciada em jornalismo com uma tese que pode ajudar muitas famílias
brasileiras que estão a viver o pesadelo da microcefalia causada pelo
vírus zika. “Andava a pensar no tema para o trabalho de fim de curso e,
conversando com o professor, vi que ele não sabia o que era
microcefalia. Ora, se ele não sabia, mais pessoas poderiam desconhecer. E
partiu daí a ideia de escolher este tema” para tese de licenciatura.
No
primeiro ano do trabalho de tese, Carolina fez pesquisa teórica sobre a
doença com que nascera: “O diagnóstico de microcefalia foi o terceiro
que os meus pais ouviram. O médico disse que era um caso leve e que por
isso deveriam ser tentadas as cirurgias. Mas agora há muito mais
informação do que naquela altura. Eu não tinha noção de quantas pessoas
tinham esta doença no Brasil, nem tenho no seu todo. Mas durante a
pesquisa que fiz para a tese entrevistei doentes e familiares - estamos
ligados a um grupo, embora vivamos em diferentes cidades”.
Nesse
grupo que reúne cerca de 200 doentes e familiares, Carolina encontrou
casos bem mais graves do que o dela. “Encontrei uma menina que nem
sequer foi submetida a cirurgia, anda de carreiras rodas e não come
sozinha. Mas também encontrei um rapaz, dois anos mais velho do que eu,
que frequenta a universidade e estuda música ... como eu.”
“É melhor investir no tratamento do que abortar”
Marcos,
quatro anos mais velho do que Carolina, é fotógrafo numa empresa de
media da capital do Mato Grosso do Sul. Orgulhoso da conquista da irmã,
falou dela a uma colega jornalista e emprestou-lhe o trabalho de
licenciatura. Em dezembro último, a repórter decidiu publicar num jornal
regional um texto sobre Carolina e a sua luta contra uma doença que
poderia ter sido tão limitativa e estigmatizante. Na altura, nenhuma
delas poderia imaginar que menos de um mês depois as grávidas
brasileiras estariam a viver o pesadelo da ameaça do vírus zika [tudo
indica que pode causar microcefalia nos fetos].
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Entretanto, a
epidemia de zika fez saltar o caso de Carolina para os grandes jornais
brasileiros. “Quero rever e melhorar a tese, de forma a poder publicá-la
em livro”, diz ao Expresso. Espera poder ajudar outras
pessoas com o mesmo problema: “É melhor investir no tratamento do que
abortar. E a prova disso é que eu estou aqui, embora a minha mãe só
tenha sabido da malformação depois do parto”.
“A menina não irá andar nem falar”
Clara, a mãe, entrou
tranquila na sala de partos do hospital de Campo Grande [capital do
estado do Mato Grosso do Sul]: tinha feito exames pré-natais e tudo
levava a crer que a bebé nasceria robusta e saudável. O choque chegou
quando um dos médicos comunicou que Ana Carolina tinha síndrome de Down.
Veio um segundo médico e o diagnóstico foi mais duro: “A menina não irá
andar nem falar e terá uma curta esperança de vida”.
Incrédulos,
Clara - auxiliar de enfermagem - e o marido - técnico de laboratório,
na altura desempregado - ouviram o veredicto de um terceiro clínico: a
bebé sofria de microcefalia, uma doença pouco conhecida no início da
década de 1990.
A palavra era dura e Clara rapidamente percebeu
que a filha poderia estar condenada a ter uma cabeça mais pequena do que
as outras crianças e que isso poderia comprometer todo o crescimento.
Católica praticante, confiou em Deus, convicta de que nunca teria
abortado se a má formação do bebé tivesse sido identificada na gravidez.
Vinte e quatro anos depois, Clara Dias de Oliveira é uma mulher
realizada porque Ana Carolina é um caso de sucesso.
A única coisa
que a menina não fez na escola foi ginástica: “Como tirou o osso do
crânio, fiquei sem essa proteção na cabeça que as outras pessoas têm -
uma queda podia ser perigosa, essas coisas”, explica Ana Carolina, que
tal como a sua mãe é totalmente contrária ao aborto e opõe-se à petição
entregue no Supremo Tribunal Federal em Brasília.
“Dizer a uma
mãe que aborte só porque seu filho nascerá com microcefalia é assinar o
atestado de incompetência do Estado em dar condições necessárias para
que estas mães possam dar o tratamento adequado para que o bebé não
venha a ter consequências maiores pela vida”, escreve Carolina no seu blogue. E “eu sou a prova viva de que essa doença não é tudo isso”, garante no seu trabalho de fim de curso .. que um dia vai ser publicado como livro “Selfie: em meu autorretrato, a microcefalia”.
“No
livro, eu conto a minha história e outros cinco casos em que
entrevistei os pais. O objetivo é trazer um olhar de quem vive a
microcefalia de perto e mostrar os outros lados desta moeda.”
Caminho de obstáculos
Ana
Carolina superou muitas provas. Entre as cinco cirurgias para retirar
uma parte do crânio para o cérebro se desenvolver teve paragens
cardíacas e precisou de transfusões de sangue. “Durante toda a infância
tive convulsões, é algo que todo portador de microcefalia tem. Mas
convulsões tratam-se com medicação, eu tomei Gardenal e Tegretol até os
12 anos, depois nunca mais precisei.”
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“Agora vou fazer 25 anos e
conheço muita gente com microcefalia que tem 30, 40 anos, e trabalha,
tem uma formação. (...) Sei que a microcefalia pode trazer consequências
muito mais graves do que as que eu tive e que nem todo o mundo vai ter a
vida que eu tenho. Então, o que recomendo é calma, microcefalia é um
nome feio, mas não é esse bicho de sete cabeças”, afirma.
Olhando
para trás, Ana Carolina considera que ninguém poderia imaginar - nem
mesmo os médicos - que ela seria capaz de conquistar tanta coisa. “Minha
história só é o começo de que o céu é o limite para quem não deixa de
acreditar”, conclui no trabalho que um dia vai ser publicado como livro.
* Como rejubilamos com o sucesso de Ana Carolina Cáceres na sua batalha contra a doença e os estigmas sociais, infelizmente acontece em uma pessoa num milhão de afectados.
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ESTA SEMANA NO
"OJE"
"OJE"
Angola terá de aceitar desvalorizar
a moeda para permitir
o investimento externo
O país está com um problema de rigidez da política cambial que impede o Investimento Direto Estrangeiro e alteração da estrutura produtiva do país. E terá de seguir as recomendações do FMI.
A desvalorização do kwanza (AKZ) vai ter de acontecer rapidamente,
sob pena do impacto negativo sobre a economia durar muito e longos anos.
A opinião é de Tavares Moreira, atual presidente do BAI Europa e antigo
governador do Banco de Portugal.
Angola terá de seguir as recomendações do Fundo Monetário Internacional,
diz o gestor. “O FMI tem recomendado insistentemente uma maior
flexibilidade da política cambial”, diz Tavares Moreira. A verdade que é
a Autoridade Monetária fez algumas correções mas hoje o câmbio US
dólar/AKZ tem um diferencial bastante superior a 100%, e continua numa
evolução muito negativa que começou em setembro de 2014. O diferencial
entre o câmbio dólar/AKZ oficial e o informal é de 155 AKZ por dólar
para 400 AKZ/dólar. “É um absurdo”, comenta Tavares Moreira.
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“A manter-se este estado de coisas terão de fatalmente aceitar novas
correções à taxa de câmbio oficial, pois as distorções que isto causa na
economia são devastadoras. Esta é uma forma de subsidiar importações”,
diz o gestor. Com a atual política cambial as importações estão a ser
fortemente favorecidas em relação à produção interna.
Angola terá de avançar para uma política cambial mais realista, não
tendo de ser totalmente liberalizada mas bastante mais flexível e
“reconhecendo o inevitável, ou seja, a desvalorização da moeda para dar
mais verdade aos preços e para ter atividade menos negativa no
investimento externo”, diz Tavares Moreira. Acrescenta que esta medida
“terá um impacto grande na inflação” que em 2015 subiu para 14,3% em
média anual e que irá continuar a subir”. Acrescenta que os danos
causados à economia com esta política “não se corrigirão com a mesma
rapidez com que se pode corrigir a inflação”.
Por outro lado, o desejo de Angola se tornar a economia de referência da
região subsariana está colocado em causa. Os analistas reforçam que a
evolução dos últimos anos revelou uma economia muito dependente do
petróleo, o que fragiliza essa pretensão. A estratégia de
“desdolarização” da economia foi bem pensada e no momento atual esse
modelo faz todo o sentido, afirmam economistas. No entanto, a operação
de “desdolarização” precisa de um clima de estabilidade, sob pena dos
agentes económicos e da população em geral não confiarem. Essa
estabilidade aconteceu até junho/setembro de 2014, mas a partir daí
ficou tudo em causa. Recorde-se que o melhor nível de inflação em Angola
situou-se nos 6,5% em termos anualizados.
Tavares Moreira questionado sobre a necessidade de alterar a política e a
legislação relativamente ao Investimento Direto Estrangeiro, diz que as
Autoridades “fizeram aquilo que era possível, agora é preciso criar o
ambiente favorável ao investimento”. O relatório do Banco Mundial
elencou todas essas necessidades”.
Difícil controlo da despesa
A nível orçamental o controlo da despesa é uma opção mas é algo
“difícil”, diz o gestor do BAI Europa. “A nível salarial os funcionários
públicos registam uma perda significativa dos salários reais via
inflação. Entre as despesas que poderiam gerir melhor estará a despesa
de investimento e o próprio FMI fala em introduzir melhorias no sistema
de gestão em todas as fases do investimento público, desde a avaliação
até à gestão dos projetos”.
Entretanto o Banco Nacional de Angola fez sair uma circular onde
endurece ligeiramente a política monetária com a subida da taxa de juro
básica de 11% para 12% e a subida dos juros no mecanismo de facilidade
de cedência permanente de liquidez de 13% para 14%. As receitas fiscais
petrolíferas caíram 50,7% em 2015, passando dos 16,7 mil milhões para
8,2 mil milhões de euros. A causa está na crise provocada pela cotação
do crise.
Como é que o orçamento angolano se pode adaptar à queda bruta da
receita? O economista diz que “provavelmente o défice acabará por ser
superior ao previsto porque as receitas petrolíferas poderão ficar aquém
do que está orçamentado”. E aquilo que está orçamentado no OE angolano
tem por base um preço médio do barril de 45 USD e o preço atual está
quase 30% abaixo e, mesmo a expetativa da agência internacional que
calcula as necessidades do mercado mundial, estima um valor que ficará
cerca de 20% abaixo do orçamentado.
Um orçamento retificativo irá impor-se entre março e abril, calculam
vários economistas em declarações feitas a órgãos de comunicação social.
O recurso a endividamento externo irá aumentar e o nível de dívida
pública sobre o PIB, que estava nos 49,7% no final de dezembro e que
sobe para 57,5% com a dívida da Sonangol, irá por essa via, “aumentar”,
diz o gestor. Tavares Moreira confirma a opção de muitas empresas
portuguesas de reduzirem a atividade porque os problemas de pagamentos
não permitem o nível de atividade anterior. “Ao não receberem têm grande
impacto na tesouraria, e a solução é reduzir a atividade e estão a
fazê-lo, não desistem e estão à espera que a situação melhor. E esta só
melhorará quando o preço do petróleo subir”.
Sobre a banca, Tavares Moreira confirma que se fala muito de
consolidação do setor bancário em Angola, mas até ao momento apenas se
viu a operação Millennium/BPA, mas remata que o FMI considerou essa
opção como uma “evolução desejável”. Sobre política apenas diz que
“seria desejável uma evolução”. Haverá eleições e no último escrutínio a
oposição aumentou substancialmente a sua base de apoio eleitoral.
“Nesse sentido houve alguma evolução”, diz o gestor.
Mais produção deu mais receita
Independentemente da quebra abrupta do preço do crude no mercado
internacional e com as receitas fiscais relacionadas com esta commodity a
caírem, a quantidade de petróleo bruto exportado pelo país aumentou de
599 milhões de barris em 2014 para 645,1 milhões de barris em 2015. Um
relatório do Ministério das Finanças revela que em termos de venda bruta
registaram-se mais dois mil milhões de euros do que a previsão do
Governo. O petróleo garantiu em 2014 cerca de 70% das receitas fiscais
do país, mas em 2015 já só terá representado 36,5%, de acordo com as
projeções oficiais.
José Tavares Moreira
O atual presidente do BAI Europa foi governador do Banco de Portugal
entre 1986 e 1992 e membro dos órgãos de gestão do antigo do BPSM e da
Caixa Geral de Depósitos. Na política foi secretário de Estado do
Tesouro e secretário de Estado Adjunto das Finanças. Formou-se em
Economia, pela pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto, e
licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do
Porto.
Análise do BAI e recomendações do FMI
O ajustamento da economia angolana tornou-se inevitável devido ao
acelerado declínio do preço do petróleo, que teve como consequências
fortes quedas nas receitas das exportações e nas receitas fiscais em
2015.
As receitas das exportações de bens deverão ter caído perto de 40%
em relação a 2014, induzindo um elevado défice da balança de
pagamentos, em especial da balança corrente, que quase quadruplica o
valor do défice registado em 2014, passando de 1.951 milhões de dólares
(1,5% do PIB) para 7.784 milhões (7,6% do PIB esperado). A análise é
feita pelo BAI – Banco BAI Europa, no seu Boletim Económico referente ao
quarto trimestre de 2015. O ponto de partida são dois documentos: o
Orçamento Geral de Estado (OGE) e o relatório do Fundo Monetário
Internacional “Angola – FMI Country Report – Diagnóstico e
recomendações”.
O documento do Banco BAI Europa refere que nas receitas
fiscais, a previsão é de uma queda de 34,6% do PIB em 2014 para 27,4% em
2015. A queda obrigou a uma contenção nas despesas, em especial das
despesas de capital. Ainda assim, para 2015, o FMI prevê um défice
orçamental de 3,5% do PIB, que, segundo as estimativas do Fundo, descerá
em 2016 para 1,5%. Este número difere fortemente dos 5,5% inscritos no
Orçamento Geral do Estado para 2016. Os montantes a que é contabilizado o
preço do barril de petróleo pelas duas partes – Governo e FMI –
explicará, segundo o BAI, uma parte da divergência entre as duas
previsões para o défice”. O FMI partiu de um valor de 53 dólares/barril,
contra 45 dólares do Orçamento.
O FMI reconhece que a resposta das autoridades de Angola ao choque
petrolífero, através da política orçamental, monetária e cambial “foi
adequada”. Apesar disso e considerando os “elevados riscos” que se
colocam à economia do país por força da “persistência de um mercado
petrolífero desfavorável”, a instituição faz um conjunto de
recomendações nas vertentes da política orçamental propriamente dita, da
política cambial e monetária, da estabilidade financeira, onde aponta a
necessidade de capitalizar os bancos, e das reformas estruturais.
Reestruturar a recapitalizar os bancos
O BAI enfatiza a ênfase colocada pelo FMI na necessidade de sanear o
sistema bancário. É condição para “a desejável recuperação económica que
se deverá seguir ao período de abrandamento económico imposto pelo
choque petrolífero”. Nesse sentido, considera “essencial” que todos os
bancos “satisfaçam os requisitos regulamentares”, em especial no que
respeita ao “cumprimento das normas sobre fundos e sobre liquidez”.
Segundo o FMI isso obriga a que “seja acelerada a implementação dos
planos dirigidos à reestruturação e recapitalização dos bancos que
evidenciam uma situação mais frágil”. A instituição refere que o nível
de crédito em incumprimento (NPL’s) subiu para 18% da carteira de
crédito em julho de 2015. Era de 12% em dezembro de 2014
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Reformas estruturais
Os constrangimentos que continuam a dificultar a atividade económica são
um obstáculo ao cumprimento do objetivo estratégicos de diversificação
da economia angolana. Nesse sentido, o FMI sugere um conjunto de
reformas que urge pôr em marcha.
Primeira:
Agilizar o funcionamento do
mercado de trabalho. O BAI lembra que neste capítulo foi dado em 2015 um
passo importante com o alargamento até 10 anos do prazo legal para a
celebração de contratos de trabalho.
Segunda:
Estimular o investimento
privado nos setores não petrolíferos. Nesta vertente, a análise do BAI
lembra que a aprovação da nova Lei do Investimento Privado é considerada
um “paso positivo, mas muito está ainda por fazer para criar um clima
de negócios que incentive o investimento privado.
Terceira:
Simplificar,
que o mesmo é dizer, desburocratizar o processo de constituição das
empresas.
Quarta:
Reduzir o período para atribuição de vistos de
trabalho.
Quinta:
Prosseguir o investimento na melhoria das
infraestruturas, sobretudo no que respeita a vias de comunicação,
rodoviárias e ferroviárias e à distribuição de energia elétrica. “A
realização de progressos nestas áreas é vista como crítica para melhorar
a competitividade das empresas e para permitir um crescimento mais
inclusivo”, assinala a análise do Banco BAI Europa.
* Angola precisa de prender a ditadura de "zedu".
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ESTE MÊS NA
"BLITZ"
"BLITZ"
Bob Marley faria hoje 71 anos.
É tempo de o recordar
De menino do campo a estrela planetária. Rastafari, amante inveterado e autor de hinos de revolta e paz, cantou por Jah - o Rei dos Reis - e por África. Levou o reggae ao mundo, amou o futebol, viveu intensamente e despediu-se cedo demais
O apelo saiu de improviso a meio de «Jamming». «Será que podemos
juntar aqui Michael Manley e Edward Seaga?" Do palco, de frente para 32
mil jamaicanos, Bob Marley sabia que presenciava um raro momento de
união, num país que o extremismo político colocara à beira de uma guerra
civil. De um lado, os defensores do Partido Nacional Popular de Manley,
do outro os Trabalhistas de Seaga, uma guerra política que nas ruas de
Kingston se transformara em batalha de gangues. Manley,
internacionalmente apoiado por Fidel Castro, e Seaga, com Ronald Reagan
do seu lado, subiram ao palco, e deram as mãos ao som de um grito
rastafári pela «paz».
Marley já estava longe do estatuto de
«mestiço» que o acompanhou na juventude e de ser o rasta fumador de erva
que os vizinhos na zona nobre da cidade o acusavam de ser. Em 1978, já
era porta-voz do seu próprio género musical e, provavelmente, de um
país. Com os Wailers, aos 34 anos já tinha sobrevivido a um atentado,
carregava um cancro sem saber e já cumprira o seu maior objetivo:
apresentar o rastafarismo ao Mundo. Pelo meio, acabava de editar Exodus,
o melhor disco do século XX para a revista Time. Na noite do One Love
Peace Concert, do público não saíram tiros ou gás lacrimogéneo - só
aplausos.
Bob Marley completaria este ano 70 anos. Para assinalar
a data, a editora Universal e a família do músico chegaram a acordo
quanto à utilização do seu arquivo pessoal. Para já, a edição de um
concerto em Boston e a promessa do lançamento de inéditos, assim como de
reedições carregadas de extras. Passados 34 anos da sua morte, Marley
dispensa ajuda no que respeita a números, se Legend já era recordista
pelas semanas passadas no top da Billboard (trezentas) e o único best of
a merecer um lugar entre os melhores discos da história para a
norte-americana Rolling Stone, no ano passado conseguiu mais um feito:
chegou ao topo das vendas no Google Play assim que ficou disponível.
O jovem Bob
Robert
Nesta Marley nasceu a 6 de fevereiro de 1945 em Nine Mile, em Saint
Ann, ao norte de uma Jamaica então parte do Império Britânico. Mãe negra
e pai branco - um misterioso inglês, Norval Marley, ao serviço da coroa
e conhecido por andar sempre a cavalo. Para o documentário Marley
(2012) só lhe encontraram uma fotografia e tanto Marley como a mãe,
Cedella Marley Booker, pouco mais lhe viram. Norval ainda levou o
pequeno Marley para Kingston, mas rapidamente a mãe o resgatou de
regresso à vida no campo. Só anos depois viria a reencontrar o pai,
através de outra família mestiça e numa altura em que Norval já tinha
passado de gestor de plantação para o setor da construção.
Bob
voltou a ser rejeitado e acabou a cantar a história numa música -
«Cornerstone» - «The stone that the builder refuse / Will always be the
head cornerstone-a; sing it brother / The stone that the builder refuse /
Will always be the head cornerstone». «Gostava de andar de burro, ir
para o campo com o avô», recorda a mãe, no documentário Marley. Se em
Saint Ann a rotina se fazia entre as plantações e o trabalho no campo,
por lá os instrumentos eram tão rudimentares como o modo de vida - as
guitarras em bambu e latas, a percussão improvisada em caixas de madeira
-, mas também foi em Nine Mile que Marley conheceu Neville Livingston,
que viria a ficar conhecido como Bunny Wailer.
A mãe haveria de
se mudar, de malas, bagagens e filho, para Kingston e para o bairro que o
próprio Marley haveria de celebrizar, Trench Town. Violento e marcado
pela pobreza, o bairro que numa edição de 60 Minutos foi descrito como
de «barracas imundas», casa dos «jamaicanos não bonitos», haveria de se
transformar na capital mundial do reggae e no centro artístico do país.
«Para uma criança, a vida era fácil. A nossa única preocupação era com a
polícia. Se lhes dizias que eras de Trench Town estavas feito», disse
Marley. Mas também há quem recorde que a vida se fazia descalço, por
brincadeiras na rua, bem longe da escola e frequentemente com fome. «Um
dia chegou a casa, disse-me que ia deixar a escola e dar os livros a um
amigo. Foi o que fez», contou Cedella, também em Marley, sobre o dia em
que soube o que o filho queria da vida.
O primeiro disco viria
pouco depois. Através de Desmond Dekker, com quem trabalhava como
soldado, Marley haveria de conseguir lançar um single - «Judge Not» -
que, no entanto, haveria de falhar comercialmente. À época, à Jamaica
apenas chegava a música de conjuntos norte-americanos e a solo ninguém
deu pelo jovem que assinava o single - música e letra - como R.Marley.
Na companhia de Neville, haveria de se lançar em busca do elemento que
faltava ao trio. «Encontrámos um tipo alto, negro e, diziam alguns,
bonito chamado Peter. Dizia que sabia alguma coisa da guitarra, afinou
as quatro cordas que tinha na dele e começou a tocar. E pronto»,
recordou Bunny Wailer.
A ensaiar na First Street de Trench Town, o
trio começou por responder como The Juveniles e por se apresentar como
«os irmãos do Gueto», mas rapidamente Wailers foi adotado como nome para
a banda. Com Joe Higgs como agente e já com a bênção de Clement Coxsone
Dodd, fundador e dono do histórico Studio 1, haveria de chegar em 1964 o
primeiro single, «Simmer Down», gravado com os Skatalites como banda de
apoio. Na Jamaica, o sucesso, comprovado com a escalada ao topo da
tabela de vendas, seria imediato. No entanto, a vida do trio não se
tornaria mais fácil.
Depois de a mãe ter rumado aos Estados
Unidos, aos 17 anos Marley chegou a viver nos estúdios da Studio 1;
Coxsone até lhe daria um gira-discos e uma simpática coleção de música
norte-americana, mas o ordenado da banda não aumentava. E entre os três
aspirantes a músicos o ambiente haveria de se tornar cada vez mais
tenso. «Esperávamos dinheiro no Natal, mas só nos deu seis libras quando
já tínhamos tanto sucesso. Por isso, larguei tudo e fui viver com a
minha mãe», contou Bob Marley numa entrevista de 1975, citada por Vivien
Goldman em The Book of Exodus.
Mas o Bob que a 12 de fevereiro
de 1966 aterrava em Delaware, nos Estados Unidos, era bem diferente do
adolescente que a mãe deixara em Kingston. Aos 21 anos, o penteado
aprumado tinha-se transformado num imponente ninho de rastas, sinal da
religião adotada, e até era um homem casado. Na véspera de embarcar,
Marley casara com Rita, mas nem seria isso que encurtaria a primeira
estadia nos Estados Unidos. A trabalhar entre a equipa de limpeza de
hotéis e como soldador na fábrica local da Chrysler, Marley nunca
esqueceu a Jamaica e o sonho de fazer carreira na música.
«Na
América pensava se seria aquilo o meu futuro. Jah, Deus, apareceu-me
numa visão e deu-me um anel de ouro. Ele era uma pessoa normal com um
chapéu de pelo e um casaco castanho. Um casaco e uma capa, mas não uma
capa da chuva como usam os jamaicanos», contou. Segundo Vivien Goldman, a
partir desse momento Marley passou a encarar a música como a verdadeira
missão de vida. Inicialmente, depois de partilhar a visão com a sua
mãe, até recebeu um anel de ouro que o pai tinha deixado, mas
devolveu-o. «Não quero usar qualquer anel ou relógio de ouro. Quero
continuar a ser a pessoa que sou. Quando começar a adorar o ouro, algo
[mau] estará a acontecer». Não era o ouro que o interessava, mas sim o
modo de vida Rasta. E esse teria de ser vivido na Jamaica e sempre com
os olhos postos em África.
Com um surgimento durante os anos 30, o
rastafarismo defendia uma visão pan-africana do mundo, reclamando o
regresso dos negros ao continente, e apontava Haile Selassie I
(1892-1975), Imperador da Etiópia, como a reencarnação de Deus,
descendente dos reis Salomão e David. Com as rastas e o espírito
militante, viria um modo de vida que Marley nunca abdicaria e que
passaria a promover pela música. «Bob encontrou um sítio onde pertencia.
Nem branco, nem preto: era Rasta», lembra Rita Marley. Fora das leis
convencionais, apologista da felicidade e liberdade.
Anos antes,
tinha sido Mortimer Planno a apresentar-lhe a religião que defende, nas
palavras de Marley, como «propósito da vida, ser feliz, viver em união,
paz e amor». As rastas, marca da sua identidade, eram vistas como um
sinal de compromisso à causa que trazia consigo um espírito militante.
Também trazia uma relação - espiritual, dizem - com a marijuana. E se em
Delaware usava o quintal da mãe para plantar, na terra natal a
indiferença à proibição em vigor tornar-se-ia ainda mais descarada. «[As
leis que proíbem o cultivo da marijuana] são leis ilegais como são
todos os Governos desta terra. Só há uma lei, a de Deus», defendia numa
curta entrevista ao programa televisivo norte-americano 60 Minutos. O
tema era recorrente. Em Come a Long Way, outro dos documentários sobre a
sua vida (televisionado em 1979), também não fugiu ao tema. «Quem não
aceita a erva não aceita os rastafáris. É importante. Não é algo que te
faça ter ânsias. É uma planta e essas são boas para tudo.
Porque dizem
os governos que não a devemos usar? Porque te fazem rebelar e contra
quem?», dizia, sem nunca se cansar de citar referências bíblicas, do
Livro da Revelação, ao consumo e partilha de erva.
A ganja, o reggae e as mulheres
Se a lenda
diz que Marley fumava, normalmente, meio quilo de erva por mês, certo é
que álcool nunca o viram consumir - «Não te faz meditar, só te torma
bêbedo, enquanto a erva te dá consciência», explicava a Dylan Taite,
autor de Come A Long Way - e até final da carreira conseguiu sempre
evitar problemas com as autoridades. Marley explicaria que a maioria das
pessoas com quem se cruzava não via problemas no consumo de erva e nas
alfândegas haveria de ser o estatuto de estrela que lhe permitia o
salvo-conduto. Discos, pósteres e autógrafos eram, conta um dos membros
da entourage em Marley, frequentemente utilizados como distração para
entrar num novo país. E a ligação entre Marley e a ganja tornou-se
emblemática ao ponto de agora chegar a negócio. Rita, principal
detentora dos seus direitos de imagem, assinou recentemente um acordo
com um produtor legal de marijuana, a Privateer Holdings, para este ano
fazer chegar ao mercado norte-americano a Legend, estirpe jamaicana da
planta preferida de Marley.
Mas nem só o perfume diferenciava os
rastas e em Marley a música seria sempre encarada como uma missão. «O
reggae é a música do povo. Funciona como as notícias. Conta o que não te
querem contar», definia numa entrevista em 1976. E o primeiro passo, no
regresso dos Estados Unidos, foi mesmo a constituição de uma editora, a
Wail'n Soul'm, e a reconstituição do original trio dos Wailers. Logo
depois chegaria o contacto com o homem que muitos dizem ser o verdadeiro
responsável pelo nascimento do som de Marley, Lee «Scratch» Perry.
«[Bob]
era abençoado, muito talentoso, mas não tinha controlo e não sabia para
onde ir com a música. Na minha ótica, o ska era música para dançar e
beber cerveja e não uma música espiritual», conta o produtor. E, por
isso, a música mudou. No reggae, foi dado ênfase ao baixo e à bateria e
na guitarra banalizou-se algo que poucos faziam - as cordas passaram a
ser tocadas de baixo para cima. «No Livro da Revelação falam de uma
música que todo o mundo dançará. Que outra música pode ser?», pergunta
Bunny Wailer em Marley.
Em 1965, The Wailing Wailers marcaria a
estreia de Marley em estúdio, seguindo-se Soul Rebels (1970). Em 1971,
Soul Revolution e The Best of the Wailers consolidariam o estatuto de
estrelas de Marley, Tosh e Bunny na Jamaica. Em 1973, porém, mais não
eram que desconhecidos em Londres.
Ainda assim, a passagem da banda pelo
Reino Unido haveria de chegar aos ouvidos de Chris Blackwell, da Island
Records, que rapidamente os desafiou a gravar um disco. Com quatro mil
libras no bolso, os Wailers haveriam de lançar Catch a Fire, o primeiro
disco com uma produção digna desse nome. Burnin' seria editado nesse
mesmo ano, mas seria em 1974, com Natty Dread e o single «No Woman No
Cry» que Marley chegaria a estrela planetária.
Em casa, tudo
mudara e o dinheiro deixara de ser problema. De Trench Town, Marley
mudou-se para a zona fina da cidade, comprou uma casa para a família e
outra, no número 56 de Hope Road, bem próximo das residências oficiais
dos Presidente e primeiro-ministro jamaicanos, para ensaios e para
reunir amigos. Além dos ensaios, Marley começava os dias com corridas
pela praia, mergulhos - nunca faltavam sumos naturais e refeições de
peixe fresco. Como hobbies preferidos, o futebol e a sua equipa amadora,
The House of Dread, e as namoradas.
Publicamente, Marley sempre
negou ser casado (apesar de nunca se ter divorciado de Rita) e se na
Jamaica viviam em casas diferentes, quando saiam em digressão - que Rita
integrava como elemento membro do coro - a mulher ficava num quarto à
parte. «Tornei-me no seu anjo da guarda e ultrapassei o estatuto de
mulher. Eu sabia como ele era, estávamos numa missão e eu não via as
digressões como diversão. Éramos quase evangelistas a levar Jah às
pessoas», conta em Marley. «Não discutíamos sobre mulheres. Ele
contava-me o que fazia e o que ia acontecendo. Era a mim que chamava
quando era preciso tirar alguma do quarto». No final, Marley deixaria 11
filhos de sete mulheres diferentes.
Mas se a agitada vida
amorosa nunca se revelou um obstáculo, as opções políticas quase se
revelavam trágicas. Com o país dividido entre os comunistas do Partido
Nacional Popular e os conservadores do Partido Trabalhista, Marley nunca
assumiu um lado e manteve ligações a ambos os lados da barricada. E na
Jamaica, em meados dos anos 70, a luta política era mesmo travada na
ruas, fosse com pedras, tiros ou bombas. Assim, em dezembro, quando o
convite de Manley chegou para que Marley desse um concerto sobre o
título Smile Jamaica, o músico não pensou duas vezes e aceitou. Só
depois da data acordada, dia 15, Manley - então Primeiro-ministro -
marcou a data das eleições para o dia 22 desse mesmo mês; o que Marley
encarara como um concerto de beneficência tinha acabado de se
transformar em ação de campanha eleitoral.
A noite de 3 ficaria
para a história: por volta das nove da noite, com a casa cheia e em
intervalo no ensaio, um carro parou à porta e do interior saíram
disparos de metralhadora em direção da casa. «Levei quatro tiros, fui
declarado morto à chegada ao hospital. Nem tivemos tempo para ter medo.
Quando chegou o medo já tínhamos sido baleados», contaria o manager Don
Taylor.
Rita seria ferida na cabeça enquanto Bob escaparia com um
arranhão no peito e uma bala alojada no braço. «Ouvi dizer que um deles
se chamava Shabba e que pouco depois foi ter com o Bob para lhe pedir
perdão. Aparentemente, falaram durante horas e, tendo conhecido o Bob,
não me custa a acreditar que o tivesse perdoado», conta o manager em The
Book of Exodus, onde lembra o fim de Shabba, «morto a tiro».
Sobre
a tentativa de assassinato a Marley, até hoje, são mais as teorias que
os factos. A identidade dos atiradores nunca foi conhecida e sobram as
teorias mais ou menos conspirativas. Teria sido um dos partidos
jamaicanos? Resultado de uma guerra entre os traficantes queMarley
sempre tivera por perto? Nem falta quem aponte o dedo à CIA, célebre por
ser avessa a vozes pró-independência, e no caso do autor de «Get Up,
Stand Up», cada vez mais, pro-marxistas. E houve ou não um raide de
vingança pelas ruas de Kingston? Timothy White, em Catch a Fire, garante
que sim. «Um dos últimos mortos em vingança pela tentativa de
assassinato foi Carl "Byah" Mitchell, um segurança do partido
trabalhista metido no tráfico de droga em Kingston Oeste (deram-lhe
droga a comer até que o coração parasse)», escreve.
A vida eterna
Com
cinco horas de atraso, sob escolta policial e com o público bem
afastado do palco, na noite de 15 de dezembro Marley haveria de
contrariar os mais cautelosos e subir mesmo ao palco. Sem que ninguém
soubesse, seria uma despedida. Dias depois, aterrava em Londres bem a
tempo de assistir a outra explosão, o punk. Instalado numa moradia em
Chelsea, rapidamente reuniu uma banda e a inevitável equipa de futebol.
Pelo meio, haveria de ter o seu romance mais mediático, Cindy
Breakspeare, jamaicana, Miss Mundo em 1976 e mãe de Damian Marley.
Avesso
a bares e discotecas, Marley passava as noites em casa, mas se a ideia
era estar a sós com Cindy e fugir à atenção mediática que o namoro
gerava o destino era o apartamento da modelo ou o luxuoso Claridge
Hotel. «Ele tinha um exterior áspero e tinha de manter a tropa e os
soldados em linha, nos ensaios a horas e no autocarro. Também tinha um
lado doce, brincalhão e vulnerável, mas nem o mostrava muito. Tinha
demasiado que fazer», conta Cindy em The Book of Exodus, onde recorda a
chegada a casa dos ensaios. «Punha sempre a cassete com as gravações do
dia e dançava durante todo o tempo».
Exodus seria lançado em
junho de 1977 e rapidamente chegaria ao número 1 na Jamaica, Inglaterra e
Alemanha. Dos Estados Unidos chegaram pedidos para uma nova digressão e
só uma lesão num pé, feita a jogar futebol, forçaria o seu adiamento.
Mas se nunca tinha gostado de estar parado, aos 32 anos nem o
diagnóstico de melanoma o fez cancelar os concertos. Em Londres,
recomendaram a amputação da perna, outros recomendaram que se ficasse
pelo dedo e só quando encontrou um médico para quem bastava cortar a
unha ferida acedeu. Confiou em Jah.
1978 seria o ano de Kaya,
feito com músicas gravadas durante a edição de Exodus e do regresso à
Jamaica com estatuto de salvador. Com o país à beira da guerra civil e
com direito a missão diplomática do Governo a pedir a sua participação,
Marley voltou a ignorar as recomendações. Desde o atentado que não
atuava na terra natal e muitos temiam uma reincidência da violência. «A
minha vida não é importante para mim, a dos outros é. A minha só
interessa se conseguir ajudar outros; se só estiver preocupado com a
minha segurança não valho nada», disse numa entrevista de promoção.
Na
noite do One Love Peace Concert, a 22 de abril de 78, no Estádio
Nacional, Marley haveria de se valer do estatuto de cabeça de cartaz
para conseguir o histórico aperto de mão entre as fações que dividiam a
Jamaica. Entrou num campo de onde sempre fugira: a política.
Com
uma digressão mundial em mente seguiu para África onde acabaria por dar o
seu concerto mais polémico. Depois de uma passagem pela Nigéria, foi
Marley quem tocou na tomada de posse de Robert Mugabe (em março de 80,
celebrava-se o nascimento do Zimbabué e o fim da inglesa Rodésia e
Mugabe apresentava-se com estatuto de herói). A história revelar-se-ia
bem diferente da cantada em Survival, álbum de 1979.
Uprising, de
1980, é lançado quando Marley tinha já perdido a energia. E em setembro
desse ano, durante uma série de concertos a abrir para os Commodores no
Madison Square Garden, o corpo cedeu. Na véspera, em palco tinha estado
perto de desmaiar e na manhã de 21 de setembro colapsou mesmo a meio de
uma corrida pelo Central Park, tendo o artista acabado internado no
Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, em Manhattan.
Marley
ainda contrariaria os médicos uma última vez - interrompeu a
quimioterapia e saiu do hospital assim que o rumor da sua doença chegou
às rádios mas desta vez não havia como disfarçar: o cancro era
irrecuperável, estava no fígado, pulmões e cérebro e a previsão era que
não chegasse vivo ao final do ano. Até as rastas tinha perdido.
Na
companhia de Rita e Cindy, ainda procurou cura na Alemanha, em
Rottach-Egern, pequena vila nas margens do então gelado lago de
Tegernsee. A sorte não mudou e ao fim de três meses de tratamentos o
vaticínio foi o mesmo. Bob Marley celebrou os 36 entre um pequeno grupo
de amigos na clínica, mas em maio, já depois de um AVC lhe ter roubado a
mobilidade do lado esquerdo, seguiu para Miami num avião privado. Da
Jamaica, depois de ter reunido os onze filhos de Marley, Marley
despediu-se a 11 de maio de 1981.
Não viveu para ver o seu disco
mais vendido, a coletânea Legend (25 milhões até hoje), ser considerado
pela Rolling Stone um dos 50 melhores álbuns de sempre (em 2014 foi o
quinto vinil mais vendido nos Estados Unidos, à frente de Turn Blue, dos
Black Keys, e de Sgt. Pepper's..., dos Beatles) ou para cumprir o sonho
de ver «a humanidade junta, negros, brancos e chineses». Deixou o
reggae e a palavra de Jah. A vida eterna que tanto ansiava?
* Um excelente trabalho FILIPE GARCIA
.
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