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11/05/2021
MARIA LINCE FARIA
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Decidir eticamente em
contexto de incerteza:
duvidar e refletir
Tendo a desconfiar dos líderes e gestores que me declaram que a sua instituição é perfeitamente ética. As suas instituições não são éticas simplesmente porque nelas existem códigos de ética robustos e bem pensados.
Vivemos um período de grande incerteza, causado por um fenómeno global que nos afetou a todos de modo inesperado. Este fenómeno obrigou-nos a ajustar as nossas vidas, os nossos modelos sociais e também nos obrigou a tomar decisões difíceis. Muitas destas decisões, feitas no âmbito de instituições e corporações, exigiram bastante dos seus líderes e gestores. Como avaliar agora as decisões tomadas e como preparar-nos para as futuras?
A primeira coisa que me vem à mente é aprender a duvidar. Tendo a desconfiar dos líderes e gestores que me declaram que a sua instituição é perfeitamente ética. Não duvido tanto pelo facto de o declararem, mas porque a sua excessiva confiança faz-me pensar que talvez não tenham uma conceção adequada da ética. As suas instituições não são éticas simplesmente porque nelas existem códigos de ética robustos e bem pensados. Por exemplo, muitas vezes não é claro em que medida é que o valor “respeito pelo cliente” está a ser promovido ou desrespeitado e várias pessoas podem chegar a ter opiniões diferentes.
Alguma vez deram voltas na cama com dúvidas de ter tomado a melhor decisão? Se tal não aconteceu, o mais provável é que haja importantes falhas éticas a corrigir no vosso comportamento e na vossa organização e que não exista suficiente segurança psicológica entre os vossos colaboradores para vos chamar à atenção do que não está tão bem. Se os gurus da ética debatem bastante sobre o valor moral de determinadas ações, como poderemos julgar-nos já imunes a essas questões, levantando estas tantas dúvidas entre especialistas?
Segundo, parece-me importante explicar que embora haja uma diferença importante entre a ciência moral e a sabedoria moral, um líder ético deve ter ambas. Assim como um gestor precisa de conhecimentos teóricos de finanças e de gestão e tem que aprender a pô-los em prática no dia a dia, um gestor que me diz ser ético deve saber que modelo de decisão moral adota – utilitarista? deontológico? aristotélico? – uma vez que os modelos não têm todos o mesmo valor e não é indiferente inspirar-se num ou noutro.
No entanto, mesmo que alguns conheçam estes modelos, saberão pô-los em prática? Saberão, em cada decisão concreta, captar as variáveis sensíveis do ponto de vista ético e ter a coragem de falar delas quando o “forno não está para bolos”? Depois de pensar como nos devemos colocar ante as situações temos que praticar, uma vez e outra, em decisões grandes ou pequenas, em questões mais objetivas ou mais subjetivas, até ganharmos uma certa conaturalidade e coragem para decidir bem do ponto de vista ético. É quase como andar de bicicleta ou aprender a resolver exercícios de matemática ou perder o medo de falar em público.
Teoricamente, somos todos éticos. Muitas vezes ao resolver um caso onde os protagonistas têm que lidar com importantes questões éticas, os alunos assumem que se fossem eles os protagonistas nunca tomariam uma decisão assim. Essencialmente, pensam que, sem necessidade de treino, será a sua melhor faceta ética que se revelará em situações difíceis e complicadas, o que é falso. Para quem ensina ética empresarial, o desafio é precisamente o de dar as bases teóricas para a decisão moral e ajudar os alunos a pôr-se em situações difíceis e ter de tomar a decisão lidando depois com as consequências.
Pessoalmente, duvido muitas vezes das decisões que tomo individualmente ou em conjunto. Gosto muito de fazer a releitura dos factos e das decisões depois de algum tempo, quando me encontro já na posse de todos os dados. Ajuda-me a tirar conclusões, a perceber que tipo de motivações pesaram mais no momento de decidir e a avaliar se foram as mais nobres. Não faço este exercício para me recriminar nem para acusar aqueles que decidiram comigo, faço porque por ser filósofa moral sei que, para gerir eticamente uma organização, preciso de estudo e reflexão, para além de duvidar de mim mesma.
* Professora, AESE Business School
IN "O JORNAL ECONÓMICO" - 04/05/21
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2629.UNIÃO
A requisição civil do empreendimento turístico Zmar, avançada pelo Governo, está a causar polémica. Na quinta-feira, dia 6 de maio, durante a madrugada, um grupo de perto de 30 imigrantes foi realojado no eco-resort como medida de controlo do surto de Covid-19 no concelho de Odemira.
No entanto, os moradores do empreendimento queixam-se que a requisição civil está a interferir com o procedimento de insolvência em curso e que impede a reabertura do espaço. Por outro lado, Eduardo Cabrita afirma que o "Estado é o maior credor" do empreendimento. "Estamos a falar de um parque de campismo em situação de insolvência em que o Estado é, aliás, o maior credor. É nesse quadro, de uma unidade que está encerrada na sua atividade, que está disponível, ao lado de outras duas unidades", disse o ministro da Administração Interna, no dia 4 de maio, durante uma visita a Odemira.
Confirma-se?
Não. O maior credor da Multiparques A Céu Aberto, a empresa que detém o Zmar,é a sociedade Ares Lusitani, uma empresa que pertence ao fundo norte-americano Kohlberg Kravis Roberts (KKR) – um dos maiores detentores de carteiras de crédito malparado do mundo, também conhecido por realizar práticas predatórias.
No topo da lista de credores estão, assim, a Ares Lusitani que reclama 22,3 milhões de euros, ou seja, cerca de 41% do total. Em segundo lugar, surge o Novo Banco que reclama 16,2milhões de euros, perto de 30%. A AICEP, uma entidade pública, surge também na lista dos principais credores, mas apenas na terceira posição: reclama 8,4 milhões de euros, ou seja, 15,4%. A fechar a lista dos maiores credores está a financeira Unicre, que reclama 2,6 milhões de euros, cerca de 4,7% da totalidade.
* Poderia ser apenas um filme romântico francês se não fosse… Tudo. Com direção de Laurent Bouhnik, “Q” – também conhecido como Q Desire – traz a história de Cecile (Déborah Révy) uma garota transtornada pela morte do pai e que literalmente interfere na vida das pessoas com seu modo peculiar de agir. O longa se passa em um contexto social deteriorado pela crise econômica do país e mostra diversas histórias de pessoas aleatórias que ao longo do enredo vão se encontrando.
Escolhi falar de “Q” por conta da temática: o longa discute de forma totalmente inesperada o desejo, o amor e a forma complexa que o ser humano tem de demonstrar sentimentos. Já nas primeiras cenas é possível observar enquadramentos surpreendentes e narrativas que até então parecem desconexas com o resto da trama. Em certos momentos até parece que estamos observando uma pintura, com fotografias tão bem produzidas e cores que remetem sensações únicas. Dependendo do grau de “situação cinema” que o espectador se encontrar, talvez ele sinta e até imagine uma leve brisa soprar da tela, um calor incontrolável e uma espécie de ar carregado de tanta… Luxúria.
Sim, é isso mesmo. A história gira em torno de Cecile, uma jovem que vê no sexo uma forma de escapar da realidade, porém ela nunca está satisfeita. Por conta disso, a moça brinca de seduzir e é praticamente impossível não sentir uma pitada de atração por ela. É importante lembrar também que neste longa a mulher é poderosa. Ela é decidida, autoritária, vai atrás do que quer e faz o que quiser, não importando as consequências. Mas é na relação sexual que ela se mostra vulnerável, delicada e solitária. O desejo, a libido e a sensualidade são explorados efusivamente, com aquele jeitinho que só um trés francês consegue fazer. Não acredito que valha a pena falar dos outros personagens, pois o diretor deixa claro que o espectador precisa conhecer um por um, através dos diálogos rápidos e espontâneos entre cada cena.
Devo confessar que deixei algo importante para falar agora: este longa contêm várias cenas de nudez, sexo (do tipo mais erótico possível até uma mais selvagem) e até conta com pouquinho de ação e cenas non-sense. Por isso, talvez seja mais prudente não assistir com certas pessoas se quiser evitar “vergonha alheia”.
Directed by | Laurent Bouhnik |
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Written by | Laurent Bouhnik |
Starring | Déborah Révy Hélène Zimmer |
Music by | Ernest Saint Laurent |
Cinematography | Dominique Colin |
Edited by | Valérie Pico |
Release date |
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Running time | 103 minutes |
Country | France |
Language | French |
110-CINEMA