.
.
Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
.
A escola Froebel....
Há dias, junto do coreto do Jardim da Estrela, António Homem Cardoso recordou-me que aquele era um cenário que nos lembrava o tempo do Passeio Público. De facto, recordando-nos de Eça de Queiroz, foi no velho Passeio, no enredo de O Primo Basílio, que Jorge conheceu Luísa e foi lá que D. Felicidade esperou pelo conselheiro Acácio, afrontada por flatulências. Aquele belo coreto da Estrela, o maior da capital, nasceu a pensar no fim do Passeio Público e foi da autoria do prolífero arquiteto José Luís Monteiro, que também assinou a Estação do Rossio e a Sala de Portugal da Sociedade de Geografia. O coreto foi inaugurado em 1894 na Avenida da Liberdade (depois de estar dez anos desmontado num armazém), tendo sido, apenas em 1936, transferido para onde está. A história conta-se em duas palavras: na reconstrução de Lisboa depois do terramoto, Sebastião José encarregou em 1764 o arquiteto Reinaldo Manuel de projetar um parque à inglesa, no leito alagadiço da ribeira de Valverde, nos terrenos das Hortas da Cera, da Mancebia e de São José, que ficou concluído entre 1773 e 1777. Depois da vitória liberal em 1834, houve uma renovação do Passeio Público, a construção de uma imponente cascata, a implantação das estátuas decorativas dos rios Tejo e Douro e o rebaixamento dos muros. Mas com o impulso de José Gregório Rosa Araújo, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, e segundo o plano da autoria de Frederico Ressano Garcia, sob um coro de protestos, o Passeio Público foi demolido, dando lugar em 1879 à Avenida da Liberdade, segundo o modelo parisiense.
Se falo do arquiteto José Luís Monteiro, tenho de referir que se lhe deve a Escola Froebel ou "Creche" do Jardim da Estrela, que está a ser totalmente reconstruída, com respeito da traça original de 1882, para instalação da nova Biblioteca do Ambiente. O Jardim-de-Infância da Estrela resultou da aplicação da lei de 2 de maio de 1878, assinada por Rodrigues Sampaio, que determinava a criação de estabelecimentos públicos de educação infantil. José Luciano de Castro em 1880 defendeu, como diversos pedagogos, a adoção do método de Froebel e, no âmbito das comemorações do centenário de Camões, a Câmara Municipal de Lisboa tomou a iniciativa de fundar uma instituição-modelo, que foi implantada no Jardim da Estrela, por ser o que melhor cumpria as recomendações do pedagogo alemão: integração na natureza, janelas amplas para garantir a renovação do ar, entrada de sol, iluminação natural e pátios cobertos onde as crianças poderiam trabalhar e brincar. Finalmente, a 21 de abril de 1882, data exata do centenário do nascimento de Friedrich Froebel (1782-1852), foi inaugurado o estabelecimento educativo (Kindergarten), apesar de ter havido um breve contratempo pelo protesto popular em virtude da destruição de sete árvores e nove vergônteas. A escola começou logo a funcionar com 200 crianças, tendo sido frequentada até 1892 por 3 mil crianças, entre os 2 anos e meio e os 7. Para Froebel, discípulo de Pestalozzi, a criança deveria ser tratada com compreensão e liberdade e o educador deveria ser um guia experimentado e amigo fiel, com mão flexível, mas firme. O alemão foi o primeiro pedagogo a dar importância ao brinquedo, à atividade lúdica e à família nas relações humanas, valorizando o contacto com a natureza, as excursões de estudo e a utilização das histórias, mitos e contos como fatores de criatividade e sentido crítico. A memória da Escola Froebel merece, assim, referência especial. Foi uma experiência pioneira, defendida pelos melhores espíritos do tempo - na compreensão exata de que a aprendizagem desde cedo e ao longo da vida é o melhor modo de formar cidadãos livres e responsáveis.
* Presidente executivo da Fundação Calouste Gulbenkian
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" - 27/07/21
.
.
2705.UNIÃO