Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
01/05/2017
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HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS/
/DA MADEIRA"
/DA MADEIRA"
Erdogan diz que Turquia vai decidir
em referendo sobre adesão à UE
O
Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou hoje que a Turquia vai
decidir em referendo se quer continuar no processo para uma adesão à
União Europeia (UE).
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Num entrevista televisiva, Erdogan acusou a UE de não ser “honesta nem sincera” e de manter a Turquia à espera.
Erdogan já tinha apontado várias vezes a possibilidade de uma consulta popular sobre a adesão e em finais de março afirmou que essa votação só poderia realizar-se após o referendo de 16 de abril, que reforçou os seus poderes.
As negociações para a adesão da Turquia à UE tiveram início em 2005, mas desde então poucos progressos foram feitos.
* Este sacanóide não perca tempo, não o queremos cá.
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Num entrevista televisiva, Erdogan acusou a UE de não ser “honesta nem sincera” e de manter a Turquia à espera.
Erdogan já tinha apontado várias vezes a possibilidade de uma consulta popular sobre a adesão e em finais de março afirmou que essa votação só poderia realizar-se após o referendo de 16 de abril, que reforçou os seus poderes.
As negociações para a adesão da Turquia à UE tiveram início em 2005, mas desde então poucos progressos foram feitos.
* Este sacanóide não perca tempo, não o queremos cá.
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HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
Revelações sobre jantar entre May
e Juncker aquecem Brexit
O jornal alemão Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung revela pormenores do encontro entre a primeira-ministra britânica e o presidente da Comissão Europeia. “Saio de Downing Street dez vezes mais céptico do que antes”, terá dito Juncker a May.
A divulgação de parte da conversa mantida entre Theresa May e
Jean-Claude Juncker por um jornal alemão está aquecer o ambiente antes
ainda do arranque formal das negociações sobre o Brexit. O relato do
jantar de dia 26 de Abril feito pelo Frankfurter Allgemeine
Sonntagszeitung dá conta de um encontro muito tenso. O Governo britânico
contradiz esta versão.
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Segundo o artigo do jornal alemão,
citado na imprensa internacional, Theresa May terá dito que o Reino
Unido não está legalmente obrigado pelos tratados a pagar um cêntimo que
seja pela saída da União Europeia. A Comissão calcula em 60 mil milhões
de euros o valor da "indemnização" a pagar pelo Reino Unido.
A
primeira-ministra britânica terá ainda afirmado que a negociação sobre
os direitos dos cidadãos da União Europeia a residir no Reino Unido
poderá ficar fechada em poucas semanas e que estes terão os mesmos
direitos que qualquer outro cidadão estrangeiro. "Acho que está a
subestimar esta questão Theresa", terá afirmado Juncker. A Comissão
Europeia defende que os cidadãos da UE mantenham direitos especiais após
o Brexit. Vivem no Reino Unido cerca de três milhões de cidadãos dos 27
Estados-membros.
Theresa
May terá ainda pedido para que as negociações e o seu andamento sejam
mantidos em segredo, algo que Juncker terá rejeitado, até porque tem de
prestar contas ao Parlamento Europeu.
No final do jantar, que contou ainda com a participação de Michel Barnier, negociador-chefe da União Europeia, Juncker terá dito a Theresa May: "Saio de Downing Street dez vezes mais céptico do que antes".
Contactado pelo "The Guardian", um porta-voz da UE rejeitou comentar a notícia, salientando que Juncker afirmou no sábado que se tratou de "uma reunião muito construtiva, num ambiente amigável". "Não reconhecemos este relato", afirmou à Bloomberg um porta-voz do governo britânico, que pediu para não ser identificado. "Como a primeira-ministra e Jean-Claude Juncker deixaram claro, foi uma reunião construtiva", acrescentou.
A própria Theresa May classificou estas notícias, numa acção de campanha, como "mexericos de Bruxelas".
"Juncker quer dinheiro, mas também nos quer punir e impedir que outros Estados-membros saiam", afirmou ao Financial Times um membro sénior do Governo britânico. "Disseram-lhe que estávamos inclinados a sair sem um acordo, o que o está a preocupar". O mesmo elemento considerou as revelações sobre o jantar "irresponsáveis", por ser essencial que as conversações ocorram num espírito de confiança. "Esse princípio foi agora violado".
A notícia sobre as tensões durante o encontro surge depois de no sábado o Conselho Europeu ter acordado de forma unânime e em poucos minutos a estratégia de base para as negociações. Os líderes europeus acordaram o princípio de que o Reino Unido ou qualquer outro país "não pode ficar numa situação mais favorável fora da União Europeia do que dentro", afirmou o presidente francês, François Hollande.
A União Europeia quererá ver progressos em algumas áreas-chave, como os direitos dos cidadãos europeus, questões financeiras e a fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte, antes de avançar para negociações mais aprofundadas. O processo terá sempre de contar com a aprovação unânime dos Estados-membros.
A primeira-ministra britânica entregou a carta invocando o artigo 50º. do Tratado de Lisboa a 29 de Março. O arranque formal das negociações do Brexit está previsto para depois das eleições legislativas britânicas, agendadas para 8 de Junho.
* Que rico argumento para folhetim...
No final do jantar, que contou ainda com a participação de Michel Barnier, negociador-chefe da União Europeia, Juncker terá dito a Theresa May: "Saio de Downing Street dez vezes mais céptico do que antes".
Contactado pelo "The Guardian", um porta-voz da UE rejeitou comentar a notícia, salientando que Juncker afirmou no sábado que se tratou de "uma reunião muito construtiva, num ambiente amigável". "Não reconhecemos este relato", afirmou à Bloomberg um porta-voz do governo britânico, que pediu para não ser identificado. "Como a primeira-ministra e Jean-Claude Juncker deixaram claro, foi uma reunião construtiva", acrescentou.
A própria Theresa May classificou estas notícias, numa acção de campanha, como "mexericos de Bruxelas".
"Juncker quer dinheiro, mas também nos quer punir e impedir que outros Estados-membros saiam", afirmou ao Financial Times um membro sénior do Governo britânico. "Disseram-lhe que estávamos inclinados a sair sem um acordo, o que o está a preocupar". O mesmo elemento considerou as revelações sobre o jantar "irresponsáveis", por ser essencial que as conversações ocorram num espírito de confiança. "Esse princípio foi agora violado".
A notícia sobre as tensões durante o encontro surge depois de no sábado o Conselho Europeu ter acordado de forma unânime e em poucos minutos a estratégia de base para as negociações. Os líderes europeus acordaram o princípio de que o Reino Unido ou qualquer outro país "não pode ficar numa situação mais favorável fora da União Europeia do que dentro", afirmou o presidente francês, François Hollande.
A União Europeia quererá ver progressos em algumas áreas-chave, como os direitos dos cidadãos europeus, questões financeiras e a fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte, antes de avançar para negociações mais aprofundadas. O processo terá sempre de contar com a aprovação unânime dos Estados-membros.
A primeira-ministra britânica entregou a carta invocando o artigo 50º. do Tratado de Lisboa a 29 de Março. O arranque formal das negociações do Brexit está previsto para depois das eleições legislativas britânicas, agendadas para 8 de Junho.
* Que rico argumento para folhetim...
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FILIPE LUÍS
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IN "VISÃO"
28/04/17
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Marcelo: uma selfie com as claques?
Onde se fala de como o vídeo árbitro pode contribuir muito pouco para prevenir a violência no futebol e se sugerem regras para a sua aplicação futura
1. Combater a conflitualidade na
sociedade portuguesa foi, na campanha eleitoral, e tem sido, no terreno,
uma das prioridades do Presidente da República. A principal ferramenta
do Chefe de Estado, para atingir esse desiderato, é a da "proximidade",
conforme voltou a vincar, numa importante entrevista à Antena 1, esta
semana. Confrontado com as críticas de que aparece em demasiados sítios e
intervém demasiadas vezes sobre demasiados assuntos, Marcelo Rebelo de
Sousa defendeu-se com um argumento irrebatível: "Eu sou mesmo assim".
Pois bem: o Presidente da República é de um silêncio ensurdecedor, relativamente ao clima de guerra que existe numa importante atividade em Portugal e naquela que mais emoções e alarme social é suscetível de produzir: o futebol. Marcelo nunca teve uma palavra de alerta, apaziguamento ou pedagogia sobre a violência em torno do futebol, nunca apareceu no meio de uma claque a tirar selfies, nunca procurou aproximar fações desavindas, nem visitou a família do adepto italiano morto junto do Estádio da Luz. Nem ele, nem qualquer governante. O fenómeno tem passado completamente ao lado do poder político e das instituições do Estado. Nem Governo, através da tutela do Desporto ou da Administração Interna, nem Presidente, nem Assembleia da República, nem geringonça, nem oposição. Já houve uma morte. De quantas mais estão à espera?
O poder político não pode demitir-se. Compreende-se que evite intervir no futebol, temendo que seja, como é, um ninho de vespas. Em vez disso, políticos de vários quadrantes aparecem em tribunas de honra ao lado de presidentes de clubes, caucionando a sua atuação de principais responsáveis por esta selva. Será que o tema é aflorado naqueles camarotes presidenciais? Já moveram uma palha para sentar à mesma mesa dirigentes desportivos, chefes de claques ou líderes da opinião pública desportiva que todos os dias incendeiam o ambiente, mais um bocadinho, em comentários televisivos?
2. Uma das soluções que muitos reclamam para acalmar os ânimos, tornar mais transparentes as arbitragens e pacificar o futebol é a introdução do vídeo árbitro. O vídeo árbitro tende a ser, para o adepto comum, o tira-teimas milagroso que esclarecerá todas as dúvidas, originando decisões de arbitragem que todos aceitarão. Ora, temo que não seja nada assim. E alguém devia esclarecer as pessoas de que há muito poucos lances que o vídeo árbitro possa esclarecer, pelo menos, de forma a pôr toda a gente de acordo. E que a intervenção deste recurso tecnológico só é passível de ser aplicada numa margem muito reduzida de lances, continuando os mais polémicos a ficar de fora. De outra forma, o uso indiscriminado do vídeo árbitro, não só não resolveria os problemas de arbitragem, como poderia, mesmo, agravá-los.
O vídeo árbitro está na moda, nomeadamente, depois de se começar a ouvir uma nova expressão de futebolês: os «penaltis de televisão». Eu sei que é sedutora, para o adepto comum, a implantação do vídeo árbitro. Mas defendê-la incondicionalmente revela uma enorme dose de populismo. Dou apenas dois exemplos de situações em que a) o vídeo árbitro não vai resolver e b) em que, se fosse aplicado, agravaria a situação. Como as coisas estão, no primeiro "protocolo" de aplicação previsto, só os lances sem qualquer dúvida serão analisados. Os lances duvidosos, os tais que suscitam discussão, continuam como estão.
a) O vídeo árbitro será usado em situações de fora de jogo? Mas quais? Para validar um golo mal anulado? Sim, seria possível. Mas, ainda assim, como demonstrar que a equipa que defende, ou todos os seus jogadores envolvidos na jogada, não desistiram do lance quando ouviram o apito do árbitro? E quantos foras de jogo são mal assinalados antes de a bola entrar? Não resolve grande coisa. Neste caso, vai servir, isso sim, é para anular golos mal validados. Mas antevejo um problema: com o vídeo árbitro a decidir este tipo de lances, os árbitros tenderão a ignorar os offsides - e, depois, o vídeo que decida. (E atenção, as opiniões, que já ouvi, de que deveria acabar a regra do fora de jogo é de quem não entende o próprio jogo. O futebol só existe e é belo graças a essa regra. O fim do fora de jogo mataria o futebol, torná-lo-ia mais defensivo porque criaria aglomerados de jogadores, alternadamente, junto de cada uma das áreas, em jogo direto, permanecendo o resto do campo completamente inútil. Como acontece com os jogos de pavilhão, como o andebol, o basquete e o próprio futsal - mas aí, o espaço é pequeno...)
b) Mas as discussão entre comentadores, e entre adeptos, centram-se, sobretudo, sobre lances duvidosos, nomeadamente, na grande área. E as pessoas estão convencidas de que o vídeo árbitro pode vir a esclarecê-los. Ora, não pode e não vai. Se assim fosse, como fazer quando, como aconteceu em vários casos recentes e acontece quase sempre, mesmo depois da visualização do lance em câmara lenta, continua a haver duas opiniões? No "tribunal" do jornal O Jogo, por exemplo, é frequente a doutrina dividir-se sobre "se foi falta ou não foi falta". Ora, uma decisão do árbitro, em campo, teria de optar por um dos caminhos. E a análise a partir das imagens retirar-lhe-ia a atenuante de ter decidido a quente, sem as ter visto. Quando decidisse a frio, sobre um lance suscetível de dupla interpretação (a falta teve intensidade, não teve, chegou a tocar, não chegou, era o suficiente para cair, não era, teve intenção de jogar a bola com a mão, não teve, etc., etc.), o vídeo árbitro não anularia a discussão e, tendo o árbitro visto as imagens, cairia sobre os seus ombros uma responsabilidade insuportável - e redobrariam os processos de intenção. Seria muito mais perigoso ser árbitro e, sendo-o, sair do estádio vivo... É por isso que o vídeo árbitro não vai servir para o que os adeptos pensam que vai: ou seja, saber se é penálti ou não é. Por exemplo, nos lances deste ano, nos clássicos entre Benfica e Sporting, o vídeo árbitro nunca seria utilizado nos dois lances de alegada grande penalidade, na Luz, contra o Benfica. E nos três lances em Alvalade, contra o Sporting, talvez só no primeiro deles pudesse ser usado e, definitivamente, nunca no terceiro...
Ainda assim, sobram, aqui, outras discussões: quem faz a transmissão televisiva dos jogos, sabendo-se que a suspeição se estende relativamente aos operadores, como por exemplo, nas polémicas em torno da realização dos jogos consoante passem na BTV ou na SporTv? Quantas câmaras haverá em cada estádio de uma mesma competição, para garantir igualdade de tratamento? Por último, que novas discussões se poderão gerar a propósito de nomeações, desta vez, as das pessoas que controlariam, em cada jogo, o vídeo árbitro e o acionariam?...
3. Admitamos, agora, um período experimental com o vídeo árbitro, em protocolo mais alargado. Isto é, imaginemos que, no futuro, as equipas, incluindo a de arbitragem, podem pedir uma interrupção para ver imagens. Isto, com uma tripla intenção: primeira, ajudar os árbitros nas suas decisões. Segunda, atenuar o clima de ódio e suspeição em torno das arbitragens, sobretudo, nos programas televisivos e radiofónicos de comentário desportivo. Terceira, responsabilizar as equipas.
O vídeo árbitro poderia ser consultado a pedido das equipas, tendo elas direito a uma consulta em cada parte (em cada metade do jogo). Cada treinador teria 15 segundos para reclamar e só depois disso o lance poderia ser repetido, caso o jogo tivesse transmissão televisiva (os timings são ajustáveis).
Se tivesse razão, mantinha o direito para um próximo pedido e assim sucessivamente. Se não, gastava o crédito. Assim, só reclamaria quem estivesse muito seguro e atenuavam-se os protestos. Porque é legítimo alegar que, com a certeza da razão do protesto, se tem a hipótese de pedir a verificação da jogada. Se não pediu, não tem a certeza - e então é aceitável, também, o eventual erro do árbitro. A margem de reclamação basear-se-ia, somente, na hipótese de o árbitro se encontrar melhor colocado. Com isto, acabavam-se, também, algumas das discussões dos comentadores que andam a dar cabo do futebol.
Uma tal solução de compromisso permitiria o uso parcimonioso do vídeo árbitro, sem constantes interrupções nem aumento significativo do tempo de jogo.
Poderia também haver a hipótese de o árbitro consultar o vídeo, independentemente do pedido das equipas, quando tivesse dúvidas. Não sei se sim, ou se não, e quantas vezes, mas seria matéria a aperfeiçoar.
Todavia, ainda que inovações como estas viessem a ser adotadas, subsistiria, sempre, o problema dos lances duvidosos ou de dupla interpretação, em que o vídeo árbitro não chega para esclarecer - porque dois pares de olhos humanos, sobretudo se forem de clubes rivais, vêem sempre duas jogadas diferentes, mesmo que repetidas uma e outra vez... Ora, estes lances constituem a esmagadora maioria das razões de queixa das arbitragens.
No fundo, no caso de lances que persistem duvidosos mesmo depois do visionamento das imagens, só uma decisão coletiva, de vários árbitros, podia acabar com todas as dúvidas. Ou um computador, no lugar deles. Mas isso, julgo, só será possível... em teoria.
Ou seja, sem critério, o vídeo-árbitro podia tornar-se uma caixa de Pandora suscetível de incendiar ainda mais o futebol. Utilizado nos moldes corretos, corrige lances importantes, mas raros - estou a lembrar-me do golo com a mão do Thierry Henry, que apurou a França para um mundial... -, mas não serve para apaziguar o essencial da guerra em torno das arbitragens. E os adeptos, sobretudo aqueles que mais se queixam, deviam saber isto antes de pedir o vídeo árbitro por tudo e por nada.
Pois bem: o Presidente da República é de um silêncio ensurdecedor, relativamente ao clima de guerra que existe numa importante atividade em Portugal e naquela que mais emoções e alarme social é suscetível de produzir: o futebol. Marcelo nunca teve uma palavra de alerta, apaziguamento ou pedagogia sobre a violência em torno do futebol, nunca apareceu no meio de uma claque a tirar selfies, nunca procurou aproximar fações desavindas, nem visitou a família do adepto italiano morto junto do Estádio da Luz. Nem ele, nem qualquer governante. O fenómeno tem passado completamente ao lado do poder político e das instituições do Estado. Nem Governo, através da tutela do Desporto ou da Administração Interna, nem Presidente, nem Assembleia da República, nem geringonça, nem oposição. Já houve uma morte. De quantas mais estão à espera?
O poder político não pode demitir-se. Compreende-se que evite intervir no futebol, temendo que seja, como é, um ninho de vespas. Em vez disso, políticos de vários quadrantes aparecem em tribunas de honra ao lado de presidentes de clubes, caucionando a sua atuação de principais responsáveis por esta selva. Será que o tema é aflorado naqueles camarotes presidenciais? Já moveram uma palha para sentar à mesma mesa dirigentes desportivos, chefes de claques ou líderes da opinião pública desportiva que todos os dias incendeiam o ambiente, mais um bocadinho, em comentários televisivos?
2. Uma das soluções que muitos reclamam para acalmar os ânimos, tornar mais transparentes as arbitragens e pacificar o futebol é a introdução do vídeo árbitro. O vídeo árbitro tende a ser, para o adepto comum, o tira-teimas milagroso que esclarecerá todas as dúvidas, originando decisões de arbitragem que todos aceitarão. Ora, temo que não seja nada assim. E alguém devia esclarecer as pessoas de que há muito poucos lances que o vídeo árbitro possa esclarecer, pelo menos, de forma a pôr toda a gente de acordo. E que a intervenção deste recurso tecnológico só é passível de ser aplicada numa margem muito reduzida de lances, continuando os mais polémicos a ficar de fora. De outra forma, o uso indiscriminado do vídeo árbitro, não só não resolveria os problemas de arbitragem, como poderia, mesmo, agravá-los.
O vídeo árbitro está na moda, nomeadamente, depois de se começar a ouvir uma nova expressão de futebolês: os «penaltis de televisão». Eu sei que é sedutora, para o adepto comum, a implantação do vídeo árbitro. Mas defendê-la incondicionalmente revela uma enorme dose de populismo. Dou apenas dois exemplos de situações em que a) o vídeo árbitro não vai resolver e b) em que, se fosse aplicado, agravaria a situação. Como as coisas estão, no primeiro "protocolo" de aplicação previsto, só os lances sem qualquer dúvida serão analisados. Os lances duvidosos, os tais que suscitam discussão, continuam como estão.
a) O vídeo árbitro será usado em situações de fora de jogo? Mas quais? Para validar um golo mal anulado? Sim, seria possível. Mas, ainda assim, como demonstrar que a equipa que defende, ou todos os seus jogadores envolvidos na jogada, não desistiram do lance quando ouviram o apito do árbitro? E quantos foras de jogo são mal assinalados antes de a bola entrar? Não resolve grande coisa. Neste caso, vai servir, isso sim, é para anular golos mal validados. Mas antevejo um problema: com o vídeo árbitro a decidir este tipo de lances, os árbitros tenderão a ignorar os offsides - e, depois, o vídeo que decida. (E atenção, as opiniões, que já ouvi, de que deveria acabar a regra do fora de jogo é de quem não entende o próprio jogo. O futebol só existe e é belo graças a essa regra. O fim do fora de jogo mataria o futebol, torná-lo-ia mais defensivo porque criaria aglomerados de jogadores, alternadamente, junto de cada uma das áreas, em jogo direto, permanecendo o resto do campo completamente inútil. Como acontece com os jogos de pavilhão, como o andebol, o basquete e o próprio futsal - mas aí, o espaço é pequeno...)
b) Mas as discussão entre comentadores, e entre adeptos, centram-se, sobretudo, sobre lances duvidosos, nomeadamente, na grande área. E as pessoas estão convencidas de que o vídeo árbitro pode vir a esclarecê-los. Ora, não pode e não vai. Se assim fosse, como fazer quando, como aconteceu em vários casos recentes e acontece quase sempre, mesmo depois da visualização do lance em câmara lenta, continua a haver duas opiniões? No "tribunal" do jornal O Jogo, por exemplo, é frequente a doutrina dividir-se sobre "se foi falta ou não foi falta". Ora, uma decisão do árbitro, em campo, teria de optar por um dos caminhos. E a análise a partir das imagens retirar-lhe-ia a atenuante de ter decidido a quente, sem as ter visto. Quando decidisse a frio, sobre um lance suscetível de dupla interpretação (a falta teve intensidade, não teve, chegou a tocar, não chegou, era o suficiente para cair, não era, teve intenção de jogar a bola com a mão, não teve, etc., etc.), o vídeo árbitro não anularia a discussão e, tendo o árbitro visto as imagens, cairia sobre os seus ombros uma responsabilidade insuportável - e redobrariam os processos de intenção. Seria muito mais perigoso ser árbitro e, sendo-o, sair do estádio vivo... É por isso que o vídeo árbitro não vai servir para o que os adeptos pensam que vai: ou seja, saber se é penálti ou não é. Por exemplo, nos lances deste ano, nos clássicos entre Benfica e Sporting, o vídeo árbitro nunca seria utilizado nos dois lances de alegada grande penalidade, na Luz, contra o Benfica. E nos três lances em Alvalade, contra o Sporting, talvez só no primeiro deles pudesse ser usado e, definitivamente, nunca no terceiro...
Ainda assim, sobram, aqui, outras discussões: quem faz a transmissão televisiva dos jogos, sabendo-se que a suspeição se estende relativamente aos operadores, como por exemplo, nas polémicas em torno da realização dos jogos consoante passem na BTV ou na SporTv? Quantas câmaras haverá em cada estádio de uma mesma competição, para garantir igualdade de tratamento? Por último, que novas discussões se poderão gerar a propósito de nomeações, desta vez, as das pessoas que controlariam, em cada jogo, o vídeo árbitro e o acionariam?...
3. Admitamos, agora, um período experimental com o vídeo árbitro, em protocolo mais alargado. Isto é, imaginemos que, no futuro, as equipas, incluindo a de arbitragem, podem pedir uma interrupção para ver imagens. Isto, com uma tripla intenção: primeira, ajudar os árbitros nas suas decisões. Segunda, atenuar o clima de ódio e suspeição em torno das arbitragens, sobretudo, nos programas televisivos e radiofónicos de comentário desportivo. Terceira, responsabilizar as equipas.
O vídeo árbitro poderia ser consultado a pedido das equipas, tendo elas direito a uma consulta em cada parte (em cada metade do jogo). Cada treinador teria 15 segundos para reclamar e só depois disso o lance poderia ser repetido, caso o jogo tivesse transmissão televisiva (os timings são ajustáveis).
Se tivesse razão, mantinha o direito para um próximo pedido e assim sucessivamente. Se não, gastava o crédito. Assim, só reclamaria quem estivesse muito seguro e atenuavam-se os protestos. Porque é legítimo alegar que, com a certeza da razão do protesto, se tem a hipótese de pedir a verificação da jogada. Se não pediu, não tem a certeza - e então é aceitável, também, o eventual erro do árbitro. A margem de reclamação basear-se-ia, somente, na hipótese de o árbitro se encontrar melhor colocado. Com isto, acabavam-se, também, algumas das discussões dos comentadores que andam a dar cabo do futebol.
Uma tal solução de compromisso permitiria o uso parcimonioso do vídeo árbitro, sem constantes interrupções nem aumento significativo do tempo de jogo.
Poderia também haver a hipótese de o árbitro consultar o vídeo, independentemente do pedido das equipas, quando tivesse dúvidas. Não sei se sim, ou se não, e quantas vezes, mas seria matéria a aperfeiçoar.
Todavia, ainda que inovações como estas viessem a ser adotadas, subsistiria, sempre, o problema dos lances duvidosos ou de dupla interpretação, em que o vídeo árbitro não chega para esclarecer - porque dois pares de olhos humanos, sobretudo se forem de clubes rivais, vêem sempre duas jogadas diferentes, mesmo que repetidas uma e outra vez... Ora, estes lances constituem a esmagadora maioria das razões de queixa das arbitragens.
No fundo, no caso de lances que persistem duvidosos mesmo depois do visionamento das imagens, só uma decisão coletiva, de vários árbitros, podia acabar com todas as dúvidas. Ou um computador, no lugar deles. Mas isso, julgo, só será possível... em teoria.
Ou seja, sem critério, o vídeo-árbitro podia tornar-se uma caixa de Pandora suscetível de incendiar ainda mais o futebol. Utilizado nos moldes corretos, corrige lances importantes, mas raros - estou a lembrar-me do golo com a mão do Thierry Henry, que apurou a França para um mundial... -, mas não serve para apaziguar o essencial da guerra em torno das arbitragens. E os adeptos, sobretudo aqueles que mais se queixam, deviam saber isto antes de pedir o vídeo árbitro por tudo e por nada.
IN "VISÃO"
28/04/17
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Longe vão já os tempos em que ser
sindicalizado era obrigatório para a maioria dos trabalhadores, mas
ainda há quem tenha esses anos bem marcados na memória. Apesar de ter
deixado a direção da CGTP por iniciativa própria há mais de dez anos,
Américo Nunes continua a saber de cor e salteado como funcionavam as
coisas antes e depois do 25 de Abril, assim como se lembra bem das
várias formas de comemorar o Dia do Trabalhador nas últimas décadas. .
“Os sindicatos, antes do 25 de Abril, ao abrigo da lei, eram
organismos corporativos. Os trabalhadores tinham de estar lá, mas tinha
de se fazer a recusa das greves ou de qualquer forma de luta”, começa
por recordar. “Os sindicatos eram impostos porque o Estado tinha o
objetivo de conter os trabalhadores de forma que não fossem feitas
reivindicações”, explica, para melhor dar a ideia de que havia sempre
pessoas afetas ao regime nestes sindicatos, que mais funcionavam como
“repartições governativas”. “Nos anos 40, estar no sindicato passou a
ser obrigatório. Mas havia os sócios efetivos e os que eram apenas
sócios contribuintes”, explica.
“Havia sindicatos em todo o lado. Havia um sindicato por distrito, por profissão, desde que houvesse mais de 200 trabalhadores”, sublinha Américo Nunes, acrescentando que “não havia, no entanto, sindicatos na função pública, nem na agricultura ou na pesca. No caso destas duas últimas, o que existia era a Casa do Povo e a Casa das Pescas.”
Uma análise social da época, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, mostra o que os trabalhadores achavam dos sindicatos e como olhavam para eles. “A falta de confiança dos trabalhadores nos respetivos sindicatos permite, por vezes, que os seus interesses e as suas pretensões se exprimam indisciplinadamente, ladeando o sindicato e apresentando-se na forma de grupos solidarizados por necessidades comuns e facilmente conduzíveis para as atividades de reivindicação em termos que podem ser consentidos”, pode ler-se no trabalho “As Lutas Sociais nas Empresas e a Revolução do 25 de Abril”.
A memória de Américo Nunes vai exatamente nesse sentido: “Com mais ou menos êxito, e apesar da repressão, continuaram sempre a existir formas de luta. Havia 400 sindicatos corporativos. Desses, cerca de 30, até 1974, foram conquistados por homens da oposição mesmo no quadro da lei fascista.”
A coragem de celebrar o 1 de Maio Uma das coisas que
muitos lembram é a dificuldade em celebrar o Dia do Trabalhador, mas
também há quem se lembre de ideias originais de quem achava que a
celebração merecia todos os esforços. Já reformado, um ex-operário
recorda ainda hoje a coragem de quem, na serra da Estrela, não deixava
que o dia passasse em branco. A história acabou por passar de geração em
geração, de boca em boca. Acabou por chegar aos ouvidos de Américo
Nunes, que a conta com orgulho: “A zona da Covilhã era muito
industrializada, havia até um batalhão da GNR naquela zona. Para
conseguirem assinalar o dia, juntavam foguetes ao longo do ano para
atirarem às 7h00 do dia 1 de maio. Quando chegava a GNR, já todos
estavam com as suas marmitas a caminho das fábricas. Não tinha sido
ninguém.” Noutras zonas do país, muitos tentaram durante anos juntar-se
para comemorar o dia, mas acabavam sempre por ter de fugir da polícia.
O boom sindicalNos dias que seguiram ao 25 de
Abril, as direções que estavam nos sindicatos foram demitidas e
começaram a ser feitas reuniões com os trabalhadores. Onde não havia,
fizeram-se sindicatos novos: “Os sindicatos ganharam uma pujança muito
grande. Nunca mais se conseguiram os números alcançados imediatamente a
seguir ao 25 de Abril. Havia um milhão e meio de pessoas
sindicalizadas.”
No entanto, o número de sindicalizados tem mudado muito ao longo dos anos. De acordo com Américo Nunes, “nos anos 80, muitas pessoas começaram a sair dos sindicatos. Depois, de 90 a 2000, houve um aumento, mas nunca perto do que se viveu depois da Revolução”.
E a verdade é que os dados mais recentes não enganam. Num trabalho de 2012, Pedro Portugal, perito do Banco de Portugal, sublinhava que, no setor privado, a percentagem de pessoas sindicalizadas não chegava aos 9%. A taxa de sindicalização era de apenas 10,4% em 2010, um dos valores mais baixos da Europa. De acordo com o economista, a taxa somava o conjunto de duas esferas: nas empresas privadas, apenas 8,8% dos trabalhadores por conta de outrem eram sindicalizados; no setor empresarial público, a taxa subia para 49,8%.
Muitos estudos apontam exatamente para esta erosão sindical. No artigo “O futuro do sindicalismo na representação sociopolítica”, de 2015, percebia-se que, em 34 anos, a taxa de sindicalização em Portugal tinha descido 41,5% - ou seja, caiu de 60% para 19%.
Os números de sindicalizados estão longe de ser o que já foram, ainda que a relação entre os momentos de crise de um país e o número de pessoas sindicalizadas possa não ser o que a maioria pensa, mas exatamente o contrário: “Quando há uma crise, o medo faz com que o número de pessoas sindicalizadas diminua.”
* Era assim há apenas 43 anos.
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HOJE NO
"i"
Trabalhadores.
Como a ditadura usava
os sindicatos para controlar
Tempos houve em que ser sindicalizado era
obrigatório e uma forma de controlar os trabalhadores. Os mesmos tempos,
antes do 25 de Abril, em que tentar comemorar o Dia do Trabalhador
implicava coragem
“Havia sindicatos em todo o lado. Havia um sindicato por distrito, por profissão, desde que houvesse mais de 200 trabalhadores”, sublinha Américo Nunes, acrescentando que “não havia, no entanto, sindicatos na função pública, nem na agricultura ou na pesca. No caso destas duas últimas, o que existia era a Casa do Povo e a Casa das Pescas.”
Uma análise social da época, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, mostra o que os trabalhadores achavam dos sindicatos e como olhavam para eles. “A falta de confiança dos trabalhadores nos respetivos sindicatos permite, por vezes, que os seus interesses e as suas pretensões se exprimam indisciplinadamente, ladeando o sindicato e apresentando-se na forma de grupos solidarizados por necessidades comuns e facilmente conduzíveis para as atividades de reivindicação em termos que podem ser consentidos”, pode ler-se no trabalho “As Lutas Sociais nas Empresas e a Revolução do 25 de Abril”.
A memória de Américo Nunes vai exatamente nesse sentido: “Com mais ou menos êxito, e apesar da repressão, continuaram sempre a existir formas de luta. Havia 400 sindicatos corporativos. Desses, cerca de 30, até 1974, foram conquistados por homens da oposição mesmo no quadro da lei fascista.”
O boom sindical
No entanto, o número de sindicalizados tem mudado muito ao longo dos anos. De acordo com Américo Nunes, “nos anos 80, muitas pessoas começaram a sair dos sindicatos. Depois, de 90 a 2000, houve um aumento, mas nunca perto do que se viveu depois da Revolução”.
E a verdade é que os dados mais recentes não enganam. Num trabalho de 2012, Pedro Portugal, perito do Banco de Portugal, sublinhava que, no setor privado, a percentagem de pessoas sindicalizadas não chegava aos 9%. A taxa de sindicalização era de apenas 10,4% em 2010, um dos valores mais baixos da Europa. De acordo com o economista, a taxa somava o conjunto de duas esferas: nas empresas privadas, apenas 8,8% dos trabalhadores por conta de outrem eram sindicalizados; no setor empresarial público, a taxa subia para 49,8%.
Muitos estudos apontam exatamente para esta erosão sindical. No artigo “O futuro do sindicalismo na representação sociopolítica”, de 2015, percebia-se que, em 34 anos, a taxa de sindicalização em Portugal tinha descido 41,5% - ou seja, caiu de 60% para 19%.
Os números de sindicalizados estão longe de ser o que já foram, ainda que a relação entre os momentos de crise de um país e o número de pessoas sindicalizadas possa não ser o que a maioria pensa, mas exatamente o contrário: “Quando há uma crise, o medo faz com que o número de pessoas sindicalizadas diminua.”
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4-A MAIOR MENTIRA
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4-A MAIOR MENTIRA
DA HUMANIDADE
* Pela sua importância sentimo-nos responsáveis pela edição deste tema do qual somos totalmente "apaniguados" cuja autoria é de PETER JOSEPH.
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2-CONSUMISMO
(COMO SOMOS OTÁRIOS)
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HOJE NO
"A BOLA"
Pedro Sousa sobe 47 lugares
no «ranking» mundial
A vitória no torneio de Francavilla, em Itália,
valeu a Pedro Sousa subida de 47 lugares no «ranking» mundial de ténis,
ocupando agora a 172.ª posição, sua melhor classificação de sempre.
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João
Sousa (36.º) continua a ser o português mais bem classificado, seguido
de Gastão Elias (107.º), ambos subindo também um lugar. João Domingues
também ascendeu ao 242.º lugar, enquanto Frederico Silva é o 426.º.
O britânico Andy Murray permanece na liderança, seguido do sérvio Novak Djokovic. Apesar da vitória no torneio de Barcelona, Rafael Nadal mantém-se no 5.º lugar.
O britânico Andy Murray permanece na liderança, seguido do sérvio Novak Djokovic. Apesar da vitória no torneio de Barcelona, Rafael Nadal mantém-se no 5.º lugar.
* Bela subida!
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HOJE NO
"AÇORIANO ORIENTAL"
Mais de 1.300 passageiros da SATA
em terra devido a greve e
mau tempo nos Açores
A greve dos tripulantes de cabine da transportadora Azores
Airlines e SATA Air Açores e as condições meteorológicas no arquipélago
já deixaram hoje em terra mais de 1.300 passageiros da companhia aérea
açoriana, disse fonte da empresa.
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Os tripulantes de cabine da Azores Airlines e da SATA Air
Açores - que voa entre as nove ilhas do arquipélago -, iniciaram hoje
uma greve de 48 horas, estando assegurados apenas voos de serviços
mínimos. A paralisação, segundo o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo
da Aviação Civil (SNPVAC), está a registar uma adesão de 100%.
O
porta-voz da companhia, António Portugal, adiantou à agência Lusa que,
além dos voos cancelados devido à greve, as condições meteorológicas
impediram hoje a realização da ligação Horta/Flores/Horta, voo
programado no âmbito dos serviços mínimos decretados em virtude da
greve. Além disso, o voo Lisboa/Pico, da Azores Airlines, que seria
realizado no âmbito dos serviços mínimos, regressou à capital devido às
condições meteorológicas no arquipélago, indicou ainda António Portugal,
acrescentando que os passageiros daqueles voos cancelados devido ao mau
tempo serão reencaminhados na terça-feira. Segundo o porta-voz da SATA,
até ao momento já foram afetados cerca de 750 passageiros da SATA Air
Açores e cerca de 580 da Azores Airlines.
O incumprimento de vários
pontos do clausulado do acordo de empresa, assim como de alguns
protocolos assinados, são os motivos apontados para a greve pelo
sindicato, depois deste se ter reunido, na quinta-feira, com a
administração, mas sem chegar a um acordo. No pré-aviso de greve, o
SNPVAC diz que, no seu entendimento, o conceito de necessidades
impreteríveis apenas se confina às regiões autónomas dos Açores e da
Madeira “por razões de coesão nacional e isolamento das populações para
quem é essencial este meio de transporte”, não se estendendo por isso a
voos para o estrangeiro.
O sindicato sublinhou que estão asseguradas as
ligações entre Ponta Delgada e a Terceira e o continente através de
outras operadoras, designadamente a TAP, a EasyJet e a Ryanair. Bruno
Fialho, do SNPVAC, adiantou à agência Lusa que a SATA solicitou uma
reunião com o sindicato, que será realizada na terça-feira, pelas 09:30
locais (mais uma hora em Lisboa), na sede da companhia, em Ponta
Delgada, ilha de São Miguel, sublinhando que a estrutura sindical "não
está fechada ao diálogo".
* As greves perturbam mas é o patronato que as promove.
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HOJE NO
"CORREIO DA MANHÃ"
"CORREIO DA MANHÃ"
Marcelo condecora Miguel Portas
no dia do seu aniversário
O Presidente da República condecorou esta segunda-feira, postumamente, por proposta do primeiro-ministro, o antigo dirigente do Bloco de Esquerda Miguel Portas com a grã-cruz da Ordem da Liberdade, no dia do seu aniversário, passados cinco anos da sua morte.
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EM 20/10/2010
PARLAMENTO EUROPEU
A informação foi avançada à agência Lusa por fonte da Presidência da República, que disse que Marcelo Rebelo de Sousa "condecorou, sob proposta do primeiro-ministro [António Costa], o doutor Miguel Portas, com a grã-cruz da Ordem da Liberdade".
"Essa condecoração ocorre no dia do seu aniversário, passados cinco anos sobre o falecimento", assinalou a mesma fonte.
* Mais que justo este tributo a um homem sério.
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“Não é possível atingir um hospital por acidente”
A estratégia do “segundo ataque”
As crianças que morrem na fronteira
Voltar a casa com vontade de partir
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HOJE NO
"OBSERVADOR"
"OBSERVADOR"
Síria.
Como duas ‘médicas sem fronteiras’ viveram o cerco a Alepo
Lideraram equipas de socorro debaixo de fogo, viram vítimas de ataques químicos, assistiram partos a partir de um telefone. As histórias de duas médicas que viveram o cerco a Alepo, na Síria.
Maria Luz Ruiz já perdeu a conta aos partos que assistiu nas
condições mais arriscadas. Líbano, Afeganistão, Iraque… “Foram tantos,
tantos”, recorda a enfermeira e parteira chilena, com o olhar curioso de
quem os tenta somar, mas sem conseguir chegar a um número certo. Na
Síria, contudo, tem sido diferente: quase que os podia contar pelo
número de mensagens que recebeu com fotografias das crianças que ajudou a
nascer, mesmo sem nunca lhes ter tocado. Há uma explicação para isso:
Maria Luz faz parte de uma missão dos Médicos sem Fronteiras que deixou
de ter autorização do governo sírio para entrar no país.
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Maria Luz Ruiz numa das missões dos Médicos sem Fronteiras, no Líbano, depois de assistir um parto bem sucedido. |
Para não
abandonar as equipas de socorro que se mantêm nas principais cidades e
províncias da Síria, como Alepo ou Idlib, procuram locais seguros junto à
fronteira com a Turquia e é a partir daí que têm prestado assistência
médica às restantes equipas médicas que se mantêm no terreno. “Trabalhamos
em controlo remoto, por telefone, chat, Skype… E é assim que tenho
ajudado imensas crianças a nascer. Depois tiram fotos dos recém-nascidos
com as mães e mandam-me pelo WhatsApp”, explica Maria Luz. “Nunca
conheci pessoalmente as crianças que ajudei a nascer.”
Montse
Pubill sabe bem o que é esta angústia de prestar auxílio médico à
distância — muitas vezes, à distância de 15 ou 20 minutos de carro. A
médica catalã também já conhece bem a rotina de acordar e adormecer ao
som de bombardeamentos, do corrupio dos pedidos de socorro que se
seguem, do burburinho das sirenes, dos escombros que se amontoam quando
explode um carro ou caem bombas sobre a cidade. Só não se habitua ao
silêncio que tantas vezes se instala do outro lado do telefone quando há
um ataque. Uma noite, recorda, foi especialmente dramática. Montse
coordenava as operações das equipas de emergência médica durante o
último cerco a Alepo a partir da cidade turca de Gaziantep, a poucos
quilómetros da fronteira com a Síria. Agarrada ao telemóvel, trocava
mensagens com o diretor de um dos maiores hospitais da cidade através de
WhatsApp quando, subitamente, ele dá o alarme. “Agora! Estamos a ser
bombardeados!”. Montse seguia pelo telefone todos os movimentos do sírio
no terreno e sabia que se refugiara numa cave com pacientes e os
restantes elementos da equipa médica, enquanto uma tempestade de bombas
trovejava sobre as suas cabeças. A certa altura, ficou sem notícias. Nem
uma mensagem, um som. Nada. Seguiram-se momentos de aflição, sem saber
se tinham sobrevivido ao ataque. “Mais tarde, ele enviou-me o
vídeo e pudemos ver o que acontecera”, recorda a médica: tinham
resistido, mas um dos mais importantes hospitais da cidade estava
praticamente arrasado.
Montse Pubill, 44 anos, e Maria Luz Ruiz, 45 anos, fazem parte da
organização humanitária Médicos sem Fronteiras e integraram a missão na
Síria durante o último cerco à cidade de Alepo, entre julho e dezembro
do ano passado. “Foi um período muito difícil, com uma série de
bombardeamentos em toda a área, atingindo instalações médicas”, conta
Montse. “Todos os hospitais foram bombardeados” e, dos oito grandes que
estavam ao seu cuidado na missão, “apenas um se manteve, mais ou menos
funcional… todos os outros foram destruídos”.
De passagem por Lisboa —
para participarem num encontro de preparação das Conferências do
Estoril, que se realizam no final de Maio, dedicadas às Migrações
Globais (ver caixa no final do artigo) — Montse Pubill e Maria Luz
trouxeram os testemunhos de quem esteve num cenário de guerra e também
algumas denúncias que, de outra forma, dificilmente saltariam a
fronteira síria. As duas profissionais testemunharam bombardeamentos,
pedidos de socorro desesperados, vítimas de ataques químicos, crianças
queimadas pelo fogo das explosões. Viram muitas morrer antes de
conseguirem sequer à porta de um hospital. “Estas pessoas têm voz, mas
ninguém as escuta”, lamenta Montse Pubill. “Então nós falamos por elas.
Queremos contar o que se passa.”
“Não é possível atingir um hospital por acidente”
O conflito sírio, que começou em 2011, já provocou as maiores vagas de refugiados de que há registo desde a Segunda Guerra Mundial. Estima-se que perto de 4,8 milhões pessoas tenham deixado a Síria nos últimos anos e que mais de 6,5 milhões tenham sido obrigadas a deslocar-se dentro do próprio país para fugir a tropas governamentais, forças da oposição e grupos rebeldes que lutam entre si pelo controlo territorial do país.
Com a degradação das condições de segurança, a organização dos Médicos sem Fronteiras mudou a sua forma de atuar no terreno. E, após
o rapto de uma equipa de médicos em 2014 por elementos do Estado
Islâmico, entretanto libertada, a organização decidiu retirar a maior
parte das equipas do país, recolocando-as em zonas fora do controlo do
grupo terrorista e em áreas junto da fronteira — muitas das equipas de
expatriados tiveram mesmo de ser resgatadas. Desde então, os
Médicos sem Fronteiras deixaram de ter autorização do governo sírio para
entrar no país e circular em segurança. Alepo, além de ser a principal
cidade no norte da Síria, tornou-se também um dos principais campos de
batalha na guerra entre as forças leais ao presidente Bashar al-Assad e
grupos rebeldes que querem derrubá-lo. E os cerca de seis meses que
durou o cerco à cidade, no final de 2016, foram especialmente difíceis
para as equipas de emergência médica.
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Para Montse Pubill (que já
estivera na Síria entre outubro de 2014 e março de 2015), a sua segunda
missão no país coincidiu com o cerco a Alepo. Mas, desta vez, foi muito
diferente, a começar pelo facto de ter de trabalhar em controlo remoto. A
partir de uma base na Turquia, perto da fronteira, habituou-se a
comunicar com as equipas no terreno via telefone ou computador. Um dia
normal arranca pelas seis da manhã, nunca largam o telefone. “Começamos o
dia com uma reunião, através de Skype, depois durante o dia temos
muitas comunicações através de Skype, WhatsApp, telefone…”, explica a
coordenadora das equipas de emergência médica. Às vezes, fazem reuniões
rápidas, aproveitam as pausas para comerem todos juntos, respondem a
emails, preparam a entrega de donativos de remédios e mantimentos. Num
dia bom, conseguem ir descansar pelas nove horas da noite e ainda
reservam um intervalo nas tarde de domingo para falar com a família.
Depois
há os dias sem horas para começar ou acabar, aqueles em que Montse se
recorda bem de ouvir as bombas a cair em Alepo. “A dormir, ou mesmo
durante o dia, ouvíamos os bombardeamentos ao longe. Só não tínhamos
medo, porque ouvíamos tudo isso muito ao longe”, primeiro em Kilis,
depois em Gaziantep, duas cidades turcas coladas ao norte da Síria. “Mas
sabíamos o que se estava a passar.
A lei internacional não estava a ser
respeitada! Os hospitais estavam a ser bombardeados!”, acusa Montse. E
não são apenas os hospitais, reforça a médica. “Há ataques
indiscriminados sobre hospitais, mercados, escolas, há uma lei
internacional que protege estes locais, que protege os civis, e que não
está a ser respeitada.” Para Maria Luz, “não é possível atingir
um hospital por acidente. Esses locais estão devidamente referenciados,
com coordenadas GPS, não são instalações militares. Mas quantos mais
sírios têm de morrer para o mundo perceber isso?”, questiona.
A estratégia do “segundo ataque”
As imagens chocantes de crianças e adultos em agonia, a morrerem
lentamente de asfixia e espasmos, depois de um ataque químico aéreo em
Khan Sheikhoun, na região de Idlib, correram mundo. Terão morrido, pelo
menos, 67 pessoas, entre as quais, 11 crianças — apesar de algumas
organizações no terreno atirarem as estimativas para mais de 100 mortes.
Montse e Maria Luz sabem que este não foi o primeiro ataque químico no
país e a escolha de Idlib também era previsível. “A informação
que tínhamos é de que Idlib seria mais tranquilo que Alepo, porque
estavam focados no controlo dessa cidade. Mas, assim que acabassem de
destruir Alepo, era de esperar o momento em que os ataques se iriam
virar contra Idlib”, explica Montse Pubill.
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A médica relata
que, durante o período em que esteve na missão Síria, já havia suspeitas
do uso de armas químicas, como o gás sarin. “Não fizemos o teste, por
isso não o podemos dizer oficialmente. Mas os médicos explicavam-me os
sintomas das pessoas que chegavam e da sua condição. E tínhamos 99% de
suspeita de que tinha sido um ataque químico”, garante.
A reação a um ataque químico já faz parte da preparação das
equipas dos Médicos sem Fronteiras. Além de terem sempre equipamentos de
proteção, é habitual, “a cada três ou seis meses, fazer uma simulação
com no terreno para testar como reagir em caso de ataque químico”,
explica Maria Luz Ruiz. “Estão todos muito bem preparados. Os médicos,
as enfermeiras, todos eles sabem o que fazer.” Só não há preparação
possível quando não se consegue chegar às vítimas: de explosões, de
ataques químicos e, também, das minas terrestres, outra das armadilhas
no terreno. Num dos ataques, recorda a enfermeira chilena,
“estava em Kilis. A minha base ficava a 45 minutos de carro do hospital.
Era a distância a que estávamos. Mas nunca fomos autorizados a fazer
esse caminho. O nosso limite era a fronteira entre a Turquia e a Síria,
por isso, da nossa casa até à fronteira eram mais ou menos 20 minutos. E
depois mais ou 10 ou 20 minutos.” Tentaram, mas nunca o conseguiram fazer.
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Resta-lhes
confiar nas equipas que estão no terreno para cumprirem as suas
orientações. Mas nem estes médicos e enfermeiros, mesmo sendo sírios e,
por isso, estando autorizados a trabalhar dentro do país, estão mais
seguros. “Muitos têm de atravessar a fronteira todos os dias e os que
ficam colocam em risco a sua vida e a das famílias”, alerta Maria Luz.
Montse recorda-se dos muitos profissionais que conheceu nestas
circunstâncias. Lembra-se em especial de um médico que dirigiu um dos
hospitais em Alepo e que viveu na cidade quase até ao fim. “Foi o último
médico a ficar até ao último momento. Vivia na cidade com a mulher e um
bebé. Contava-me que dormiam, ele e o stafe, três ou quatro horas por
dia. Faziam uma escala para descansar durante o cerco, tentavam
organizar os recursos da melhor forma possível, tentando resistir aos
bombardeamentos constantes. Aconteciam dois ou três num mês, às vezes,
dois na mesma semana”, recorda. “Então iam para as caves, onde
trabalhavam, muitas vezes a gerador, porque ficavam sem eletricidade, e
continuavam a trabalhar, mesmo com as bombas a cair. Os bancos de
sangue, o pessoal das ambulâncias, faziam o melhor que podiam nestas
circunstâncias em Alepo.”
Para agravar a situação, denuncia Montse Pubill, era frequente a
estratégia do duplo ataque durante um bombardeamento. “Havia um ataque,
cinco ou dez minutos depois chegavam as ambulâncias e as equipas de
socorro, para resgatar as pessoas que estiveram sob fogo. E então era
lançado um segundo bombardeamento”, descreve. “Sabe-se que, havendo
pessoas feridas, haverá equipas de socorro no local. E muitas vezes,
neste segundo ataque, fazem-se mais vítimas. E algumas delas podem até
ser os motoristas das ambulâncias que foram só prestar assistência.”
As crianças que morrem na fronteira
O interesse de Maria Luz Ruiz pelas missões dos Médicos sem
Fronteiras nasceu por causa de uma série de fotografias de África que um
dia viu penduradas na parede de um escritório em Santiago do Chile. A
enfermeira, e também psicóloga, já trabalhava há alguns anos e era na
altura responsável pelo programa de prevenção do HIV. Um dia, enquanto
esperava pela reunião com um alto representante do ministério da Saúde,
deu de caras com as imagens e não escondeu o fascínio.
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“Perguntei-lhe se
trabalhava com África, ele perguntou-me se eu conhecia os Médicos sem
Fronteiras, eu disse que não e então ele explicou-me”, recorda a
chilena. “Percebi nesse momento que era o amor de que eu estava à
procura há muito tempo.” Trocaram emails, passados uns dias foi
contactada para fazer testes, primeiro de inglês, a seguir outros mais
específicos, por fim enviaram diploma. Pouco tempo depois estava na sua
primeira missão de seis meses, no Darfur. Tinha 31 anos.
Desde
então, já cumpriu oito missões em países tão distintos como Líbano,
Afeganistão, Iraque ou Somália. Na sua função de enfermeira e também de
parteira, descobriu rapidamente que, ao contrário do que acontecia no
Chile, onde também era psicóloga, muitas vezes é a única pessoa que uma
mãe tem ao seu lado no momento em que nasce o seu filho. “Nesses
momentos, somos como ouro. Às vezes somos as únicas pessoas que eles têm
nesses momentos e que mais sabe sobre eles. Há médicos especialistas,
há ginecologistas, mas estão focados noutros problemas. Então a formação
específica que fazemos é mais focada em aprender mais, para sermos mas
independentes quando é preciso agir e tomar decisões.”
Essa realidade foi especialmente crítica na Síria. “Às vezes era
complicado. Confiava nos pediatras, estavam todos muito bem preparados e
qualificados. Mas todos eles viviam na Turquia. Trabalhavam em turnos,
atravessavam a fronteira todos os dias, mas às vezes não os deixavam
passar. Então havia dias em que o meu hospital não tinha um único
pediatra. E isso era caótico”, lembra. O mais dramático, contudo, era
quando as próprias vítimas eram bloqueadas. E mais duro ainda quando se
tratavam de crianças. “Apareciam feridas por causa de minas terrestres,
algumas morriam no hospital em Azaz, pelo estado extremamente grave em
que chegavam. Outras precisavam de entrar na Turquia para chegar ao
nosso hospital e eram bloqueadas. Não as deixavam passar”, conta.
“Algumas morreram na fronteira.”
Não lhe faltam, aliás, memórias
de vítimas a quem o socorro faltou ou ficou incompleto. Maria Luz
recorda uma menina de 11 anos, familiar de uma enfermeira que trabalhara
consigo na Síria, que ficara cega com os estilhaços de um
bombardeamento em Idlib. “Organizámos um enorme movimento para a retirar
do país e poder analisá-la na Turquia, no hospital de Gaziantep.
Decidiram que ela precisava de um transplante de córnea, o que já exigia
um alto nível de especialização para o local. Então pensaram em
transferi-la para Istambul. Mas aí havia outro grande problema… Ela
tinha perdido a mãe e para o pai era impossível ir com ela até Istambul.
Então pensou-se na possibilidade de ir para Damasco, disseram que não. E
o caso terminou aí. A família recusou totalmente a deslocação para
qualquer uma destas cidades que mencionei”, conta.
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Mas também há casos com um final menos trágico, como o da menina que
ficou com queimaduras graves depois de uma explosão, a ponto de não
poder mexer os braços. Valeu-lhe a intervenção dos Médicos sem
Fronteiras que, depois de a levarem para Kilis, a reencaminharam para um
médico na Jordânia que, através de uma cirurgia reconstrutiva, lhe
devolveu os movimentos.
Voltar a casa com vontade de partir
Montse Pubill ainda hoje estranha quando regressa a Espanha e volta a
vestir a bata para retomar o seu trabalho como médica de família no
centro de saúde. Estranha sobretudo o ritmo, bem mais calmo do que o das
15 missões que já cumpriu fora do país. Nasceu em Barcelona, cresceu e
estudou em Valência, mas gosta de dizer que é do “mediterrâneo”. Já na
universidade onde estudou medicina, “admirava os Médicos sem Fronteiras”
e interessou-se pelo trabalho da organização. “Seguia o que
faziam. Era como um sonho. Dois anos depois de terminar a
especialização, achei que valia a pena tentar. Candidatei-me e fiz o
processo de recrutamento e entrei.” Estava a estudar doenças tropicais
quando foi chamada para a primeira missão: quatro meses na Etiópia, para
tratar de uma emergência alimentar. Tinha então 35 anos.
A
preparação é intensa e está sempre a acontecer. Fez treino específico
para lidar com vírus e vários tipos de doença, mas também formação em
gestão. “Quando estamos no terreno, atuamos como médicos. Mas também
temos muitas funções de organização e gestão. Agora também fazemos
treinos online, que podem ser feitos a partir de qualquer sítio. Treinos
de vacinação, de segurança, depende sempre de onde estamos e das nossas
funções”, esclarece a coordenadora da equipa de emergência médica na
Síria.
Pelo meio, há sempre o regresso a casa e à família, ainda que seja
difícil fazer planos para uma relação estável ou ter filhos, dadas as
constantes partidas para missão. “Há quem me pergunte como, depois de
uma missão, posso voltar a um centro de saúde”, explica a médica catalã.
“Mas a verdade é que mudamos as nossas expectativas. Sou uma médica de
família que trabalha com uma população com outro tipo de necessidades.
Tenho doenças crónicas para tratar, mas não tenho uma emergência
alimentar para acudir”, explica. Por outro lado, reconhece, é bom
voltar. “Temos liberdade, podemos movimentar-nos para tantos lados,
podemos comer a nossa paella!”, afirma com uma gargalhada.
Maria
Luz encontra a mesma estranheza no regresso a casa. “Já trabalho com os
Médicos sem Fronteiras há 12 anos e ainda estranho aquela febre
consumista ou quando oiço as pessoas a queixarem-se das coisinhas do dia
a dia.” As rotinas também se ressentem. “Às vezes estou em casa e os
meus amigos ligam-me para sair e são 10 horas da noite. E para mim é
muito tarde, porque normalmente regresso a casa às 8 horas da noite e já
não saio para lado nenhum, é a minha rotina.” descreve. O regresso a
casa, explica, “é para desacelerar e ajustar as rotinas.”
Apesar
do cenário de conflito vivido nas últimas missões, Montse garante que
viveu situações mais críticas noutros países. Uma delas, recorda,
aconteceu há dois anos, em Beirute, na missão em que conheceu Maria Luz
Ruiz. “Foi um incidente crítico em Beirute, relacionado com um conflito
que estava a deflagrar naquele momento, e que obrigou a uma evacuação de
emergência e que se complicou colocando em risco a saída rápida do
local.”
Impedidas de revelar mais pormenores por questões de segurança, Montse e
Maria Luz contam apenas que “foi um momento delicado, mas mesmo muito
delicado, com toda a equipa junta a tentar ter a oportunidade de sair da
capital, o que não foi fácil”. Mas, realçam, “estávamos com uma pessoa
maravilhosa, daquele país, que nos ajudou…”
As equipas são constantemente colocadas à prova nestas situações, daí
que a competência, a união e a confiança sejam as chaves da
sobrevivência em momentos críticos. Montse conta com cerca de cinco
pessoas regulares e várias nacionalidades na sua equipa, desde a Arménia
ao Brasil e Argentina. Também já se cruzou com médicos portugueses, no
Curdistão e no Sudão do Sul. “Todos têm experiências totalmente
diferentes. São altamente profissionais, mas colocam o coração em tudo o
que fazem.” E é também pelo coração tanto Montse Pubill e Maria Luz
Ruiz mal podem esperar para voltar ao terreno e integrar de novo uma
missão na Síria.
* Havendo gente tão boa como os exemplos da notícia, como pode o mundo ser tão mau?
**
Um trabalho excelente de HELENA CRISTINA COELHO
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Um trabalho excelente de HELENA CRISTINA COELHO
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