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NEM COM ALÇA TELESCÓPICA
Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
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Quando o ódio cai
As redes sociais são espaços de partilha, consulta e influência. Usadas a nível global, podem também funcionar como câmaras de eco de conteúdos virais. E se estes conteúdos forem mensagens de ódio? Poderão eles propagar a violência contra uma comunidade, forçando-a a abandonar o seu lar? A Maung Sawyeddollah não restam dúvidas.
Em 2017, Maung e a sua família - que integram a comunidade rohingya - foram obrigados a fugir da limpeza étnica perpetrada pelas forças militares em Myanmar, abandonando o seu país. O Facebook contribuiu para esta situação. Os rohingyas são uma minoria muçulmana que enfrentou décadas de discriminação em Myanmar e que, antes dos ataques de 2017, viram o Facebook tornar-se uma câmara de eco de conteúdos anti-rohingya no país.
A rede social foi usada para a disseminação em massa de conteúdos de ódio e violência contra esta minoria, aumentando a discriminação e risco de agressão generalizada. Apesar dos milhares de avisos à Meta (detentora do Facebook) sobre as consequências que estes conteúdos poderiam trazer aos rohingyas, a empresa ignorou os algoritmos perigosos e privilegiou a incessante procura por lucro, não aplicando as suas políticas em matéria de discurso de ódio. Muitos ativistas reportaram os conteúdos ao Facebook, mas estes começaram a ser altamente consumidos e partilhados, ou seja, altamente lucrativos. Permaneceram ativos.
Em 2017, as forças militares de Myanmar mataram e torturaram milhares de rohingyas, incendiando centenas de aldeias. Maung caminhou 15 dias com a família até ao Bangladesh, onde agora vivem no campo de refugiados de Cox’s Bazar (o maior do Mundo). Como eles, mais de 700 mil rohingyas tiveram de procurar segurança no país vizinho.
A Amnistia Internacional investigou o papel da Meta na limpeza étnica dos rohingyas e concluiu que a empresa é responsável por contribuir para as atrocidades. Neste sentido, Maung tem apelado à Meta por uma indemnização de um milhão de dólares para financiar projetos educativos no Cox’s Bazar. O passado é impossível de apagar mas, para os rohingyas, a educação é a base para a reconstrução das suas vidas. Qualquer pessoa se pode juntar ao apelo de Maung através da “Maratona de Cartas da Amnistia Internacional”.
* Coordenadora editorial da Amnistia Internacional Portugal
IN "JORNAL DE NOTÍCIAS" - 29/01/23.