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HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Ana Leal suspensa pela TVI por divulgar emails trocados com a direção
Jornalista em casa, a receber vencimento mas sem atividade na estação televisiva. Em causa emails divulgados ao conselho de redação
A jornalista Ana Leal foi suspensa pela direção da TVI. Em causa está
a divulgação ao conselho de redação (CR) da TVI de emails particulares
trocados com direção do canal, confirmou ao DN o advogado da jornalista,
Ricardo Sá Fernandes.
"A única razão que foi invocada tem a ver
com essa matéria, o que não quer dizer que não possa haver outras. O que
constava na carta é que havia suspeitas de alguns comportamentos
irregulares, nomeadamente estas mensagens de trabalho", começou por
dizer o advogado.
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"Em defesa de Ana Leal o que tenho a dizer é que
essas mensagens internas foram enviadas aos órgãos próprios, como o CR e
outros órgãos a quem podiam e deviam ser enviadas para serem analisadas
e averiguadas. É perfeitamente legítimo e não creio que haja fundamento
para a suspensão ou para a instauração de qualquer inquérito à Ana
Leal", acrescentou Ricardo Sá Fernandes.
"O que eu vejo é que há
uma tensão decorrente do facto de a TVI e a Ana Leal terem divergido
sobre um conjunto de reportagens que a jornalista tinha feito e que a
TVI não pôs no ar. Em função disso é que há este litígio e que tem
apenas a ver com uma questão: a liberdade de imprensa e a forma como
esta é encarada por uns e por outros", argumentou o advogado.
Ana
Leal encontra em casa, a receber vencimento mas sem qualquer atividade
na estação televisiva. Ricardo Sá Fernandes diz que ainda é cedo para se
falar em resolução do litígio em tribunal e aguarda pelo inquérito por
parte da TVI, não esperando que a vontade da cadeia de televisão seja
avançar para o despedimento.
Fonte oficial da TVI confirmou ao DN a
suspensão e a instauração de um inquérito, mas refere que a estação não
vai comentar um assunto interno.
Jornalistas criticam cancelamento do programa "Ana Leal"
Os jornalistas da TVI que integravam a equipa do programa "Ana Leal"
criticaram a decisão da Direção de Informação de cancelar este segmento
dedicado ao jornalismo de investigação, considerando que a profissão
"não está de quarentena", apesar da pandemia.
De acordo com uma
carta enviada ao Conselho de Redação da TVI, a que a agência Lusa teve
acesso na primeira quinzena deste mês, os jornalistas que faziam parte
da equipa deste programa contestam o seu cancelamento, considerando que o
"jornalismo não está de quarentena".
O segmento "Ana Leal", que
era transmitido quinzenalmente, às terças-feiras, foi suspenso em 10 de
março, na sequência da propagação da pandemia, mas "a equipa continuou a
trabalhar sob as orientações da coordenadora Ana Leal", apenas em
"histórias sobre a temática covid-19" e que seriam transmitidas no
"'Jornal das 8' sempre que estivessem concluídas, mas agora sem dia nem
hora marcados", prossegue o documento.
A carta refere que o
Diretor de Informação, Sérgio Figueiredo, concordou manter "a marca de
água 'Ana Leal' para que os espetadores soubessem que o programa estava
vivo", mas acabou por retirar a "respetiva autorização acordada com a
jornalista Ana Leal, sem nunca explicar porquê".
Segundo o
documento, o diretor de Informação comunicou, em 26 de março, que a
equipa do programa "era dissolvida" e que os jornalistas que a
integravam "regressavam à redação".
A carta acrescenta que nunca foi referido a este grupo "que se
tratava de uma situação transitória para acorrer a necessidades da
redação" e que "a ideia foi transmitida como definitiva".
Os
jornalistas que integravam a equipa deste segmento incluíram na missiva
um excerto de uma conversa na aplicação de mensagens para 'smartphone'
WhatsApp, de 17 de março, com uma mensagem atribuída a Sérgio Figueiredo
e que consideram que demonstra "o que pretendia da informação da TVI".
"Jornalismo
é informar, mas é, sobretudo, ter a noção do papel que desempenha na
sociedade. Por isso, também é filtrar, ter a noção do tempo e do modo
como o nosso trabalho impacta na vida dos outros. Enquanto os incêndios
não se apagam, não é hora de questionar os bombeiros. Não ignoramos as
falhas, mas estar a insistir nelas, estar sobretudo preocupado em
denunciar o que não funciona, assusta as pessoas e afasta-as da antena,
provoca rejeição. As televisões têm agora a preocupação de informar, de
esclarecer, de ser pedagógicos, de perceber que as pessoas precisam
sobretudo tranquilizar-se e confiar", terá dito Sérgio Figueiredo, em
resposta a Ana Leal sobre uma reportagem que seria exibida no dia
seguinte (18 de março).
"Quando ela acabar [a pandemia], quando
ela for vencida, então voltamos a questionar, a denunciar, a pôr em
causa. Como sempre temos feito, como esta equipa tem feito, com o aval e
o comprometimento pessoal deste diretor que vos admira e dá o corpo às
balas para que nenhuma pressão nenhum interesse vos trave", terá
acrescentado o diretor de Informação da TVI.
Por seu turno, a
equipa que integrava este programa considerou, na carta, que "o
jornalismo em tempos de pandemia tem, efetivamente, um papel crucial em
termos pedagógicos, mas não pode, de forma alguma, limitar-se a isso".
Este grupo de jornalistas ressalvou que os cidadãos "têm o direito a
não quererem estar informados" e que, para alguns, poderá ser preferível
"não saber o que está a acontecer" ou até será "um mecanismo de defesa
para sobreviverem" a esta crise da pandemia da doença provocada pelo
novo coronavírus.
"Mas esse é apenas um direito do cidadão, mal
andaríamos se fosse um dever do jornalismo. Ao jornalista exige-se que
informe e que o faça com responsabilidade, ou seja, sem alarmismos
infundados, mas com a verdade. Longe vão os tempos em que a Comunicação
Social estava proibida de noticiar aquilo que deixasse as pessoas
alarmadas", contrapôs este grupo de jornalistas.
Contactada pela
Lusa, fonte oficial da TVI disse que "os dois espaços de informação
dedicados ao jornalismo de investigação estão suspensos até decisão
contrária" e que "não há planos, nem data, para o regresso de qualquer
um deles".
Em relação aos elementos que integravam a equipa do
programa, a mesma fonte explicou que "as pessoas estão todas integradas
no esquema de rotatividade" por causa da pandemia.
Fonte do Conselho de Redação da TVI confirmou à Lusa que tem estado a acompanhar a situação.
Os jornalistas que integraram a equipa do programa "Ana Leal" também já
tinham sido contactados pelo Conselho Deontológico do Sindicato dos
Jornalistas.
* Há anos que a TVI pratica a "democrática ditadura" e não é só a nível redactorial. Quem tem memória lembrar-se-á de Manuela Moura Guedes ou até de Marcelo Rebelo de Sousa que bateu com a porta.
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