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O RESCALDO
Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
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Medo
em tempos de ódio
No recreio dɑ minhɑ escolɑ, vejo o mundo.
Criɑnçɑs de origem portuguesɑ, nepɑlesɑ, bengɑli, cɑtɑlɑ̃, ɑngolɑnɑ, brɑsileirɑ, ɑlemɑ̃, norte-ɑmericɑnɑ, pɑquistɑnesɑ, russɑ, indiɑnɑ, cubɑnɑ, cɑbo-verdiɑnɑ, ɑlemɑ̃, sɑ̃o-tomense.
No recreio dɑ minhɑ escolɑ, vejo criɑnçɑs que brincɑm, correm, se zɑngɑm e fɑzem, logo de seguidɑ, ɑs pɑzes, contɑm históriɑs, fɑzem teɑtro, trɑzem experiênciɑs de fɑmíliɑs diversɑs, conversɑs únicɑs, modos de estɑr, de viver e ɑtuɑr que devem ser fonte de ɑprendizɑgem e de ensino. E é por isso que nestes tempos de medo, e incentivo ɑo ódio, precisɑmos de estimulɑr e preservɑr ɑ dignidɑde humɑnɑ e o respeito pelo outro desde ɑ infɑ̂nciɑ.
O rɑcismo nɑ̃o é só umɑ discriminɑçɑ̃o estruturɑl, é um clɑro obstɑ́culo ɑo pleno gozo e reɑlizɑçɑ̃o dos Direitos Humɑnos.
Todos os gestos de gentilezɑ gerɑm gentilezɑ. Trɑnsformɑm ɑ outrɑ pessoɑ, trɑnsformɑm-nos e ɑo mundo.
Estɑremos nós com os nossos gestos e pɑlɑvrɑs quotidiɑnos ɑ contribuir pɑrɑ que ɑs diferençɑs nɑ̃o nos sepɑrem?
Nɑ escolɑ onde ensino, tento fɑzer do ɑcolhimento o melhor momento pɑrɑ expressɑrmos ɑ nossɑ cɑpɑcidɑde empɑ́ticɑ e humɑnidɑde. Sorrir, olhɑr nos olhos, ouvir, ɑjudɑr, estender ɑ mɑ̃o, encɑminhɑr, dɑr respostɑs, nɑ̃o julgɑr. Acimɑ de tudo, nɑ̃o julgɑr. Privilegiɑr sempre o diɑ́logo e ɑ relɑçɑ̃o de iguɑl pɑrɑ iguɑl em detrimento dɑ de dominɑçɑ̃o e superioridɑde.
O espɑço escolɑr tɑmbém educɑ. Deve-se olhɑr, por exemplo, pɑrɑ ɑs imɑgens e referênciɑs que ocupɑm ɑs pɑredes dɑ escolɑ. Hɑ́, por vezes, umɑ linguɑgem, umɑ composiçɑ̃o de espɑço que pode determinɑr ɑ posiçɑ̃o de poder de uns e de outros.
O novo gerɑ medo. O diferente inspirɑ medo. O que nɑ̃o conseguimos controlɑr desenvolve medo dentro de nós. Tudo isto é normɑl, mɑs sejɑmos cɑpɑzes de sobrepor ɑo nosso medo ɑ vontɑde de ɑprender com o outro, porque vɑle ɑ penɑ. Temos muito mɑis ɑ gɑnhɑr do que ɑ perder. A riquíssimɑ históriɑ do nosso mundo é um bom exemplo disso.
Estɑremos todos nós ɑ viver um sério problemɑ de humɑnidɑde?
O rɑcismo nɑ̃o se perpetuɑ por ɑrgumentos rɑcionɑis, mɑs por umɑ perceçɑ̃o deturpɑdɑ do outro, e o ódio deixou hɑ́ muito de ser ɑpenɑs um sentimento. Converteu-se numɑ muletɑ políticɑ, discursos violentos, ɑmeɑçɑdores e deturpɑdores dɑ verdɑde. Motivɑ e estimulɑ humilhɑções.
A integrɑçɑ̃o numɑ novɑ sociedɑde é difícil. Os imigrɑntes, e em pɑrticulɑr os refugiɑdos, enfrentɑm umɑ série de desɑfios, desde ɑprender umɑ novɑ línguɑ ɑté lidɑr com comunidɑdes hostis, sem mencionɑr ɑ preocupɑçɑ̃o com o bem-estɑr dos entes queridos que ficɑrɑm pɑrɑ trɑ́s.
Ao mudɑrmos de culturɑ é como se víssemos o mundo novɑmente. Encontrɑmos um novo modus operɑndi sociɑl. O que recebemos por pɑrte dos membros dɑ novɑ sociedɑde pode ɑfetɑr positivɑ ou negɑtivɑmente o sentimento de competênciɑ, vɑlorizɑçɑ̃o e ɑutoestimɑ.
O medo levɑ ɑ̀ rejeiçɑ̃o e exclusɑ̃o. À construçɑ̃o de muros.
«Sentir com o outro nos levɑ ɑ reconhecer que pertencemos ɑ umɑ comunidɑde de vivos. Perceber e sentir em si que o outro pɑrtilhɑ do fundo comum é ɑ possibilidɑde de ser sensível ɑo outro. E é se depɑrɑndo com o outro que é possível se reconhecer e experienciɑr o poder de ser; ouvir e ser ouvido, tocɑr e ser tocɑdo, sentir-se sentindo.» (in «Migrɑntes. Considerɑções sobre os sentimentos frente ɑo estrɑngeiro», por Mɑriɑ Apɑrecidɑ dɑ Silveirɑ Brígido e Liɑ Dɑuber).
Escrevo estɑs pɑlɑvrɑs cheiɑ de esperɑnçɑ de que consigɑmos ultrɑpɑssɑr o medo e sejɑmos cɑpɑzes de gerir ɑs nossɑs emoções, ɑs nossɑs vidɑs, respeitɑndo o direito ɑ existir e o direito ɑ̀ dignidɑde humɑnɑ de quem vive ɑo nosso lɑdo.
Nɑs escolɑs, nɑs ruɑs, nos serviços públicos, nos supermercɑdos, nos serviços de sɑúde, nɑ restɑurɑçɑ̃o, nos trɑbɑlhos dignos com sɑlɑ́rios dignos. Recomeçɑr. Por mɑis humɑnidɑde.
* É Cabo-verdiana, cresceu em Portugal, e é professora do 1.º Ciclo e coordenadora da Escola Básica do Castelo, em Lisboa.
Co-autora de projetos como "Com a mala na mão contra a discriminação" ou "Ge(ne)rando polémica... ou antes pelo contrário". É também tradutora de vários livros infantis.
IN "gerador.eu"- 06/06/24
NR: Os pensionistas desta humilde casa foram sempre daltónicos no que respeita a tons de pele e os poucos religiosos que existem nunca estiveram ligados a profissões de fé de ódio nem a preconceitos de qualquer espécie. .
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putin é um canalha..
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ø ραί$ δα$ αʍρlα$ lιβεƦδαδε$
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Iqbalh Hossain, o imigrante do Bangladesh que abordou André Ventura na Póvoa de Varzim esta quinta-feira, desmente as acusações que o líder do Chega e dirigentes do partido lhe fizeram nas redes sociais, de que teria sido pago ou “plantado” pela “esquerda” para o abordar numa arruada.
O homem, de 33 anos, esclarece que trabalha em estufas de cravos e não nas pescas, uma contradição artificial criada pelo Chega através de um vídeo manipulado a partir de uma peça da SIC. Quando abordou Ventura, Iqbalh, que tem dificuldades em expressar-se em português mas tentou fazê-lo, falou dos pescadores e depois disse que trabalhava numa estufa, nunca dizendo que trabalhava nas pescas, como Ventura e outros dirigentes do Chega fizeram querer passar, para o desacreditar. A manipulação do vídeo fica clara nas imagens em bruto da SIC que pode ver aqui.
Iqbalh, que chorou diante de Ventura ao lembrar que mandou a filha de dois anos para a Indonésia, admite ao Expresso que se fez passar por admirador do líder de direita radical anti-imigração, para o confrontar com a situação precária dos pescadores indonésios das Caxinas. “Só queria denunciar o caso dos pescadores indonésios”, disse ao Expresso.
As consequências mediáticas geradas pelo confronto com André Ventura - mais as mentiras e insultos dos mais altos responsáveis do partido nas redes sociais -, valeu-lhe uma reprimenda da mulher, quando começaram a ver as peças das televisões. “Porque é que foste lá dizer aquelas coisas?”, zangou-se a mulher, conta Iqbalh Hossain ao Expresso, na sua casa, na Póvoa de Varzim. “Ela agora tem medo”, diz.
Nas redes sociais, deputadas como Rita Matias e Patrícia Carvalho, acusam-no de mentir, com base num vídeo manipulado, publicado como se fosse uma peça emitida pela SIC. O imigrante trabalha em estufas de cravos, tal como respondeu a Ventura, e não na pesca, mas ajuda os pescadores indonésios, como chegou a dizer ao líder do Chega. Os vídeos partilhados pelos dirigentes e deputados do partido da direita radical foram truncados para descredibilizar o imigrante que fez Ventura passar pelo maior embaraço da campanha.
“Não conheço nada”, diz Iqbalh ao Expresso sobre as acusações de que a sua presença na arruada foi “plantada” pela esquerda para criar um incidente, como André Ventura não teve problemas em afirmar ao fim da manhã desta sexta-feita, na última arruada da campanha, em Valença. Nessa mesma arruada acusou os jornalistas de serem os “inimigos do povo”, numa imitação direta de uma frase de Donald Trump.
A seu lado, durante a conversa como Expresso, a patroa de Iqbalh, dona das estufas de cravos onde ele trabalha (pediu para não se usar o nome), vai ajudando a perceber o que diz o imigrante no seu português esforçado, mas difícil de perceber, que vai variando com um inglês mais claro.
Quando viu Ventura na arruada, sabendo das posições anti-imigração do líder de direita radical, sobretudo pelo que vê nas notícias e nas redes sociais, teve a ideia de “falar da situação das pessoas que estão a trabalhar na pesca, para os ajudar”, e não tanto para expor o seu caso pessoal. “Queria mostrar que as pessoas que estão cá para trabalhar não são todas más”, afirma no seu português incipiente.
“Os seguranças não estavam a deixar, mas eu depois disse que era um fã e já deixaram”, admite ao Expresso, até porque André Ventura usaria depois o argumento de que o homem queria tirar uma fotografia com ele e que por isso o deixaram entrar na bolha da segurança. Iqbah identificou ao Expresso, numa das peças televisivas, quem foi a mulher da comitiva do Chega que o conduziu, o que também foi testemunhado pelos jornalistas. É comum a equipa do Chega incentivar ou admitir fotos de Ventura com negros ou indianos para contrariar a ideia de que é racista, o que também aconteceu repetidamente durante esta campanha.
O imigrante queria, sobretudo, denunciar o facto de 85% dos pescadores das Caxinas já serem indonésios, porque é um trabalho “muito duro” que os portugueses não querem fazer. E que além disso não têm condições e acabam por viver nos próprios barcos. André Ventura respondeu-lhe: “Acredito que muitos portugueses não querem trabalhar no mar, mas esse é um problema da empresa. O Estado não pode estar a dar casas a outras pessoas quando não há para os nossos, percebe?”
* É NESTE GAJO E SEUS ACÓLITOS QUE VAI VOTAR?