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HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Bruxelas: 15 mil milhões para Portugal
a fundo perdido. Mas têm de ser criados cinco novos impostos
Em 14 anos, a Comissão considera que é possível arrecadar na Europa mais de 420 mil milhões de euros em novos impostos sobre poluição, consumo de plástico, grandes multinacionais e gigantes da tecnologia.
O fundo para os países europeus recuperarem da crise do coronavírus
deverá ascender a 750 mil milhões de euros, segundo a proposta da
Comissão Europeia, revelada nesta quarta-feira, 27 de maio. Destes, dois
terços (500 mil milhões) são a fundo perdido, o resto (250 mil milhões)
terá de ser nova dívida, ainda que em condições vantajosas.
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Daqueles
500 mil milhões em subsídios, Portugal deverá receber cerca de 3%, ou
seja, um pouco mais de 15 mil milhões de euros para ajudar a sarar as
feridas desta grande recessão que ainda se está a agravar. Dos 250 mil
milhões de euros em novos empréstimos, Portugal poderá ficar com uma
fatia de 4% (perto de 11 mil milhões de euros).
No entanto, esta
primeira proposta oficial de fundo de salvação, que ainda terá de ser
negociada entre os 27 países da União Europeia (quer o valor global do
fundo quer a partição entre subvenções e empréstimos), vem com
contrapartidas, claro.
Para não cortar nos orçamentos europeus
futuros, Bruxelas diz que prefere financiar aqueles 500 mil milhões de
euros de apoios a fundo perdido com novos impostos, concretizou ontem o
comissário do Orçamento, Johannes Hahn.
Os pormenores da
repartição por país ainda estavam a ser ultimados e hoje deverá ser
conhecida a chave final. Segundo a Lusa, que teve acesso aos documentos
em que constam estes números, Portugal poderá ser o oitavo mais
beneficiado (em termos proporcionais).
Ontem, o primeiro-ministro
português, António Costa, mostrou-se bastante satisfeito com o plano da
União Europeia. Foi ao Twitter dizer que "saúdo a ambiciosa proposta da
Comissão Europeia, que está à altura do desafio que a Europa enfrenta.
Iremos analisar a chave de repartição entre os diferentes Estados
membros de modo a garantir a convergência económica e social", mas
avisou que "cabe agora ao Conselho não frustrar esta esperança". Um
recado aos países que querem um fundo mais magro e só ou
maioritariamente baseado em empréstimos. Um bocado o oposto do que a
Comissão Europeia está a propor.
O comissário natural da Áustria (justamente um dos países que,
juntamente com Holanda, Suécia e Dinamarca, podem deitar toda esta
proposta de Bruxelas por terra) explicou que havia duas opções: ou
cortar nas contribuições dos países para o orçamento plurianual da UE ou
"arranjar novos recursos próprios. Nós preferimos a última", disse.
Segundo
Hahn, para pagar isto, a Comissão (os impostos ainda não existem e o
dinheiro é urgente) vai ter de ir entretanto ao mercado com o seu rating de
qualidade máxima (portanto, vai endividar-se a taxas de juro quase
zero), mas, enquanto os empréstimos aos países (os tais 250 mil milhões
de euros) serão reembolsados, o resto (os subsídios) terão de ser
suportados por todas as economias através da tal nova carga fiscal.
Comissário revela plano dos cinco novos impostos
- Uma "extensão" da tributação sobre as emissões aos "setores
marítimo e da aviação", um "novo recurso" que deve gerar 10 mil milhões
de euros por ano;
- Uma nova taxa sobre o carbono que pode
arrecadar 5 a 14 mil milhões de euros anuais;- Um novo imposto sobre
operações de grandes empresas que, "dependendo de como for desenhado,
poderá dar 10 mil milhões de euros anualmente";
- Um novo "imposto digital sobre empresas com um turnover global anual superior a 750 milhões de euros", medida que pode alcançar até 1,3 mil milhões de euros em nova receita por ano;
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E finalmente, mas não menos importante, um novo imposto "baseado num
IVA simplificado e nos plásticos não recicláveis". Hahn estima que esta
receita possa ir de "3 ou 4 mil milhões de euros a 9 mil milhões
anuais";
Portanto, tudo somado, a Comissão pensa que é possível
arrecadar mais de 30 mil milhões de euros por ano, o mesmo que dizer
que, em 14 anos (o tempo de dois orçamentos plurianuais europeus), pode
dar mais de 420 mil milhões de euros em dinheiro novo ao orçamento.
O
comissário explicou que basta um valor desta magnitude para saldar o
dinheiro que vai ser dado a fundo perdido já que a diferença até aos 500
mil milhões de euros são as garantias nacionais. "É menos de cem mil
milhões de euros", disse o austríaco. Quando o plano de recuperação
terminar, elas regressam aos Estados de origem e, supostamente, o acerto
fica feito.
Ursula von der Leyen na casa do povo
Antes do
comissário Hahn, a cortina sobre o muito aguardado plano foi levantada
pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no
Parlamento Europeu.
A
proposta para o fundo de recuperação (cujo nome em inglês é Next
Generation EU ou UE Próxima Geração) fica bastante aquém dos dois
biliões de euros pedidos pelo Parlamento Europeu ou dos 1,5 biliões de
euros aventados pelo comissário da Economia, Paolo Gentiloni, há umas
semanas, mas tem a vantagem de a maioria do pacote (dois terços) ser a
fundo perdido.
No entanto, Von der Leyen, fez notar que para que
isto resulte e se comece a tirar o quanto antes as economias da recessão
"importa alcançar um acordo político rápido ao nível do Conselho
Europeu até julho".
Além disso, Bruxelas propõe reforços
direcionados a certas áreas no orçamento de longo prazo (quadro
financeiro plurianual) de 2021 a 2027 "que reforçarão o poder de fogo
financeiro total do orçamento da UE para 1,85 bilião de euros nestes
sete anos.