Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
08/07/2016
.
10-De onde nasceu
.
10-De onde nasceu
o Dinheiro?
* Estamos num mundo onde 1% da população mundial detém mais de 40% da riqueza, o dinheiro é a mais tenebrosa das religiões!
.
.
.
HOJE NO
"DIÁRIO ECONÓMICO"
"DIÁRIO ECONÓMICO"
Suécia:
Primeira auto-estrada eléctrica
para camiões
Após vários anos de pesquisa e desenvolvimento da tecnologia, a
Suécia instalou cerca de dois quilómetros de cabos eléctricos na faixa
mais lenta de uma das suas principais auto-estradas para proporcionar
alternativa de combustível aos veículos pesados.
A iniciativa integra-se numa estratégia mais alargada de tornar o
país livre de veículos alimentados a combustíveis fósseis até 2020 e, de
acordo com Magnus Ernström, um dos responsáveis pelo projecto,
desenvolvido com o apoio da Siemens, na região de Gävleborg.
.
Em declarações à "Sverige Radio", o responsável considerou
fundamental este projecto, uma vez que "muitas mercadorias são
transportadas por esta via, uma vez que a linha de caminho de ferro que
segue nessa direcção já está superlotada".
Um estudo sobre o assunto está em marcha na cidade de Sandviken - se
tudo correr bem em termos financeiros, Ernström espera alargar o número
de cabos eléctricos a cerca de 200 quilómetros desde a cidade costeira
de Gävle até à industrial Borlänge.
* Importa ter também viabilidade económica, embora proteger o ambiente seja primordial.
.
.
.
HOJE NO
"CORREIO DA MANHÃ"
Estado dá milhões
sem controlo aos colégios
Finanças arrasam subsídios milionários a colégios privados.
O Ministério da Educação (ME) atribuiu 451 milhões de euros, em 2013 e 2014, aos estabelecimentos de ensino particular e cooperativo, revela o relatório de atividades de 2015 da Inspeção-Geral de Finanças (IGF).
.
Este organismo critica o Estado por não verificar se as verbas são bem aplicadas nem confirmar os rendimentos das famílias apoiadas. "Em regra, não são efetuadas diligências para confirmar a real situação socioeconómica do agregado", refere a IGF, considerando que o "ME não dispõe de um plano estratégico enquadrador" nem de "indicadores de aferição do impacto na sociedade, o que não permite avaliar cabalmente a eficiência e eficácia da utilização destes dinheiros". O problema da não verificação da real situação económica das famílias diz respeito aos contratos simples e de desenvolvimento, no 1 º Ciclo e Pré-Escolar, nos quais o Estado gasta 25 milhões de euros por ano para apoiar 30 mil alunos.
Estes apoios, de cerca de 800 euros anuais, variam consoante o IRS e destinam-se a famílias carenciadas. Mas o apoio não chega para pagar as mensalidades nos colégios, e não se percebe como é que as famílias pagam a diferença.
Tudo indica que o apoio esteja a ser dirigido a famílias com poder económico mas IRS reduzido. O ME diz que "tudo fará" no sentido de haver "mais rigor" na "utilização de fundos públicos".
* Esta notícia é verdadeira, o escândalo mantém-se, não admira que Crato seja testemunha do folclore amarelo.
.
.
Pedro alegou também ser vítima
Como Pedro chegou à terra e ficou conhecido por “psicólogo”
.
HOJE NO
"OBSERVADOR"
A falsa seita que
abusava de crianças em Palmela
Um falso psicólogo criou um falso local de culto para uma falsa seita
religiosa. Pedro, de 34 anos, era tratado por "mestre". Na realidade,
abusava de crianças e vendia os seus serviços a pedófilos.
Da estrada vê-se apenas a casa principal da herdade, em Brejos do
Assa, Palmela. Nada que dê indicação do que se passava lá dentro. Um
falso local de culto, de uma falsa seita religiosa, inventada por um
falso psicólogo. E assim Pedro, de 34 anos, abusou de várias crianças e
criou um negócio de pedofilia.
Foi preciso percorrer o caminho de
terra para a Polícia Judiciária encontrar inscrito numa árvore o nome
“Javeh” e um crucifixo. À volta, umas cadeiras, onde seriam feitas as
supostas cerimónias religiosas. E depois, entre paredes, o choque: havia
colchões espalhados por todo o lado e documentos com as regras da
organização. Os miúdos passavam por uma cerimónia semelhante ao batismo,
mas o grande objetivo “não era chegar ao céu”. Era ser purificado.
.
Havia vários graus de purificação, todos eles através de atos
sexuais com os menores. “Sexo anal era o topo. Seguiam-se diferentes
tipos de abusos: carícias, masturbação, sexo com penetração”, diz uma
fonte da PJ. Os purificadores? Os predadores sexuais.
Pedro sabia que podia fazer dinheiro. Bissexual assumido, ele próprio
abusava dos menores. Criando cenários para lhes tirar fotografias,
acariciando-os. Foram essas imagens, assim como as descrições físicas de
cada um dos meninos que usou numa série de sites destinados a
encontros gay — onde passava horas e acabaria por encontrar vários
homens que andavam, afinal, à procura de crianças.”Ele percebeu que
havia homens com preferências específicas por crianças e começou a
vender-lhe os serviços”, diz fonte da investigação.
Para camuflar o
esquema, Pedro, utilizando os seus conhecimentos enquanto Testemunha de
Jeová, criou uma seita a que chamou “Verdade Celestial”. Segundo a PJ,
elaborou um conjunto de regras, com categorias hierárquicas, e alegava
ser ele o “mestre” — que por sua vez respondia a um mestre espanhol, de
nome Pablo. No Facebook, criava vários perfis para sustentar a mentira.
Pedro dava consultas de psicologia e explicações às crianças e
aproveitava-se do facto de elas por vezes passarem a noite na quinta
para trazer os clientes pedófilos até lá. Enquanto as crianças dormiam,
eram sujeitas a abusos sexuais vários. Sempre sozinhas, para que os
crimes não fossem testemunhados por outras crianças. E sempre sob o
pretexto da purificação. “Chegou a cobrar 30, 60 euros pelos serviços.
Havia homens que acabavam a dormir lá, outros iam embora” depois dos
abusos, conta a PJ.
Entre os múltiplos contactos que fez pela
internet, e cujas conversas foram recuperadas pela Polícia Judiciária,
há diálogos “inacreditáveis”. “Nalguns ele descreve os próprios filhos.
Noutros, há homens a sugerirem que tenham filhos para se servirem
deles”, conta a PJ.
Na casa que a PJ visitou, em junho de 2015, numa operação
montada em apenas duas semanas, viviam Pedro, a mulher e os dois filhos,
um amigo que servia de “motorista” da organização e o filho deste,
também menor. Era o motorista quem ia buscar e levar os miúdos a casa
dos pais.
A certa altura, nos contactos pela internet, Pedro
conheceu também um casal de raparigas com cerca de 20 anos que tinham
fugido da casa dos pais, em Aveiro, porque eles não aceitaram a sua
homossexualidade. “Foram para lá viver, tomavam conta das crianças, mas
tinham práticas sexuais à frente delas. Uma vez terão mostrado como se
usa um vibrador”, diz a PJ. “Lembro-me de a mulher do Pedro andar sempre
acompanhada de duas miúdas muito loiras. Dizia que eram amigas dela. Às
vezes eram elas que iam buscar as crianças à escola”, diz uma
testemunha.
Certo dia, chegou um oitavo habitante à casa: um rapaz
que acabara o curso superior e que também tinha assumido a sua
homossexualidade. Os pais não o aceitaram e sentia-se “perdido”. Todos
eles contribuíam de alguma forma para a falsa seita, acreditando que
Pedro tinha “superpoderes”.
“Ninguém queria acreditar na história”
Foi esse rapaz, recém-licenciado, que acabou por denunciar tudo à PJ.
Um dia, chateado com Pedro, disse-lhe que ia abandonar a organização. O
mestre respondeu-lhe que, se o fizesse, corria sérios riscos de vida.
Alegou que havia elementos da PSP e da GNR na organização e que esta
tinha dimensões internacionais. Chegou mesmo a castigá-lo, obrigando-o a
despir-se e vergastando-o com ramos de árvores.
.
O rapaz fugiu e,
cheio de medo, foi bater à porta da Polícia Judiciária de Setúbal.
“Ninguém queria acreditar na história que estava a contar”, diz a fonte.
“Era tão inacreditável que tivemos dificuldade em considerar o caso
credível”, sublinha. Mas, como a história envolvia crianças, era preciso
atuar. “É um case study. Não é normal em Portugal, parece inacreditável. Passa-se ao lado da nossa casa”, diz a PJ.
Em duas semanas, a PJ conseguiu reunir vários peritos e obter
mandados de busca e detenção para junho de 2015. “Nesse dia havia
polícia por todo o lado”, recorda a vizinha. Foram recolhidos
computadores, vestígios de sémen, papéis com regras e todas as provas
que pudessem confirmar a história da testemunha que fugiu da seita.
Seguiram-se horas de interrogatórios, de identificações das crianças, de
cruzamento de provas — que incluíam chats na internet, vídeos, fotografias feitas na casa.
A
PJ conseguiu identificar oito vítimas, entre elas os filhos de Pedro e
do seu motorista. “O filho do ‘psicólogo’ era uma criança muito calada.
Fazia tudo o que lhe diziam e passava o dia sem ir à casa de banho. Ele
recusava ir a passeios da escola por causa disso”, conta a funcionária
da escola.
Pedro alegou também ser vítima
Assim que a PJ lhe entrou em casa, Pedro descaiu-se. Disse que já
estava à espera de ser detido um dia. Mas depois, já nas instalações da
PJ, viria a tornar-se um suspeito difícil de interrogar. Com
contradições e omissões. Até que, com persistência da polícia, acabou
por confessar. Alegou ter sido abusado em criança, à frente dos pais,
pensando assim que a sua culpa seria atenuada.
No seu passado,
apurou a PJ, não havia cadastro. Mas a mulher dele admitiu ter-lhe
satisfeito alguns fetiches sexuais, como fazer sexo com outros homens
enquanto ele filmava. Por outro lado, ele próprio já tinha deixado um
pedófilo ir a sua casa e acariciar o seu filho. Um ato que também filmou
e com o qual chegou a lucrar. “Foram encontradas no computador inúmeras
imagens dele próprio e de pornografia infantil. Fotografava os miúdos
na piscina insuflável, de cuecas, afastava as cuecas das crianças e
mostrava isso tudo a pedófilos”, diz a PJ.
Com ele foram detidos
quatro outros homens, os “purificadores” da seita: o recém-licenciado;
um homem com o curso de Direito que se fazia passar por advogado; o
motorista; e um amigo, que namorava com a filha dos donos da quinta. Os
primeiros três ficaram em prisão preventiva. Há ainda um quinto arguido,
que, quando a PJ agiu, já se encontrava preso preventivamente à ordem
de outro processo — também por abuso sexual de menores. A mulher de
Pedro e as duas raparigas de Aveiro foram detidas, mas encontram-se em
liberdade. “A mulher do mestre tem uma atitude demasiado passiva, tem
algum instinto protetor em relação ao mais velho, mas assistia impávida e
serena. Compactuou”, diz a PJ.
Como Pedro chegou à terra e ficou conhecido por “psicólogo”
A dona de um café em Brejos do Assa, Palmela, que não quer ser
identificada, lembra-se bem da primeira vez que viu Pedro. Chegou ao
café acompanhado da mulher e dos dois filhos pequenos. Foi a mulher dele
quem os apresentou, através de uns cartões de visita que o
identificavam como “psicólogo”. E foi assim que Pedro ficou conhecido
pela vizinhança. Até ao dia em que a PJ irrompeu na casa onde viviam e
desmantelou a falsa seita religiosa. Um ano depois, com cinco homens e
três mulheres arguidos no processo, o caso continua a gerar
perplexidade.
Pedro e a mulher terão chegado à freguesia em 2013. Quem os conheceu
diz que pareciam “pessoas pobres”. Pensavam que tinham vindo do Norte,
com os dois filhos então de dois e sete anos. Mas, segundo disse fonte
da PJ ao Observador, Pedro veio de perto. Antes vivera em casa de uma
irmã no bairro de Monte Belo, em Setúbal, onde trabalhou como
rececionista. E a mulher era do Pinhal Novo.
O casal não teve
dificuldades em integrar-se. Pedro tinha experiência como treinador de
futebol e conseguiu um lugar no Clube Desportivo de Algeruz, a treinar
os Ferinhas. Ia mantendo contacto com os rapazes menores. Aos pais,
entregava cartões e apresentava a sua especialidade: psicologia.
“Cheguei a levar lá o meu filho, ele fez um relatório médico e eu
entreguei-o à psicóloga da escola. Nunca ninguém estranhou”, disse uma
residente ao Observador.
Os relatórios feitos pelos psicólogos da PJ mostram que é um “burlão
manipulador, mentiroso, convincente naquilo que diz”. Pedro conseguia
argumentar e convencer as pessoas sem sequer as confrontar. Sabia
levá-las. E foi assim que se integrou na freguesia e depressa conseguiu
um conjunto de clientes. Todos menores.
Manuel ainda se lembra de
quando ele chegou. Um vizinho perguntara à sua mulher, entretanto
falecida, se ela não teria um espaço para o “senhor psicólogo alugar
para dar consultas”. Ela tinha um anexo: uma sala, uma pequena cozinha e
uma casa de banho. Pedro aceitou e pagou-lhe 150 euros. Ainda chegou a
pintar as paredes, mas acabou por nunca habitar ali, em Algeruz. A
mulher de Manuel acabou por devolver-lhe o dinheiro. “Via-se que eram
pessoas pobres”, argumenta.
Foi num anexo numa quinta em Brejos do
Assa que Pedro e a família acabaram por ficar. Com eles um amigo, da
mesma idade, que também tinha um filho de oito anos. Com os contactos
feitos através dos treinos de futebol com os pais das crianças, Pedro
começou a dar consultas de Psicologia. Diz a PJ que por apenas cinco
euros. Paralelamente, dava explicações. “Lembro-me de ele vir cá
distribuir panfletos para divulgar as explicações que dava. Mal soube
que tinha sido preso deitei tudo fora”, conta ao Observador uma
funcionária da escola primária, frequentada pelo filho de Pedro.
Montou o seu negócio e acabou por deixar os treinos de futebol. Da
estrada, é impossível ver todo o espaço ocupado por Pedro, localizado no
centro de uma enorme quinta com árvores de fruto e rodeada de videiras.
Cá fora, os moradores pensavam tratar-se um verdadeiro ATL. Havia
consultas de psicologia, explicações e atividades. Os miúdos gostavam de
ir para lá. E os pais até chegaram a ser convidados para festas e
sessões de karaoke. Sem suspeitas. “Ao fim de semana ouvia-se sempre
música. Às vezes até muito tarde”, conta ao Observador uma vizinha, que
chegou a pensar deixar lá o neto no verão — a PJ chegou antes para
prender Pedro.
A acusação aos cinco homens e três mulheres por
parte do Ministério Público ficou concluída em junho deste ano, doze
meses após a detenção. O procurador pediu que os arguidos perdessem as
responsabilidades parentais. Os filhos de Pedro encontram-se à guarda da
mulher dele, que está em liberdade.
A Comissão de Proteção de
Menores e Jovens em Risco está a avaliar o caso. Além dos filhos dos
arguidos, vai avaliar se as crianças que foram vítimas dos abusos se
encontram seguras com quem vivem. “Como é que os pais nunca suspeitaram,
olhando para as condições daquela casa?”, interroga a PJ. E deixa o
aviso: “Que este caso sirva de prevenção. Estas coisas podem acontecer
mesmo ao lado e ninguém dá por elas”.
* Uma história real tenebrosa, tenebroso devia ser o castigo para este bandido.
Não esqueça, ao longo da história mais de 90% das guerras têm como origem conflitos gerados por religiões, em nome de Deus assassina-se.
.
MARIA JOÃO MARQUES
.
IN "OBSERVADOR"
06/07/16
.
Grupo de lesados da grande
literatura masculina
Em boa verdade, as mulheres, se fossem inteligentes, tratariam de
imitar as figuras femininas idealizadas pela literatura masculina. Esta
mania de decidirmos por nós como somos será a nossa perdição.
Queria escrever sobre a mais recente polémica com o Facebook:
empresa tão moderna, tão hipster, tão tecnológica, tão
universo-aos-nossos-pés que não deixa as senhoras que lá trabalham
vestirem-se de forma sexy. A propósito disso fui reler as notícias de
Tim Hunt, o Nobel que acha uma maçada as mulheres cientistas: que os
cientistas e as cientistas apaixonam-se e as mulheres choram quando são
criticadas. Aqui, apanhei a verborreia de V.S. Naipaul sobre mulheres escritoras, vi tudo encarnado e decidi alargar o arco deste texto.
A saber: a mania que alguns egos masculinos têm de que a forma de
agir, de trabalhar, de pensar, de escrever, de o que quer que seja
masculina é a forma correta, o padrão, a ordem natural do mundo
funcionar. E que a maneira feminina – e sim, eu voto sempre na
existência de diferenças entre os sexos e nunca na igualdade intrínseca
entre os xy e as xx (o que é muito diferente de assumir que há papeis,
profissões, talentos predeterminados para cada sexo) – é um desvio à
norma, fruto de emoções desordenadas e irracionalidades várias,
sobretudo algo que as mulheres têm de corrigir se querem ser levadas a
sério pelos guardiães da seriedade (também conhecidos como elementos do
sexo masculino).
Este padrão masculino vai ao ponto das alucinações de Naipaul: a
maneira de escrever certa e com qualidade é a masculina. O curioso é que
este tipo de opiniões é levado a sério ou, pelo menos, reproduzido sem
ser em tom de escárnio em jornais decentes. Quando merecia a zombaria
que oferecemos a sugestões estrambólicas como a de retirar dos cursos de literatura
as obras dos escritores masculinos, brancos e das potências
colonizadoras. Os maluquinhos esquerdistas americanos querem extirpar os
cursos de Shakespeare e Chaucer. Naipaul, porventura com o ego
insuflado de que padecem os temperamentos artísticos e políticos, como
bem ilustrou Paulo Tunhas, opina que a escrita de Jane Austen ou das
Brontë ou de George Eliot é ‘unequal to him’ (vá, vamos todos desmaiar
ao mesmo tempo de comoção pelo tamanho do talento másculo de Naipaul).
Eu percebo que um homem goste mais do estilo literário de outro
homem. Eu, (não) por acaso, tendo a apreciar mais a escrita feminina.
Venero Thackeray e Evelyn Waugh e P.G. Wodehouse e Somerset Maugham,
ando atrás de Julian Barnes e Peter Carey e disputo quem quer que diga
que em Portugal há quem escreva melhor que o Bruno Vieira Amaral (que
até sobre futebol é bom de ler). Mas, e estou pronta a constituir uma
claque literária feminina, pegando por exemplo nos colegas nobelizados
de Naipaul, os meus Nobel da literatura preferidos são Alice Munro e
Doris Lessing. Munro – além de um talento para juntar umas palavras às
outras que Naipaul invejaria se tivesse juízo – tem uma escrita, pela
forma e pelos temas, que nunca viria de um homem. E o machismo da gente
esclarecida dos movimentos comunistas anticoloniais que é descrito por
Lessing dificilmente seria relatado no masculino.
O que V.S. Naipaul diz – sonsamente – é que o ponto de vista feminino
só tem lugar na grande literatura se for apresentado (e distorcido) por
um homem. Em boa verdade, as mulheres, se fossem inteligentes,
tratariam de imitar as figuras femininas idealizadas pela literatura
masculina. Esta mania de decidirmos por nós como somos, em vez de
aceitar a recomendação masculina, será a nossa perdição.
O pior é que o padrão masculino não se fica pela literatura. Na empresa Facebook,
segundo o folclore, as indumentárias são informais e os homens
trabalham de calções e t-shirt. É o melhor dos mundos: os homens estão
cómodos e as mulheres – como vários escritores masculinos já asseveraram
– são seres assexuados incapazes de perderem uns minutos dos seus dias a
escrutinar um agradável par de pernas do sexo oposto visíveis debaixo
de uns calções. Já os homens, pobres almas, têm de ser protegidos deles
próprios e das distrações causadas pelas minissaias e decotes femininos.
Como os homens são impetuosos e não se conseguem conter – os escritores
masculinos (e os extremistas islâmicos também) garantem que sim – têm
de mudar as mulheres para acomodar o mundo às necessidades masculinas.
Nos laboratórios de investigação, como Tim Hunt escancarou, os
contributos das mulheres são vistos (pelos ‘porcos chauvinistas’, como orgulhosamente se apresentou)
como menores que os constrangimentos que a interação entre os sexos
causa ao trabalho dos verdadeiros cientistas: os xy.
Acho também piada
ao mito do choro feminino. É ver nas redes sociais e na comunicação
social como as mulheres são imensamente mais criticadas e insultadas
pelos valentes que se escondem atrás do teclado do computador; e como
somos inundadas de lixo sexista constantemente. Nunca dei por ataques de
choro. Já tantos homens – como Tim Hunt – quando levam como resposta a
liberdade de expressão daquelas que, fazendo uso dessa mesma liberdade
de expressão, ofenderam, correm a vitimizar-se e a dizerem-se mártires
do feminismo fundamentalista e do politicamente correto.
E, por fim, vemos o mesmo na política. Hillary Clinton. Péssima
política, deve a carreira ao marido – é proibido dizer o contrário. E
com essa característica imperdoável numa mulher decente: é ambiciosa. O
desejo de poder e de dinheiro está, com abundante ‘grande’ literatura
masculina a argumentar para este lado, reservado aos homens e às
pérfidas vamps dos romances oitocentistas.
Não interessa nada que muitos
herdeiros políticos tenham falhado – Ted Kennedy, Jeb Bush,… –, que as vitórias tenham sido engendradas pela própria
e que os escândalos sexuais de Bill Clinton sejam um flanco fácil de
atacar. Hillary é mulher, faz discursos que são o cúmulo da sanidade
numa campanha de candidatos que parecem alimentados a alucinogénios,
pelo que é péssima. Já um trauliteiro com expressão verbal sub-humana,
que se vê como o principal tema das eleições presidenciais (e do
universo), nos discursos passa três quartos do tempo a referir as
audiências que trouxe aos programas onde participa e a insultar os
jornalistas que o criticaram – esse, bem, é um génio político que vai
revolucionar a política mundial.
Descansem em paz, neurónios.
IN "OBSERVADOR"
06/07/16
.
.
.
HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Crato é testemunha dos colégios
privados contra o ministério
Ex-ministro confirma ao DN que irá depor. Escolas privadas acreditam que ficará esclarecida intenção dos contratos a três anos
O
ex-ministro da Educação, Nuno Crato, vai ser o principal trunfo dos
colégios privados nas ações que vão colocar em tribunal contra os cortes
nos contratos de associação. A indicação do antigo governante para os
processos que, por estes dias, estão a dar entrada na justiça, foi
adiantada ao DN por Manuel Bento, representante das escolas privadas no
Movimento em Defesa da Escola Ponto. E confirmada pelo próprio Crato.
.
.
"A
AEEP [Associação de Estabelecimentos do Ensino particular e
Cooperativo) avisou-me de que me ia arrolar como testemunha. É um
direito deles e eu colaborarei com a justiça e responderei a todas as
perguntas do juiz", disse Nuno Crato ao DN.
O
ex-ministro não quis adiantar pormenores sobre o que irá responder aos
tribunais. Mas Manuel Bento - que revelou ainda que será também chamado a
depor o antigo secretário de Estado do Ensino e da Administração
Escolar, João Casanova de Almeida-, não tem dúvidas de estes irão
"confirmar" a tese que os colégios têm defendido. Ou seja: que os
contratos assinados em 2015 previam a abertura de um mesmo número de
turmas de 5.º, 7.º e 10.º ano de escolaridade durante três anos e não
apenas, como defende o ministério, a continuidade destes alunos até ao
final dos respetivos ciclos.
"[Ambos]
já afirmaram, ao longo destes meses, quando lhes foi questionado -
nomeadamente por jornalistas - , que os contratos eram para três anos em
inícios de ciclo.", lembra. "Irão confirmar aquilo que todos sabemos",
acrescentou.
Em causa estão dezenas de
ações - a AEEP confirmou na segunda- feira ao DN que, "nas próximas duas
semanas", darão entrada nos tribunais duas dezenas de ações por
"incumprimento contratual". Mas Manuel Bento explicou que Nuno Crato não
terá de se desdobrar em deslocações. Casanova de Almeida - que disse ao
DN ainda não ter sido contactado - também deverá ser dispensado da
presença física nos tribunais.
"Um
ex-governante não precisa de ir a tribunal. Basta que as questões lhes
sejam postas e irão responder por escrito", lembra o responsável do
Movimento em Defesa da Escola Ponto. De resto, Nuno Crato nem sequer
está em Portugal. "Está em Milão, em licença sabática. Foi necessário
arranjar em Portugal uma morada onde ele recebe as notificações."
O
ex-primeiro ministro, Pedro Passos Coelho, também já assumiu claramente
a visão dos colégios nesta questão. Nomeadamente quando, em maio,
acusou o atual governo de estar a colocar o Estado na situação de "pôr
em causa as próprias decisões que tomou em concurso público",
considerando "muito possível" que a questão acabasse nos tribunais.
Mas
Manuel Bento adianta que o líder social-democrata não será chamado a
depor nas ações em que será contestado o corte de cerca de 300 turmas de
início de ciclo. "Não foi contactado porque não estamos a partidarizar
este assunto. É evidente que há partidos que nos apoiam e outros que não
mas, para nós, esta é uma questão de justiça. O ex-ministro [ da
Educação] já não é político .
Primeira sentença favorável
Entretanto,
os colégios registaram ontem uma primeira vitória na guerra judicial
com o ministério, com o Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga a
decretar a "suspensão preventiva" da eficácia do despacho 1H, da
secretária de Estado Alexandra Leitão, relativo às matrículas.
A
ação em causa - uma entre cerca de duas dezenas - não incidia sobre o
corte de turmas, como recordou o Ministério da Educação numa resposta
enviada aos jornalistas. O alvo era a decisão de impedir que os colégios
com contrato inscrevessem alunos residentes em freguesias diferentes
daquelas onde estão registados.
"Em
mais de 20 providências, apenas uma foi decretada provisoriamente, sendo
todos os outros pedidos de decretamento provisório - quando foram
efetuados - recusados pelos Tribunais", afirmou o ministério, recordando
ainda que a suspensão só tem impacto no colégio que interpôs a ação.
Mas os representantes dos colégios, tanto o movimento como a AEEP,
garantem desconhecer qualquer decisão desfavorável. "[A afirmação do
ministério] não corresponde à verdade", afirma Manuel Bento, segundo o
qual esta é "a primeira ação" em que o tribunal se pronuncia a favor ou
contra a suspensão do despacho. "O que nós acreditamos é que basta haver
três decisões destas para fazer lei. Todas as que foram interpostas
foram aceites e esta é a primeira em que sai uma primeira decisão".
* Nuno Crato contra Portugal, não é surpresa, não se cansa de prejudicar o país.
* Nuno Crato contra Portugal, não é surpresa, não se cansa de prejudicar o país.
.
.
7.A GUERRA DA
.
7.A GUERRA DA
DEMOCRACIA
DENÚNCIA DE COMO SOB A MÁSCARA DA DEMOCRACIA SE EXERCE A ESCRAVATURA MODERNA
* Na nossa procura sobre o tema, só encontrámos esta série subtitulada em espanhol.
* As nossas séries por episódios são editadas no mesmo dia da semana à
mesma hora, assim torna-se fácil se quiser visionar episódios
anteriores.
.
.
HOJE NO
"RECORD".
"RECORD".
Tamila Holub campeã europeia
dos 1.500 metros livres
A nadadora portuguesa Tamila Holub sagrou-se esta sexta-feira campeã
europeia júnior dos 1.500 metros livres, ao vencer a prova dos
campeonatos que estão a decorrer em Hódmezovásárhely, Hungria.
.
De
acordo com nota da Federação Portuguesa de Natação, Holub dominou a
prova por larga margem, assumindo a liderança desde o início, tendo
terminado com o tempo de 16.20,80 minutos, novo recorde nacional por 18
segundos. A anterior marca (16.38,60) já lhe pertencia e tinha sido
estabelecida em 14 de maio último, em Gijon (Espanha).
Na segunda posição terminou a alemã Celin Rieder (16.25,03), enquanto a terceira foi a italiana Sveva Schiazzano (16.26,16).
"Parece um sonho. Treinámos tanto durante todo o ano para chegar a um bom nível, mas nunca pensei chegar ao título europeu", afirmou a nadadora logo após a cerimónia do pódio.
Em relação à prova, a nadadora portuguesa de origem ucraniana disse: "Decidimos utilizar esta tática, sair forte logo nos primeiros metros. Sabia que era uma prova de risco, mas tinha de ser o tudo ou nada. Controlei a prova sempre, apesar de saber que as adversárias estavam a lutar pelo pódio e podiam recuperar na parte final."
O treinador Luís Cameira assumiu também o risco de uma tática para uma competição contra o tempo: "A Tamila estava muito confiante para esta prova. Sabíamos que tinha treinado para estar forte na segunda parte da competição. O difícil já tinha feito, que foi a prata nos 800 livres. Ela ainda não tinha nadado a distância na sua máxima forma, por isso este recorde de quase 18 segundos."
Para o técnico, Holub tem vindo a realizar uma "carreira consolidada", uma vez que já tinha sido nona classificada nos mundiais de Singapura e soma já 27 recordes de Portugal. "Tínhamos o sonho do pódio, mas não da medalha de ouro. Estamos felicíssimos", sublinhou.
A nadadora do Sporting de Braga foi há dois dias vice-campeã da Europa dos 800 livres. Na quinta-feira, bateu o recorde de Portugal de juniores dos 400 livres (4.16,77), no dia que viu confirmada, aos 17 anos, a sua presença nos Jogos Olímpicos do Rio2016.
A última portuguesa campeã europeia de juniores foi Diana Gomes nos 100 e 200 bruços em Budapeste2005.
.
* Esta valente menina está imparável.
.
.
.
HOJE NO
"JORNAL DE NOTÍCIAS"
Marcelo explica porque
pagou viagem num avião Falcon
O
Presidente da República falou esta sexta-feira de "uma prática
diferente" para justificar ter pago uma viagem a França num avião Falcon
da Força Aérea, apesar de ter direito a essa viagem sem a pagar.
"O
Presidente da República tinha esse direito, e ainda por cima repartido
com o Governo", porque no mesmo avião, na quarta-feira para assistir ao
jogo Portugal-País de Gales, viajaram dois membros do Governo e "eram
dois órgãos de soberania a pagar", disse Marcelo Rebelo de Sousa quando
questionado por jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa.
.
.
E
justificou ter pago ele a viagem assim: "no entanto entendi, como sou
um radical nessas matérias, mais papista do que o Papa, e decidi pagar".
Marcelo
disse que não estava a abrir nenhum precedente, explicando que é uma
"prática diferente" e que já aconteceu pagar do seu bolso almoços em
Belém, que ainda que tenham sido de trabalho não foram oficiais.
A
notícia de que Marcelo ia pagar do seu bolso a viagem de Falcon a Lyon,
França, para assistir à meia-final do Euro 2016 (na quarta-feira), foi
avançada esta sexta-feira na imprensa, depois de se saber que a viagem
teria custado 14 mil euros, tendo o valor do combustível (só ele é
contabilizado no caso de órgãos de soberania) rondado os seis mil euros,
pelo que o custo por passageiro seria de 600 euros.
* Sempre fomos muito críticos do professor Rebelo de Sousa enquanto comentador político, não votámos nele para a Presidência, mas quanto a lisura financeira é intocável, aplaudimos e agradecemos.
.
.
Não há mal em trabalhar no privado
.
HOJE NO
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
"JORNAL DE NEGÓCIOS"
Durão Barroso:
O peixe graúdo que
a Goldman Sachs pescou
A Goldman Sachs contratou Durão Barroso para
seu "chairman" e consultor. Durão Barroso tinha saído em 2014 da
Comissão Europeia e andava dedicado à vida académica.
Aos
60 anos, Durão - Barroso para os portugueses, José Manuel Barroso para o
mundo e Zé Manel para os mais íntimos -, já escolheu o seu novo
destino. Vai ser "chairman" do Goldman Sachs, e consultor do banco norte-americano para o Brexit.
.
Durão Barroso entrou pela porta grande na
instituição que está em litígio com o Banco de Portugal ainda por causa
da resolução do Banco Espírito Santo. Tudo começou quando o regulador
português decidiu, já depois da resolução, reenviar para o BES "mau" um
crédito concedido pela Oak Finance, por considerar que esta entidade era
indirectamente um dos accionistas qualificados em Agosto de 2014,
aquando da resolução do BES.
O Banco de Portugal considerou
"haver razões sérias e fundadas para considerar que a Oak Finance
actuara, na concessão do empréstimo, por conta da Goldman
Sachs International, e que esta entidade detivera uma participação
superior a 2% do capital do BES". Por isso, retirou esse crédito ao Novo
Banco e devolveu-o ao BES "mau".
O processo chegou a tribunal e
está a ser julgado em Londres. A Oak Finance contesta que a instituição
estava apenas a actuar em nome de clientes que não se queriam
identificar. Segundo foi noticiado pelo Wall Street Journal,
houve um "esforço conjunto" de vários grandes nomes do banco americano
para conseguirem ganhar o negócio com o BES, entre eles José Luís
Arnaut, consultor da Goldman Sachs, e o também português António
Esteves, que na altura era um dos altos quadros do banco norte-americano
de onde entretanto saiu.
Esse papel de Arnaut chegou a ser razão para o PS querer ouvi-lo na
comissão de inquérito parlamentar ao BES/GES, mas o advogado acabou por
ser dispensado. Tal, aliás, como Durão Barroso que chegou a constar da
lista de personalidades a ouvir. Barroso era, na altura da resolução do
BES, presidente da Comissão Europeia. Mas não tendo ido à comissão
enviou umas respostas por escrito a propósito de ter recebido Ricardo
Salgado em Maio de 2014, à data presidente do BES, num encontro
onde este lhe revelou dificuldades do Grupo da família. Na resposta à
comissão de inquérito, Durão Barroso confirmou a reunião, garantindo ter
aconselhado Salgado "a entrar em contacto com as autoridades
portuguesas até porque não via em que medida a Comissão poderia ter
intervenção útil naquela questão".
Anos mais tarde, problemas com outro banco nacional. Apesar das
várias questões colocadas sobre o papel da Comissão Europeia,
nomeadamente da Direcção-geral da Concorrência, no desenvolvimento da
capitalização do Banif
(que culminou na resolução da instituição já em Dezembro de 2015),
Durão Barroso acabou, também, por não ir à comissão de inquérito. Em
entrevista ao Expresso, em Maio deste ano, afirmou que nem o regulador
nem o Governo tinham feito "alertas especiais, pelo menos que eu me
recorde, em relação à situação da banca. A Comissão, por exemplo, quando
recebeu notícias do Banif, achou logo que aquilo era muito estranho". E
o facto de Bruxelas ter recusado planos de reestruturação do Banif foi
referido por Durão como a chamada de atenção da Comissão sobre os
problemas. Quando o Banif acabou em resolução já Jean-Claude Juncker
tinha substituído Durão Barroso na liderança da Comissão Europeia.
Não há mal em trabalhar no privado
Depois de sair de Bruxelas, Durão Barroso – que de 2004 a 2014
foi presidente da Comissão Europeia – esteve em actividade académica.
Foi professor convidado de Política Económica Internacional e "fellow"
na Universidade de Princeton – onde continuará a dar aulas
esporadicamente, segundo disse recentemente ao Expresso -, assim como
professor convidado na Universidade Católica, em Lisboa, na Universidade
de Genebra, e no Instituto de Altos Estudos Internacionais e do
Desenvolvimento, também naquela cidade suíça.
Em entrevista ao Expresso, em Maio,
Durão Barroso assumiu que se manteria ligado à universidade, e que
tinha recebido "algumas propostas interessantes do sector económico e
empresarial". "É possível que aceite alguma coisa do ponto de vista
não-executivo", admitiu. Trabalhar no privado depois dos mais altos
cargos que teve, dizia, "é perfeitamente legítimo, desde que se evite
qualquer problema de conflito de interesses. Razão pela qual quis deixar
passar algum tempo antes de considerar qualquer ocupação desse género.
Precisamente para marcar uma distância no tempo em relação a essa
responsabilidade", justificava.
"A política", garantia "para mim hoje em dia, como actividade, é coisa do passado".
Agora junta-se à Goldman Sachs, banco que em várias ocasiões se
tornou notícia por levar para os conselhos do banco altos dirigentes ou
políticos. Mark Carney, governador do Banco de Inglaterra, ou Mario
Draghi, presidente do BCE, são alguns dos nomes associados ao Goldman.
Ou ainda Mario Monti, que foi comissário europeu e primeiro-ministro de
Itália. Marc Roche, jornalista do Le Monde, colocou o dedo na ferida no
livro "O banco – como o Goldman Sachs dirige o mundo".
Para este jornalista, segundo declarações à Lusa,
a filosofia Goldman Sachs está presente na política europeia através de
um grupo de "iluminados" que são simultaneamente "um grupo de pressão,
uma associação de colheita de informações, uma rede de ajuda mútua
eficaz, competente e treinada na instituição norte-americana", apesar de
se saber muito pouco sobre o que andaram a fazer no Goldman Sachs os
"tecnocratas" que actualmente são protagonistas na Europa. Agora, é a
vez de Durão Barroso ir para a instituição. De Portugal, também passou
pela instituição António Borges, já falecido, que viria a ser
assessor da Parpública para as privatizações, no Governo de Passos Coelho.
É também de um clube considerado – no livro do jornalista do DN Rui
Pedro Antunes - o "mais poderoso do mundo" que "influencia o destino da
nação", que Durão Barroso passou a fazer parte. É o líder nacional do
Clube de Bilderberg, em substituição de Francisco Pinto Balsemão. Sempre
com ligações ao PSD, Durão Barroso foi, pela primeira vez este ano o
líder nesse clube, tendo convidado a ir ao encontro Maria Luís
Albuquerque, ex-ministra das Finanças e vice-presidente do PSD, e
Fernando Medina, o autarca de Lisboa. Segundo uma investigação de Rui
Pedro Antunes, os portugueses que já estiveram nestes encontros anuais
acabaram por ascender ou já tinham desempenhado cargos governativos.
Assim aconteceu com Durão Barroso. Participou pela primeira em
Bilderberg em 1994, quando era ministro dos Negócios Estrangeiros de
Cavaco Silva, função que iniciou em 1992. Já antes tinha sido
sub-secretário de Estado do Ministério dos Assuntos Internos, em 1985,
quando a tutela era de Eurico de Melo. Ainda nos governos de Cavaco
Silva foi secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação
(1987-1991), com Deus Pinheiro como ministro, e foi nessa qualidade que
ficou ligado aos acordos de Bicesse, em 1990, que resultaram num cessar
fogo em Angola entre MPLA e Unita. Dois anos depois garantiu o cargo
máximo da diplomacia nacional, na segunda maioria absoluta de Cavaco
Silva. O seu antecessor, Deus Pinheiro, seguiria para Bruxelas para ser o
segundo comissário português.
Durão Barroso liderou a pasta dos Negócios Estrangeiros até ao final
do Governo de Cavaco Silva, em 1995. Candidatou-se depois à liderança do
PSD, perdendo-a para Fernando Nogueira, num congresso cuja frase mais
célebre acabou por ser a de Luís Filipe Menezes, referindo-se a Durão
Barroso, a quem chamou de "sulista, elitista e liberal". E foi este
"sulista" (Durão Barroso nasceu em Lisboa há 60 anos) que ao perder o
partido ganhou novo alento na política. É que Fernando Nogueira
perderia, nesse mesmo ano, as legislativas, levando ao fim do cavaquismo
e permitindo um novo ciclo de governação socialista, com António
Guterres ao leme.
A liderança do "cherne"
Durão Barroso aproveitou o momento. Foi para o Parlamento e
aproveitou para se doutorar nos Estados Unidos, deixando, aliás, estes
estudos como argumento para não disputar a liderança do partido. Até
1999. Sucede na liderança do PSD ao agora Presidente da República,
Marcelo Rebelo de Sousa, sem ter tido luta. E perde as legislativas para
Guterres, nesse mesmo ano, tendo-lhe sido atribuída a frase: "Tenho a
certeza que serei primeiro-ministro, não sei é quando". Foi-o em 2002 e
depois de reconfirmado à frente do PSD. A vitória das autárquicas dos
sociais-democratas, ou antes a derrota dos socialistas, leva Guterres a
demitir-se com o argumento de pretender evitar o "pântano político" e
Jorge Sampaio, então Presidente, convoca eleições antecipadas.
Caminho aberto para Durão, primeiro-ministro, mas em coligação com o CDS de Paulo Portas.
O "sonho" concretizava-se. Ficou dois anos. Saiu a meio do mandato para
aceitar a presidência da Comissão Europeia em 2004. Deixou um vazio que
Jorge Sampaio aceitou preencher com Santana Lopes, que assumiu a chefia
do Executivo, mas por pouco tempo. O país voltaria a eleições em 2005,
com o início da era Sócrates. E foi com o primeiro-ministro socialista
ao leme que o Tratado de Lisboa seria assinado em 2007. Durão Barroso
era presidente da Comissão Europeia. Os dois nomes ficarão para a
história europeia e a célebre frase "Porreiro, pá!" dita por Sócrates a
Barroso quando o acordo foi assinado.
Se Barroso diz que a vida política termina agora, ela iniciou-se, no
entanto, muito antes das lides governativas. Tudo começou há mais de 40
anos. Antes mesmo do 25 de Abril, quando foi um dos líderes da FEM-L
(Federação dos Estudantes Marxistas-Leninistas), do Movimento
Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP), de inspiração maoísta.
Já depois do 25 de Abril foi expulso do MRPP. Só nos anos 80 aderiu ao
PSD, a seguir à morte de Sá Carneiro.
Santana Lopes foi dos que antecipou grandes voos para Durão Barroso. Já
subiu toda a hierarquia, mas ainda não se candidatou à Presidência, como
muitos ainda antecipam. "Eu acredito que o sonho só é verdadeiramente
sonho quando é grande", dizia, em 2002, em vésperas de eleições que
levaram Barroso a chefe do Executivo, a sua mulher, Margarida de Sousa
Uva, acrescentando que o seu marido tinha essa "imensa capacidade de
sonhar".
E foi ao "vender o seu peixe" que Margarida de Sousa
Uva acabaria, sem querer, por colar outro epíteto a Barroso: "De certa
maneira foi ingrata a maneira de estar aqui a vender o meu peixe, mas o
Zé Manel, se fosse peixe, era um cherne". Disse-o para citar o poema de
Alexandre O’Neill: "sigamos o cherne". O poema, no entanto, segue
dizendo: "Sigamos, pois, o cherne/ antes que venha/ Já morto, boiar ao
lume de água".
Ainda não chegou a essa fase. Durão Barroso
talvez olhe para o poema e prefira escolher a outra frase: "Desçamos ao
fundo do desejo/Atrás de muito mais que a fantasia".
* Um "inginheiro" de tachos.
.
Subscrever:
Mensagens (Atom)