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Diário da Copa -
Quem não chora não mama?
Extra! Os rapazes chorões de Scolari, a seleção brasileira no divã e argentinos disparados para o mar
1 - Tal como uma telenovela de sucesso
- daquelas que colocam o
Brasil inteiro diante da TV, que extremam sentimentos, criam heróis e
fazem despontar vilões -, a seleção brasileira é agora a principal
produtora de conteúdo dramático do país.
Tudo o que se passa com a seleção é debatido, esquadrinhado e
avaliado com um afinco que vai muito além da análise futebolística.
Trata-se de emoção e dramatismo, de vida e de morte, de intolerância e
paixão. Não falo sequer dos adeptos ou dos comentadores. A seleção
brasileira é, só por si, um filme que mistura o épico, o bélico, o
emotivo e o transcendente.
2 - O transcendente.
Scolari e muitos jogadores são religiosos
devotos. Se o treinador tem uma Nossa Senhora do Caravaggio na sua mesa
de trabalho, que viajou para o estádio onde o Brasil eliminou o Chile, o
guarda-redes Júlio César (que tirou uma foto ao lado da estátua da
santa depois da partida) recebeu um pequeno crucifixo que colocou sobre a
linha de golo ao defender os pénaltis. Menções e agradecimentos a deus
são constantes nas entrevistas e Thiago Silva, o capitão, preferiu rezar
do que bater um penálti, pedindo ao técnico que o dispensasse porque
não se encontrava bem.
3 - O emotivo.
Nos últimos dias não se tem falado noutra coisa se
não no choro e aparente descontrolo emocional dos jogadores brasileiros
antes e durante o desempate por penáltis com o Chile. As imagens de
Júlio César limpando as lágrimas antes de ir para a baliza defender as
grandes penalidades, de Neymar chorando durante o hino ou do capitão
Thiago Silva soluçando como um garoto quando o Chile falhou o último
penálti, foram tidas como uma prova da debilidade da equipa para lidar
com a pressão. De repente, parece que a seleção está no divã e, tal como
num reality show, todas as suas emoções, palavras e gestos são
analisados diante do público, com jornais e televisões a recorrerem a
psicólogos e outros especialistas de forma a explicar ao povo qual o
diagnóstico. Se uns dizem que a seleção treme demais, sente demais e
chora de mais - embora jogue de menos -, há outros que reconhecem que,
devido a algumas limitações do plantel, talvez seja a emoção, ainda que
não totalmente descontrolada, o maior atributo destes jogadores, como
afirma o ex-campeão do mundo Tostão: "O que salva a seleção é o
envolvimento emocional dos jogadores, empurrados pela torcida e pela
pressão de jogar em casa".
4 - O épico.
O choro e a espavento de emoções alguma coisa terão a
ver com a inclemente exigência do público brasileiro - o hexacampeonato
do mundo -, mas também com a pressão que os jogadores colocam a si
mesmos, como se a vida de 200 milhões de pessoas ou a glória, o valor e o
futuro do Brasil dependessem apenas deles e de ganhar um título. Claro
que ter perdido uma final da Copa em casa, em 1950, pesa ainda sobre os
brasileiros e os jogadores, apesar de tal cataclismo ter acontecido há
64 anos. Talvez porque ganharam cinco títulos mundiais ao longo da
história, talvez porque o próprio Scolari disse, antes do torneio, que o
Brasil tinha obrigação de vencer (tem, porquê?), a pressão para que
estes jogadores sejam épicos pode ser tão motivadora como esmagadora.
5 - O bélico.
Scolari percebeu que, com tanto choro e sentimentos à
flor da pele, a expressão brasileira "explode coração" podia se tornar
perigosa. Tornou-se mais duro - não com os jogadores, a quem abraça e
beija com frequência -, mas radicalizou o discurso para fora. Disparou
contra a Fifa, contra os árbitros, contra a imprensa - diz que os
jornalistas não apoiam a seleção. Disse que iria ser bastante menos
diplomático com os estrangeiros. Felipão "o general" Scolari, que deu
uma bofetada num jogador sérvio quando treinava Portugal, está de volta.
E tem seus acólitos: depois do jogo com o Chile, Rodrigo Paiva, diretor
de comunicação da CBF, deu um sopapo no jogador Pinilla.
Publicidade versus História
É mais do que conhecida a rivalidade entre argentinos e brasileiros.
Depois de vários jogos da seleção alviceleste nesta Copa, já houve
confrontos nas ruas entre os visitantes do país vizinho e os anfitriões.
Os argentinos cantam nos estádios "Brasil como te sentes de ter em
casa o teu papá?" E os brasileiros podem ver agora um anúncio na TV em
que os argentinos são lançados ao mar. Não sei qual a idade dos
criativos que tiveram esta ideia, mas talvez precisem de estudar um
pouco de História: durante a ditadura Argentina (1976-83), desapareceram
mais de 30 mil pessoas. Muitas delas foram atiradas de aviões para o
mar.
O vagão amarelo
Durante o desempate por penáltis com o Chile, havia quem estivesse no
metro, dependente de saber o resultado pelo pequeno rádio de um dos
passageiros. A revista Sports Illustrated - que também tem o hábito de
fotografar miúdas giras em biquíni - tem no seu site um vídeo dos
adeptos no metro após o último penálti da partida.
A Copa dos outros
Na sua coluna sobre a Copa, a escritora Tati Bernardi explica como o
clima de "come-come" (engate) em São Paulo, por causa do Campeonato do
Mundo, despertou o seu feminismo guerrilheiro e alma pudica
IN "VISÃO"
01/07/14
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