Quem quer casar com a Rosinha?
Os pequenos partidos têm uma função higiénica na sociedade, mas quem vota sempre no PS ou no PSD desvaloriza a importância dos extremos no Parlamento. Tendem a encarar o CDS, o PCP e o BE como caricaturas da acção política e os seus protagonistas como figuras histriónicas em bicos de pés com as suas bandeiras garridas. São muitas vezes esses deputados que animam as sessões na Assembleia da República, a qual acaba de fechar para férias. Mas fazem mais do que isso. À esquerda ou à direita, levantam assuntos incómodos para um centro que fala com a cautela de quem ambiciona tomar ou manter-se no poder. É quase sempre dessas forças que nascem as causas ditas fracturantes, desde o casamento dos homossexuais aos direitos dos combatentes. Sem estes partidos, sem as pressões que exercem junto de quem governa, algumas minorias não teriam voz e a nossa democracia seria um campo de discussão mais árido e nebuloso. Bem hajam os pequenos partidos e o equilíbrio que alimentam com os seus murros na bancada.
Existe uma diferença fundamental entre as duas pequenas forças de esquerda, por um lado, e a única de direita, por outro. PCP e BE, tirando acordos pontuais a nível local, são incompatíveis com o PS. Os comunistas ficaram acorrentados a um anacronismo sem paralelo na Europa. Tiveram oportunidade de guardar a foice e o martelo, mas enterraram a via renovadora e deram vivas à ala ortodoxa, ainda hoje reflectida nas feições angulosas de Jerónimo. Há muito que o PC se excluiu de qualquer aliança.
O BE é um notável agregador de protestos, venham eles de onde vierem. Mas tem alergia ao poder e mantém-se na adolescência, com tudo o que isso implica de frescura e inconsequência. Se a origem do BE é difusa, o futuro é um mistério e o presente um dilema. Se dá sinais de namoro com o PS, arrisca-se a perder alguns dos milhares de votos que lhe deram esta popularidade. Se insiste no discurso contrapoder, corre o risco de ser ferido de morte pelo voto útil da esquerda receosa do avanço do PSD. E ainda que o BE suavize pontualmente esse discurso, basta consultar o seu programa político para tirar as dúvidas. Questões em torno das quais PS e PSD partilham um consenso à prova de bala, como a presença portuguesa na NATO, são postas em causa com uma veemência irrealista.
Quando o PS sonha com aliados, choca então neste evidência: não há. Bem pode Manuel Alegre apelar a um entendimento entre a esquerda. A esquerda quer entender-se.
À direita, tudo muda. O CDS cabe naquele termo de que os comentadores tanto gostam: o arco da governabilidade. Tem um historial de governação e sempre que vê uma oportunidade modera o discurso e assume uma pose de Estado. Ao contrário do PS, o PSD tem sempre esta carta para usar no momento certo. E, pelo menos neste ponto, os centristas não se importam de ser usados. Em entrevista ao i, Ribeiro e Castro diz que CDS e PSD "estão condenados a entender-se" . A palavra "condenados" tem uma conotação dramática que fica bem na boca de um político mas que, como todos sabemos, não é para aqui chamada. PSD e CDS entendem-se. Ponto final. Ao contrário da esquerda, dividida entre a social-democracia e o marxismo. Esquizofrénica, portanto.
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Existe uma diferença fundamental entre as duas pequenas forças de esquerda, por um lado, e a única de direita, por outro. PCP e BE, tirando acordos pontuais a nível local, são incompatíveis com o PS. Os comunistas ficaram acorrentados a um anacronismo sem paralelo na Europa. Tiveram oportunidade de guardar a foice e o martelo, mas enterraram a via renovadora e deram vivas à ala ortodoxa, ainda hoje reflectida nas feições angulosas de Jerónimo. Há muito que o PC se excluiu de qualquer aliança.
O BE é um notável agregador de protestos, venham eles de onde vierem. Mas tem alergia ao poder e mantém-se na adolescência, com tudo o que isso implica de frescura e inconsequência. Se a origem do BE é difusa, o futuro é um mistério e o presente um dilema. Se dá sinais de namoro com o PS, arrisca-se a perder alguns dos milhares de votos que lhe deram esta popularidade. Se insiste no discurso contrapoder, corre o risco de ser ferido de morte pelo voto útil da esquerda receosa do avanço do PSD. E ainda que o BE suavize pontualmente esse discurso, basta consultar o seu programa político para tirar as dúvidas. Questões em torno das quais PS e PSD partilham um consenso à prova de bala, como a presença portuguesa na NATO, são postas em causa com uma veemência irrealista.
Quando o PS sonha com aliados, choca então neste evidência: não há. Bem pode Manuel Alegre apelar a um entendimento entre a esquerda. A esquerda quer entender-se.
À direita, tudo muda. O CDS cabe naquele termo de que os comentadores tanto gostam: o arco da governabilidade. Tem um historial de governação e sempre que vê uma oportunidade modera o discurso e assume uma pose de Estado. Ao contrário do PS, o PSD tem sempre esta carta para usar no momento certo. E, pelo menos neste ponto, os centristas não se importam de ser usados. Em entrevista ao i, Ribeiro e Castro diz que CDS e PSD "estão condenados a entender-se" . A palavra "condenados" tem uma conotação dramática que fica bem na boca de um político mas que, como todos sabemos, não é para aqui chamada. PSD e CDS entendem-se. Ponto final. Ao contrário da esquerda, dividida entre a social-democracia e o marxismo. Esquizofrénica, portanto.
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