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Viver antes de morrer
Porque parar de viver para não morrer não é sistema. É um absurdo que não pode nem deve ir mais longe. Para que o nosso grande motor do crescimento dos últimos anos, de nome turismo, regresse paulatinamente, é necessário que nós próprios saibamos restabelecer a confiança devida.
As pessoas têm de começar a entender o que representa este vírus, a
sua mortalidade e as suas formas de propagação. Percebo e defendi,
aliás, logo no início, que dado o parco conhecimento sobre a matéria se
tenha decidido pelo confinamento – no fundo, com o objetivo de que o
nosso Serviço Nacional de Saúde não sofresse ruturas como sofreram os de
Itália ou Espanha em algumas regiões e para que daí não resultassem
mais mortes por falta de tratamento, nem que os profissionais de saúde
tivessem o brutal peso de ter de escolher quem morria e quem era
tratado, por falta de camas.
Esse tempo foi (e bem) ultrapassado. Pelo conhecimento que temos ao
dia de hoje, mas também tendo em conta a responsabilidade dos
portugueses, conseguimos o famoso aplanar da curva que conseguiu aliviar
de certa forma o fluxo de doentes.
Passada essa fase, não pode existir mais lugar para falsos
alarmismos. Não podemos continuar a assustar a população quando ontem
morreu uma pessoa de covid-19, sendo esse “perigo” talvez menor que as
mortes que resultaram de quedas fortuitas ou de simples maleitas que se
agravaram. Temos de entender que, enquanto não houver vacina, o vírus
está aí para durar e que temos de nos habituar a viver com ele. Podemos e
devemos continuar com os cuidados de higiene que foram aplicados
durante a pandemia, mas que já deveriam ser a normalidade há muito, como
o lavar de mãos frequente ou não espirrar nem tossir para cima das
outras pessoas, hábitos porcos que muitos ainda teimam em manter.
“Elementar, meu caro Watson”, diria Sherlock Holmes. Talvez para alguns,
nem tanto para outros.
É, por isso, altura de fazermos o possível para regressar à nossa
vida. Claro que existem pessoas que fazem parte de grupos de risco e que
devem ter mais cuidados, mas mesmo essas já os deveriam ter antes do
surto. Todas as outras devem partir para a concretização dos seus
objetivos pessoais e profissionais, serem felizes, voltarem a estar com a
família e os amigos e irem em busca dos seus sonhos. Porque parar de
viver para não morrer não é sistema. É um absurdo que não pode nem deve
ir mais longe. Para que o nosso grande motor do crescimento dos últimos
anos, de nome turismo, regresse paulatinamente, é necessário que nós
próprios saibamos restabelecer a confiança devida. Darmos motivos para
que as pessoas venham, que os turistas explorem o nosso país maravilhoso
e que nós próprios possamos voltar a usufruir deste nosso Portugal tão
especial.
Concordo, por isso, que se faça tudo e mais alguma coisa para que os
que nos visitam tenham todas as condições e mais algumas para voltar.
Não é, aliás, por acaso que muitos estrangeiros que têm por cá casa de
férias ou estabeleceram relações de confiança após várias vindas tenham
decidido, em plena crise, “pisgar-se” para o nosso país, cumprindo a
quarentena na tranquilidade do Algarve ou do litoral alentejano. É
porque temos sítios mágicos que valem de facto a pena, porque cá ninguém
os chateia, têm sol, comida fantástica e mar. O que pode alguém querer
mais numa altura destas do que dar um mergulho no mar? Parem, por isso,
esses adeptos do Nostradamus com essas premonições apocalípticas e
lamechices, porque ainda não é desta que isto acaba e nós temos de viver
antes de morrer. Viver, no verdadeiro sentido da palavra.
IN "i"
19/06/20
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