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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
30/04/2017
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XI-PEDRAS QUE FALAM
1- DINAMICA DA PRAIA
DO PORTO SANTO
A
RTP Madeira produziu um excelente documentário, numa série de 12 programas, sobra
a temática dos recursos naturais com incidência nos recursos
geológicos, a que denominou "Pedras que falam", de autoria do Engº
Geólogo João Baptista Pereira Silva.
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Michael Botticelli
A dependência química
é uma doença
Apenas uma em nove pessoas nos Estados Unidos consegue a assistência e o tratamento necessários para tratar a adição e o abuso de substâncias. Ex-diretor do National Drug Control Policy, Michael Botticelli está trabalhando para pôr um fim nessa epidemia e conseguir que pessoas com dependência química sejam tratadas com bondade, compaixão e de forma justa. Numa palestra pessoal e ponderada, ele encoraja os milhões de norte-americanos em recuperação a fazerem suas vozes serem ouvidas e a confrontar o estigma associado a desordens do uso de substâncias.
ISABEL MOREIRA
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IN "EXPRESSO"
22/04/17
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Se são gays não somos nós
Passado mais de meio século sobre a
segunda guerra mundial, foi revelada a existência de campos de
concentração para homens gay na Tchetchénia. Tivemos acesso a relatos
macabros por parte de quem sobrevive a um regime que tem os gays como
impuros, que os quer eliminar, diretamente ou incumbindo a sociedade e
as suas famílias de o fazerem.
A ver se nos entendemos: demorou
demasiado tempo para que fosse reconhecido o que o nazismo fez aos
homossexuais (porque a homossexualidade era considerada uma patologia,
certo?) e em 2017 somos confrontados com uma monstruosidade
contemporânea sem grandes consequências.
Com base em discursos
de base religiosa, moral e nacionalista, Putin e outros de sua espécie
justificam a perseguição da “impureza”, por isso já sabíamos da “lei que
proíbe a propaganda homossexual” de Putin, e agora somos bombardeados
com um campo para espancar, torturar e eletrocutar gays.
A falta
de empatia relativamente à violação dos direitos humanos das pessoas
LGBT é gritante. É sempre assim e continua a ser assim mesmo quando a
notícia é, repito, a existência de campos de concentração para homens
gay na Tchetchénia.
Aquando do ataque terrorista homofóbico ao
clube “Pulse”, em junho de 2016, foi chocante ver como efetivamente se
abriu um “debate” sobre se deveria referir o facto como um ataque
homofóbico e não “simplesmente” como um ato de terrorismo. “São pessoas,
para quê frisar que a discoteca era uma discoteca LGBT”? Isto era dito
por várias almas, sem empatia alguma pela evidência de se ter tratado de
um ataque movido pela homofobia, mesmo que nem todas as pessoas que
estavam na discoteca fossem lésbicas ou gays. Claro que essas mesmas
pessoas não hesitam em chamar as coisas pelos nomes se uma igreja
católica ou uma mesquita for alvo de um ataque terrorista. Nesses casos,
o ataque é definido, e bem, como sendo feito às comunidades em causa,
mas nesses casos, claro.
Sabemos da existência de campos de
concentração para homens gay na Tchetchénia, há uma manifestação em
Lisboa em frente à Embaixada da Rússia quase sem imprensa presente,
nenhum telejornal tem início neste horror e os líderes nacionais,
europeus, a UE e o SG da ONU estão calados.
São gays, não se
trata de um grupo étnico, não fomos alarmados pela notícia de um campo
de concentração para outra categoria de pessoas, por isso não há
empatia, são gays, ninguém está de acordo com as perseguições e com o
campo de concentração, mas daí a reagir vai toda uma cultura de adesão
total à consideração de que as pessoas LGBT são vítimas históricas e
nenhum direito conferido ao resto da população lhes pode ser negado.
Se são gays não somos nós, não é?
O caminho para essa empatia é longo, o silêncio é cúmplice, a vergonha alheia é enorme.
IN "EXPRESSO"
22/04/17
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XXIII-VISITA GUIADA
Aos Jardins
do Palácio Fronteira/1
LISBOA - PORTUGAL
* Viagem extraordinária pelos tesouros da História de Portugal superiormente apresentados por Paula Moura Pinheiro.
Mais uma notável produção da RTP
*
As nossas séries por episódios são editadas no mesmo dia da semana à
mesma hora, assim torna-se fácil se quiser visionar episódios
anteriores.
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EM ABRIL NA
"EXAME INFORMÁTICA"
"EXAME INFORMÁTICA"
China e Europa querem construir
“vila” na Lua
As agências espaciais da China e da Europa estão a planear construir uma vila na superfície lunar que pode servir de base para outras missões espaciais, como pólo turístico e como centro para minerar recursos.
Uma base lunar pode estar no futuro mais
próximo da Humanidade.
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Representantes das agências espaciais da China e
da Europa confirmaram que ambas as organizações estão a trabalhar no
sentido de desenvolver uma base avançada que sirva de entreposto para o
lançamento de outras missões ou mesmo para centro de turismo espacial.
«O espaço mudou desde a corrida espacial dos anos 1960», explica Pal Hvistendahl, da ESA. Os responsáveis de ambas as agências dizem que a cooperação internacional é vital para uma exploração espacial pacífica, noticia a ZDNet.
Recorde-se que a China entrou na corrida espacial mais tarde, mas tornou-se o terceiro país a enviar humanos para o espaço, em 2003. Agora, o país está a cooperar com a NASA, com a Europa, a Índia e os EUA para enviar veículos espaciais para exploração de Marte.
A Admininstração Trump também já aflorou o tema do espaço e falou sobre planos para visitar a Lua e Marte, mas não comentou sobre eventuais parcerias com a China ou a Europa.
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OLHOS POSTOS NA LUA |
«O espaço mudou desde a corrida espacial dos anos 1960», explica Pal Hvistendahl, da ESA. Os responsáveis de ambas as agências dizem que a cooperação internacional é vital para uma exploração espacial pacífica, noticia a ZDNet.
Recorde-se que a China entrou na corrida espacial mais tarde, mas tornou-se o terceiro país a enviar humanos para o espaço, em 2003. Agora, o país está a cooperar com a NASA, com a Europa, a Índia e os EUA para enviar veículos espaciais para exploração de Marte.
A Admininstração Trump também já aflorou o tema do espaço e falou sobre planos para visitar a Lua e Marte, mas não comentou sobre eventuais parcerias com a China ou a Europa.
* Ao concretizar-se este projecto o primeiro presidente da Junta de Freguesia de "Vila Lua" será o português António Mexia.
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ESTA SEMANA NA
"SÁBADO"
"SÁBADO"
Comediante muçulmano substitui Trump
.no jantar de correspondentes
.no jantar de correspondentes
Donald Trump faltou ao jantar de correspondentes da Casa Branca. No jantar, a liberdade de expressão foi tema central
O jantar de correspondentes é uma cerimónia que junta, há 36 anos,
jornalistas de vários meios e publicações e o presidente dos EUA num
jantar de gala. Este ano Donald Trump quebrou a tradição, faltando ao
jantar.
Ao longo da campanha e do seu mandato, Donald Trump
acusou várias vezes os meios de comunicação de serem "desonestos" e de
se terem unido contra ele, acusações que voltou a fazer na festa do 100º
dia de presidência: "Não podia estar mais feliz do que estar a 100
milhas de distância [dos meios de comunicação de Washington]", afirmou o
presidente no jantar que aconteceu na Pensilvânia.
Em
Washington, no jantar de correspondentes, vários jornalistas falaram
sobre a liberdade de imprensa e a importância desta na sociedade.
No jantar estiveram presentes dois jornalistas americanos
históricos: Bob Woodward e Carl Bernstein, responsáveis pela reportagem
sobre o Watergate no The Washington Post, que levou ao impeachment de Nixon.
Woodward reconheceu que os jornalistas "como os políticos e os presidentes" cometem erros e vão "longe de mais". "Quando isso acontece, devemos admitir", acrescentou, afirmando ainda: "Sr. Presidente, os meios de comunicação não são 'notícias falsas'".
Woodward reconheceu que os jornalistas "como os políticos e os presidentes" cometem erros e vão "longe de mais". "Quando isso acontece, devemos admitir", acrescentou, afirmando ainda: "Sr. Presidente, os meios de comunicação não são 'notícias falsas'".
Hasan Minhaj, comediante e jornalista que integra a equipa do Daily Show, foi
o convidado encarregue de discursar no jantar de correspondentes, em
lugar de Donald Trump. Normalmente o presidente é o orador principal do
evento.
Quando subiu ao palco, Minhaj fez uma referência a Obama e à polémica que existiu em torno da religião do ex-presidente norte-americano, afirmando ser uma honra "um muçulmano estar neste palco pelo nono ano consecutivo".
No seu monólogo, Hasan Minhaj classsificou os jornalistas como "inimigo número um" do presidente: "Os piores inimigos são, por ordem: jornalistas, Daesh e gravatas com um comprimento normal".
Durante o discurso, o comediante da Comedy Central, fez várias referências a Donald Trump e aos "factos alternativos".
Sobre o facto de Donald Trump não estar presente, Hasan afirmou, num tom satírico: "Não está cá porque não sabe acatar com uma piada".
Minhaj referiu ainda que o líder dos EUA não bebe, chamando a atenção para o facto de todas as tomadas de decisão e tweets enviados terem sido feitos enquanto o presidente norte-americano estava sóbrio.
Foi também tema do monólogo o facto de a administração não estar presente no jantar. Segundo o apresentador, Betsy DeVos, a secretária da educação, estaria a "tomar atenção à colecção de lágrimas de crianças"; Rick Perry, secretário da energia, estaria numa sala cheia de plutónio à espera de se tornar o Homem Aranha e a mulher do vice-presidente, Mike Pence, não o terá deixado sair de casa.
Durante o seu discurso, Hasan atacou vários meios de comunicação, como o C-Span, a Fox News, a CNN, o Huffington Post ou o USA Today.
Quando subiu ao palco, Minhaj fez uma referência a Obama e à polémica que existiu em torno da religião do ex-presidente norte-americano, afirmando ser uma honra "um muçulmano estar neste palco pelo nono ano consecutivo".
No seu monólogo, Hasan Minhaj classsificou os jornalistas como "inimigo número um" do presidente: "Os piores inimigos são, por ordem: jornalistas, Daesh e gravatas com um comprimento normal".
Durante o discurso, o comediante da Comedy Central, fez várias referências a Donald Trump e aos "factos alternativos".
Sobre o facto de Donald Trump não estar presente, Hasan afirmou, num tom satírico: "Não está cá porque não sabe acatar com uma piada".
Minhaj referiu ainda que o líder dos EUA não bebe, chamando a atenção para o facto de todas as tomadas de decisão e tweets enviados terem sido feitos enquanto o presidente norte-americano estava sóbrio.
Foi também tema do monólogo o facto de a administração não estar presente no jantar. Segundo o apresentador, Betsy DeVos, a secretária da educação, estaria a "tomar atenção à colecção de lágrimas de crianças"; Rick Perry, secretário da energia, estaria numa sala cheia de plutónio à espera de se tornar o Homem Aranha e a mulher do vice-presidente, Mike Pence, não o terá deixado sair de casa.
Durante o seu discurso, Hasan atacou vários meios de comunicação, como o C-Span, a Fox News, a CNN, o Huffington Post ou o USA Today.
A esta gala assistem, por norma, várias celebridades sociais e
políticas, mas com a ausência de Trump - que estava num comício a marcar
o seu centésimo dia como presidente - a sala contava quase só com
jornalistas, havendo poucos membros da administração norte-americana.
Trump prometeu ir ao jantar no ano seguinte.
* USA, uma grande democracia idiosincrática, whatever.
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HOJE NO
"A BOLA"
"A BOLA"
Alpinista suíço morre
em acidente no Evereste
O suíço Ueli Steck, de 40 anos, foi encontrado,
este domingo, sem vida, durante uma expedição perto do Monte Evereste,
no Nepal.
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O alpinista morreu no campo 1 do Monte Nuptse. O corpo
foi recuperado do local e levado para Lukla, onde se encontra o único
aeroporto da região do Monte Evereste.
Segundo os organizadores da expedição, não está ainda esclarecido como Ueli Steck morreu, mas sabe-se que planeava escalar 8.850 metros (29.035 pés) do Monte Evereste, seguindo-se no próximo mês o Monte Lhotse.
Ueli Steck, apelidado de «Máquina Suíça», venceu por duas vezes o Piolet d`Or, considerado o maior prémio de montanhismo.
Segundo os organizadores da expedição, não está ainda esclarecido como Ueli Steck morreu, mas sabe-se que planeava escalar 8.850 metros (29.035 pés) do Monte Evereste, seguindo-se no próximo mês o Monte Lhotse.
Ueli Steck, apelidado de «Máquina Suíça», venceu por duas vezes o Piolet d`Or, considerado o maior prémio de montanhismo.
* Temos um enorme respeito por estes atletas que muitas vezes, como esta, perdem a vida em risco extremo.
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HOJE NO
"SOL"
Ex-administrador da PT desmascara Sócrates e Mário Lino na OPA da Sonae
Luís Coutinho confirma que Sócrates se opôs à OPA da Sonae e revela que foi repreendido pelo governo por ter votado a favor. Desvenda ainda reuniões entre Granadeiro e Dirceu em Monsaraz e Nova Iorque
Luís Coutinho, ex-administrador da PT, afirmou aos investigadores da
Operação Marquês que José Sócrates se opunha à OPA da Sonae – ao
contrário do que este ainda recentemente afirmou. E revelou que, após
ter votado a favor dessa OPA, contrariando a posição governamental, foi
chamado pelo ministro Mário Lino, que o repreendeu pela posição adotada.
Esta questão voltou recentemente a ser objeto de polémica depois de
Paulo Azevedo, líder da Sonae, ter dito que «estavam todos feitos» para
chumbar a OPA.
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Sócrates respondeu a Azevedo num artigo do DN, afirmando que «o
Governo da altura assumiu uma posição de estrita imparcialidade, nem
contra nem a favor da OPA». E adiantou que quem fez pressão junto do
Governo foi o presidente da Sonae, solicitando-lhe que revisse a sua
posição e desse instruções à Caixa para apoiar a OPA. «Respondi-lhe que o
Governo não o faria e que se manteria fiel à sua conduta inicial de
estrita neutralidade», escreveu Sócrates.
Mas em declarações aos investigadores, o então administrador da PT Luís Coutinho refuta por completo essa versão.
Administrador fora convidado pelo Governo
Tendo sido convidado para administrador não executivo da empresa em
2006, pelo próprio ministro das Obras Públicas, Transportes e
Comunicações, Mário Lino, Coutinho esclareceu que votara a favor da OPA
por sua iniciativa, pois apesar de nomeado pelo Estado era um
administrador independente. Mas essa posição de ‘rebeldia’ seria
verberada pelo ministro, depois da Assembleia Geral em que a operação
foi chumbada por 46,6% contra 43,9%.
Coutinho afirmou que os restantes administradores votaram contra a
OPA por receio de perderem os seus lugares e também por obediência aos
acionistas que representavam, em particular o BES, que tinha dois
membros no CA: Joaquim Góis e Amílcar Morais Pires.
E recordou o reforço prévio da posição de alguns acionistas, como a
Ongoing, que meteu na administração da PT os seus principais elementos:
Nuno Vasconcelos e Rafael Mora. Este grupo, sustenta o MP, terá sido
aliás financiado por Ricardo Salgado com o objetivo de reforçar a sua
presença no capital da PT.
Vara teve contribuição decisiva
Para o chumbo da OPA foi ainda decisivo o voto da Caixa Geral de
Depósitos, detentor de 5,11% do capital. O representante da CGD foi
Armando Vara, que o MP suspeita ter recebido um milhão de euros de
‘luvas’.
Luís Coutinho diz, no entanto, que o chumbo aconteceria de uma
maneira ou doutra, pois o Governo recorreria à golden share para
reprovar a venda.
O Ministério Público suspeita que Sócrates também recebeu ‘luvas’ do
saco azul do BES para se opor à OPA – facto que abriu caminho ao ‘uso’
posterior da PT num conjunto ruinoso de negócios em que acabou
destruída. Destes negócios terão beneficiado, segundo a investigação,
vários indivíduos em Portugal e no Brasil, designadamente o próprio
Sócrates, Ricardo Salgado, Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, Lula da
Silva e José Dirceu.
Na sequência do chumbo da OPA – informou ainda Luís Coutinho –, foram
deliberadas pela administração da PT medidas de compensação dos
acionistas, como a distribuição de um dividendo extraordinário (o que
satisfazia a necessidade de liquidez do BES, então já a atravessar uma
grave crise) e a separação da PT Multimedia, operação que, tal como a
primeira, também gerou ganhos vultuosos aos detentores do capital da
operadora.
A OPA seria ainda contrária aos interesses do BES por outra razão:
por estar em cima da mesa o projeto de criação de um grande grupo
lusófono de comunicações – onde se iria diluir a posição do banco
liderado por Ricardo Salgado, que perderia influência na gestão.
Reunião entre Granadeiro e Dirceu na herdade de Monsaraz
No seu depoimento aos investigadores, Luís Coutinho revela que, meio
ano depois da OPA frustrada de 2007, Henrique Granadeiro e José Dirceu
encontraram-se na herdade que o português possui próximo de Reguengos de
Monsaraz, tendo estado presente também o advogado Abrantes Serra – que
servia de intermediário a José Dirceu, antigo chefe da Casa Civil de
Lula da Silva (entretanto condenado no seu país por tráfico de
influências e enriquecimento ilícito).
Note-se que o escritório de Abrantes Serra esteve envolvido, com
Henrique Granadeiro, no esquema de faturas forjadas que serviram para o
BES pagar ‘luvas’ a Dirceu, que atingiram 217.875 euros. Dirceu e
Granadeiro voltariam a encontrar-se em Nova Iorque para falar dos
negócios brasileiros, reunião em que também participou Luís Coutinho
(que já tinha estado presente na anterior).
* O que se descobriria se toda a gente falasse.
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HOJE NO
"EXPRESSO"
"EXPRESSO"
Pilar del Rio:
“José foi uma maldição”
Diz que chegou a Portugal como o “apêndice” de um homem e que, por cá, não faz parte da memória de ninguém. Mas carrega o peso de um legado imensamente português, que ajudou a construir. O trabalho na Fundação Saramago valeu-lhe o Prémio Luso-Espanhol de Cultura, que receberá em maio
Recebe-nos no gabinete que ocupa na Fundação Saramago. E, mal abre a
porta, a luz: Pilar é alta, bonita, exuberante, jovem. Uma jovem de 67
anos — idade que, dirá, não encontra em nenhuma parte do seu corpo.
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Rapidamente somos puxados para dentro do seu turbilhão, esse que a levou
a criar esta casa há uma década, a casar com “um dos cidadãos mais
completos do século XX”, 30 anos mais velho do que ela, a abdicar de uma
carreira de jornalista, a mudar de pele, de país, a não parar de
trabalhar, mesmo que o cansaço por vezes se imponha. E quem é esta
mulher? Alguém que não quer morrer numa “decadência ostensiva”. Que não
corresponde, nunca correspondeu, a estereótipos ou normas sociais. Que
acorda todos os dias para viver “da e com a memória”, consciente de ter
sido protagonista de uma experiência que muitas mulheres gostariam de
ter tido. Uma “maldição” que ainda hoje, sete anos passados sobre a
morte de José Saramago, a afasta de refazer a vida, porque,
simplesmente, não lhe apareceu à frente outro igual a ele.
Sabendo que não gosta que lhe
chamem a viúva de Saramago, quem é Pilar del Río hoje, aos 67 anos?
Não gosto que me chamem ‘viúva de’ porque ninguém me chamou ‘mulher de’
enquanto Saramago foi vivo. Isto por duas razões: porque tinham de
enfrentar Saramago e tinham de me enfrentar a mim. Cada um de nós é o
produto de si próprio. Não somos nem do pai nem do filho. Somos o que
queremos ser. Nunca fui a mulher de Saramago nem serei a viúva dele, por
respeito a Saramago e a mim própria.
E então quem é essa Pilar?
Uma mulher que não corresponde a estereótipos como o bom comportamento
ou às normas sociais que se esperam de alguém que já tem uma idade.
Talvez porque essa mulher ainda não consiga encontrar os 67 anos em
nenhuma parte do seu corpo. Claro que me olho ao espelho, mas acho que o
que está mal é um problema do espelho. Sou uma pessoa que todos os
dias, ao acordar, pensa no que quer fazer da sua vida. Não tenho ainda
um caminho definido. Ou seja, não estou reformada de nada. Faço a minha
vida como quando tinha 20 ou 30 anos. Vou trabalhar. Não quer dizer que
não tenha problemas. Tenho-os, de saúde...
Não sente que abdicou de uma carreira?
Sinto que tive um impasse. Isso também me dizia o meu marido, que eu
tinha abdicado de uma carreira para estar com ele, para participar e
estar no seu projeto, e, de facto, fui parte ativa nesse projeto. Mas
ele também dizia, nos últimos anos da sua vida e pensando nestas coisas
da internet (fiz-lhe um site), que eu tinha voltado à minha antiga
profissão, a de jornalista. A contar, a dizer, a compor... Se calhar,
estou de volta ao projeto inicial da minha vida.
Essa mulher que está no seu projeto original persegue um caminho, quer alguma coisa. O que é?
Tendo conseguido que esta fundação funcione e que tenha gente entre os
30 e os 40 anos, essa mulher não quer morrer numa decadência ostensiva.
Porque é que se tornou jornalista?
Porque gostava de contar coisas que antes gostava de ouvir. Acima de
tudo, sou uma ‘ouvidora’, oiço, oiço todo o tipo de gente em todo o tipo
de circunstâncias. Tudo me maravilha. Nasci para me maravilhar com uma
bola que rebola, com uma estrada que está a ser arranjada... Gosto de
contar essas coisas. Tive um programa de rádio há muito tempo, já depois
de ter conhecido o José, chamado “Blimunda Não Se Rende”. Nele contava
as maravilhas que Blimunda, que era pobre e sozinha, ia encontrando no
mundo.
É mais fácil viver quando se acredita no mundo e se está maravilhado
com ele?
Eu não acredito absolutamente nada num mundo que está a ser governado
por gente em que não acredito nem quero acreditar. O que não me
maravilha são todas as insolências e as perversões que os poderes
económicos praticam no mundo e as guerras que criam.
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Maravilha-me que
haja refúgios e momentos de harmonia e de poesia. Fomos feitos para
sermos seres passivos e sofredores, estamos preparados para ser a massa
no que respeita aos conceitos de política e ao domínio do social e fiéis
no que concerne à religião. Maravilha-me que de repente haja gente que é
ela própria e que é feliz.
A religião fez parte da sua vida...
Nunca vi Deus. O que me atraía na religião era uma forma bonita de
relação com os seres humanos, que acontecia através da caridade cristã,
entendendo a caridade como amor. Mas isso foi antes de descobrir que
acima da caridade estava a solidariedade. Esse momento teve a ver com a
minha chegada à faculdade, com a possibilidade de partilhar, com as
melhores pessoas, as ideias de liberdade, contra a tirania e a ditadura,
ideias que vieram também com a leitura. Hoje descubro que a caridade,
no seu sentido etimológico de amor e de partilha, também me interessa
muito.
Quando é que percebeu que Espanha vivia numa ditadura?
Desde sempre. Em criança sabia que vivíamos num país criado por obra e
graça de Deus. Sabia que Deus tinha criado Franco para fazer o país
preferido dele.
Aprendeu-o na escola?
Não
foi preciso, já o tinha aprendido em casa: Deus criou Franco e Espanha!
Claro que, ao crescermos, nos apercebemos de que o mundo é maior do que
Espanha. Damo-nos conta disso por uma notícia num jornal, um livro que
lemos... Com 14 ou 15 anos descobres que há países onde se vota e aos 18
já sabes que em Paris está a acontecer muita coisa. Tudo começa a
encaixar-se, a fazer sentido. E, com a mesma naturalidade que se aceitou
fazer a primeira comunhão, aceita-se deixar de ir à missa. Lembro-me
perfeitamente da última vez que me fui confessar: o padre perguntou-me
se já tinha acabado, e eu respondi-lhe que sim, mas que havia coisas que
não lhe ia dizer. Não ia confessar o amor nem que estava com o homem
que escolhi, o meu primeiro marido.
No entanto, casou com ele pela Igreja e batizou o seu filho...
Fi-lo para não dar um desgosto à minha mãe, que vivia uma guerra civil e
não tinha de suportar as iras do meu pai. Porém, a palavra ‘família’
provoca-me fastio, repugna-me. Faz parte do ADN que te dão a conhecer:
Estado, Família e Religião; Deus, Pátria e Família, se quiserem. Vi tudo
isso em casa. Fi-lo para não aumentar o conflito entre a minha mãe e o
meu pai. Para mim, era igual, queria lá saber da religião. Casei-me pela
Igreja porque a religião não me dizia nada. Era como pôr um vestido
comprido para ir a uma festa social ou usar uma joia, tanto me fazia.
Deus não significa nada para mim. Se há um Deus, ele vai perceber que
tudo o que inventaram à sua volta é uma merda. Quero que haja um Deus
para lhe pedir contas sobre o que fez aos seres humanos, às mulheres.
De onde vêm as suas convicções?
De um mundo cheio de pobres diabos. Vivo com seres humanos que tentam levantar a cabeça e não conseguem, porque lha cortam.
Disse que em sua casa havia
um conflito e que rejeita a ideia
de família. Porquê?
Rejeito-a porque tenho os olhos abertos para o que acontece no mundo,
as hipocrisias e mentiras que se fazem e dizem por aí. Descobri isso ao
ver “O Último Tango em Paris”, de Bernardo Bertolucci, em especial o
momento em que ele se vira para ela e lhe diz: “Mete o dedo no cu. A que
cheira?” Era uma boa família! Quer isto dizer que as primeiras mentiras
que o ser humano diz — porque se chegou tarde a casa, porque se precisa
de qualquer coisa, porque se tem medo — são à família, em família.
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Na
minha casa, o conflito traduzia uma sociedade patriarcal a viver numa
ditadura política e religiosa. Havia o nacional-catolicismo. Eu não
sabia quem era mais importante, se Deus, se Franco. Tinha dias. Qualquer
coisa que saísse do âmbito do nacional-catolicismo era um problema, e
se fosses respondona como eu eram problemas acrescidos. A última vez que
o meu pai me deu uma bofetada já eu tinha 23 anos.
O que fez?
Fui-me embora, estava de férias e fui ter com o meu namorado. Até a
minha mãe me apoiou. Bateu-me porque eu estava a defender uma irmã
adolescente que tinha chegado a casa 10 minutos atrasada.
Percebe-se que a relação com o seu pai era complicada...
Não era complicada, porque nem sequer tive uma relação com o meu pai.
Não se têm relações com os pais. Os pais existem para mandar em nós.
O que faziam os seus pais?
O meu pai era um tipo
singular. Foi frade dominicano e depois aviador e agente de seguros. A
minha mãe, submissa, tinha de ‘se defender’ de 15 filhos e do marido.
Era uma mulher extraordinária.
E como é ser a mais velha
de 15 irmãos?
Não sei, acho que gostava de ter sido a mais nova de todos. A verdade é
que partilhei a responsabilidade com a minha mãe na hora de tomar
decisões, assim como as tarefas diárias, que iam de pôr toda a gente na
escola a dar de comer e vestir... Foi um excesso de responsabilidade, do
qual beneficio hoje em dia.
Tentou ser diferente como mãe?
Fui uma má mãe, porque sempre pensei que seria a vida a educar o meu
filho e não eu. Nunca pensei no que queria ser como mãe, tinha outras
coisas que fazer.
Que relação mantém com o seu filho, hoje já com 40 anos?
Trato-o como uma pessoa que é independente e que está a trabalhar. E está a trabalhar sobre Saramago.
O que é que faz?
É uma história linda. O meu filho estava a viver na Argentina, pois
detestava a ideia de estar num país onde tivesse de se relacionar com o
José ou comigo. Mas quando o José adoeceu a sério, perguntou-me se eu
queria que me viesse ajudar. E veio da Argentina para Lanzarote com um
amigo e fez com que a minha casa nunca fosse uma enfermaria. Ficaram até
ao dia em que o José morreu. Neste momento está em Lanzarote a fazer
visitas guiadas à casa todos os dias.
Houve um antes e um depois
de Saramago?
Claro. Eu trabalhava como jornalista, tinha um programa e vivia num
país. O facto de estar com José Saramago fez-me deixar um posto de
trabalho estupendo e vir para um país onde não faço parte da memória de
ninguém, nem então nem agora. Antes estava com o José, agora estou com a
memória do José.
E quem é a Pilar depois do José?
Uma mulher muito mais velha, com uma experiência maravilhosa que muitas
das mulheres que conheço, e mesmo algumas que não conheço, gostariam de
ter tido. Sou uma privilegiada, vivi uma história absolutamente
singular que partilho de manhã à noite todos os dias na fundação, na
casa de Lanzarote, na Azinhaga. Vá para onde for, partilho essa
história, porque é demasiado grande para a guardar só para mim: é a
história de um dos cidadãos mais completos do século XX, uma pessoa que
nasceu para ser massacrada e não o foi, que se levantou do chão, que se
fez a si próprio, que não precisou de ser ‘filho de’, que nem sequer
tinha o apelido do pai. Uma figura que os burgueses de mente curta ainda
não conseguem compreender. Aqueles que não entendem a literatura de
Saramago ou o próprio Saramago têm de ir a um especialista, pois são
egoístas ou doentios ou têm uma conceção da vida demasiado elitista.
Mesmo os que não concordam com Saramago não podem negar que ele os
arrasa. Saramago é a-rra-sa-dor, um tipo que em menos de 30 anos
construiu uma obra como esta. Alguém que escreveu “O Evangelho segundo
Jesus Cristo”.
Fala de uma elite que ainda não compreendeu Saramago. Alguma vez se zangou com Portugal?
Não. Para mim, não existem países. Tenho semelhantes. O que é que herdei do franquismo? A repulsão pela bandeira.
Então reformulemos: alguma vez se zangou com os semelhantes
de Saramago?
Zanguei-me com os espíritos pequenos, ou melhor, com o comportamento de
alguns indivíduos, sobre os quais só me ocorre dizer “coitados”. Esses
que escrevem uma coluna em Portugal e teorizam e dogmatizam, mas não
chegam nem à raia de Badajoz. Passando Badajoz, não são ninguém. Não
suporto quando começam com a conversa de que Saramago saneou não sei
quantas pessoas. Não, desculpem, o diretor literário não faz
saneamentos, foi a administração, há provas. E escrevem isso em jornais
que mal pagam aos seus colaboradores, que mal pagam aos seus redatores e
que põem na rua jornalistas. Mas esses não são saneados. Têm ódio à
revolução, no fundo querem ser aristocratas. Mas não são!
Como é que um encontro pode
mudar uma vida?
Não tive consciência de que a terra tremeu. José Saramago sim, e
descreve-o na “Jangada de Pedra”. Eu não. Senti tudo isso com uma enorme
naturalidade. Saí do encontro com ele e disse: “Vai acontecer qualquer
coisa!”
.
Cheguei a Espanha, e a primeira coisa que fiz foi telefonar à
pessoa com quem namorava na altura para lhe dizer que não íamos
continuar. Passou junho, julho, agosto. Em setembro recebi uma carta:
“Se as circunstâncias da vida mo permitirem, gostaria de te ir ver.” Já
me tinha dado recomendações de leitura, a nossa correspondência nesse
sentido era quase ditatorial. Eu tinha de ler “Uma Família Inglesa”, de
Júlio Dinis, o “Amor de Perdição”, de Camilo Castelo Branco, a Agustina
Bessa-Luís, a Lídia Jorge...
Soube logo que ia dedicar-se a este homem?
Dedico-me à vida, aos meus irmãos, e se na vida está o meu marido
dedico-me a ele; se está a fundação, dedico-me a ela. Ou seja, sou uma
mulher dedicada. Mas, sim, dediquei-me a ele de corpo e alma, sabendo
que era uma pessoa inesgotável. Começava uma conversa que nunca dava por
terminada, porque tinha sempre pontos de vista diferentes, tal como a
sua literatura. Era uma pessoa com uma formação infinitamente superior à
minha. Foi uma maldição.
Maldição?
Sim, depois de o ter conhecido já não consegui gostar de mais ninguém.
Nunca pensou em refazer a sua vida?
Com quem? Deem-me outro. Só teria reconstruído a minha vida se tivesse
aparecido alguém assim por quem me apaixonasse. Acho que os homens se
impressionam com isso, que não querem ser comparados.
Como era ser 28 anos mais nova e
saber que sobreviveria a esse amor?
Tínhamos isso muito claro e preparámos tudo. Uma vez, Madalena Perdigão
disse-me, pouco tempo depois de a conhecer, que tinha uma relação com
um homem mais velho e que isso a fazia sofrer muito, pois a sociedade
não a entendia. A sociedade só percebe o lugar-comum. Acontece que ela
morreu dois anos depois e o marido viveu quase até aos 100. O José e eu
sabíamos que era uma lei da vida. E numa conversa ao almoço em
Lanzarote, com dois amigos espanhóis, surgiu a ideia de fazer uma
fundação para tomar conta do seu legado humanista — não de uma herança
ou de uma biblioteca. Saramago primeiro não achou grande ideia, mas a
conversa continuou e, no final, disse-me que, se eu lhe sobrevivesse,
queria que me ocupasse da fundação.
Uma vez disse que ele queria que
“o continuasse”. Como se continua José Saramago?
É terrível. Pelo menos, Saramago tinha uma companhia, eu não.
Sente-se sozinha?
Não. O problema é quando viajo. Nos últimos dois anos tem sido mais
difícil viajar sozinha, com uma mala, de aeroporto em aeroporto, para
compromissos relacionados com Saramago. No penúltimo país que visitei
tive uma quebra, pensei que ia morrer, tive de tomar um tranquilizante.
Sou a escrava, a protagonista e a que apanha os copos. Ou seja, há de
chegar o dia em que não conseguirei fazer mais. O José não tinha de
fazer a mala, não ia sozinho. Falava e era Deus. Eu não sou Deus e tenho
de falar como Deus. Sou recebida por chefes de Estado, estou presente
em conferências, em todo o tipo de situações. A vida é complicada.
O que significa para si a Fundação Saramago?
É a residência do pensamento do José. As editoras só publicam livros
para ganhar dinheiro. É um negócio. Mas quem trabalha o pensamento de
José Saramago? Já não há editoras que publiquem ensaios.
.
Então somos nós
que o fazemos. Exemplo disto é a “Proposta de Declaração Universal dos
Deveres Humanos” — que tem a ver com a nossa obrigação de retribuir à
sociedade e vai ser apresentada à ONU — ou a difusão do teatro. Houve
teatro de Saramago em Portugal, em Espanha, em Itália, óperas... Alguém
se deu conta? E quem leva isto para a frente? Os herdeiros? Eles têm a
sua própria vida e não lhes pode cair o legado em cima. É a fundação que
se ocupa de tudo.
Com uma vida como essa, porque aceitou ser administradora da TVI?
Uns amigos ligaram-me e pediram-me para aceitar o cargo. Eu estava numa
apresentação de Vargas Llosa e não podia atender o telefone e acabei
por responder por mensagem. A proposta em si era tão surpreendente que
não sabia o que dizer ou fazer. No entanto, pensei: se não for eu, vai
ser outro. E porque não estar lá uma pessoa tão vincadamente de
esquerda? Eu sou uma pessoa de esquerda e muito antissistema.
E o que faz como administradora não executiva?
Só participei em reuniões, espero agora poder participar em algo mais.
Mas o que faço é basicamente aprovar as contas e um pouco da linha
editorial. Não posso chegar ao Conselho de Administração de uma empresa a
opinar, cheguei a ouvir. Agora espero mais.
Sentia saudades de estar num meio de comunicação social?
Há 20 anos teria respondido que sim. Queria ser diretora do “El País”.
Estava muito irritada, e ainda estou, pelo facto de quase não haver
mulheres nesses cargos. O meu jornal ideal seria aquele que me deixasse
ser mulher e dar a minha opinião, sem prestar tanta atenção à lógica do
mercado, mas sim à dos leitores.
Não é ingénuo pensar que isso
é possível?
O que nos ensinaram já não faz parte daquilo a que se chama ‘fazer
jornais’. Já não contamos o lado obscuro das coisas. Pelo contrário,
somos os que beneficiamos os interesses do poder. Estamos ali para
esconder as falhas do sistema capitalista e não para trabalhar para uma
sociedade que se quer socialista na sua essência.
Acredita no jornalismo independente?
Acredito muito nas pessoas, mas cada vez que um jornal tratou de
levantar a cabeça e fazer frente ao poder económico foi abafado. Um
jornal progressista, independente, tem de fazer imediatamente
concessões. E tudo acaba por não passar de um jogo de concessões.
Voltando atrás, quem é hoje a sua família?
Em Portugal não faço parte da memória de ninguém. Estou muito só, mesmo
que esteja rodeada de gente fantástica aqui na fundação.
.
A minha
família é a memória. Irrita-me dizê-lo, mas vivo da e com a memória —
embora seja uma memória que projeta, uma memória para o futuro. Tenho
amigos adoráveis, um grupo de amigas em Sevilha... E tenho a tribo — é
assim que chamamos a nós mesmos em família. Eu saberia dizer o que estão
agora a comer os 15 membros da tribo, ou seja, os meus irmãos. Sei que
nunca mais me vou encontrar com o José, que ele nunca me vai poder dizer
se estou a fazer bem ou mal.
Porque é que insiste em dizer
que não faz parte da memória
de ninguém?
Porque não faço. Cheguei com 40 anos e não tenho a chave, o código, para as pessoas daqui.
Não se está a subestimar?
Não, sou realista. E a realidade é a minha idade. As pessoas andam para
trás, recuperam momentos do passado, e eu não estou lá. Cheguei tarde,
já bem crescida, como o apêndice de um homem. E durante os 25 anos que
vivi com ele não tinha existência real, era uma sombra. E agora tenho
uma existência real relativa.
Relativa como?
Não sei se as pessoas se dirigem a mim como a um ser humano que querem
agarrar ou beijar ou como a uma mulher que tomou decisões que Saramago
nunca tomaria. Em Granada e em Sevilha existo como pessoa e companheira
de trabalho. Em Portugal não existo sem Saramago.
Gostava de mudar isso?
Teria de ter vontade de o fazer, e se calhar já não tenho. Mas é
curiosa a quantidade de viúvos que Saramago tem. Um dia, aqui no meu
gabinete, contaram-me como foi o casamento de Saramago. Foi comigo que
ele se casou! Não se lembram? Não me veem?
Mas há muita gente que a conhece...
Não sei se me estão a ver a mim ou à sombra de Saramago, mas houve um
tempo em que tive a ilusão que me estavam a ver a mim. Agora desconfio
sempre. Já não sei quem me olha, porque me olha, que olhar é esse.
No fundo, fala da sua individualidade. Como a manteve sendo tradutora de Saramago e o seu braço-direito?
Mantive-a sempre, mas ninguém o sabia. Isso fazia parte da nossa
intimidade, onde cada um era livre. Não estávamos comprometidos nem com
partidos políticos, nem com Estados, nem com nacionalizações, nem com o
casal que formávamos... Éramos um projeto, trabalhávamos juntos. Quando
decidíamos o que íamos fazer, não o fazíamos em função de Saramago, mas
do projeto e da agenda, do livro que se estava a escrever ou a traduzir.
Trabalhávamos para um projeto no qual participavam outras pessoas, a
que chamávamos ‘saramaguitos’.
Como foi traduzir Saramago?
Foi uma ousadia própria da juventude. Eu lia os originais das traduções
que mandavam a Saramago e muitas vezes não estava de acordo. Mas ele
tinha um tradutor muito bom, que era professor catedrático da
Universidade de Barcelona, e quem era eu para opinar... O tradutor veio à
apresentação espanhola de “Ensaio sobre a Cegueira”, de óculos escuros e
de bengala: “Venho à apresentação deste livro consciente de que será o
último que traduzirei, porque estou a ficar cego.” Não ficou cego,
exagerou um pouco. Mas eu já lhe tinha dito que a partir dali traduziria
eu! Fi-lo porque era ousada, senão nunca teria traduzido Saramago.
Que relação tem com a família do seu marido?
A neta trabalha aqui na fundação e a filha, que vive no Funchal, também
faz parte da organização. Mas como está longe relacionamo-nos menos. É
uma relação sem problemas, cordial.
Já disse que não gosta de bandeiras. Porque é que escolheu ter a nacionalidade portuguesa?
Para pagar impostos em Portugal. Não vou pagar por José Saramago fora
de Portugal. E a verdade é que o Governo se portou muito bem, pois fiz
um pedido normal e responderam-me logo. Ao cabo de dois meses já tinha a
nacionalidade e já podia apresentar a declaração de impostos aqui. Pago
muito mais aqui do que pagaria em Lanzarote, mas agora tenho
legitimidade para criticar o Governo e o Estado ao qual pago os meus
impostos. Fico colérica de cada vez que gastam mal o dinheiro.
Como é que essa formalização da relação com Portugal se conjuga com o ideal de uma Ibéria sem fronteiras?
Sabe, no outro dia deram-me o Prémio Luso-Espanhol de Cultura, por eu
servir de ponte de comunicação entre Espanha, Portugal e América Latina,
segundo o júri. Fiquei muito feliz. Como na “Jangada de Pedra”, creio
que é para lá que caminhamos, para a América Latina. E servir de agente
de comunicação entre culturas parece-me muito importante. Sugeri que mo
entregassem em finais de maio, na Feira do Livro de Madrid, cujo
país-tema será Portugal. Não sou mulher de salões nobres.
* Uma senhora que Portugal deve respeitar.
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