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A comissão parlamentar de inquérito à gestão pública da TAP começou a propósito de uma decisão, a indemnização a Alexandra Reis que, no grande esquema das despesas na companhia aérea, não era muito grande. Os 500 mil euros de indemnização correspondem a algo próximo do que os contribuintes injectaram na TAP, a cada quatro horas, nos últimos três anos.
Apesar disso, a CPI acabou por se desviar por caminhos inesperados. Tal como o caso que lhe deu origem, a CPI desvendou um conjunto de outras circunstâncias e acontecimentos que, mesmo que isoladamente possam parecer pequenos, no seu conjunto revelam uma prática de má gestão da coisa pública e intromissão indevida do Governo na gestão de empresas públicas.
Importante referir aqui que estamos a falar da gestão da empresa pública mais escrutinada dos últimos 30 anos. O PS sabia isso, o Governo sabia isso, mas, apesar de o saberem, ainda ocorreram todos aqueles casos. Se foi assim com a TAP, uma empresa sob imenso escrutínio, como será com todas as outras empresas públicas onde PS e Governo sabem que o escrutínio é muito inferior? Não surpreenderá ninguém se for bastante pior, com gestão ainda mais descuidada e maior interferência política e partidária na gestão. A quantidade de pessoas ligadas ao PS nas administrações dessas empresas é um forte indicador dessa realidade.
O relatório da comissão parlamentar de inquérito que será, previsivelmente, aprovado pelo Partido Socialista é a cereja no topo do bolo. Os milhares de portugueses que acompanharam as audições assistiram a provas inequívocas de intromissão do Governo na gestão da TAP. Muitos dos emails trocados entre membros do Governo e a CEO demonstram exactamente isso. Mas essas provas não foram suficientes para constar no relatório final da comissão parlamentar de inquérito redigido por uma deputada do Partido Socialista. Os milhares de portugueses que acompanharam as audições assistiram a provas inequívocas de má gestão de documentos confidenciais e de conflitos dentro do Ministério das Infra-Estruturas. Mas esses relatos nem sequer constam do relatório final da CPI redigido por uma deputada do PS. E é aqui que, mais uma vez, a comissão parlamentar de inquérito se torna um retrato fiel daquilo que é o PS: a verdade importa pouco, mesmo que toda a gente a tenha visto em directo. O relatório será politicamente pouco relevante porque, independentemente do que o relatório diga, os portugueses sabem o que aconteceu, mas, ainda assim, o PS escolhe viver numa ficção. Não só escolhe viver numa ficção como usará a sua maioria absoluta para colocar essa ficção num documento oficial.
Daqui a umas centenas de anos, quando um arqueólogo desenterrar os vídeos da CPI e o relatório escrito, terá dificuldade em ligar um e outro, mas, ao fim de algum tempo, perceberá muito bem o que foi o PS do início do século XXI: um partido que geria mal a coisa pública, tinha pouco apreço pela verdade e abusava do poder que tinha para impor as suas narrativas.
* Deputado à AR por Iniciativa Liberal.