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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
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Longe vão os tempos em que as campanhas eleitorais eram feitas à volta de projetos, mais ou menos elaborados, mais ou menos consistentes, mas com uma ideologia subjacente. Mesmo nas eleições autárquicas era possível perceber como ficaria o concelho depois do mandato a que cada um concorria e, mais à esquerda de pensamento ou mais à direita, facilmente se percecionava uma gestão mais centrada nas pessoas ou mais centrada nas infraestruturas. Quando centrada nas pessoas, também ainda se compreendia se estávamos a falar de uma ideologia mais social ou de projetos mais transversais ligados à qualidade de vida, à comodidade, às oportunidades de trabalho, etc. Quando a aposta se direcionava às infraestruturas, também podia apontar mais para as estruturas sociais e de saúde, por vezes para o ensino, algumas (escassas) vezes para o ensino superior, ou para o desporto (bastantes), ou para as obras "de fachada", as célebres rotundas e bancos de jardim. Estas escolhas dependiam obviamente do binómio esquerda-direita e muito da forma como o partido concorrente se posicionava ideologicamente.
Há uns anos surgiram os movimentos de cidadãos independentes que poderiam ser uma lufada e ar fresco - e em alguns casos foram - na política autárquica que se quer de proximidade. Foram muitos os casos em que grupos de homens e mulheres sem vida partidária ou atividade política ativa se disponibilizaram para fazer melhor pela sua terra e muitas destas iniciativas são louváveis: projetos que, sem subordinação a uma ideologia política, construíram boas dinâmicas territoriais e são verdadeiros exemplos de exercício de poder bem feito.
Mas, salvaguardadas as devidas e honrosas exceções, começaram a aparecer movimentos constituídos pelos excluídos dos partidos convencionais. Quando alguém é afastado da corrida eleitoral pelo seu partido, ou quando não é convidado para o lugar com que sonha, concorre através dos movimentos de cidadãos. Estes movimentos situam-se no mesmo espaço político do ex-partido dos dissidentes e, mais do que combater aqueles que até então foram a sua oposição, combatem o seu próprio espaço político. São estes os que agora até se constituem como "partidos" temporários e regionais, para poderem fazer coligações com os partidos que contestam e aparecerem com mais representatividade nas eleições, criando dinâmicas de pura oposição e de subprodutos dos partidos convencionais.
Afinal a ferramenta que tinha a melhor das intenções - os grupos de cidadãos com vontade de fazer pela sua terra - pode tornar-se num espaço pernicioso de subpartidos, com os mesmos defeitos que visava contornar. A política faz-se de coragem e a mudança faz-se dentro das organizações (partidos). Mais do que fugir para um movimento "independente", importa mudar as organizações em que acreditamos por dentro. Talvez no domingo os eleitores escolham votar em projetos e não realizar ajustes de contas pessoais, por esta ou aquela forma de comunicar.
* Presidente do Instituto Politécnico de Coimbra
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS" 23/09721
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2-SOƁRƐƲIƲƐƝƬƐS ƊA HISƬÓRIA
(CONTINUA PRÓXIMO SÁBADO)
"Quem tem a oportunidade de conversar com um sobrevivente acaba sendo uma testemunha também. Porque eu sou testemunha de ter conhecido um sobrevivente. Então, quem tiver a oportunidade, é bom se apressar porque sobreviventes estão ficando velhinhos e não duram para sempre”.
A afirmação de José Jakobson, filho de um sobrevivente do Holocausto, revela a importância de ouvir a história diretamente de quem a viveu. E, com esse objetivo, o Caminhos da Reportagem desta semana conversa com sobreviventes de um dos maiores genocídios que o mundo presenciou.
O Holocausto matou 11 milhões de pessoas, seis milhões só de judeus. Muitos deles fugiram para o Brasil, além de outros países, antes, durante e depois da 2ª Guerra Mundial. Chegaram aqui debilitados, com sequelas físicas e psicológicas. “A ideia dos alemães era que nenhum judeu iria sobreviver à presença deles. Feroz mesmo! No fim da guerra eu estava pesando, quando já tinha comido, uns 30 quilos”, conta Nanette Konig, judia holandesa que sobreviveu ao nazismo. Ela foi colega de escola de Anne Frank, a menina judia que ficou famosa por escrever um diário enquanto vivia em um esconderijo com a família. As duas se reencontraram no campo de concentração. Anne Frank, assim como a família de Nanette, não sobreviveu.
Nossa equipe conversou com outros sobreviventes que testemunharam os horrores dos campos de trabalho forçado e de extermínio. “Lá em Auschwitz foi feita uma segregação. Um vagão ia para a morte, para o crematório, e o outro vagão ia para campos de trabalho. Se eu tivesse má sorte de estar no vagão que iria para a morte, não tinha me salvado”, afirma o judeu polonês Julian Gartner.
Durante a guerra, os judeus e outros grupos perseguidos, como negros, ciganos, homossexuais e inimigos políticos, enfrentaram a fome, o frio, a perda da identidade, da família, da saúde e da vida. Conversamos com Anita Prestes, filha do comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes com a judia alemã Olga Benário. Anita, que nasceu enquanto a mãe estava presa, se considera “filha da solidariedade internacional”, uma vez que foi libertada depois de uma campanha envolvendo vários países. Também conhecemos Salvador Haim, filho de um ex-prisioneiro que fez vídeos dentro de um campo de concentração na Bulgária.
O feito, considerado inédito pelo Museu do Holocausto de Washington, contém imagens da rotina em um campo de concentração. “Mostra o pessoal trabalhando, quebrando pedra, afiando ferramenta, pondo dinamite para estourar pedra. Como ele fez o filme, quem autorizou, isso a gente não sabe”, narra Salvador. O Caminhos da Reportagem também visita lugares de preservação da memória dos sobreviventes, como o Museu do Holocausto em Curitiba, que reúne documentos, fotografias e objetos dos judeus que vieram para o Brasil. Na Argentina visitamos o Centro Simon Wiesenthal, que leva o nome de um dos mais famosos caça-nazistas do pós-guerra.
Ainda mostramos como os alemães lidam com esse capítulo da história, seja no currículo escolar, seja com projetos como as “pedras de tropeço”, intervenções artísticas espalhadas pela Alemanha e demais países europeus, em homenagem às vítimas do nazismo
Reportagem: Flavia Peixoto.