As
indemnizações aos trabalhadores da Tobis, que pediram rescisão por
mútuo acordo, ficarão pagas hoje, garantiu a secretaria de Estado da
Cultura (SEC), que dá por concluído o processo de alienação da antiga
produtora de cinema.
Em comunicado, a SEC referiu que os
representantes sindicais dos trabalhadores foram informados hoje do
pagamento das indemnizações, que estavam por atribuir a alguns dos 17
funcionários que rescindiram o contrato com a Tobis.
Fonte da
tutela disse à Lusa que o total das indemnizações pela saída de
trabalhadores, por cessarem contrato ou por despedimento coletivo, somou
cerca de 1,2 milhões de euros.
* E lá vai o património para o soba ZEDU
Continuamos sem saber por que quis Angola comprar a Tobis mas há pistas
Antes de ser comprada, a Tobis assinou um acordo com Luanda para tratar arquivos e rentabilizar equipamentos
Desde
2004, a Tobis investiu pelo menos cinco milhões de euros em equipamento
especializado para a área do cinema digital numa tentativa de se
modernizar, tentando assim travar a crescente perda de clientes, o que
não aconteceu: em 2011, facturou 600 mil euros, quando precisava de
cerca de 100 mil por mês para assegurar os salários dos 53
trabalhadores.
A situação de insolvência levou à procura de
interessados. No final de Fevereiro, as áreas de pós-produção digital e
recuperação de arquivo da Tobis foram compradas pela Filmdrehtsich,
empresa de capitais 100% angolanos, por um valor que ronda os quatro
milhões de euros, menos do que apenas os investimentos mais recentes.
Já
em 2009, Angola tinha mostrado interesse nos serviços da Tobis,
assinando um acordo com a empresa através do seu Ministério da
Comunicação Social. O objectivo de Angola era preservar o património
histórico em filme, vídeo e áudio da Televisão Pública de Angola, Rádio
Nacional Angolana, Cinemateca Nacional de Angola e alguns arquivos
conservados nas instalações do partido no poder, o MPLA. O preço dos
serviços foi fixado em cerca de 12 milhões de euros, segundo souberam os
quadros da Tobis na altura. Três anos depois, Angola acaba por comprar a
parte da empresa que pode prestar os serviços previstos nesse acordo.
Investir para rentabilizar
O
material adquirido pela Filmdrehtsich foi mais caro na altura em que
foi comprado pela Tobis, em 2004 e 2007, do que o valor por que a
própria Tobis foi agora adquirida, sendo, contudo, difícil estimar
quanto terá desvalorizado esse material sem uma lista exaustiva.
Entre
o material fundamental estão três telecinemas, entre eles um HD, que em
2004 terá sido comprado num pacote com outros materiais por cerca de
quatro milhões de euros. Na altura, a Tobis explicou que o investimento
tinha como objectivo desenvolver novos trabalhos, por exemplo em
publicidade.
Mais tarde, em 2007, ano em que a empresa comemorou
75 anos, foram investidos ainda cerca de 800 mil a um milhão de euros em
equipamento para trabalhar em 2K, formato específico do cinema digital.
"A
empresa foi investindo em materiais, mas não tinha, nem tem, dinheiro
para a sua manutenção, ou seja, se alguma máquina avariasse, ficava
parada por falta de meios para o seu arranjo", disse ao PÚBLICO Tiago
Silva, da comissão de trabalhadores.
Cessação de contratos
Ao
longo da semana passada, os 53 trabalhadores foram ouvidos pela
administração, sabendo-se que apenas metade serão transferidos para a
Filmdrehtsich. Há trabalhadores que já foram informados sobre a cessação
de contratos e outros que optaram por rescindir. Sobre as tarefas que
vão desempenhar ou quando passarão oficialmente a pertencer à nova
empresa ainda não tiveram respostas. Certo é que, para quem fica, as
condições de trabalho são as mesmas, ou seja, mantêm os anos de serviço e
o mesmo vencimento.
No entanto, ao contrário do que inicialmente
se pensava, o facto de alguns trabalhadores estarem nas áreas compradas
pela Filmdrehtsich não significa que continuem na empresa. O PÚBLICO
falou com um trabalhador da área do digital, que já foi informado da sua
dispensa, apesar de não lhe terem sido dadas mais informações, nem
mesmo quando cessa o contrato. Também não foi dito aos trabalhadores
quem detém a empresa compradora.
A identidade da Filmdrehtsich,
criada especificamente para o negócio, continua por esclarecer. Segundo o
Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), isso ocorre porque os
responsáveis não querem dar a cara. O nome da empresa ainda não consta
do Portal da Justiça.
Em Outubro do ano passado, o semanário
angolano Novo Jornal escreveu que o MPLA, liderado pelo Presidente, José
Eduardo dos Santos, se preparava para comprar a Tobis. E acrescentava:
"O interesse na compra foi formalmente manifestado por uma delegação do
MPLA, encabeçada por Rui Falcão, secretário para a Informação."
Na
altura, nem o director do ICA, José Pedro Ribeiro, nem a Secretaria de
Estado da Cultura confirmaram ou desmentiram a notícia, como também não
comentaram a informação que o PÚBLICO avançou há uma semana de que a
empresa será composta por um conjunto de investidores, num consórcio
liderado pela Sonangol, que tem funcionado como um fundo soberano de
Angola.
O PÚBLICO tentou contactar o director do ICA sobre estas questões, mas não obteve nenhuma resposta.
IN PÚBLICO 05/03/12
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