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Cansados de blogs bem comportados feitos por gente simples, amante da natureza e blá,blá,blá, decidimos parir este blog do non sense.Excluíremos sempre a grosseria e a calúnia, o calão a preceito, o picante serão ingredientes da criatividade. O resto... é um regalo
28/01/2018
SANTANA CASTILHO
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IN "PÚBLICO"
24/01/18
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O “Dia do Perfil dos Alunos”
e o perfil do Governo
A riqueza de um sistema de ensino assenta na diversidade de soluções e não no centralismo de inquisidores pedagógicos.
Se há um “Dia Internacional da Comida Picante” (16 de Janeiro), um
“Dia Mundial das Zonas Húmidas” (2 de Fevereiro), um “Dia do Engolidor
de Espadas” (28 de Fevereiro), um “Dia Mundial da Higiene das Mãos” (5
de Maio), um “Dia Mundial do Mosquito” (20 de Agosto) e um “Dia Mundial
do Pijama” (20 de Novembro), como esperámos tanto para enriquecer o
arquivador da República com o “Dia do Perfil dos Alunos”?
A lacuna foi suprida a 15 de Janeiro transacto, com o glamour
de uma festa muito moderna. No elenco principal brilharam Catarina
Furtado, famosa apresentadora de espectáculos televisivos, e Fernando
Santos, auspicioso treinador de futebol. O elenco secundário foi
constituído por 323 “comunidades educativas” (designação do século XXI
para aquilo a que os arcaicos da minha geração chamavam escolas).
Descido o pano deste Carnaval antecipado, arrisco o veredicto da Quarta-feira de Cinzas.
No âmago da concepção que o secretário de Estado João Costa diz
moderna está o logro de arrastar prosélitos acríticos para a criação do
aluno novo, com um caudal de vacuidades que falharam há duas décadas.
João Costa vem forjando a ilusão de que com iniciativas inferiores se
obterão resultados superiores.
O modo como os alunos integram o
que aprendem nas diferentes disciplinas foi objecto, na anterior
experiência da denominada “gestão flexível do currículo”, de uma
coreografia de actividades de “faz de conta” e de uma sobrecarga de
burocracia escolar e procedimentos inúteis, que agora se repetem.
A
riqueza de um sistema de ensino assenta na diversidade de soluções e
não no centralismo de inquisidores pedagógicos. Qualquer suposto
vanguardismo teórico ou qualquer preponderância de brigadas de
bem-pensantes são elementos castradores da liberdade metodológica e da
beleza de ensinar. Mas foi isso que se celebrou no “Dia do Perfil dos
Alunos”, conseguido remake do “Dia do Luzito” ou do “Dia do Chefe de Quina”.
Não
haverá, nunca, salutar transformação da educação pública sem real
autonomia intelectual, pedagógica e profissional dos professores e das
escolas. Não haverá, nunca, motivação intrínseca para a acção sem uma
profunda descomplicação das leis e das normas, que personificam a
burocracia sem sentido.
Mais que o perfil do aluno é importante
reflectir sobre o perfil do Governo no que à Educação é identificável.
Nesta área não são evidentes reflexos dos progressos económicos com que
todos os dias o discurso oficial nos confronta. Os alunos tiritam com
frio nas escolas porque não há dinheiro para ligar os aquecimentos.
Muitos cursos profissionais estão subfinanciados. As negociações para a
progressão na carreira docente são, antes, expedientes para retrocessos
desrespeitadores do compromisso assinado com os sindicatos no passado
dia 18 de Novembro de 2017. Eterniza-se a falta de pessoal auxiliar e
evidencia-se, consequência persistente de tudo isto, a balcanização da
classe docente, com o nascimento de facções hostis entre si, que não
escondem lamentáveis ódios públicos, expostos nas redes sociais.
Infelizmente, vejo defender o diferenciamento estatutário entre
contratados e não contratados, professores do básico e professores do
secundário, professores velhos e professores jovens.
Opressora e
dominante, a burocracia disputa, hora a hora, o reduzido tempo que resta
aos professores para ensinar. A última descoberta colocou as escolas
num carreiro, vergadas à plataforma, mais uma, criada para recensear
todos os docentes, registando, num desperdício escandalosamente
redundante, todo o tipo de informação que lhes diz respeito, como se o
monstro central não tivesse sucessivas bases de dados e registos
biográficos sobre tudo o que respeita a todos, registos criminais
incluídos. Estivesse eu errado e não teríamos essas sucessivas edições
dos últimos anos sobre o “Perfil do Docente”, cheias de números, quadros
e quadrinhos pica-miolos!
IN "PÚBLICO"
24/01/18
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* Viagem extraordinária pelos tesouros da História de Portugal superiormente apresentados por Paula Moura Pinheiro.
Mais uma notável produção da RTP
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XXXV-VISITA GUIADA
Românico/1
Paço de Sousa - PORTUGAL
* Viagem extraordinária pelos tesouros da História de Portugal superiormente apresentados por Paula Moura Pinheiro.
Mais uma notável produção da RTP
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As nossas séries por episódios são editadas no mesmo dia da semana à
mesma hora, assim torna-se fácil se quiser visionar episódios
anteriores.
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Maria João Pires
Sonata nº32 em Dó menor, op. 11
Ludwig van Beethoven
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HOJE NO
"EXPRESSO"
Angola
britânicos apertam cerco a fraude
de 500 milhões de dólares
Operação passou pelo Banco Nacional de Angola
Um grupo de oficiais britânicos da Brigada Internacional Antifraude
esteve na semana passada em Luanda para investigar os contornos e a
legalidade de um caso que envolveu, em setembro, a transferência
fraudulenta para Londres de 500 milhões de dólares através do Banco
Nacional de Angola (BNA). O valor foi congelado depois de se ter apurado
a falsificação da assinatura do presidente-executivo do Crédit Suisse e
de terem sido detetadas irregularidades processuais.
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O PRIMOGÉNITO |
No
epicentro da proposta desta operação está José Filomeno dos Santos, o
filho mais velho do antigo Presidente, coadjuvado por Jorge Pontes
Sebastião. Ambos são sócios na Inpal — Investimentos e Participações
Lda. (José Filomeno dos Santos com 75% e Pontes com 25%), detentora de
49% do Standard Bank Angola.
“Jorge Pontes não é mais do que um
testa de ferro do filho do antigo Presidente”, disse ao Expresso fonte
dos Serviços de Inteligência que acompanha o processo.
Através de
uma empresa-fantasma — a Mais Financial Services —, os angolanos,
apoiados por brasileiros acobertados num outro veículo, a Perfect Brint,
apresentaram uma proposta de agenciamento de créditos até 30 mil
milhões de dólares contra a garantia de um desembolso de 500 milhões de
dólares.
Esta operação mereceu, desde logo, desconfiança por
parte do ministro das Finanças, Archer Mangueira, mas o aval dado por
Eduardo dos Santos terá sido determinante para o ex-governador do BNA,
Valter Filipe, dar luz verde à sua execução.
Se uma audiência
decisiva concedida, na sede do MPLA, pelo antigo Presidente ao ministro
das Finanças e ao ex-governador do BNA na presença do filho, caucionou a
realização da operação, as divergências que depois surgiram acabaram
por ensombrar o seu destino.
De um lado, chegava à mesa de Eduardo
dos Santos um parecer negativo do ministro das Finanças, do outro,
recebia uma proposta favorável sustentada por técnicos do BNA e
representantes de José Filomeno dos Santos.
Ao decidir a favor do
parecer do ex-governador do BNA, o antigo Presidente retirava confiança
no ministro das Finanças e deixava o caminho aberto para Valter Filipe
satisfazer o último desejo de José Filomeno antes de abandonar, em
definitivo, o Palácio da Cidade Alta.
À testa da comissão de
negociações e com a bênção do antigo Presidente, Valter Filipe mandou
acionar a transferência dos 500 milhões de dólares para a parte
estrangeira a que estão associados José Filomeno dos Santos e Jorge
Pontes Sebastião.
A ascensão temporária do governador do BNA não
demoraria, no entanto, muito tempo. Logo após a investidura, o novo
Presidente, perante a descoberta dos contornos nebulosos envolvidos na
operação, ordenou que a coordenação fosse de imediato devolvida ao
ministro das Finanças.
A reentrada em cena de Archer Mangueira e a
retirada dos antigos poderes detidos por José Filomeno dos Santos
acabou por constituir um balde de água fria para os alegados credores
estrangeiros.
Na posse da notificação enviada pelas autoridades
britânicas através da UIF — Unidade de Informação Financeira —, o
ministro das Finanças pôs a nu todo o rosário de irregularidades que
ensombrou a execução da operação.
O destino do governador do BNA
ficaria traçado depois deste ter feito uma longa confissão ao novo
Presidente sobre os meandros de uma série de outras operações feitas sem
registo em vésperas da sua investidura.
A João Lourenço não
restava outra saída senão denunciar a falta de seriedade e de
credibilidade dos negociadores estrangeiros e ordenar o desencadeamento
de démarches com vista a recuperar os 500 milhões de dólares
transferidos fraudulentamente para Londres.
Afastado José Filomeno
dos Santos da liderança do Fundo Soberano e Jorge Pontes Sebastião da
função de secretário executivo da Conselho do Sistema de Controlo e
Qualidade, o Presidente angolano deu instruções à UIF e ao BNA para
colaborarem com os oficiais da Brigada Internacional Antifraude para se
apurar todos os tentáculos desta negociata.
Dois brasileiros
envolvidos na operação estão já a contas com a justiça britânica,
enquanto um terceiro está foragido. Para desmontar toda a teia desta
fraude, Angola conta também com o apoio jurídico da Norton Rose, um
reputado escritório internacional de advogados.
O Expresso tentou
falar com José Filomeno dos Santos, Jorge Pontes Sebastião e Valter
Filipe, mas não foi possível até ao fecho desta edição.
* Presidente João Lourenço a afastar-se da corrupta família "dos santos", mas ainda é pouco para o considerarmos um democrata.
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IV . O MUNDO SEM NINGUÉM
2- A AMEAÇA À CAPITAL
* Nesta nova época de "bloguices" que vai de Setembro/17 a Julho/18, iremos reeditar algumas séries que de forma especial sensibilizaram os nossos visitadores alguns anos atrás, esta é uma delas.
** As nossas séries por episódios são editadas no mesmo dia da semana à mesma hora, assim torna-se fácil se quiser visionar episódios anteriores.
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** As nossas séries por episódios são editadas no mesmo dia da semana à mesma hora, assim torna-se fácil se quiser visionar episódios anteriores.
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HOJE NO
"JORNAL DE NOTÍCIAS"
Procurador do Ministério Público
defende a castração química
de agressores sexuais
Um
procurador do Ministério Público defende a castração química para
agressores sexuais, algo que não está previsto na lei portuguesa.
A
castração química para agressores sexuais já é praticada em alguns
países no Mundo. Em Portugal não tem sido matéria de discussão, mas pode
entrar agora na esfera pública com a publicação de um livro de um
procurador do Ministério Público (MP), Celso Leal.
"Crimes
Sexuais e Castração Química no ordenamento Jurídico Português - Fim de
um Tabu", a publicar pela Nova Causa, lança a questão. Aplicada em 28
países no Mundo, segundo Celso Leal, este método não está previsto na
legislação portuguesa.
Celso Leal
acredita que a castração química poderia substituiu a pena de prisão ou
permitir a liberdade condicional de um agressor.
Uma medida que levanta questões éticas e
jurídicas, que seria apenas aplicada com o consentimento informado do
agressor e com possibilidade de reversão. "Nunca poderia ser imposta,
pois isso seria inconstitucional", disse Celso Leal, em declarações ao
jornal "Público".
O método defendido
por Celso Leal, de 41 anos, e 12 como Magistrado do Ministério Público, é
uma forma de castração temporária, feita com medicamentos. "Envolve a
administração de drogas bloqueadoras de andrógenos, como acetato de
ciproterona ou medicamentos de controlo de natalidade", refere, ao mesmo
jornal.
São medicamentos que "reduzem o desejo sexual, as fantasias sexuais compulsivas e a excitação sexual", especifica.
* Consideramos exagerada a benevolência do sr. Procurador do MP, preferimos a aplicação diária de um enema de açorda com wasabi, já sabemos, somos uns brutos.
* Consideramos exagerada a benevolência do sr. Procurador do MP, preferimos a aplicação diária de um enema de açorda com wasabi, já sabemos, somos uns brutos.
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ESTA SEMANA NA
"EXECUTIVE DIGEST"
"EXECUTIVE DIGEST"
10 tendências no mundo das TIC
São 10 as principais tendências
identificadas pela IDC relativamente ao sector das tecnologias de
informação e comunicação (TIC).
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De acordo com o relatório “IDC Futurscape Portuguese ICT Top 10 Predictions”, a terceira plataforma tecnológica (cloud, mobilidade, social business e bid data) irá transformar a indústria.
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De acordo com o relatório “IDC Futurscape Portuguese ICT Top 10 Predictions”, a terceira plataforma tecnológica (cloud, mobilidade, social business e bid data) irá transformar a indústria.
A IDC prevê que, este ano, o mercado das
tecnologias de informação cresça 2,6% para 7,7 mil milhões de euros.
Porém, a evolução não será igual em todas as áreas: tecnologias
associadas à terceira plataforma tecnológica e aos aceleradores de
inovação deverão crescer a uma taxa média de 12,4% e representarão cerca
de 54% do mercado; por outro lado, as tecnologias associadas à segunda
plataforma irão cair 6,9%.
10 tendências na base da transformação da indústria das TIC em Portugal:
1 – Digitalização da economia global.
Em 2021, pelo menos 30% da economia nacional será digitalizada. Em
termos globais, a IDC prevê que mais de 50% esteja digitalizada pela
mesma altura;
2 – Plataformas de transformação digital. Já no
próximo ano, 25% das 100 maiores organizações portugueses irão
desenvolver uma nova estratégia de TI para suportar uma plataforma de
transformação digital, tendo em vista competir numa economia cada vez
mais digital. No mundo, a percentagem será de 60% nas duas mil maiores
empresas;
3 – Cloud core. Outra
das tendências apontadas pela IDC diz respeito ao investimento e despesa
empresarial em serviços cloud e respectivo hardware: em 2021, deverá
duplicar e ultrapassar os 400 milhões de euros, em Portugal. A nível
global, atingirá os 500 mil milhões de euros;
4 – Inteligência Artificial.
No próximo ano, 30% das iniciativas de transformação digital irão
incorporar algum tipo de serviço baseado em inteligência artificial.
Dois anos depois, mais de 50% das novas aplicações terão este tipo de
tecnologia e mais de 50% dos consumidores irão interagir com um bot. Em
termos globais, mais de 90% dos consumidores irão interagir com bots e
mais de 40% das iniciativas de transformação digital envolverão
inteligência artificial, em 2020;
5 – Aplicações ágeis.
De acordo com a IDC, o desenvolvimento de aplicações na Europa irá
centrar-se em arquitecturas hiper ágeis, nomeadamente cloud PaaS e
funções Azure. Além disso, 70% dos micro-serviços serão desenvolvidos em
tecnologias de containers. No mundo, 80% do desenvolvimento
aplicacional será feito sobre plataformas cloud PaaS;
6 – Interfaces humanas digitais.
Em 2020, mais de 10% ds trabalhadores portugueses vão utilizar soluções
de realidade aumentada (25% nas organizações mundiais). A tendência
aponta também para mais de 50% das novas aplicações recorrerem a voz
como interface de comunicação. A biometria também estará em destaque
(25% das 100 maiores empresas nacionais e 50% das mundiais);
7 – Blockchain. Dentro
de três anos, pelo menos 15% das 100 maiores organizações portuguesas
irão recorrer à tecnologia de blockchain para criar serviços confiáveis,
seguros e escaláveis. No sector financeiro, mais de 25% dos bancos
deverá utilizar este tipo de solução para gerir transacções;
8 – Monetização de dados.
Em 2020, mais de 35% das 100 maiores empresas nacionais irão
desenvolver novos fluxos de receita com base em dados no modelo
Data-as-a-Service (DaaS), desde venda de dados em bruto a métrica e
serviços de recomendações. A nível mundial, mais de 90% das duas mil
maiores organizações terão uma oferta deste género;
9 – Ferramentas low-code e no-code.
Segundo o relatório da IDC, mais de 10% das aplicações empresariais e
25% das novas funcionaldiades das aplicações não serão desenvolvidas por
programadores, em 2021;
10 – Economia das APIs.
Em 2021, mais de 35% das 100 maiores organizações do mercado português
terão mais de 30% das suas interacções digitais realizadas através de
parceiros no ecossistema através de APIs.
* Tecnologia em desconformidade com a redução da pobreza.
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"Jogo de cintura" para conciliar
Padres rodeados de filhos
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ESTA SEMANA NA
"SÁBADO"
As vida dos filhos de padres em Portugal
Alguns tratam os pais por padrinhos. Todos, mesmo os que são perfilhados, vivem na clandestinidade. Depois de o pároco Giselo Andrade assumir a paternidade em público, colegas revelam como levam uma vida dupla para conciliar os papéis.
Dentro do carro, estacionado junto ao emprego dela, o diálogo antevia-se
tenso. Há dias que a mulher católica o preparava: "Pode acontecer
alguma coisa…", ia lançando. Faltava a confirmação, que viria naquele
final de tarde de Primavera. Estava grávida. Sem saber qual seria a
resposta dele, a paroquiana comunicou-lhe, a medo, o primeiro mês de
gestação. O futuro pai sorriu, abraçou-a. Era uma boa notícia para o
homem de meia-idade, divertido e eloquente, que há muito desejava em
segredo a paternidade. Nem o facto de tal colidir com as suas funções -
as de padre (que em latim também quer dizer pai) - o intimidava. "Outro,
no meu lugar, ficaria aterrado, mas eu fiquei feliz", recorda o próprio
à SÁBADO, sob o nome fictício de Paulo. Seria um acto
único - um filho -, não mais: "Se tal acontecesse confirmaria as dúvidas
de concubinato que assolam as cabeças dos nossos bispos."
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Paulo
conhecera-a anos antes, no grupo de jovens da paróquia, sem que
houvesse aproximação afectiva. Entretanto afastaram-se e
reaproximaram-se tempos depois através do trabalho pastoral. A amizade
consolidou-se e o envolvimento aconteceu. Mas estaria o padre preparado
para o terramoto social que aí vinha? "É óbvio que me preocupei com as
consequências, que seriam dramáticas."
Foram tempos difíceis - e
continuam a ser, numa altura em que o colega Giselo Andrade enfrenta uma
situação idêntica. Pai de uma bebé, nascida a 18 de Agosto passado, o
nome do sacerdote de Nossa Senhora do Monte, na Madeira, saltou para os
jornais e reacendeu o debate em torno do fim do voto de castidade e da
abolição do celibato obrigatório. Será que os padres católicos podem
começar a constituir família com o aval do Vaticano? É certo que o fazem
há muito, com vidas duplas em que o segredo é imposto aos filhos e o
estigma persegue as mães solteiras com quem se envolveram.
"Jogo de cintura" para conciliar
O pároco Giselo
terá sido dos primeiros a assumir a situação em público e a manter-se em
funções sob a aprovação do bispo do Funchal (ainda que, à SÁBADO,
a diocese se limite a dizer que não comenta). Paulo abriu timidamente
caminho: "Imagino a pressão social e eclesial que o padre Giselo está a
sofrer neste momento." Paulo viria a sofrer outras. No dia do parto, há
menos de cinco anos, ele e a progenitora seguiram para um hospital da
zona centro, distante da paróquia do Norte onde o sacerdote estava
colocado. O pai assistiu embevecido ao nascimento do filho e perfilhou-o
sem hesitações, porque jamais tencionava fazê-lo mediante uma ordem do
tribunal. Nos primeiros meses, conciliou com "jogo de cintura", diz, o
novo papel com o de pároco experiente. "Para que pudesse prestar o meu
contributo às comunidades, mas também estivesse presente no crescimento
da criança."
Mas este aparente estado de graça não duraria
muito. O bispo da diocese acabou por saber, confrontou-o e as
retaliações começaram. Se Paulo queria continuar na vida eclesiástica,
teria de fazer escolhas, que implicariam, porventura, a mudança de
paróquia. Longe do filho e também dos fiéis que se mantiveram leais a
ele, Paulo resistiu à transferência, enfrentou sozinho a distância da
hierarquia e de alguns pares. "Fui posto de lado pelos superiores. Tudo
quanto de bom pudesse ter feito, desapareceu. Há colegas que olham para
mim como se tivesse uma doença rara e contagiosa. E depois há aqueles
bons colegas, amigos, que compreendem e apoiam dentro das suas
possibilidades." Podia ter virado costas e optado pela dispensa, ou
encoberto a situação, mas preferiu ficar pela zona, sem ser dispensado.
"Sinto um vazio e desilusão enormes. Deus compensa, mas os homens nada
reconhecem. E a hierarquia da Igreja não reconhece absolutamente nada."
Desde
então, Paulo vive na precariedade. Tem uma remuneração variável que não
paga as contas, tão-pouco cobre as despesas de criar uma criança sem
viver maritalmente com a mãe dela. Celebra missas quando calha, mas não
perde a fé. Isso nunca. A prová-lo, pediu a um colega que baptizasse o
filho. "Não podia deixar que ficasse sem o baptismo. Quero incutir-lhe
os mesmos valores morais que recebi, como o respeito pelo próximo." Tem
agora mais tempo e paciência para o educar - e recebe as compensações:
por exemplo, ouvi-lo dizer as primeiras palavras. "O momento mais feliz
da paternidade foi quando ele me chamou, pela primeira vez, de 'pai'.
Tinha 15 meses." Quase renegado pela Igreja, a viver um dia de cada vez,
o pároco tenciona revelar a verdade ao filho. "Terá de saber." Um dia,
com calma, contar-lhe-á tudo. "Talvez quando tiver 10 anos."
Vincent
Doyle já não era nenhuma criança quando soube que o falecido padrinho
J.J. era, afinal, o seu pai. Tinha 28 anos quando juntou as peças, pelas
cartas que J.J. deixara à mãe: era filho de um padre católico. Sendo
psicoterapeuta, decidiu ajudar outros em circunstâncias idênticas. Três
anos depois da descoberta, fundou em 2014 a associação Coping
International na Irlanda. Revelou tudo isto em entrevista à SÁBADO, publicada a 12 de Outubro passado.
Agora o fundador retoma o tema, a pedido da SÁBADO,
na perspectiva dos filhos de sacerdotes portugueses que o procuram.
Sondou vários sobre se quereriam prestar um depoimento, mesmo sob
anonimato, mas nenhum aceitou - o medo e o silêncio prevalecem. "O
sigilo é imposto enquanto a criança ainda está no útero. A ciência e a
psicologia concordam com a tese de que a criança experimenta um pouco do
que a mãe sente durante a gravidez", diz.
Ajuda da comunidade online
Nestes
casos, quer dizer sofrimento profundo, que mais tarde se reflecte de
múltiplas formas. "Este bullying dura toda a vida. A ansiedade e as
repercussões psicológicas são muitas: insónias, paranóia, depressão",
acrescenta o responsável. Durante a noite, alguns filhos de padres
digitam o link copinginternational.com em busca de apoio
online. Vincent registou 3.320 visitas de Portugal, desde Dezembro de
2014 até à data, sendo que a maioria do número de acessos aconteceu
antes de o site ganhar visibilidade pública em Agosto de 2017.
"Significa que um número considerável de pessoas em Portugal procura
ajuda relacionada com este assunto há anos, chegando ao nosso site. A
questão que gostaria de colocar à Conferência Episcopal Portuguesa [CEP]
é esta: porque é que a Coping recebeu mais de 3.000 visitas de pessoas
em Portugal antes do nosso comunicado de imprensa?"
A CEP é a
entidade religiosa que reúne a comunidade de bispos e responde
genericamente às questões da SÁBADO, sem abordar o tema do bullying
dos padres-pais e dos filhos destes, inserido em duas perguntas. Não se
perspectivam mudanças, reafirma o padre Manuel Barbosa (porta-voz da
CEP): "Mantém-se a disciplina actual da Igreja no que respeita ao
celibato dos sacerdotes católicos, em fidelidade, sem vida dupla.
Segundo as orientações da Igreja, não está no horizonte a decisão pelo
celibato facultativo."
O Papa Francisco não parecia ter tantas
certezas quando, em Maio de 2014, falou sobre o celibato religioso em
conferência de imprensa, durante a viagem de regresso a Roma procedente
da Terra Santa. "Porque o celibato não é um dogma de fé; é uma regra de
vida que eu aprecio muito e creio que é um dom para a Igreja. Não sendo
um dogma de fé, temos sempre a porta aberta: neste momento, não temos em
programa falar disso, pelo menos para já." Em Março de 2017, o Sumo
Pontífice admitia ao jornal alemão Die Zeit que "o celibato voluntário
não é solução"; não obstante, os casados católicos de "fé e virtude
excepcionais" poderiam, eventualmente, tornar-se membros do clero. Mas
não seria permitido aos padres solteiros, ordenados, casarem-se depois.
Na
prática, a Igreja trava um jogo de forças. De um lado, a linha
conservadora tenta impedir a abolição do celibato. Do outro, os
progressistas como Anselmo Borges acham inaceitável que os filhos de
padres continuem a ser tratados por "sobrinhos" ou "afilhados". "As
crianças têm direito à sua identidade e a mãe não pode ficar sozinha e
excluída", comenta à SÁBADO. O padre, professor universitário e teólogo
acredita que é uma questão de tempo até o celibato se tornar
facultativo. "O Papa Francisco tem o problema entre mãos e estou
convicto de que, se não vai acabar directamente com a lei, fá-lo-á
indirectamente, permitindo a ordenação de homens casados." Mais
cauteloso nas palavras, o representante da CEP dá a entender que, caso
se repitam situações como a de Giselo Andrade - e há inúmeras, segundo
apurou a SÁBADO -, terão de ser analisadas isoladamente. "A haver outros
casos semelhantes, é sempre no âmbito diocesano que o processo de
discernimento deve acontecer, tendo em conta o bem da criança e da mãe."
Enquanto permanece o dilema, o padre Ernesto Lúcio, 44 anos,
decide tirar um ano sabático. A pausa para reflexão deve-se à polémica
em dose dupla: primeiro devido ao alegado desfalque que o tornou notícia
("Padre suspeito de tirar 1,5 milhões à Cáritas", lê-se na edição do Correio da Manhã de 14 de Novembro passado); depois porque, em simultâneo, foi tornado público que tinha duas filhas (a mais velha de 14 anos).
No início deste mês, o pároco de várias freguesias de Vila Real deixou
de celebrar missas (embora não pense deixar o sacerdócio, que exerce há
21 anos), depois de chamado ao bispo da diocese para se justificar.
Sobre a queixa anónima de desvio de fundos, que deu entrada há três anos
no Ministério Público, mostrou-se de consciência tranquila: garantiu
que não cometera o crime e nem sequer fora constituído arguido. Quanto
às filhas não desmentiu, as provas eram irrefutáveis. Duas certidões de
nascimento atestavam que perfilhara as crianças. "Foi o mais frontal,
corajoso e sério que podia ser, dentro das limitações", enaltece à SÁBADO um amigo, que pede o anonimato.
Padres rodeados de filhos
Pecava,
redimia-se em retiros no Luso, reincidia - e assim sucessivamente até
perfilhar 13 filhos de cinco mulheres. Fora os ilegítimos que o
perpetuaram pela descendência. Segundo as contas dos locais de
Condeixa-a-Nova, publicadas na biografia Padre-Boi Não é Lenda, da
autoria de Manuel Rodrigues dos Santos e editado em 1990 pela autarquia,
chegaram a atribuir-lhe 35 filhos. "O pescoço torcia-se-lhe em meia
volta para seguir o andar ondulante das moças e comentar [...]: 'Que
bonita cachopa ali vai!'", lê-se no livro.
No final do século
XIX, João Augusto Antunes, vulgo padre-boi porque cedia ao pecado da
gula, era uma figura proeminente da terra perto de Coimbra. Com quase
dois metros de altura, 120 quilos e uma farta cabeleira, não perdia uma
oportunidade de aproximação ao sexo oposto. "Amo muito a santa Igreja,
mas amo também os meus filhos e as suas mães!"
Os locais
perdoavam-lhe os excessos, porque o padre tinha várias virtudes: era um
conversador bem-humorado; fazia amizades com facilidade (ficou amigo do
Rei D. Carlos, quando o monarca se instalava num solar da vila, a Casa
Ramalho); e, sobretudo, destacava-se como mecenas, gastando a fortuna em
projectos culturais como o orfeão (a sociedade recreativa
notabilizou-se no primeiro quartel do século XX com o epíteto de
"rouxinóis de Condeixa" pelas vozes afinadas do coro) e a escola de
desenho industrial (que funcionou entre 1914 e 1927). Também foi erguida
por ele a capelinha à Senhora das Dores, em 1906, de quem era devoto. É
lá que o neto João Azevedo, 54 anos, acende uma vela em sua homenagem.
Do
avô paterno herdou o primeiro nome, a derivação da alcunha (tratam-no
por João Bezerro) e a queda para as artes. É pintor de cerâmica, há 12
anos que canta no orfeão e considera-se um bom garfo. Tem precisamente
um século de diferença do ancestral - nasceram ambos no ano de 63. João
começa por dizer à SÁBADO que é a favor do celibato
facultativo, porque pelo obrigatório "se calhar perdem-se grandes
padres". Contudo, o pai de João (já falecido) evitava tocar no assunto.
"Não era um dos 13 perfilhados e naquela altura era difícil falar por
causa do estigma."
De Coimbra para cima, sobretudo nas Beiras, as
histórias de padres carregados de filhos repetiam-se. Tanto assim era
que, já no século XVI, D. Frei Bartolomeu dos Mártires defendia o fim
celibato no Concílio de Trento (1562-1563). Saltem barrosani, proclamava
em latim, como quem diz "pelo menos no Barroso" poupai os padres.
Porque os párocos beirões andavam a cavalo na época, enfrentavam o frio e
precisavam de conforto familiar.
A filha mistério
Numa
paróquia da Beira Alta, terra de origem de Abílio Louro de Carvalho,
este aposentado do ensino secundário de 66 anos recorda-se de ouvir as
histórias da família numerosa do padre. "Dos nove filhos que a mulher
com quem vivia lhe deu, sempre a mesma e na mesma paróquia, conheci
dois. Conheciam o pai como tal, mas tratavam-no como padrinho por
obrigação."
O relato de Abílio é corroborado por outro de
Serafim Sousa, 79 anos, presidente da assembleia-geral da Fraternitas
(associação de padres casados, que não exercem funções pastorais; e
conta com 22 anos de existência). Sendo um dos dirigentes, Serafim tem
conhecimento de várias situações de filhos de padres que os envolvidos
lhe confidenciam ou que sabe através do passa-palavra. Mas o caso mais
impressionante veio de um colega dos tempos do seminário de Vila Real. O
pároco que Serafim bem conhecia - até discursara na missa de estreia
dele, na década de 60 - tinha uma filha secreta, que perfilhara sem
ninguém saber. "Costumávamos fazer encontros de ex-seminaristas em
Lisboa e, num deles, em 1989, esse padre pediu-me que lhe desse boleia
até à zona da Estefânia", conta à SÁBADO.
Serafim
não percebeu logo o motivo da deslocação, mas ficou desconfiado. A
resposta veio após a morte do colega, que até ao fim da vida exerceu o
sacerdócio e foi vítima de um acidente vascular cerebral fulminante,
anos depois daquele episódio. "Entrou no carro e morreu imediatamente, a
viatura até bateu com a outra da frente. Tinha cerca de 60 anos."
Tempos mais tarde, um amigo de ambos, advogado, revelou-lhe o mistério: o
padre deixara o património à filha. "Só souberam que ele era o pai
daquela criança quando o testamento foi aberto."
O jornalista do Correio da Manhã especializado em religião,
Secundino Cunha, fez uma investigação exaustiva sobre as polémicas da
Igreja nos últimos 20 anos - na qual destaca a quebra do voto de
castidade. O livro de 255 páginas, lançado pela Saída de Emergência em
Abril passado, começa por contar o percurso de um padre que se tornou
pai em finais de 1996 e ficou conhecido pelo vício da heroína no ano
seguinte, mas conseguiu largar a toxicodependência e actualmente tem um
projecto pastoral na Suíça. Num outro capítulo, o autor relata mais um
caso polémico, de um pároco de 40 anos que se apaixonou por uma advogada
e abandonou a paróquia em 2002 quando ela engravidou.
* A abençoada e desprezível hipocrisia da igreja católica.
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HOJE NO
"A BOLA"
Federer conquista 20.º Grand Slam
após batalha com Cilic
Roger
Federer venceu o Open da Austrália ao bater Marin Cilic por 3-2, pelos
parciais de 2-6, 7-6(5), 3-6, 6-3 e 6-1, numa batalha no Melbourne Park
que durou 3.07 horas.
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O suíço revalidou o título conquistado na época passada e sagrou-se campeão do Open australiano pela sexta vez na carreira.
Torna-se no primeiro tenista a conquistar 20 títulos em torneios do Grand Slam. Ao todo soma 96 títulos ATP.
«Estou encantado. O conto de fadas continua depois da época fantástica que fiz no ano passado. Aos 36 anos, a jornada continua e o objetivo é ganhar mais títulos», disse Federer no final do torneio.
Já o croata procurava o segundo título em torneios de Grand Slam depois da vitória no Open dos Estados Unidos, em 2014.
Torna-se no primeiro tenista a conquistar 20 títulos em torneios do Grand Slam. Ao todo soma 96 títulos ATP.
«Estou encantado. O conto de fadas continua depois da época fantástica que fiz no ano passado. Aos 36 anos, a jornada continua e o objetivo é ganhar mais títulos», disse Federer no final do torneio.
Já o croata procurava o segundo título em torneios de Grand Slam depois da vitória no Open dos Estados Unidos, em 2014.
* Inegavelmente um dos melhores de sempre.
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ESTA SEMANA NO
"SOL"
"SOL"
Nomeações promíscuas
na aviação e aeroportos
Ponce de Leão foi nomeado pelo Governo para presidir à NAV. A mesma pessoa que esteve envolvida no processo de privatização da ANA, como consultor e também como mediador das negociações. E que presidiu à ANA de capitais públicos e à ANA da Vinci. Nesta, foi rendido por José Luís Arnaut, que tem Luís Patrão na sua administração.
O Governo de António Costa nomeou Jorge Ponce de Leão para
o cargo de presidente do Conselho de Administração da Navegação Aérea
de Portugal – NAV Portugal. O mesmo nome que esteve como responsável
pelo processo de privatização da ANA e um dos responsáveis por desenhar a
alienação da empresa no Executivo de Passos Coelho, enquanto consultor
da PLMJ. A sua nomeação foi aprovada em Conselho de Ministros do passado
dia 11 de janeiro, depois de a empresa de tráfego aéreo nacional estar
sem presidente desde final de setembro, altura em que Albano Coutinho
apresentou a demissão do cargo.
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Ponce de Leão deixou o cargo de presidente da ANA para
aceitar o convite do Governo de António Costa (feito a 4 de Dezembro de
2017), tendo sido substituído no cargo pelo ex-ministro social-democrata
José Luís Arnaut.
Privatização a 100%
Quando, em 2012, o Executivo de Pedro Passos Coelho decidiu
privatizar a ANA Aeroportos, apesar do memorando de entendimento da
troika prever uma alienação parcial, optou por alienar a empresa a 100%.
Para apoiar juridicamente este processo, foi contratado o escritório de
advogados PLMJ, cujo consultor de alta direção de gestão jurídica era
Ponce de Leão. Curiosamente, seis meses mais tarde, é ele o nome
escolhido pelo Governo de Passos Coelho para presidir à ANA, em
substituição do socialista Guilhermino Rodrigues.
Já com Ponce de Leão à frente da empresa de tráfego aéreo,
foi aprovado o processo de privatização. No entanto, em vez de ser por
concurso público, o Executivo optou por avançar por ajuste direto, ou
seja, mantendo a negociação direta com os potenciais interessados. E,
mais uma vez, o rosto responsável por essa negociação em nome do Estado
português foi... Ponce de Leão.
Em reunião de Conselho de Ministros foi determinada a
admissão dos potenciais investidores de referência para procederem à
apresentação de intenções de aquisição a participar na fase subsequente
do processo de venda por negociação particular no âmbito deste processo
de alienação. Mas, ao contrário do que aconteceu até aqui – em processos
de alienação semelhantes –, foi apenas a reunião de Conselho de
Ministros o quadro jurídico da operação, uma vez que nem o contrato de
concessão nem as suas bases foram objeto de apreciação.
A partir daí foi um passo até o ministro das Finanças
publicar um despacho para fixar o prazo de apresentação das propostas
vinculativas no âmbito desta operação.
Já nessa altura, os potenciais interessados na empresa
tinham admitido publicamente que pretendiam manter à frente da gestão da
ANA (de capitais privados) o gestor público da ANA (de capital
público), ou seja, a mesma pessoa com quem eles tinham negociado o
contrato de concessão: Ponce de Leão.
Negócio em causa
Na altura, também o grupo francês Vinci - um dos cinco
candidatos que passaram à segunda fase da privatização da ANA e que
acabou por sair vencedor desta corrida - garantiu que queria manter a
atual equipa à frente da empresa. «Não temos uma equipa para a
substituir e por isso vamos manter a equipa na qual depositamos uma
grande confiança. Ela conseguiu dominar o negócio e também as áreas fora
do negócio [aeroportuário]», disse Louis-Roch Burgard, durante a
apresentação da proposta.
Curiosamente, a comissão de acompanhamento de privatização
da empresa só foi nomeada no final de 2012, três dias antes de ter sido
assinado o contrato de concessão entre a ANA e o Estado português e 12
dias antes de ser revelado o vencedor: grupo Vinci. Um negócio que
permitiu aos cofres do Estado um encaixe de 3.080 milhões de euros.
Só mais tarde é que esta comissão de acompanhamento deixou
alguns alertas em relação a todo este processo: «As regras do jogo,
quadro regulatório, foram alteradas no decurso do processo. No inicio
deste, havia um quadro regulatório preciso, em especial no que diz
respeito às taxas de tráfego (...). Mas essa regulação desapareceu a
meio, com a aprovação do Dec. Lei nº254/2012, de 28 de Novembro».
Aliás, as negociações com todos os concorrentes foram
concluídas já no decorrer do processo de privatização. Um facto que
chegou a ser confirmado pela empresa vencedora - o próprio presidente da
Vinci chegou a admitir essa situação.
E o contrato, além de alterar o modelo de regulação - daí a
empresa ter avançado com aumentos das taxas aeroportuárias, e já vai a
caminho do décimo aumento -, também liberta o próprio concessionário da
responsabilidade de financiar o investimento no novo aeroporto. «A
regulação económica do serviço concessionado passou, também a meio do
processo, da lei para o contrato. (...) presente processo de
privatização foi acompanhado de uma desregulação legal dos aspetos
económicos do serviço público aeroportuário», diz a comissão de
acompanhamento, acrescentando ainda que, no seu lugar, surgiu «uma
regulação económica de índole meramente contratual e o contrato não
exclui que venha a recair sobre o Estado o investimento necessário à
construção do aeroporto».
Isto significa que o grupo francês passou a ter apenas a
responsabilidade de propor uma solução. No entanto, se esta não for
aprovada, após uma série de períodos negociais, o Estado é declarado
incumpridor e responsável por indemnizar o privado.
Os riscos deste negócio também estiveram presentes num
estudo realizado pela Universidade Católica, que apontou para um
retrocesso face ao modelo que estava anteriormente em vigor. Já Pedro
Marques, ministro do Planeamento e das Infraestruturas, disse, no início
deste ano, numa audição na Assembleia da República, que um novo
aeroporto para a região de Lisboa deixou de ser possível depois do
anterior Governo ter optado pelo modelo de privatização da ANA: «Com o
modelo de privatização da ANA que o anterior Governo aplicou
(recebimento do preço ‘à cabeça’ como receita extraordinária para baixar
o défice), comprometeu-se a construção de um novo aeroporto de raiz
financiado por taxas aeroportuárias».
Montijo e mais interesses
O que é certo é que ficou estabelecido que o país avançaria
para a construção de um novo aeroporto de Lisboa quando a Portela
atingisse os 22 milhões de passageiros. Uma barreira foi ultrapassada já
em 2016 , mas o processo só teve desenvolvimentos em 2017, com a
assinatura, em fevereiro, de um memorando de entendimento para o futuro
aeroporto complementar do Montijo.
No entanto, ao que o SOL apurou, a decisão de investimento
no Montijo necessita de tecnicamente ser justificada e, para isso, é
necessário eliminar as atuais restrições existentes na gestão do espaço
aéreo que limitam a capacidade da Portela + Montijo. Desta forma,
aparece a necessidade da NAV flexibilizar as suas exigências e proceder à
implementação de novos padrões de gestão do espaço aéreo, sabe o SOL.
Mais um trabalho que estará a cargo de... Ponce de Leão.
Mas os interesses não ficam por aqui. Para levar a cabo a
reformulação da gestão do espaço aéreo é necessário investir numa nova
solução tecnológica. E já começaram a surgir no terreno dois potenciais
fornecedores para esta solução: os espanhóis da Indra e os franceses da
Thales.
Curiosamente, a Vinci tem no seu Board of Directors a presidente
da Thales International, Pascale Sourisse, e também o próprio Ponce de
Leão apareceu, no passado recente, como subscritor de uma parceria entre
a ANA/Vinci e a Thales.
* Se perguntar não ofende atão perguntamos: Esta promiscuidade referida na notícia tem a ver com prostíbulos e lenocínio políticos?
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