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27/08/2023
MARIA ROSA BORGES
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Dados recentes do Eurostat referem que a idade média de saída de casa dos pais, dos jovens portugueses, em 2022, recuou para 29,7 anos. Este valor compara, no imediato, com o ano de 2021 em que a idade média era de 33,6 anos, ou seja, menos 3,9 anos.
Um olhar direto sobre a evolução nestes dois anos não pode deixar de nos surpreender pela positiva, se encararmos a saída de casa dos progenitores como algo desejado pelos jovens, que tendo finalizado os estudos superiores e iniciado a sua atividade profissional querem experienciar uma vida autónoma e independente.
Contudo, se compararmos a situação portuguesa com a de outros países europeus, continuamos a estar no grupo de países (onde estão maioritariamente os países do sul e leste da Europa) em que mais tarde se autonomizam os jovens. Situação diferente ocorre nos países do norte da Europa, em que, por questões económicas mais vantajosas, mas também culturais, os jovens se emancipam mais cedo.
Vários argumentos são dados para o posicionamento de Portugal neste ranking, nomeadamente a falta de oferta de habitação a preços comportáveis e as rendas muito elevadas que se praticam em Portugal. A este respeito, refiram-se os dados mais recentes, relativos ao primeiro semestre de 2023, em que se constata que Lisboa se tornou a cidade mais cara da Europa para alugar um apartamento e para arrendar um quarto.
Também os baixos salários auferidos pelos jovens são um fator que adensa e condiciona o problema. Dados do INE, relativos a 2022, referem que cerca de 65% dos jovens com idade inferior a 30 anos têm um salário inferior a 1.000 euros, o que é um valor insuficiente para sustentarem uma vida autónoma.
Face a esta situação estrutural, dificilmente podemos olhar para estes 29,7 anos sem ver alguma contradição. É necessária uma leitura adicional. E, sobre isto, dois aspetos parecem poder estar a influenciar esta estatística.
A saída da casa dos pais, observa-se em direção ao arrendamento de um quarto, isto é, uma solução de casa partilhada e, por outro lado, muitos dos jovens licenciados escolhem sair do país em busca de melhores condições de vida. A parecer confirmar esta última ideia, as estatísticas do INE evidenciam que cerca de 37% dos estudantes que terminam o ensino superior escolhem sair do país e que, já no primeiro semestre deste ano, emigraram cerca de 128 mil licenciados.
As estatísticas não dizem tudo e a sua interpretação deve ser feita com precaução.
* Professora catedrática do ISEG
IN "O JORNAL ECONÓMICO" - 25/08/23.
3449.UNIÃO
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