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HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
«Há 25 anos que eu e os meus filhos
não tomamos fármacos. Multiplique
isto por milhões e perceberá porque
a homeopatia não reúne consenso»
A homeopatia é uma medicina alternativa com três séculos de
existência, mas muita polémica à sua volta. No Reino Unido é
comparticipada pelo Serviço Nacional de Saúde, mas em Portugal ainda não
está completamente regulamentada. A homeopata Cristina Pombo, que se
formou em Farmácia, trabalhou no ramo, desiludiu-se e encontrou nesta
prática a alternativa que procurava, acaba de lançar o livro Homeopatia, uma Medicina Alternativa [Partenon Edições]. Para esclarecer do que se fala quando se fala de homeopatia.
Escreve este livro numa altura em que várias vozes se
levantam contra a homeopatia. Em Espanha, a ministra da Saúde pediu que
Bruxelas revisse a regulamentação desta medicina alternativa na
sequência de diversas polémicas – nomeadamente o caso de uma mulher que
decidiu tratar um cancro de mama só com medicação homeopática e morreu
em pouco tempo. Em França, o debate também está aceso, com o anúncio de
que a Agência Nacional de Saúde Pública iria avaliar a eficácia da
homeopatia.
Quantos doentes com cancro, tratados pela medicina tradicional, morrem
em pouco tempo? Penso que as pessoas deveriam ter a hipótese de ser
tratadas como querem. Há países em que a homeopatia é uma especialidade
médica e as pessoas têm a possibilidade de ser tratadas através deste
método. Noutros países, como o Reino Unido ou a Suíça, a homeopatia é
comparticipada pelo Estado.
Sim, em última análise, a pessoa pode até decidir não ser
tratata. O que lhe pergunto é: do conhecimento que existe, a homeopatia é
uma alternativa no tratamento do cancro?
O cancro tem vários estadios. Uma pessoa pode ter cancro e ter um estado
de saúde relativamente bom e nesse caso pode ser ajudada com
homeopatia. Se o estadio é mais avançado, pode ter valor apenas em
termos complementares, ou seja, ajudar nos efeitos secundários que os
tratamentos químicos mais agressivos têm. Depende do caso. É preciso
sensatez.
A homeopatia não trata doenças, trata pessoas, diz no seu livro. Quer explicar?
Exato. Daí não poder dizer que a homeopatia trata o cancro. Na
contracapa, estão testemunhos de pessoas com fibromialgia, artrite
reumatoide, défice de atenção, etc., que ficaram bem através da
homeopatia, mas eu não posso dizer que tratei as doenças, tratei as
pessoas.
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Como homeopata, acompanho muitas pessoas com cancro e nunca
nenhuma delas me disse que queria ser tratada só com homeopatia. Há
aqueles que já tiveram cancro e agora têm outros problemas e recorrem à
homeopatia e aqueles que estão a fazer tratamentos para o cancro e
procuram ajuda com os efeitos secundários. Há cuidados diferentes,
dependendo do que as pessoas têm.
No caso do cancro é um cuidado mais paliativo?
Sim. Em doenças agudas, a cura é geralmente rápida. Noutras, como uma
artrite reumatoide, por exemplo, pode levar algum tempo, interessa é que
a pessoa vá ficando melhor e não tenha os efeitos secundários que
tinha. No caso da senhora da contracapa que refiro, estava a tomar
imensos medicamentos químicos, com muitos efeitos secundários e não só
consegui retirar os medicamentos todos como os sintomas. Já lá vão dez
anos.
Como explica que uma medicina com tantos anos (três séculos)
e, de acordo com os dados que apresenta no seu livro, com provas dadas,
não consiga reunir consenso?
Há várias justificações. Uma delas é que há imensa gente que diz que
está a fazer homeopatia e não está e isso é um problema porque
descredibiliza a verdadeira homeopatia. É uma questão de formação e
educação. Por exemplo, em Portugal, não temos tradição de medicinas
alternativas e não houve, no passado, ninguém que deixasse essa semente.
Mas a questão mais importante tem a ver com dinheiro. Eu tenho três
filhos, sou farmacêutica de formação, e comecei a fazer homeopatia por
causa do meu filho mais velho, há 25 anos. Desde essa altura que eu e os
meus filhos não tomamos medicamentos de farmácia. Nem antipiréticos nem
analgésicos nem antibióticos nem anti-histamínicos Basta multiplicar
isto por milhões e perceberá porque a homeopatia não reúne consenso.
Como é que uma farmacêutica passa para a homeopatia? Desiludiu-se com a indústria?
Eu sempre quis muito ajudar as pessoas na área da saúde e por isso fui
para Farmácia. Mas foi uma grande desilusão, que se aprofundou quando
comecei a trabalhar na indústria e a perceber como aquilo tudo
funcionava. A dada altura, comecei a estudar homeopatia. Verifiquei que o
que existia em termos de formação em Portugal não era o suficiente e
fui fazer o curso fora. Procurei a formação adequada, porque a
verdadeira homeopatia é difícil de fazer. O que faz a medicina
convencional? Faz exames para chegar a um diagnóstico e prescreve um
fármaco para a doença. A homeopatia não. Posso ter duas pessoas com a
mesma queixa e os medicamentos aconselhados para a patologia são
completamente diferentes e eu estou cerca de uma hora com cada uma para
tentar perceber a pessoa que tenho à minha frente.
Porque é que duas pessoas com a mesma queixa fazem medicamentos diferentes?
Tem a ver com um dos princípios fundamentais da homeopatia, que é a
individualização. Tentamos perceber a pessoa holisticamente, no seu
todo. O doente chega e diz que foi diagnosticado com fibromialgia e
esteve a fazer um tratamento químico com efeitos secundários adversos e
quer experimentar um tratamento alternativo e eu faço perguntas que vão
do historial familiar a todo o percurso de saúde, pessoal, emocional,
etc. Para nós, não há nada que pense ou que sinta que os seus órgãos não
saibam e portanto quando está triste, todo o seu organismo está triste.
E como chega à melhor abordagem ou medicação para cada pessoa?
Eu sei o que cada medicamento, quando provado, provoca. Homeopatia quer
dizer «o semelhante cura o semelhante», portanto dou o medicamento que
provoca os mesmos sintomas da doença. Ao comparar uma patologia de
alguém com a patologia que conheço dos medicamentos, dou o que é o mais
adequado a essa pessoa. Os medicamentos homeopáticos são provados em
seres humanos, de forma única – prova o medicamento e vemos os
resultados, que são apontados em livros chamados matérias médicas e são
esses resultados que temos que estudar para comparar com a patologia do
próximo doente.
A homeopatia tem um caráter preventivo?
Literalmente não, mas tem. Porque por exemplo, uma criança que está
doente de 15 em 15 dias, que acontece muito. Tratanto-o, dou o incentivo
certo ao sistema imunitário e passado uns meses ou um ano já só os vejo
uma vez por ano. É neste sentido que é preventiva, equilibra o sistema
imunitário, evitando que as doenças se tornem crónicas.
Há quem defenda que os medicamentos homeopáticos não são
diferentes de bolinhas de açúcar e não têm mais do que o efeito de
placebo.
Todas as medicinas têm efeito placebo. Mas é impossível haver efeito de
placebo em crianças pequeninas. E eu trato crianças com homeopatia.
Quanto às bolinhas de açúcar, há algum tempo, um grupo de pessoas
tomaram não sei quantos quilos de grânulos de um medicamento e não lhes
aconteceu nada. Pois claro, isso é o que se esperaria. Se numa consulta
estou mais de uma hora para saber qual o medicamento mais adequado (em
cerca de 3 mil), para começar o tratamento do doente, se der o
medicamento errado o mais provável é não acontecer nada, porque não faz
ressonância na pessoa. Os medicamentos homeopáticos só contêm um
princípio ativo e têm o nome em latim, para ser igual em todos os
países. O problema é que há muitos medicamentos «vendidos» como
homeopáticos erradamente, que são uma mistura de princípios ativos. Isso
não é homeopatia porque, como expliquei, uma das leis da homeopatia é
utilizar um medicamento de cada vez. São a falta de informação e de
formação que criam confusões em torno desta medicina.
A autorregulação não seria um dos passos para evitar isso?
Ninguém pode exercer medicina convencional se não for médico e não for
reconhecido pela Ordem dos Médicos, que regula a profissão. Se mais
ninguém, os próprios homeopatas não podem organizar-se no sentido de se
autorregularem?
Isso é muito difícil porque não têm todos a mesma formação. Nós temos
associações, mas incluem tudo e mais alguma coisa. E em Portugal a
homeopatia não está sequer regulada, é a única medicina alternativa que
falta regular. Regularam a acumpuntura, a osteopatia, a medicina
tradicional chinesa e não regularam a homeopatia. Não me pergunte
porquê. Não sei. Mas se pensar em euros, começa a perceber. Um
medicamento homeopático custa três euros, dá para muitas vezes e não é
para tomar para o resto da vida, como muitos dos fármacos convencionais.
Eu não tenho nenhum doente a fazer um medicamento de forma crónica.
A medicina convencional e a homeopatia não deveriam conviver e ser complementares?
Sem dúvida. Seria o ideal. Mas para isso são precisas duas coisas
fundamentais: informação correta e formação correta. E não existem, nem
uma nem outra. Por muitas razões. Há muitas pressões para as coisas não
andarem para a frente e o doente é que perde. Quando precisamos,
devíamos poder escolher como queremos ser ajudados. Devia haver um
conhecimento da parte dos especialistas de saúde em geral sobre o que é a
homeopatia e essa foi uma das razões por que escrevi este livro. Espero
que o leiam, para perceberem como olhamos para a saúde, a doença e a
cura. Podemos sempre integrar e conciliar.
* É nossa opinião que não há medicinas alternativas, a própria expressão faz supôr uma subalternização das mesmas. Pensamos que existem acções terapeuticas não enquadradas na medicina convencional e as pessoas recorrem àquelas porque a medicina convencional falhou ou foi negligente.
Quanto à homeopatia dizem as más línguas ser a administração de quase nada em gotas de coisa nenhuma.
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