27/10/2018

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HOJE NO 
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
«Há 25 anos que eu e os meus filhos
 não tomamos fármacos. Multiplique 
isto por milhões e perceberá porque 
a homeopatia não reúne consenso»

A homeopatia é uma medicina alternativa com três séculos de existência, mas muita polémica à sua volta. No Reino Unido é comparticipada pelo Serviço Nacional de Saúde, mas em Portugal ainda não está completamente regulamentada. A homeopata Cristina Pombo, que se formou em Farmácia, trabalhou no ramo, desiludiu-se e encontrou nesta prática a alternativa que procurava, acaba de lançar o livro Homeopatia, uma Medicina Alternativa [Partenon Edições]. Para esclarecer do que se fala quando se fala de homeopatia.

Escreve este livro numa altura em que várias vozes se levantam contra a homeopatia. Em Espanha, a ministra da Saúde pediu que Bruxelas revisse a regulamentação desta medicina alternativa na sequência de diversas polémicas – nomeadamente o caso de uma mulher que decidiu tratar um cancro de mama só com medicação homeopática e morreu em pouco tempo. Em França, o debate também está aceso, com o anúncio de que a Agência Nacional de Saúde Pública iria avaliar a eficácia da homeopatia.
Quantos doentes com cancro, tratados pela medicina tradicional, morrem em pouco tempo? Penso que as pessoas deveriam ter a hipótese de ser tratadas como querem. Há países em que a homeopatia é uma especialidade médica e as pessoas têm a possibilidade de ser tratadas através deste método. Noutros países, como o Reino Unido ou a Suíça, a homeopatia é comparticipada pelo Estado.

Sim, em última análise, a pessoa pode até decidir não ser tratata. O que lhe pergunto é: do conhecimento que existe, a homeopatia é uma alternativa no tratamento do cancro?
O cancro tem vários estadios. Uma pessoa pode ter cancro e ter um estado de saúde relativamente bom e nesse caso pode ser ajudada com homeopatia. Se o estadio é mais avançado, pode ter valor apenas em termos complementares, ou seja, ajudar nos efeitos secundários que os tratamentos químicos mais agressivos têm. Depende do caso. É preciso sensatez.

A homeopatia não trata doenças, trata pessoas, diz no seu livro. Quer explicar?
Exato. Daí não poder dizer que a homeopatia trata o cancro. Na contracapa, estão testemunhos de pessoas com fibromialgia, artrite reumatoide, défice de atenção, etc., que ficaram bem através da homeopatia, mas eu não posso dizer que tratei as doenças, tratei as pessoas. 
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Como homeopata, acompanho muitas pessoas com cancro e nunca nenhuma delas me disse que queria ser tratada só com homeopatia. Há aqueles que já tiveram cancro e agora têm outros problemas e recorrem à homeopatia e aqueles que estão a fazer tratamentos para o cancro e procuram ajuda com os efeitos secundários. Há cuidados diferentes, dependendo do que as pessoas têm.

No caso do cancro é um cuidado mais paliativo?
Sim. Em doenças agudas, a cura é geralmente rápida. Noutras, como uma artrite reumatoide, por exemplo, pode levar algum tempo, interessa é que a pessoa vá ficando melhor e não tenha os efeitos secundários que tinha. No caso da senhora da contracapa que refiro, estava a tomar imensos medicamentos químicos, com muitos efeitos secundários e não só consegui retirar os medicamentos todos como os sintomas. Já lá vão dez anos.

Como explica que uma medicina com tantos anos (três séculos) e, de acordo com os dados que apresenta no seu livro, com provas dadas, não consiga reunir consenso?
Há várias justificações. Uma delas é que há imensa gente que diz que está a fazer homeopatia e não está e isso é um problema porque descredibiliza a verdadeira homeopatia. É uma questão de formação e educação. Por exemplo, em Portugal, não temos tradição de medicinas alternativas e não houve, no passado, ninguém que deixasse essa semente. Mas a questão mais importante tem a ver com dinheiro. Eu tenho três filhos, sou farmacêutica de formação, e comecei a fazer homeopatia por causa do meu filho mais velho, há 25 anos. Desde essa altura que eu e os meus filhos não tomamos medicamentos de farmácia. Nem antipiréticos nem analgésicos nem antibióticos nem anti-histamínicos Basta multiplicar isto por milhões e perceberá porque a homeopatia não reúne consenso.

Como é que uma farmacêutica passa para a homeopatia? Desiludiu-se com a indústria?
Eu sempre quis muito ajudar as pessoas na área da saúde e por isso fui para Farmácia. Mas foi uma grande desilusão, que se aprofundou quando comecei a trabalhar na indústria e a perceber como aquilo tudo funcionava. A dada altura, comecei a estudar homeopatia. Verifiquei que o que existia em termos de formação em Portugal não era o suficiente e fui fazer o curso fora. Procurei a formação adequada, porque a verdadeira homeopatia é difícil de fazer. O que faz a medicina convencional? Faz exames para chegar a um diagnóstico e prescreve um fármaco para a doença. A homeopatia não. Posso ter duas pessoas com a mesma queixa e os medicamentos aconselhados para a patologia são completamente diferentes e eu estou cerca de uma hora com cada uma para tentar perceber a pessoa que tenho à minha frente.

Porque é que duas pessoas com a mesma queixa fazem medicamentos diferentes?
Tem a ver com um dos princípios fundamentais da homeopatia, que é a individualização. Tentamos perceber a pessoa holisticamente, no seu todo. O doente chega e diz que foi diagnosticado com fibromialgia e esteve a fazer um tratamento químico com efeitos secundários adversos e quer experimentar um tratamento alternativo e eu faço perguntas que vão do historial familiar a todo o percurso de saúde, pessoal, emocional, etc. Para nós, não há nada que pense ou que sinta que os seus órgãos não saibam e portanto quando está triste, todo o seu organismo está triste.

E como chega à melhor abordagem ou medicação para cada pessoa?
Eu sei o que cada medicamento, quando provado, provoca. Homeopatia quer dizer «o semelhante cura o semelhante», portanto dou o medicamento que provoca os mesmos sintomas da doença. Ao comparar uma patologia de alguém com a patologia que conheço dos medicamentos, dou o que é o mais adequado a essa pessoa. Os medicamentos homeopáticos são provados em seres humanos, de forma única – prova o medicamento e vemos os resultados, que são apontados em livros chamados matérias médicas e são esses resultados que temos que estudar para comparar com a patologia do próximo doente.

A homeopatia tem um caráter preventivo?
Literalmente não, mas tem. Porque por exemplo, uma criança que está doente de 15 em 15 dias, que acontece muito. Tratanto-o, dou o incentivo certo ao sistema imunitário e passado uns meses ou um ano já só os vejo uma vez por ano. É neste sentido que é preventiva, equilibra o sistema imunitário, evitando que as doenças se tornem crónicas.

Há quem defenda que os medicamentos homeopáticos não são diferentes de bolinhas de açúcar e não têm mais do que o efeito de placebo.
Todas as medicinas têm efeito placebo. Mas é impossível haver efeito de placebo em crianças pequeninas. E eu trato crianças com homeopatia. Quanto às bolinhas de açúcar, há algum tempo, um grupo de pessoas tomaram não sei quantos quilos de grânulos de um medicamento e não lhes aconteceu nada. Pois claro, isso é o que se esperaria. Se numa consulta estou mais de uma hora para saber qual o medicamento mais adequado (em cerca de 3 mil), para começar o tratamento do doente, se der o medicamento errado o mais provável é não acontecer nada, porque não faz ressonância na pessoa. Os medicamentos homeopáticos só contêm um princípio ativo e têm o nome em latim, para ser igual em todos os países. O problema é que há muitos medicamentos «vendidos» como homeopáticos erradamente, que são uma mistura de princípios ativos. Isso não é homeopatia porque, como expliquei, uma das leis da homeopatia é utilizar um medicamento de cada vez. São a falta de informação e de formação que criam confusões em torno desta medicina.

A autorregulação não seria um dos passos para evitar isso? Ninguém pode exercer medicina convencional se não for médico e não for reconhecido pela Ordem dos Médicos, que regula a profissão. Se mais ninguém, os próprios homeopatas não podem organizar-se no sentido de se autorregularem?
Isso é muito difícil porque não têm todos a mesma formação. Nós temos associações, mas incluem tudo e mais alguma coisa. E em Portugal a homeopatia não está sequer regulada, é a única medicina alternativa que falta regular. Regularam a acumpuntura, a osteopatia, a medicina tradicional chinesa e não regularam a homeopatia. Não me pergunte porquê. Não sei. Mas se pensar em euros, começa a perceber. Um medicamento homeopático custa três euros, dá para muitas vezes e não é para tomar para o resto da vida, como muitos dos fármacos convencionais. Eu não tenho nenhum doente a fazer um medicamento de forma crónica.

A medicina convencional e a homeopatia não deveriam conviver e ser complementares?
Sem dúvida. Seria o ideal. Mas para isso são precisas duas coisas fundamentais: informação correta e formação correta. E não existem, nem uma nem outra. Por muitas razões. Há muitas pressões para as coisas não andarem para a frente e o doente é que perde. Quando precisamos, devíamos poder escolher como queremos ser ajudados. Devia haver um conhecimento da parte dos especialistas de saúde em geral sobre o que é a homeopatia e essa foi uma das razões por que escrevi este livro. Espero que o leiam, para perceberem como olhamos para a saúde, a doença e a cura. Podemos sempre integrar e conciliar.

* É nossa opinião que não há medicinas alternativas, a própria expressão faz supôr uma subalternização das mesmas. Pensamos que existem acções terapeuticas não enquadradas na medicina convencional e as pessoas recorrem àquelas porque a medicina convencional falhou ou foi negligente.
Quanto à homeopatia dizem as más línguas ser a administração de quase nada em gotas de coisa nenhuma.


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