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IN "SÁBADO"
11/09/18
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Deus Existe e
o Seu Nome é Alexa
A pequena torre de IA com software de (doce) voz nos lares globais está programada para nos enviar produtos que queremos antes de sabermos que os queremos e muito antes de os decidirmos comprar.
Na semana em que Sua Suprema Divindade Digital, a Google, celebra 20
anos de vida, talvez seja bom recordar o verdadeiro deus Shiva da
globalização: a Amazon. O título de origem idealizado para a empresa por
Jeff Bezos, ex-analista de fundos de capital de risco que fez o plano
de negócios num coast to coast com a mulher, era relentless.com
(qualquer coisa como implacável.pt).
A
escolha lança algumas luzes sobre a sua estratégia: conquista do maior
negócio do planeta (a venda ao consumidor); substituição da máxima
percentagem de trabalho humano por Inteligência Artificial (IA) - Bezos
anda há anos a defender o Rendimento Básico Universal, que eliminará a
classe média num mundo reservado à riqueza e destinado à pobreza;
erradicação da concorrência, numa fúria destrutiva cuja renascimento a
partir do caos agradaria a Schumpeter. Alexa é mais gentil, uma
homenagem à lendária Biblioteca de Alexandria, e se a amazon.com e a
Amazon Prime são os tanques e a artilharia, Alexa é a arma secreta. 44%
dos lares norte-americanos têm uma arma e 51% vão à igreja, mas 52%
possuem Amazon Prime, o serviço premium de vendas e de conteúdos
streaming. Em 2016, as vendas ao consumidor nos EUA subiram 4%. A Amazon
Prime aumentou em 40%. Com a Amazon Go, o conglomerado iniciou a
experiência das lojas físicas sem caixas de pagamento. Depois de
adquirir 460 lojas à Whole Foods, prossegue a estratégia de ter
armazéns/pontos de entrega a menos de 30 quilómetros de 45% das famílias
norte-americanas. Seguir-se-ão a Europa e a Índia. Neste plano à Aldous
Huxley, a aquisição de cargueiros para se ocupar directamente do
transporte de produtos no Pacífico, uma lista de generais reformados na
folha de pagamentos - trata-se de uma conquista com eficácia militar -, o
tamanho monstruoso da sua capitalização (434 mil milhões de dólares em
2017), a liderança do mercado de big data e de serviços na "nuvem", mais
os impostos nacionais que evita, falta apenas o cavalo de Tróia: a
Alexa. A pequena torre de IA com software de (doce) voz nos lares
globais está programada para, com a ajuda da maior base de dados
pessoais de consumo que a Terra jamais viu, nos enviar produtos que
queremos antes de sabermos que os queremos e muito antes de os
decidirmos comprar. Graças a Bezos e ao nosso coração de
caçadores-recolectores, em que a posse, o status e o apelo sexual servem
como artéria coronária, um dia todos oraremos a Alexa.
Santos e...
Após a morte de John McCain, será mais fácil encontrar um panda no
Arizona do que um republicano decente em Washington. De um heroísmo a
que já só se assiste em territórios ficcionais - qual de nós aguentaria
cinco anos de tortura numa prisão em Hanói, recusando a liberdade antes
dos soldados mais antigos em cativeiro? -, McCain era impulsivo,
sanguíneo e humano (houve um escândalo financeiro e a escolha da
indescritível Sarah Palin em 2008). Serviu de dique ao avanço do Tea
Party, defendeu quase sozinho o Obamacare entre as suas hostes e tentou
impedir o desastre Trump. Se o Céu existe, McCain guarda-o agora.
... Pecadores
O lagom sueco é como o hygge dinamarquês: felicidade na quantidade
certa. Jimmie Akesson, o líder dos Democratas Suecos (espantoso
eufemismo para um partido herdeiro dos neonazis nórdicos dos anos 50),
tem uma interpretação bastante livre do lagom: a quantidade certa de
suecos é branca como a bata do cozinheiro dos Marretas, livre de
refugiados (a Suécia acolheu até agora 600 mil) e, sobretudo, de
muçulmanos, que Akesson apelida de "a maior ameaça estrangeira desde a
II Guerra Mundial". Xenófobos, racistas e anti-União Europeia, os
Democratas Suecos preparam-se para se tornar a segunda força política do
país, com apenas menos 4% de intenções de voto do centro-esquerda e
acima do centro-direita. O paraíso
já não é o que era.
IN "SÁBADO"
11/09/18
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