15/09/2018

PEDRO MARTA SANTOS

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Deus Existe e
 o Seu Nome é Alexa

A pequena torre de IA com software de (doce) voz nos lares globais está programada para nos enviar produtos que queremos antes de sabermos que os queremos e muito antes de os decidirmos comprar.

Na semana em que Sua Suprema Divindade Digital, a Google, celebra 20 anos de vida, talvez seja bom recordar o verdadeiro deus Shiva da globalização: a Amazon. O título de origem idealizado para a empresa por Jeff Bezos, ex-analista de fundos de capital de risco que fez o plano de negócios num coast to coast com a mulher, era relentless.com (qualquer coisa como implacável.pt).

A escolha lança algumas luzes sobre a sua estratégia: conquista do maior negócio do planeta (a venda ao consumidor); substituição da máxima percentagem de trabalho humano por Inteligência Artificial (IA) - Bezos anda há anos a defender o Rendimento Básico Universal, que eliminará a classe média num mundo reservado à riqueza e destinado à pobreza; erradicação da concorrência, numa fúria destrutiva cuja renascimento a partir do caos agradaria a Schumpeter. Alexa é mais gentil, uma homenagem à lendária Biblioteca de Alexandria, e se a amazon.com e a Amazon Prime são os tanques e a artilharia, Alexa é a arma secreta. 44% dos lares norte-americanos têm uma arma e 51% vão à igreja, mas 52% possuem Amazon Prime, o serviço premium de vendas e de conteúdos streaming. Em 2016, as vendas ao consumidor nos EUA subiram 4%. A Amazon Prime aumentou em 40%. Com a Amazon Go, o conglomerado iniciou a experiência das lojas físicas sem caixas de pagamento. Depois de adquirir 460 lojas à Whole Foods, prossegue a estratégia de ter armazéns/pontos de entrega a menos de 30 quilómetros de 45% das famílias norte-americanas. Seguir-se-ão a Europa e a Índia. Neste plano à Aldous Huxley, a aquisição de cargueiros para se ocupar directamente do transporte de produtos no Pacífico, uma lista de generais reformados na folha de pagamentos - trata-se de uma conquista com eficácia militar -, o tamanho monstruoso da sua capitalização (434 mil milhões de dólares em 2017), a liderança do mercado de big data e de serviços na "nuvem", mais os impostos nacionais que evita, falta apenas o cavalo de Tróia: a Alexa. A pequena torre de IA com software de (doce) voz nos lares globais está programada para, com a ajuda da maior base de dados pessoais de consumo que a Terra jamais viu, nos enviar produtos que queremos antes de sabermos que os queremos e muito antes de os decidirmos comprar. Graças a Bezos e ao nosso coração de caçadores-recolectores, em que a posse, o status e o apelo sexual servem como artéria coronária, um dia todos oraremos a Alexa.

Santos e...

Após a morte de John McCain, será mais fácil encontrar um panda no Arizona do que um republicano decente em Washington. De um heroísmo a que já só se assiste em territórios ficcionais - qual de nós aguentaria cinco anos de tortura numa prisão em Hanói, recusando a liberdade antes dos soldados mais antigos em cativeiro? -, McCain era impulsivo, sanguíneo e humano (houve um escândalo financeiro e a escolha da indescritível Sarah Palin em 2008). Serviu de dique ao avanço do Tea Party, defendeu quase sozinho o Obamacare entre as suas hostes e tentou impedir o desastre Trump. Se o Céu existe, McCain guarda-o agora.

... Pecadores

O lagom sueco é como o hygge dinamarquês: felicidade na quantidade certa. Jimmie Akesson, o líder dos Democratas Suecos (espantoso eufemismo para um partido herdeiro dos neonazis nórdicos dos anos 50), tem uma interpretação bastante livre do lagom: a quantidade certa de suecos é branca como a bata do cozinheiro dos Marretas, livre de refugiados (a Suécia acolheu até agora 600 mil) e, sobretudo, de muçulmanos, que Akesson apelida de "a maior ameaça estrangeira desde a II Guerra Mundial". Xenófobos, racistas e anti-União Europeia, os Democratas Suecos preparam-se para se tornar a segunda força política do país, com apenas menos 4% de intenções de voto do centro-esquerda e acima do centro-direita. O paraíso 

já não é o que era.

IN "SÁBADO"
11/09/18

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