Bom ano? Não parece!
António Costa tem tudo para festejar rijamente a passagem de ano e entrar em 2017 com o sentimento de que, como o próprio disse, por muito que lidere uma geringonça, ela funciona.
Um Orçamento devidamente no activo, o desemprego a baixar, as
perspectivas de crescimento a baterem razoavelmente certo, os parceiros
de Bruxelas sossegados lá nas suas coisas, a coligação que sustenta o
Governo a evoluir – mesmo que aos solavancos. O primeiro-ministro
António Costa tem tudo para festejar rijamente a passagem de ano e
entrar em 2017 com o sentimento de que, como o próprio disse, por muito
que lidere uma geringonça, ela funciona.
Mas eis que, subitamente, é preciso recordar uma frase do Presidente
da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Sejamos mais específicos, dado
que há frases do Presidente da República para todos os gostos, para
todos os feitios, para todas as ocasiões e para todos os temas. “Quem
quiser instabilidade política não conte comigo. Nunca até acabar este
ciclo até às autárquicas”, disse o Presidente distraidamente. Que
conste, o ciclo político corre com a legislatura e não há notícia de que
umas autárquicas sirvam para mudar de governo. É certo que já vários
governos optaram por desistir quando as autárquicas lhes correram mal,
mas daí a um Presidente da República – garantia de estabilidade em todas
as circunstâncias e até ao limite do razoável – afirmar que o ciclo
fecha em Setembro ou Outubro de 2017 e nessa altura logo veremos, é
excessivo.
Até porque tudo leva a crer que as autárquicas vão correr mal ao
Governo, quer ganhe quer perca as eleições. Se perder, pelos vistos terá
Marcelo Rebelo de Sousa a questionar sobre a legitimidade da geringonça
– com todos os comentadores políticos ligados ao PSD a vociferar uma
coisa qualquer sobre o fim do ciclo. Se ganhar, António Costa cairá por
certo na tentação de imaginar-se finalmente liberto do PCP e do Bloco de
Esquerda para governar sozinho. Uma pena: ao contrário do que se diz
por aí, um Governo minoritário é a melhor garantia de funcionamento da
democracia que um povo pode alcançar.
Mas o mais provável é que os parceiros de coligação acabem todos por
andar à bofetada (espera-se que apenas metaforicamente) durante a
campanha eleitoral. Desde logo porque o PCP não consegue ultrapassar as
reservas que demonstra ter em relação ao Bloco – alguém no Comité
Central tem uma fé cega na obra que Lenine publicou em 1920 sobre ‘O
esquerdismo, doença infantil do comunismo’, que é aliás um pouco
disparatada. Depois porque não estará para se dar à maçada de, em
campanha autárquica, esconder as reservas que tem relativamente ao
próprio PS. Melhor se portará com certeza, pelo menos na óptica de
António Costa, Catarina Martins – que dá mostras de achar cada vez mais
um piadão ao facto de poder interferir directamente na governance do país. Portanto, o que começa aparentemente bem – melhor seria difícil – pode acabar muito mal para o Governo.
Já quanto a Pedro Passos Coelho, se as coisas lhe correm mal, o
melhor é regressar à Tecnoforma, se for caso de ela ainda existir –
porque as coisas na Caixa não estão fáceis – e esquecer o partido. Para
Assunção Cristas, e dado que tudo indica que as coisas não lhe vão
correr bem em Lisboa, adiante se verá se Nuno Melo continuará ou não
interessado em não estar interessado em liderar o partido.
IN "OJE/JORNAL ECONÓMICO"
31/12/16
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