Alguém está a mais
1- Passos Coelho ainda não
engoliu o facto de Marcelo ser Presidente da República. É normal. O
líder do PSD fez tudo para que o professor não se candidatasse e não
mexeu uma palha para que ele ganhasse. Pelo seu lado, Marcelo fez
questão de mostrar que o apoio de Passos lhe era indiferente, nem o
deixou colar-se à sua inevitável vitória.
Há
quem defenda que Passos Coelho só tem a perder com a guerra surda que
está a mover contra o Presidente da República. Aparentemente, a colagem à
principal figura política do centro-direita, ao mais popular político
português, a um dos seus antecessores como presidente do PSD,
trar-lhe-ia vantagens. Mas para que isso fosse verdade era preciso que
Passos não fosse o que é nem Marcelo Rebelo de Sousa defendesse o que
defende.
O facto é que Marcelo
Presidente era a pior coisa que podia acontecer a Passos: é que, apesar
de serem militantes do mesmo partido e em tese pertencerem ao mesmo
espaço político, têm perspetivas ideológicas diferentes e uma visão do
mundo, em muitos aspetos, opostas. E, cedo ou tarde, a perceção por
parte dos cidadãos, nomeadamente do eleitorado tradicional do PSD, pode
trazer problemas a Passos Coelho. E ele sabe-o.
A
história do cata-vento mediático não foi uma vingança pelo pouco apoio
que Marcelo tinha dado ao governo. Foi enunciada em pleno congresso do
PSD com um propósito claro: o de pôr as bases do partido indispostas com
Marcelo. Correu mal a Passos Coelho. A tentativa não colheu e os
militantes do PSD não hesitaram em prestar todo o apoio ao que é agora o
Presidente da República.
A guerra de
Passos Coelho e do seu grupo mais próximo a Marcelo Rebelo de Sousa não
tem que ver, repito, com o pouco amor que tinha pelo anterior governo
nem com o aparente apoio ao atual. Tem raízes bem mais profundas. É um
conflito ideológico, de opções políticas fundamentais, da visão do lugar
que o PSD deve ocupar no nosso panorama político. No fundo, este
conflito de Passos Coelho com Marcelo é o conflito que pode marcar o
destino do PSD e o do centro-direita português.
É
absolutamente evidente, e não é de agora, que há uma vontade clara de
tornar o PSD um partido de direita, claramente de direita, algo que o
PSD nunca foi. Claro que essa pretensão de Passos Coelho é perfeitamente
legítima, mas além de chocar com o passado, choca com muitas figuras
relevantes do partido, ex-líderes - Ferreira Leite, por exemplo, diz que
não é de direita - e, nomeadamente, com Marcelo Rebelo de Sousa.
É
verdade que Durão Barroso deu o pontapé de saída para essa viragem. Mas
se parece claro que o ex-presidente da Comissão Europeia não enjeitaria
esse caminho, bem pelo contrário, também é verdade que algumas das
figuras do seu governo não tinham esse enquadramento ideológico - Morais
Sarmento é um bom exemplo -, como também é certo que os dois
posteriores líderes do PSD, Santana Lopes e Manuela Ferreira Leite, não
partilham da visão ideológica do atual presidente dos antigos (?)
sociais-democratas.
O que parece claro é
que há uma vontade de afastar todos aqueles que não concordam com a
referida viragem ideológica do PSD. A barragem que é feita com quem não
concorda com esse caminho é constante e violenta. É protagonizada por
colunistas e membros do círculo próximo de Passos Coelho que não hesitam
em apelidar de bloquista ou pior a quem não alinha no processo de "Tea
partidarização do PSD". Não tardará muito para que Marcelo seja
denunciado como perigoso esquerdista por esta vanguarda da direita
radical.
A questão é saber quem está a mais no PSD.
Será
que Marcelo e muitos dos que não subscrevem a guinada violenta à
direita do partido ainda se enquadram ou podem vir a enquadrar no PSD?
Será que o partido deixará de ser social-democrata ou estamos apenas
perante uma deriva radical que terminará quando o ciclo político de
Passos Coelho chegar ao fim? Sobretudo, o que importa saber é se o
eleitorado que votou no PSD nas últimas eleições quer um novo partido,
se concorda com o novo caminho que agora é claramente proposto. Ou seja,
se a tal deriva direitista corresponde a uma mudança no perfil de uma
parte significativa do eleitorado ou não.
Das duas uma: ou se enganaram quando votaram em Passos ou se enganaram quando votaram em Marcelo. Algo parece evidente: as pessoas que votaram em Marcelo e Passos não voltarão a votar nos dois. E ambos estão a fazer que isso se torne claro.
Das duas uma: ou se enganaram quando votaram em Passos ou se enganaram quando votaram em Marcelo. Algo parece evidente: as pessoas que votaram em Marcelo e Passos não voltarão a votar nos dois. E ambos estão a fazer que isso se torne claro.
2- Sadiq Khan é o novo mayor de
Londres. Uma comunidade que consegue dar oportunidades suficientes para
que um filho de um condutor de autocarros e de uma doméstica chegue a mayor da mais importante cidade do mundo tem de ser elogiada.
É,
por outro lado, uma gigantesca vitória para os nossos valores
civilizacionais que um muçulmano seja o responsável por Londres, uma
cidade que representa tudo aquilo em que acreditamos.
E é uma estrondosa derrota para os fundamentalistas islâmicos e para todos os que querem destruir a nossa civilização.
IN "DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
08/05/16
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