HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Juiz descreve caso dos vistos gold
como um "lamaçal"
Carlos
Alexandre enviou 21 arguidos para julgamento, entre os quais Miguel
Macedo, ex-ministro, António Figueiredo, antigo presidente do IRN, e
Manuel Palos, ex-diretor do SEF
Depois
de ter utilizado a expressão para descrever o caso dos dois inspetores
da Polícia Judiciária suspeitos de corrupção por ligações a traficantes
de droga, o juiz Carlos Alexandre também caracterizou o processo dos
vistos gold como um "lamaçal". O magistrado judicial decidiu ontem levar
a julgamento o ex-ministro Miguel Macedo, o antigo presidente do
Instituto dos Registos e Notariado (IRN), António Figueiredo, e o
ex-diretor do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Manuel Palos, e
mais 18 arguidos, e considerou que "o mínimo que se poderá dizer é que a
prova indiciária já recolhida é arrasadora".
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No
despacho instrutório, Carlos Alexandre até deixa uma espécie de
conselho aos seus colegas que irão fazer o julgamento: para chegar
àquela conclusão, "bastará pensar-se numa viagem guiada" pelas escutas e
relatórios de diligências externas (vigilâncias), ligando-os aos
pedidos de ARI"s (Autorizações de Residência para Investimento), os tais
vistos gold.
Segundo a acusação do Ministério Público,
António Figueiredo (acusado de 12 crimes, desde corrupção a
branqueamento de capitais) era uma espécie de pivô de vários interesses à
volta dos vistos gold, procurando através de Manuel Palos (acusado de
três crimes) agilizar a emissão de tais vistos. Refira-se que, ao fim de
mais de um ano suspenso de funções e sem ordenado, Manuel Palos já pode
regressar ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras como inspetor de
carreira.
Relativamente a Miguel
Macedo, a acusação refere que o ex-ministro da Administração Interna,
três crimes de prevaricação de titular de cargo político e um crime de
tráfico de influência, forneceu ao seu amigo Jaime Gomes o caderno de
encargos de um concurso relacionadas com helicópteros de combate a
incêndios, por um lado, e, por outro, moveu influências junto do
ministério das Finanças para que uma empresa de Paulo Lalanda de Castro
(acusado de dois crimes) obtivesse uma isenção de IVA num negócio
relativo à vinda de feridos de guerra líbios para Portugal, para
tratamento hospitalar.
Ontem,
declarações à Lusa, o antigo ministro afirmou que já se tinha conformado
com a ida a julgamento, até porque não pediu a abertura da instrução do
processo: "Quando decidi não requer a instrução, não pus em crise
nenhuma das coisas que vinha na acusação nesta fase, portanto o
resultado só podia ia a julgamento".
Práticas chinesas
Dos
21 acusados (17 pessoas e quatro empresas) pelos procuradores Susana
Figueiredo e Manuel das Dores, do Departamento Central de Investigação e
Ação Penal (DCIAP), apenas quatro pediram a abertura de instrução,
contestando a acusação pública. António Figueiredo foi um deles.
Seguiram-se João Salgado, funcionário do IRN, Fernando Pereira (primo de
Figueiredo) e o empresário chinês Xia Baoling, acusado de um crime de
corrupção ativa e outro de tráfico de influência. Este, refira-se,
defendeu-se em instrução, dizendo que não ter agido com intenção, sendo
que deveria ser considerada a sua "diminuta consciência da ilicitude",
já que as suas ações tiveram por base "seculares tradições chinesas de
generosidade e de práticas de gratificação social".
A
este argumento, os procuradores do Ministério Público responderam,
afirmando que a China é um país com um sistema económico fortemente
estatizado, "onde o conceito de funcionário e de corrupção se encontram
fortemente enraizados na consciência coletiva". Aquele crime, continuou o
MP, tem sido "objeto de investigações e ações preventivas, ampla e
internacionalmente divulgadas".
No rol
de arguidos que serão julgado, constam ainda Maria Antónia Anes,
ex-secretária-geral do Ministério da Justiça, vários funcionários do
IRN, acusados de um crime de corrupção passiva, e o empresário angolano
Eliseu Bumba, acusado de um crime de corrupção ativa relativo a António
Figueiredo.
* Sugerimos aos srs. juízes que vão julgar este caso o uso de galochas e máscara de oxigénio, porque além da lama vão ter que vasculhar muita porcaria.
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