HOJE NO
"DIÁRIO DE NOTÍCIAS"
Draghi defende silêncio de Constâncio
Presidente do BCE confirma os argumentos de Constâncio para recusar ser ouvido pelos deputados
O
presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, confirmou hoje em
carta enviada ao parlamento português os argumentos usados pelo seu
vice-presidente, Vitor Constâncio, para recusar ser ouvido na comissão
de inquérito à resolução do Banif.
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Em
03 de maio, Constâncio explicou a sua rejeição em participar na comissão
de inquérito à resolução do Banif, justificando que iria contra as
regras de funcionamento da União Europeia.
Agora,
Draghi, no documento a que a Agência Lusa teve acesso, dirigindo-se aos
presidente da Assembleia da República e da comissão parlamentar de
inquérito sobre o Banif, "confirma a posição transmitida pelo
vice-presidente na carta de 03 de maio de 2016".
Eduardo
Ferro Rodrigues e António Filipe ficaram assim a saber formalmente que,
para Draghi, "a participação do vice-presidente do BCE num inquérito de
um parlamento nacional não estaria em linha com as obrigações de
responsabilização perante o Parlamento Europeu no quadro do Tratado".
Constâncio
tinha afirmado que a sua participação na comissão parlamentar de
inquérito à resolução do Banif seria "limitada", negando ainda
responsabilidades no processo.
Depois
de ter afirmado, a 22 de abril passado, que a comissão parlamentar não
lhe tinha endereçado qualquer pedido de depoimento, esclareceu que, em
casos anteriores, as estruturas do BCE não responderam perante comissões
de inquérito de parlamentos nacionais, mas sim só perante o Parlamento
Europeu.
Vítor Constâncio escreveu ao
parlamento português referindo que, caso participasse nos trabalhos da
comissão, iria contra as regras de funcionamento da União Europeia, que
ditam que os elementos do BCE respondem apenas ao Parlamento Europeu e
não aos parlamentos nacionais, invocando que tem de respeitar essa
posição institucional.
Constâncio
referiu também que o "respeito que lhe merecem a Assembleia da República
e a Comissão de Inquérito" o levaram a "prestar alguns esclarecimentos
adicionais que ilustram os limites do que poderia ser a participação nos
trabalhos da Comissão".
No documento
de duas páginas, Vitor Constâncio refere que nunca teve
responsabilidades de supervisão no BCE, onde se encontra desde 2010,
acrescentando que o próprio BCE só passou a ter essas responsabilidades a
partir de novembro de 2014, através do Mecanismo Único de Supervisão
(que está fora do pelouro do vice-presidente).
O
mesmo responsável sublinhou também que essas responsabilidades só se
aplicam aos maiores bancos de cada país, o que não era o caso do Banif,
que era supervisionado diretamente pelo Banco de Portugal.
"As
decisões sobre aspetos de supervisão e resolução não cabiam legalmente
ao BCE, mas às autoridades nacionais em cooperação com a Comissão
Europeia", refere o antigo ministro das Finanças e secretário-geral do
PS.
Vítor Constâncio garantiu ainda que
não participou "em qualquer decisão relativa ao Banif relativa a
aspetos de supervisão ou resolução", assim como não participou em
"qualquer reunião" ou teve acesso "a documentos referentes a propostas
para solucionar o problema do Banif ou aos termos das decisões" no
âmbito da resolução.
O responsável
admite, no entanto, ter estado na reunião do conselho de governadores
que "aprovou o pedido do Banco de Portugal" para a suspensão do pedido
de contraparte poucos dias antes da resolução, o que na prática
significou a suspensão dos canais normais de financiamento do Banif
junto do BCE.
O antigo ministro das
finanças repetiu no final da missiva que as suas possibilidades de
intervenção no processo eram "muito limitadas" e que, a haver uma
hipotética intervenção sua, seria no sentido de evitar soluções que
pusessem em causa os depósitos, salvaguardando a estabilidade do sistema
financeiro português.
A 20 de dezembro
de 2015, num domingo, o Governo e o Banco de Portugal anunciaram a
resolução do Banif, com a venda de parte da atividade bancária ao
Santander Totta, por 150 milhões de euros, e a transferência de outros
ativos - incluindo 'tóxicos' - para a nova sociedade veículo.
* O poder do BCE está consonante com a arrogância com os elementos da administração. Draghi tem de defender Constâncio, faz parte da equipa. O BCE tem de prestar contas, não da mera contabilidade, não da vulgar engenharia financeira, mas da sobranceria de quem o dirige.
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