08/12/2014

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HOJE NO
"PÚBLICO"

Desperdício de comida no campo 
e na fábrica dá para encher todos 
os caixotes do lixo do país

Um terço dos alimentos produzidos para consumo humano perde-se ou desperdiça-se em todo o mundo. Em 2013, o total desperdiçado (300 quilos por habitante, em média, de acordo com a FAO) equivalia a 30% da superfície agrícola mundial. Na Europa, entre 30 e 40% da comida perde-se até chegar ao consumidor: são 179 quilos por habitante, 42% dos quais em casa.
A maçã Fuji que Joaquim Cabral Menezes segura na mão tem carepa. Uma mancha castanha que destoa no tom vermelho e lhe dá uma aparência meio tosca. “É sinónimo de doçura, torna a maçã melhor, mas não entra nos supermercados. Tal como estas”, diz, enquanto aponta para uma enorme caixa cheia de maçãs com os mais variados defeitos. Pintas a mais, tamanho a menos, longe da perfeição. É uma espécie de selecção natural. Nesta central fruteira da Quinta de Vilar, em Cabril, uma pequena aldeia do concelho de Viseu, de um lado estão as frutas perfeitas, que conquistaram o direito à prateleira. Do outro as rejeitadas pela aparência.
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Nem sempre foi assim. O engenheiro civil que toma conta de um negócio familiar que começou no século XIX ainda se lembra do tempo em que defeitos como a carepa não eram motivo de rejeição por parte dos clientes. Mas hoje o consumidor manda. Manda fruta e legumes perfeitos, com bom ar, viçosos, gostosos, que toca, cheira, selecciona até à exaustão na zona de frescos dos supermercados. Dos pomares da Quinta de Vilar — 40 hectares de macieiras impecavelmente alinhadas —, o grosso da produção é vendido nas cadeias de distribuição. A mais recente campanha rendeu cerca de 1200 toneladas de fruta, mas entre 20 e 30% não vão chegar, no seu estado natural, à casa dos portugueses porque, numa sociedade cada vez mais exigente com a alimentação, os olhos também comem.

“A lei descreve as condições em que a maçã deve chegar ao consumidor, diz o tipo de defeitos e distingue os calibres mínimos. E os supermercados vão além dessas exigências, seguem as melhores práticas da União Europeia”, afirma Joaquim Cabral Menezes, acrescentando que as perdas no transporte das maçãs, do campo para as lojas, “são poucas”. “Há mais desperdício com a devolução. Os clientes chegam a devolver paletes inteiras só porque há duas ou três maçãs que não cumprem os critérios”, lamenta.

Aos 20% de fruta que não chega a casa dos consumidores, junta-se entre 1 e 2% de maçã que apodreceu no campo ou durante o curto percurso entre a árvore e a central fruteira, o local onde máquinas e homens seleccionam o produto de acordo com o seu tamanho (calibre). Sem condições para poderem ser consumidas, são consideradas lixo. Regressam ao campo para enriquecer o solo ou são utilizadas na alimentação animal.

* Um ministro da Agricultura com vergonha na cara não permitiria esta situação em Portugal, um país onde mais de dois milhões de pessoas passam fome.

** Quanto à Europa não são estranhos o descaramento  e desumanidade da Comissão.



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