Quantos pregos pregam
os governantes no
caixão da Europa?
Há
uma semana, em conferência de imprensa, Moscovici, o comissário europeu
que tutela os orçamentos nacionais, ameaçou diversos governos quanto ao
cumprimento das metas do Pacto de Estabilidade. No mesmo dia,
Dijsselbloem, presidente do eurogrupo, reforçou a mesma ameaça. Ambos
são membros de partidos socialistas (com o detalhe picante de Moscovici
ter sido um dos membros do governo francês que preparou o orçamento que
agora critica como comissário europeu). Está tudo dito?
Pela mesma altura, Merkel deu uma entrevista ao Die Welt,
manifestando o seu acordo com o prazo de três meses dado pela Comissão à
França e Itália, mas exigindo que os dois governos apresentem mais
“reformas estruturais”. O comissário alemão já tinha escrito que a reforma que acha prioritária para França é a da segurança social.
Entretanto, Juncker anunciou o seu plano para o investimento, uma
fraude que não entusiasmou nem os mercados nem convenceu a opinião
pública. Enfraquecido pelos sucessivos detalhes do escândalo fiscal do
Luxemburgo, e sobretudo pela revelação de como foram subtraídos valores
importantes de impostos devidos nos outros países europeus, Juncker
tornou-se o mais fraco dos presidentes em tempos de crise, e depois de
Barroso já não se pensava que fosse possível piorar. Neste contexto de
fragilidade, a intervenção de Merkel na gestão da crise orçamental com a
França e a Itália é ainda mais reveladora de como Berlim tomou a Europa
em mãos.
Temos portanto um presidente de uma Comissão zombie, uma Alemanha
impante, uma França e uma Itália encurraladas, uma Inglaterra a fugir,
uma economia a degradar-se e as fronteiras do leste em fogo.
Teresa de Sousa, a última europeísta sem cinismo, descreveu uma parte destas tensões
num artigo recente aqui no PÚBLICO, “Mais um prego”: “O resto da frase
até me custa a escrever, não vá ser mau agoiro: ‘…no caixão da Europa’.
Refiro-me às medidas que David Cameron anunciou para conter a imigração,
incluindo os cidadãos da própria União Europeia.” Os vírus das direitas
nacionalistas, do UKIP britânico a Le Pen, são depois descritos por
Teresa de Sousa como os perigos que nos infectam. Mas os pregos no
caixão são os dos governantes, os responsáveis pela Europa.
São eles os maiores perigos: Cameron limitando a circulação de
imigrantes, incluindo dos europeus (quando começa com uns acaba chegando
a todos, é bom de ver), Merkel favorecendo Le Pen com as suas atoardas
anti-francesas, Renzi a provocar uma greve geral, Hollande perdido no
seu labirinto, os socialistas e a direita de acordo com a receita
recessiva.
IN "PÚBLICO"
19/12/14
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