23/12/2014

FRANCISCO LOUÇÃ

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Quantos pregos pregam 
os governantes no 
caixão da Europa?

Há uma semana, em conferência de imprensa, Moscovici, o comissário europeu que tutela os orçamentos nacionais, ameaçou diversos governos quanto ao cumprimento das metas do Pacto de Estabilidade. No mesmo dia, Dijsselbloem, presidente do eurogrupo, reforçou a mesma ameaça. Ambos são membros de partidos socialistas (com o detalhe picante de Moscovici ter sido um dos membros do governo francês que preparou o orçamento que agora critica como comissário europeu). Está tudo dito?

Pela mesma altura, Merkel deu uma entrevista ao Die Welt, manifestando o seu acordo com o prazo de três meses dado pela Comissão à França e Itália, mas exigindo que os dois governos apresentem mais “reformas estruturais”. O comissário alemão já tinha escrito que a reforma que acha prioritária para França é a da segurança social.

Entretanto, Juncker anunciou o seu plano para o investimento, uma fraude que não entusiasmou nem os mercados nem convenceu a opinião pública. Enfraquecido pelos sucessivos detalhes do escândalo fiscal do Luxemburgo, e sobretudo pela revelação de como foram subtraídos valores importantes de impostos devidos nos outros países europeus, Juncker tornou-se o mais fraco dos presidentes em tempos de crise, e depois de Barroso já não se pensava que fosse possível piorar. Neste contexto de fragilidade, a intervenção de Merkel na gestão da crise orçamental com a França e a Itália é ainda mais reveladora de como Berlim tomou a Europa em mãos.

Temos portanto um presidente de uma Comissão zombie, uma Alemanha impante, uma França e uma Itália encurraladas, uma Inglaterra a fugir, uma economia a degradar-se e as fronteiras do leste em fogo.

Teresa de Sousa, a última europeísta sem cinismo, descreveu uma parte destas tensões num artigo recente aqui no PÚBLICO, “Mais um prego”: “O resto da frase até me custa a escrever, não vá ser mau agoiro: ‘…no caixão da Europa’. Refiro-me às medidas que David Cameron anunciou para conter a imigração, incluindo os cidadãos da própria União Europeia.” Os vírus das direitas nacionalistas, do UKIP britânico a Le Pen, são depois descritos por Teresa de Sousa como os perigos que nos infectam. Mas os pregos no caixão são os dos governantes, os responsáveis pela Europa.

São eles os maiores perigos: Cameron limitando a circulação de imigrantes, incluindo dos europeus (quando começa com uns acaba chegando a todos, é bom de ver), Merkel favorecendo Le Pen com as suas atoardas anti-francesas, Renzi a provocar uma greve geral, Hollande perdido no seu labirinto, os socialistas e a direita de acordo com a receita recessiva.


IN "PÚBLICO"
19/12/14

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